O pragmatismo da geração Z sobre amor e sexo:
"No meu imaginário cultural, a aversão [da geração millennial] a compromissoslongo prazo significa que as pessoas estão tendo mais relacionamentos", afirma ela.
Em outras palavras, Lee acredita que os millennials (nascidos entre 1980 e 1995) levaram mais tempo para casar-se porque estavam ocupados aproveitando a vidasolteiro.
Para a geração Z (nascida entre 1995 e 2010), ela imagina que "as pessoas têm aversão [a relacionamentoslongo prazo] porque elas são mais... introspectivas sobre os tiposrelacionamentos que desejam ter".
Cada vez mais pesquisas confirmam a opiniãoLee: a geração Z parece ter uma visão muito pragmática dos relacionamentoscomparação com as gerações anteriores e estão fazendo menos sexo.
"Eles compreendem que poderão ter parceiros diferentesdiferentes épocas da vida [que] podem atender a necessidades diversas", segundo Julie Arbit, vice-presidente globalconhecimentos do grupocomunicação Vice.
Sua pesquisa envolveu 500 participantes do Reino Unido e dos EUA (emmaioria, da geração Z e millennials, com alguns participantes da geração X incluídos "para comparação") e concluiu que apenas umcada 10 integrantes da geração Z afirma ter "decidido firmar compromisso".
Outros pesquisadores chegaram a conclusões similares. Segundo um estudo sobre a geração Z na Índia, por exemplo, 66% dos participantes aceitam que "nem todos os relacionamentos serão permanentes", enquanto 70% rejeitam uma "relação romântica limitadora".
Os pesquisadores e os membros da geração Z atribuem essa questão a dois fatores.
Primeiramente, essa geração está entrando na idade adultauma época particularmente delicada, marcada pela pandemia da covid-19, mudanças climáticas cada vez mais sérias e instabilidade financeira. Muitos acreditam que precisam atingir a estabilidade sozinhos antes que outra pessoa entrecena.
E existe também o maior acesso a informações online sobre relacionamentos, que fornecem à geração Z a linguagemque eles precisam para definir quem são e o que queremum relacionamento que não comprometaidentidade e suas necessidades.
"Eles são extremamente focadossi próprios", afirma Arbit, "e não porque estão sendo egoístas. Eles sabem que são responsáveis pelo seu próprio sucesso e felicidade e que precisam ser capazescuidarsi próprios antescuidar dos demais."
A busca da estabilidade
"Nos anos 1960 e 1970, um homem comum25 anosidade conseguia sustentar uma família com arenda, sem esperar queesposa trabalhasse", afirma Stephanie Coontz, diretorapesquisa e educação pública do Conselho sobre Famílias Contemporâneas, com sede nos Estados Unidos.
Para muitas pessoas da geração Z, a ideiaque uma pessoa com 25 anosidade possa sustentar toda uma família e que o homem espera que a esposa fiquecasa não se adapta mais às circunstâncias atuais — e, para alguns, parece até motivorisadas.
A geração Z prioriza uma base financeira sólida individual, o que está alongando o caminho até o casamento, segundo Arielle Kuperberg, professorasociologia da Universidade da Carolina do NorteGreensboro, nos Estados Unidos. Para ela, "as pessoas estão levando cada vez mais tempo para constituir família porque estão demorando cada vez mais para atingir a estabilidade financeira".
Kyung Mi Lee e seus amigos concordam. Ela conta que se sente na "geração mais instável financeiramente da história", o que aumenta o seu desejoatingir "independência financeira" antesestabelecer-seum relacionamentolongo prazo.
Veterana na universidade, Lee afirma que ela e seus amigos estão muito mais dispostos a priorizar suas carreiras do que seus relacionamentos, para atingir uma posição financeiramente mais estável. "É raro ter um amigo que diga 'vou me mudar para este lugar para poder ficar com meu ou minha parceira'", conta ela. Eles estão se concentrando mais no que é melhor para suas carreiras e como eles podem fazer os relacionamentos encaixar-se nelas.
A pesquisaKuperberg sobre a geração Z confirma esse fato. Ela concluiu que pessoas mais jovensviasconstruir suas carreiras são menos propensas a ter encontros formais do que os millennials. "Não acho que eles não queiram ter relacionamentoslongo prazo. Acho que eles estão postergando esses relacionamentos", afirma ela.
Kuperberg também concluiu que a atual instabilidade dos jovens adultos levou mais jovens a voltar para a casa dos pais porque não conseguem sustentar-se sozinhos na casa dos 20 anosidade. "O aumento dos relacionamentos mais casuais e a queda dos relacionamentos mais sérios... ocorre porque simplesmente é mais difícil formar [estes últimos]."
E, recentemente, a pandemiacovid-19 também exacerbou a tendência dos jovens adultos não conseguirem viver independentemente.
Kuperberg entrevistou um homem da geração Z no primeiro semestre2020 que se mudou com seus paisWashington para a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, pouco depois que a pandemia atingiu o país. Ele contou aos pesquisadores que não iria namorarnovo enquanto não voltasse para a capital.
Busca da alma
Um estudo global sobre o amor depois do lockdown conduzido pelo grupocomunicações Vicesetembro2020, no qual 45% dos participantes eram da geração Z, demonstrou que 75% estavam solteiros e não namoraram durante a pandemia. Muitos relataram que isso ocorreu,parte, porque eles queriam usar o tempo sozinhos para conhecer-se melhor antesbuscar um parceiro.
"Comecei a pensar sobre mim mesmo, o que eu quero e o que não quero fazer... e isso me ensinou muito", disse anonimamente um homem da geração Z da Itália, citado na pesquisa. Uma mulher da geração Z dos Estados Unidos expressou o mesmo sentimento: "estou fisicamente distantetodos e [agora] posso dar um passo atrás e perguntar 'quem sou eu?'"
É claro que essa atitude pode ser consequência da faltaescolha durante o lockdown e nãouma propensão da geração Z à introspecção. Mas membros da geração Ztodo o mundo têm muito mais recursos para descobrir quem são, incluindo aplicativosredes sociais como o TikTok, onde terapeutas comumente discutem estilosconexão e dicasrelacionamentos saudáveis.
Lee, por exemplo, observou que suas irmãs mais jovens (uma no primeiro e outra no segundo ano da faculdade) aprenderam no TikTok linguagem profunda para falar sobre relacionamentos.
"Os adolescentes estão falando sobre seus estilosconexão a parceiros românticos e sexuais usando linguagem como 'meu estiloconexão é ansioso'", afirma ela. Isso indica uma visão muito consciente do que é o namoro, priorizando encontrar alguém que faça sentido para você e não alguém que você simplesmente ache atraente ou interessante.
Embora essas prioridades certamente não sejam exclusivas dessa geração, a geração Z dispõeuma sérierecursos facilmente disponíveis para encontrar,forma mais consciente, um parceiro mais adequado,maneiras que as gerações anteriores talvez não conhecessem.
Outro fator é a evolução da postura sobre a sexualidade e os papéisgênero. Na geração Z, existe uma sensível redução da adesão a um gênero binário e um aumento das "pessoas dispostas a explorar asexualidade", segundo Kuperberg.
Napesquisa, analisada pela BBC, ela inclui uma estatística que demonstra que cerca da 50% das pessoas da geração Z identificam-se como heterossexuais e "muitos afirmam que são heteroflexíveis".
Essa abertura para diferentes tiposparceiros sexuais e relacionamentos relembra as observaçõesJulie Arbit sobre a geração Z, sobre não necessariamente procurar seu único relacionamento, mas sim buscar diversas pessoas para atender a necessidades diferentes, sejam elas românticas, sexuais ou algo totalmente diferente.
"Nossos pais podem ter procurado alguém da mesma religião ou das mesmas opiniões políticas", afirma Arbit. "Esta geração está procurando honestidade e paixão, alguém que os anime a levantar da camamanhã...comparação com as gerações anteriores, eles estão abertos para namorar com diferentes tipospessoas e dar a elas uma chance."
Sinalmudança
Essa abordagem holística dos relacionamentos é totalmente diferente das adotadas por muitas gerações anteriores.
Stephanie Coontz, do Conselho sobre Famílias Contemporâneas, relembra que, quando ela entrevistava pessoas para seu livro sobre as mulheres e as famílias nos anos 1960 e perguntava às mulheres por que elas decidiram se casar, "elas pareciam surpresas... e diziam 'estava na hora'". "Havia esse sentimentoque o casamento era algo que você fazia para entrar na vida adulta... agora, é o contrário."
Este é um sinalmudança para a geração Z. Enquanto o casamento costumava ser um ritopassagem para a idade adulta, hoje ele é um sinalque você já é adulto.
A sociedade vem se movendo nessa direção há algum tempo e cada geração tem ideias mais flexíveis sobre a família tradicional eimportância nas suas vidas. É difícil distinguir se a geração Z está moldando a sociedade com essa postura ou se é a sociedade que está moldando a geração Z.
É claro que esses padrões não são válidos para todos. Entre estudantes universitários, Arielle Kuperberg descobriu que raça, classe social, gênero e religião das pessoas da geração Z podem influenciar a forma como eles namoram e procuram relacionamentos.
"As pessoas brancas são mais propensas a ter relacionamentos casuais. Já as pessoas negras costumam formar relacionamentos ou ter mais encontros formais", segundo ela, acrescentando que as pessoasambientes socioeconômicos mais favoráveis são mais propensas que outras a ter encontros sexuais casuais e formar relacionamentoslongo prazo — provavelmente porque elas "têm mais recursos" e, consequentemente, mais estabilidade.
Embora muitos sinais indiquem que a geração Z esteja postergando o casamento ou relacionamentos permanentes, como os millennials antes deles, suas razões para isso parecem ser cada vez mais pragmáticas.
É certo que os millennials postergaram o casamento por razões práticas, como o medo do divórcio (muitos deles cresceram como filhoscasais divorciados) e porque não conseguem sustentar-se.
Mas a geração Z está herdando um mundo considerado ainda mais incerto, à medida que os problemas que afetaram os millennials (como as mudanças climáticas) tornam-se mais sérios e novos problemas surgem (como a pandemia). Isso poderá fazer com que a promoção da estabilidade individual torne-se a prioridade número 1 para a geração Z — ainda mais importante que para seus colegas um pouco mais velhos.
"Nós brincamos sobre quem vai se casar primeiro [no] nosso grupoamigos", conta Lee, "e achamos engraçado alguém se casar na casa dos 20 anos."
Leia a íntegra desta reportagem no site BBC Worklife.
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