A mulher que gastou todo seu dinheiro para congelar os óvulos:5 gols apostas

Ela é uma entre milhares5 gols apostasmulheres que decidem, a cada ano, congelar e armazenar os óvulos, como uma apólice5 gols apostasseguro para o futuro. Para algumas, a ideia é preservar a fertilidade enquanto buscam o parceiro certo, ou então adiar a maternidade para priorizar o investimento na carreira.

O procedimento é muito parecido com a primeira metade5 gols apostasum ciclo5 gols apostasfertilização in vitro: começa com a estimulação hormonal para o desenvolvimento5 gols apostasmúltiplos óvulos nos ovários, que, na sequência, são coletados para serem congelados. As mulheres podem então usar os óvulos congelados5 gols apostasalgum momento para fazer a fertilização in vitro, caso não consigam engravidar naturalmente.

Mas, assim como outras formas5 gols apostasseguro, o congelamento5 gols apostasóvulos - ou criopreservação5 gols apostasoócitos, como também é conhecido - pode representar um impacto forte nas finanças. Um único ciclo pode custar até US$ 17 mil nos EUA, o equivalente a um quinto da renda média anual das famílias americanas. No Brasil, o custo do procedimento gira5 gols apostastorno5 gols apostasR$ 18 mil e não é coberto pelo SUS (Sistema Único5 gols apostasSaúde).

Ter5 gols apostasarcar com esses gastos pode causar uma pressão financeira significativa sobre as mulheres, que já ganham menos e economizam menos do que os homens. Muitas mulheres que congelam os óvulos gastam todas as economias, enquanto outras contraem dívidas significativas após pegar empréstimos para pagar o procedimento.

Mas por que essas mulheres estão dispostas a pagar um preço tão alto - muitas vezes às custas5 gols apostasoutros objetivos, como ter uma casa própria ou segurança financeira - para armazenar óvulos5 gols apostasque talvez nunca vão precisar? Tampouco há garantias5 gols apostasque os óvulos congelados levem a uma gravidez bem-sucedida, mesmo quando são usados, embora os avanços na técnica tenham aumentado as taxas5 gols apostassucesso.

Quando um grupo5 gols apostasgrandes empresas5 gols apostastecnologia, como a Apple e o Facebook, começou a oferecer às funcionárias congelamento5 gols apostasóvulos como um benefício, os críticos interpretaram a iniciativa como uma tentativa assustadora5 gols apostasincentivar as mulheres a "se renderem ao controle corporativo", adiando as relações humanas5 gols apostasprol5 gols apostasmais horas no escritório. Ambas as companhias insistiram, no entanto, que se tratava5 gols apostasum benefício,5 gols apostasresposta a uma demanda das funcionárias, para dar a elas mais opções.

Alguns seguros5 gols apostassaúde também cobrem a criopreservação, se for considerada clinicamente necessária, como antes5 gols apostasum tratamento5 gols apostasquimioterapia. Mas a grande maioria das mulheres paga pelo procedimento do próprio bolso.

Nadine, agora com 36 anos, viveu modestamente até o início dos 30 anos para economizar e dar entrada5 gols apostasum imóvel - chegou a juntar US$ 30 mil no banco, parte do qual ela investiu5 gols apostasum negócio. Mas, aos 34 anos, após terminar um relacionamento duradouro, ela decidiu congelar os óvulos, gastando US$ 5 mil do que restava na poupança. Fez ainda um empréstimo para pagar os US$ 8 mil que faltavam para cobrir o custo da coleta dos óvulos e colocou no cartão5 gols apostascrédito os medicamentos para estimulação ovariana, que custam cerca5 gols apostasUS$ 1 mil.

Quatro meses após congelar os óvulos,5 gols apostasdezembro5 gols apostas2016, ela recebeu um bônus e um aumento5 gols apostassalário, que permitiram a ela pagar por um segundo ciclo5 gols apostascongelamento5 gols apostasóvulos5 gols apostasjaneiro5 gols apostas2017, sem contrair mais dívidas.

Embora esteja ganhando mais agora, Nadine ainda está pagando o empréstimo que tomou. Ela continua olhando os classificados, e chega a entrar5 gols apostascontato com corretores5 gols apostasimóveis, antes5 gols apostasser trazida5 gols apostasvolta à realidade.

"Existe a sensação, no fundo da minha mente,5 gols apostasque eu ainda tenho dinheiro, porque5 gols apostascerto momento cheguei a ter", diz ela. "Mas pela maneira como os namoros acontecem, eu sei que talvez não encontre a pessoa certa5 gols apostasdois, quatro ou 100 anos. (A idade de) 34 anos parecia ser o limite que os médicos5 gols apostasfertilidade aconselham para congelar os óvulos, por isso foi uma decisão fácil. Eu tinha que fazer o que era preciso."

Estatísticas

O número5 gols apostasmulheres que congelam os óvulos aumentou significativamente nos últimos anos. Em 2009, foram realizados apenas 564 ciclos5 gols apostascongelamento5 gols apostasóvulos nos EUA, enquanto5 gols apostas2016 esse número subiu para 8.892,5 gols apostasacordo com a Sociedade5 gols apostasTecnologia5 gols apostasReprodução Assistida. No Brasil, embora não haja estatísticas oficiais, calcula-se que tenha triplicado o número5 gols apostascongelamento5 gols apostasóvulos nos últimos cinco anos.

O crescimento global pode ser explicado parcialmente por alguns fatores. Nos EUA, por exemplo, a Sociedade Americana5 gols apostasMedicina Reprodutiva removeu5 gols apostas2012 a prática da lista5 gols apostastécnicas "experimentais", depois que avanços na tecnologia aumentaram a chance5 gols apostasefetividade dos óvulos ao serem descongelados.

Além disso, a repercussão na imprensa do polêmico benefício oferecido por empresas5 gols apostastecnologia às funcionárias e5 gols apostascelebridades falando sobre seus próprios óvulos congelados deu mais visibilidade ao tema. Sem contar com o surgimento5 gols apostascompanhias como a EggBanxx, que oferecem financiamento para a realização do procedimento e ficaram conhecidas por organizar "festas5 gols apostascongelamento5 gols apostasóvulos" para divulgar a prática.

Pesquisas sobre "congelamento social dos óvulos" sugerem que as mulheres talvez estejam fazendo esse investimento alto devido a fatores mais profundos do que simplesmente priorizar a carreira. Como parte5 gols apostasum estudo sobre congelamento5 gols apostasóvulos, a antropóloga Marcia Inhor, da Universidade5 gols apostasYale, nos EUA, entrevistou 150 mulheres americanas - e 90% delas citaram a busca contínua por um parceiro como principal razão para fazer o procedimento. Zeynep Gurtin, pesquisador visitante da Universidade5 gols apostasCambridge, afirmou que há um fenômeno semelhante no Reino Unido.

Mas o que isso significa para as finanças das mulheres? Elas já ganham menos que os homens5 gols apostasquase todos os setores da economia, e também possuem menos bens. Nos EUA, as mulheres têm 32 centavos5 gols apostaspatrimônio para cada dólar dos homens.

Embora o número5 gols apostasmulheres que congelam os óvulos seja provavelmente pequeno demais para impactar os dados nacionais, para as mulheres individualmente, o custo é significativo.

Emma*, organizadora freelancer5 gols apostaseventos5 gols apostasLondres, fatura cerca5 gols apostas£ 55 mil (R$ 295 mil) por ano e começou a cogitar o congelamento5 gols apostasóvulos quando tinha 37 anos, depois5 gols apostasnão ter namorado ninguém sério por muito tempo. Ela pesquisou as clínicas com cuidado e chegou a fazer testes preliminares5 gols apostasuma que oferecia consultas relativamente baratas -5 gols apostastorno5 gols apostas£ 200 (R$ 1 mil).

Em novembro5 gols apostas2017, ela recolheu nove óvulos5 gols apostasuma rede britânica5 gols apostasclínicas, conhecida por ser pioneira5 gols apostastécnicas leves5 gols apostasestimulação - que usam menos drogas e assim reduzem o custo do procedimento, mas também produzem menos óvulos. Mesmo assim, o procedimento custou cerca5 gols apostas£ 5,1 mil (R$ 27 mil), incluindo a medicação e os exames5 gols apostassangue.

"É muito dinheiro", diz Emma. Ela agora está planejando passar por um segundo ciclo - os médicos recomendam que as mulheres tenham 20 óvulos para aumentar a chance5 gols apostasnascimento. E armazená-los também custará a Jane um adicional5 gols apostas£ 360 por ano, o que pode chegar a milhares5 gols apostaslibras se ela decidir guardar os óvulos pelo prazo máximo, que é5 gols apostasdez anos no Reino Unido. Depois, há ainda o custo da fertilização in vitro5 gols apostassi, que pode custar £ 5 mil ou mais, no caso5 gols apostastratamento particular, se ela optar por usar os óvulos.

Ou seja, os gastos podem ser astronômicos.

"É uma apólice5 gols apostasseguro, que pode ser um desperdício5 gols apostasdinheiro, porque eu posso encontrar um parceiro e ter filhos naturalmente", pondera Emma.

"Mesmo se eu encontrasse o homem da minha vida amanhã, levaria algum tempo até a gente se estabelecer e se casar. E, se decidíssemos ter um filho, eu estaria provavelmente com 40 anos e, se eu quisesse dois, teria possivelmente com 40 e poucos anos."

Sem garantias

Mas essas mulheres estão pagando por algo que é apenas um lampejo5 gols apostasesperança. Não há garantias5 gols apostasque a tecnologia funcione, já que a maioria dos ciclos5 gols apostasfertilização in vitro falha - apenas um quinto é bem-sucedido - e há sempre o risco5 gols apostasos óvulos não sobreviverem ao processo5 gols apostasdescongelamento ou5 gols apostashaver anomalias cromossômicas.

A escritora Helaine Olen, autora do livro5 gols apostasfinanças pessoais Pound Foolish, questiona por que tanto dinheiro está sendo despejado5 gols apostasuma indústria que ainda tem baixas taxas5 gols apostassucesso. "Se trata5 gols apostasvender uma tecnologia mais que incerta às mulheres americanas, como uma maneira5 gols apostaslidar com questões sociológicas maiores", argumenta Olen. E, para a maioria das mulheres, a expectativa é encontrar um parceiro e engravidar à moda antiga (e gratuita) - ou seja, nunca precisar usar os óvulos congelados.

Tiffany Murray, hoje com 40 anos, congelou os óvulos aos 34 anos, após um namoro sem muito sucesso5 gols apostasWashington (EUA). Em vez5 gols apostasficar presa a um relacionamento que não era ideal apenas pelo desejo5 gols apostaster filhos antes que fosse tarde demais, ela escolheu congelar os óvulos. Seus pais deram o procedimento a ela5 gols apostaspresente5 gols apostasNatal.

Quatro anos depois, no entanto, ela conheceu seu atual marido e engravidou naturalmente, logo depois que se casaram. Murray ainda paga para manter armazenados seus 14 óvulos congelados, caso tenham problemas para conceber o segundo filho. Em seis anos, desde que ela congelou os óvulos, a taxa anual5 gols apostasarmazenamento subiu5 gols apostasUS$ 350 para US$ 600.

A esse preço, brinca Murray, parece que seus "óvulos estão sendo mantidos como reféns".

Apesar do alto custo do procedimento, Nadine sente, por5 gols apostasvez, que fez a escolha certa. Ela coletou 30 óvulos e paga uma taxa5 gols apostasarmazenamento5 gols apostasUS$ 1 mil por ano. Ela encoraja, inclusive, as amigas a refletirem sobre a opção.

"Dá um pouco5 gols apostasraiva5 gols apostasrelação à parte financeira", desabafa, mas com a certeza5 gols apostasque fez um bom investimento para o futuro.

"Agora eu tenho 30 crianças que gastam US$ 1 mil por ano", brinca, soltando uma risada. Ou, pelo menos, pode ser que tenha, se5 gols apostasalgum momento decidir resgatar5 gols apostasapólice5 gols apostasseguro5 gols apostasfertilidade.

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* Nadine é um nome fictício, usado para preservar a identidade da entrevistada. Emma pediu para não publicar seu nome completo na reportagem pelo mesmo motivo.

5 gols apostas Leia a versão original desta reportagem 5 gols apostas (em inglês) no site BBC Capital 5 gols apostas .