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A modelo brasileira que viralizou ao fazer faxina para pessoas com depressão:
A faxina feita por ela é parteuma sérievídeos que a modelo começou a compartilharseu perfil no TikTok no iníciomarço. Essas publicações viralizaram e acumulam mais30 milhõesvisualizações somente nessa rede social.
'Ele precisavaajuda'
Ellen conta que o projeto, chamadoFaxina Milgrau, tem relação com o hábitolimpeza que possui desde pequena. Ela considera que o localque vive precisa estar livre da sujeira para que as coisas fiquem bem. "Parece que a vida só funciona quando a casa tá limpa", comenta.
O Faxina Milgrau, diz Ellen, surgiu quando ela precisou ajudar um amigodepressão que estava com dificuldades para limpar a própria casa.
"A gente costumava falar: vamos fazer uma intervenção, chegar com as vassouras e tudo nacasa. A gente só falava, mas chegou um momentoque ele realmente pediu ajuda", diz Ellen.
A modelo e a amiga, a publicitária Lua Rodrigues, decidiram registrar a limpezaum vídeo no TikTok. Para Ellen, que também é influenciadora digital, foi um teste sobre o conteúdo que realmente agradaria o público. Ela conta que ainda avaliava a melhor formausar a rede socialvídeos.
"Eu pensavaalguns nichos, como maquiagem, porque queria crescer no TikTok. E o que desse certo, seguiria nesse nicho. Quando falamos sobre gravar a faxina, pensei: é um conteúdo que eu gosto e pode dar certo", explica Ellen.
Os vídeoslimpeza foram inspiradospublicações da finlandesa Auri Katariina, que se tornou um fenômeno mundial ao fazer faxinas nas casaspessoas que enfrentam problemassaúde mental ou outras dificuldades que as impedemconseguir limpar o localque moram.
Logo na primeira faxina, na casa do amigo, a publicaçãoEllen fez sucesso na rede social. Em poucos dias passou2 milhõesvisualizações.
A repercussão positiva fez com que a modelo seguisse com os vídeos. Para ela, foi uma formafazer algo que gosta, ajudar outras pessoas e ainda fazer com que o público a conhecesse melhor.
"Com isso, consigo sair da minha zonaconforto e também mostrar um lado que muitas pessoas não têm ideia sobre mim. Acham que por ser modelo sou intocável ou nasci rica. Não sou nada disso. Não nasci rica ou herdeira", declara Ellen.
A busca por participantes
Depois da repercussão do primeiro vídeo, Ellen e Lua começaram a busca por uma segunda pessoa que estivessesituação parecida.
Lua anuncioudiversos lugares na rede até achar outro caso: uma mãe e uma filha que moram juntas, enfrentam a depressão e estavam com a casa suja.
Com exceção do primeiro episódio, nenhum participante teve a identidade divulgada no projeto para evitar a exposição por revelar detalhes muito pessoais.
Com a repercussão dos vídeos, Ellen e Lua passaram a receber inúmeras mensagens por e-mail, pelo Instagram e TiKTokpessoas pedindo para serem ajudadas. Para definirqual casa irão, elas olham fotos do local e conhecem melhor a história do morador do imóvel.
"A gente já consegue identificar quem são aqueles que buscam a gente e realmente precisam da nossa ajuda", diz Ellen.
No início, a modelo e a publicitária faziam as faxinas sozinhas - Lua aparece raramente nos vídeos, pois é a responsável pelas gravações. Diante da repercussão dos vídeos, conseguiram voluntários para ajudá-las.
Ao menos por enquanto, todas as residências foramSão Paulo por questões financeiras. Toda a produção é feitamodo independente, diz Ellen, pois ao menos por enquanto não há nenhum patrocinador. Em razão disso, elas só conseguem atender uma casa por semana,uma faxina que não tem horário estipulado para acabar - nos últimos episódios foram cercasete horas para concluir a limpeza.
Quando não está limpando as casas, Ellen se dedica à carreiramodelo ou faz publicidades para as suas redes sociais. "Não é com a faxina que a gente ganha dinheiro, por isso não conseguimos viver só disso no momento", comenta a modelo.
'Uma situação muito precária'
Já foram publicados quatro episódios no TikTok. Para Ellen, a história mais marcante foi a do terceiro caso, no qual uma jovem21 anos morava sozinha e sofria com uma depressão grave. "Era uma situação muito precária. Ela foi completamente abandonada pela família depois que perdeu um ente querido, estava sem amigos e morandoSão Paulo. Isso mexeu muito comigo", diz.
No vídeo, Ellen contou que a jovem não limpava a casa havia 10 meses. No local havia lixo por todos os lados e muitas baratas. "Teve um momento, durante a limpeza,que ela (a jovem21 anos) desabou, começou a chorar, se sentir culpada e ficou com muita vergonha por a gente estar fazendo isso por ela. Mas a gente explicou pra ela, a gente a acolheu e deu tudo certo, ela ficou muito feliz ", disse Ellen no vídeo.
Outro caso marcante para a modelo foi o do quarto episódio: uma mãe que perdeu a guarda da filha. "Quando a gente viu as fotos do apartamento, falou: o lugar tá num nívelsujeira que a gente quer, vai ser tranquilo. Mas quando chegamos, era muito pior. O cheiro era muito forte, num nívelpassar mal. Ela estava três meses sem a filha, enfrentava uma depressão e tinha muita sujeira", relembra a modelo.
As mulheres do terceiro e quarto episódio conseguiram terapia gratuita por meioum psicólogo que se ofereceu para ajudá-las.
Depressão e cuidados do cotidiano
Assim como as pessoas que visita, Ellen também sofredepressão. "Eu faço tratamento e entendo as dificuldades que essas pessoas enfrentam."
O psiquiatra Higor Caldato explica que é comum que uma pessoadepressão não consiga ter os cuidados considerados mais simples. "Um dos principais sintomas da depressão, assim como a tristeza e a irritabilidade, é a perdaenergia e a perdaprazer nas coisas", diz à BBC News Brasil.
"Isso faz com que as pessoas não consigam, muitas vezes, fazer as tarefas mais simples do cotidiano, como as domésticas e também asautocuidado como banho e exercício físico. E isso não é porque a pessoa não quer, é porque ela não consegue e está sem energia para fazer suas atividades", acrescenta.
Mas ele destaca que nem todas as pessoasdepressão terão esses sintomas. "Hoje é muito comum a gente perceber aquilo que chamamosdepressão funcional, que é o paciente que mesmo deprimido faz suas atividades rotineiras, mas à custamuito esforço,um sofrimento muito grande", diz.
Em casosuspeita da doença, o especialista ressalta que é fundamental procurar ajuda por meiopsiquiatra ou psicólogo para fazer o tratamento adequado.
"Tem muitos sintomasdepressão que são vistos como bobagem, como besteiras. O ideal é buscar ajuda especializada. Por serem sintomas emocionais, as pessoas não conseguem identificarexamessangue,raio-X", diz.
No caso daqueles que não conseguem sequer limpar a própria casa, o psiquiatra pontua que a bagunça pode piorar o quadro depressivo. "Isso faz com que a sensaçãoincapacidade cresça dentro da pessoa e aumenta ainda mais a sensaçãoimpotência e inferioridade", declara Caldato.
A limpeza da casa, comenta Ellen, é um pequeno passo para ajudar uma pessoa que enfrenta a doença. "Nos comentários muitos dizem: 'ah, daqui a uma semana volta tudo como antes'. Mas eu acredito que eles podem manter (a limpeza) porque esse pode ser o gás que precisam para seguir, Depois disso, eles podem dormir melhor e até pensar melhor", afirma a modelo.
O melhor exemplocomo a faxina pode ajudar, diz Ellen, é oseu amigo que participou do primeiro episódio do projeto. "Ele mantém a casa limpa até hoje e sempre manda foto mostrando pra gente", conta a modelo.
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