O que é o 'desafio da rasteira' e por que pânico dos pais pode aumentar risco para crianças:bet7k nao entra

Adolescentes no celular

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Desafios que circulam na internet costumam preocupar pais, mas também geram desinformação

O caso do colégio Santo Tomás Aquino

O vídeo que tem acompanhado a mensagem viral no WhatsApp mostra três estudantes falantesbet7k nao entralíngua espanhola usando uniformesbet7k nao entraum colégio chamado Santo Tomás Aquino.

Pelo Twitter, o colégio (localizado no municípiobet7k nao entraChacao, na Venezuela) postou comunicado da prefeitura local no dia 7bet7k nao entrafevereiro, advertindo que, diante da "situação agressivabet7k nao entramuito risco" a que os alunos estão expostos pela brincadeira, foi acionado o conselho localbet7k nao entraproteção infantil.

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Segundo a ONG cearense DimiCuida, que monitora "jogos" perigosos que se disseminam online, o vídeo dos alunos do colégio Santo Tomás foi bastante compartilhadobet7k nao entrapaíses da América Central no final da semana e começou a circular no Brasil nos últimos dois dias.

A tragédiabet7k nao entraMossoró

Também têm sido frequentes, nas redes sociais, compartilhamentosbet7k nao entraalertas sobre o "desafio da rasteira" com printsbet7k nao entrauma notícia sobre a mortebet7k nao entrauma adolescentebet7k nao entraMossoró (RN).

Embora a notícia esteja sendo compartilhada como se fosse atual, trata-sebet7k nao entraum caso trágico ocorridobet7k nao entranovembrobet7k nao entra2019.

O diretor da escola municipal Antonio Fagundes, José Altemar da Silva, explica à BBC News Brasil que a adolescente Emanuela,bet7k nao entra16 anos, estudante do 9º ano do ensino fundamental, participavabet7k nao entraoutro tipobet7k nao entrajogo ou desafio, que consistiabet7k nao entraser "girada" como uma "roleta humana", nos braços entrelaçadosbet7k nao entradois amigos, e tentar cairbet7k nao entrapé.

A jovem, porém, caiubet7k nao entracabeça no chão. "Socorri, levei ela para o hospital com a mãe, e a tomografia mostrou que ela teve um traumatismo craniano com sangramento", explica Silva. "Ao sair da tomografia, ela desmaiou e teve uma parada cardíaca. Foi reanimada e passou por uma cirurgia. Ainda teve mais quatro dias viva. Mas sofreu outra hemorragia."

Emanuela, que Silva descreve como "uma menina muito doce, muito educada", morreubet7k nao entra11bet7k nao entranovembro do ano passado, gerando uma grande comoção na escola e um sinalbet7k nao entraalerta para os educadores.

"Eles (adolescentes) não tinham noção do perigo. Depois disso, eu soube que essa brincadeirabet7k nao entragirar estavam ocorrendobet7k nao entraoutras escolas da cidade, sem a gente ter conhecimento. Foi um choque muito grande", prossegue o diretor.

A escola ficou três dias fechada,bet7k nao entraluto, e os alunos passaram a ter acompanhamento psicológico, sobretudo os que estavam envolvidos no episódio, conta Silva. "Quando eles voltaram para as aulas, eles choravam muito. (...) Foi uma surpresa muito grande, uma grande infelicidade,bet7k nao entrauma escola onde nunca havia acontecido nada assim, e onde todas as crianças são do mesmo bairro."

A assistente social Sonia Feitosa, que prestou assistência aos alunos e às famílias, diz que o episódio foi um momentobet7k nao entra"muita dor e muita solidariedade", principalmente para as colegasbet7k nao entrasalabet7k nao entraEmanuela. "Eles não pensavam que poderia acontecer algo grave", conta.

Adolescentes no celular

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Eles não pensavam que poderia acontecer algo grave', conta assistente sobre o comportamento dos adolescentes; acima, fotobet7k nao entraarquivobet7k nao entraadolescentes usando celular

Feitosa se emociona ao lembrar da família da adolescente. "Ela era estudiosa, fazia muitos planos parabet7k nao entravida profissional. A mãe nos contou que ela tinha acabadobet7k nao entrafazer aniversário, e eles iam fazer uma festinha para ela."

Cada professor da rede municipalbet7k nao entraMossoró foi instruído, depois da tragédia, a conversar com os alunos sobre brincadeiras do tipo, conta a assistente.

O perigo dos desafios na internet

O casobet7k nao entraMossoró, embora não se trate especificamente do chamado "desafio da rasteira", evidencia os perigosbet7k nao entracomportamentos nocivos que ganham palco e audiência na internet.

Em 2018, por exemplo, a BBC News Brasil reportou o casobet7k nao entrauma meninabet7k nao entrasete anosbet7k nao entraSão Bernardo do Campo (SP) que morreu depoisbet7k nao entrainalar desodorante aerosol, copiando o que havia vistobet7k nao entraum vídeo na internet.

A própria ONG DimiCuida,bet7k nao entraFortaleza, foi criadabet7k nao entrahomenagem a um jovembet7k nao entra16 anos que morreu praticando o "jogo do desmaio". E, assim como estes, há também vídeos online com desafios da canela, da camisinha, da buzina etc.

A pesquisa TIC Kids Online, que ouviu, entre outubrobet7k nao entra2018 e marçobet7k nao entra2019, 3 mil famílias brasileiras com filhos entre 9 e 17 anos a respeitobet7k nao entraseus hábitos na internet, apontou que 16% das crianças entrevistadas disseram ter visto online formasbet7k nao entramachucar a si mesmas; e 14% tiveram contato com conteúdo que mostrava como cometer suicídio.

Quase a metade viu alguém ser discriminado na internet nos 12 meses anteriores ao estudo.

Um agravante é que, na adolescência, ainda não foi plenamente desenvolvido o córtex pré-frontal, área do cérebro responsável por controlar a impulsividade e a avaliaçãobet7k nao entrariscosbet7k nao entranossas ações. Ou seja, adolescentes são, fisiologicamente, mais suscetíveis a situaçõesbet7k nao entrarisco.

Por que pais não devem compartilhar os vídeos desses desafios

mensagem sendo compartilhadasbet7k nao entragruposbet7k nao entraWhatsApp

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Ao contrário do que tem acontecido, especialista não recomenda que se compartilhe vídeobet7k nao entracrianças fazendo desafios online

No entanto, embora o perigobet7k nao entratais desafios seja real, ele acaba sendo potencializado —bet7k nao entravezbet7k nao entramitigado — pelo compartilhamento excessivo dos vídeos na internet, às vezes pelos próprios pais no afãbet7k nao entraalertar os demais.

"(Compartilhar vídeos do tipo) é o oposto do processo educativo", diz à BBC News Brasil Fabiana Vasconcelos, psicóloga da DimiCuida.

A ONG explica que "disseminar vídeos sem conteúdo educativo (em torno do desafio) gera pânico e mais disseminação, não havendo então nenhum efeitobet7k nao entrainterrupção da prática; pelo contrário, esses vídeos chegam também aos adolescentes, que curiosamente podem tentar o desafio."

"Os pais estão disseminando imagensbet7k nao entracrianças e adolescentes, o que é proibido por lei", prossegue Vasconcelos — e o Artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, entre outras proteções, a "preservação da imagem"bet7k nao entramenoresbet7k nao entraidade.

"É preciso pensar: 'será que eu gostariabet7k nao entrareceber um vídeo do meu filho fazendo um desafio, que pode ser que nunca saia da internet e pode surtir efeito na vida dele mais tarde?'."

Vasconcelos defende que as famílias pensem na educação digital como algo que seja partebet7k nao entrasua rotina na conversa com os adolescentes,bet7k nao entravezbet7k nao entralidar com o tema apenasbet7k nao entramomentosbet7k nao entrapânico.

"Primeiro, é importante analisar: como está o meu diálogo com meu filho e o quanto eu conheço sobre o uso que ele faz da internet?", sugere.

A partir daí, ela indica que pais perguntem se os filhos têm visto comportamentobet7k nao entrarisco sendo compartilhado na internet oubet7k nao entraseus ambientes sociais. "Você tem visto alguma brincadeira perigosa? Eu ouvi falarbet7k nao entrauma delas. Você viu algo a respeito?"

Depois, a orientação é discutir o tema sem julgamento, mas refletindo junto com as crianças "será que vale a pena correr esse tipobet7k nao entrarisco proposto pelos desafios?" e deixando mais palpáveis os riscos, que, para muitos jovens, ainda soam como algo abstrato.

Mas isso tem que ser um processo constante, defende Vasconcelos. "Não pode ser apenas nesses momentosbet7k nao entrapânico, duas vezes ao ano. É algo que temosbet7k nao entraintegrar à nossa cultura. É um novo desafio, mas não podemos nos ausentar dele."

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