'Politização' da infância? Acirramento chega ao playground e causa preocupação:blaze machine

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Em entrevista à BBC Brasil, a especialista fala do climablaze machineódio e como ele afeta as crianças, sobre as consequênciasblaze machinelevá-las a protestos e o que significa vê-las gritar "não vai ter golpe" ou bater panelas na varanda. Ela explica como lidar e conversar com meninos e meninas sobre tolerânciablaze machinetemposblaze machineódio.

BBC Brasil - blaze machine Como o climablaze machineacirramento político está afetando as crianças?

blaze machine Ilana Katz - As crianças são muito porosas e elas certamente estão sendo afetadas por esse climablaze machineódio. É algo muito impressionante e perigoso. Minha percepção é ablaze machineque estamos ensinando nossas crianças a odiar e a ver o diferente como inimigo. Essa é a cara do nosso tempo.

BBC Brasil blaze machine - É razoável levar criançablaze machineprotestos?

blaze machine Katz - É claro que os pais podem convidar os filhos a iremblaze machineprotestos, desde que a ideia seja transmitir um valor e não puxar isso pelo lado afetivo. Ou seja, é legal querer introduzir um pensamento, mostrar para a criança o que estáblaze machinejogo, falar da história do país, contar dos avós... Mas não se pode deixar que a criança fique com a ideiablaze machineque "se eu for no protesto, meu pai vai me amar mais." As crianças são muito suscetíveis a isso, precisam dessa aprovação.

BBC Brasil - blaze machine Por quê?

blaze machine Katz - Elas se submetem a essa condição infantilblaze machineser amada pelo outro. Para serem admiradas, elas repetem o que o pai, a mãe ou o amigo fazem, inclusive odeiam.

'O convite dos pais temblaze machineser sempre para o pensar. Vai bater panela, filho? Por quê?'

Crédito, AP

Legenda da foto, 'O convite dos pais temblaze machineser sempre para o pensar. Vai bater panela, filho? Por quê?'

BBC Brasil - blaze machine Seria melhor blindar as crianças desse debate, ainda que parcialmente?

blaze machine Katz - Fala-se muitoblaze machinepolitização da infância. Mas essa é uma expressão ruim, porque ser político é estar na pólis, é participar. E a criança é um acontecimento na cidade, assim como todos nós. E, hoje, não é mais possível blindar as crianças do que aconteceblaze machinevolta delas.

BBC Brasil - blaze machine Antigamente era mais fácil fazer isso?

blaze machine Katz - É claro que antes se tinha mais controle. Se a mãe dizia 'não pode ver novela', a discussão acabava aí. Hoje, quando a mãe sai para trabalhar, a criança vê a novela o – ou qualquer outro programablaze machinequestão – no YouTube e pronto. Assim, a proibição tem um outro lugar. Um lugarblaze machineonde é mais fácilblaze machinese fugir.

BBC Brasil - blaze machine E qual ablaze machinereação ao ver uma criança xingando figuras políticas, algo que temos visto ultimamente?

blaze machine Katz - Para mim, isso é o horror. E onde já se viu uma criança brigar com outra por questões políticas? Vemos que elas usam termos que não usaria normalmente, ou seja, mal sabe o que está dizendo.

BBC Brasil - blaze machine Então elas estão apenas repetindo os pais ou os amigos?

blaze machine Katz - As crianças vão conosco nas nossas escolhas. Elas não falam por siblaze machinetermosblaze machineconteúdo – não dá para esperar que elas saibam o que estão dizendoblaze machineum momento tão complicado. Mas elas falam por si quando vemos a posição delas. E a posiçãoblaze machinemuitas é a do ódio. E é como estávamos falando, odeiam porque o pai odeia, xingam porque a mãe xinga.

BBC Brasil - blaze machine Mas muitos pais acham importante mostrar suas convicções nesse momento. Qual a melhor maneirablaze machinese fazer isso?

blaze machine Katz - Em qualquer tipoblaze machinecenário, é preciso lembrar que há uma diferença fundamental entre a experiência reflexiva e a posturablaze machinese transmitir o ódio. Uma coisa é falar das minhas lutas para os meus filhos, é eles me verem triste ou irritada quando há uma notícia negativa nesse sentido. Outra coisa completamente diferente é transmitir a intolerância ao que é diferente. É me ver xingando alguém que pensa diferente dessa minha convicção.

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BBC Brasil - blaze machine Vemos muitas crianças estressadas por esse climablaze machineacirramento. Dizer para um filho que essa discussão não é para a idade dele ou que ele não precisa se posicionar é válido para aliviar essa tensão?

blaze machine Katz - Seria razoável inclusive para um adulto dizer que ele não precisa se posicionar, embora nesse momento seja complicado, mesmo que você tente. Mas as crianças precisam ter isso claro, sim. Elas devem saber que podem ter essa dúvida. Porque é justamente essa condiçãoblaze machinedúvida que dá lugar para a opinião do outro.

Precisamos dizer para as crianças que ela não precisa concordar com a mãe e o pai ou que ela pode achar legal só uma parte do que o professor ou o amigo falou.

Evidente que os pais podem dar limites e não explicar determinado assunto, mas cada vez isso vai ter menos efeito. Isso precisa vir junto com uma experiência que seja ao mesmo tempoblaze machineafeto eblaze machinereflexão.

BBC Brasil - blaze machine Está faltando isso? Exemplo?

blaze machine Katz - As crianças são mais suscetíveis ao que a gente transmite do que ao que a gente explica. Dizer que temblaze machinerespeitar e depois mandar alguém calar a boca não funciona.

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Se seu filho quer um jogoblaze machinevideogame que você não quer dar, não tem nenhum problemablaze machinedizer não, claro. Mas você pode dizer que não vai comprar porque é, sei lá, um jogoblaze machineque as pessoas se matam e você não quer isso dentroblaze machinecasa.

Dizer isso, sem fazer o seu filho se sentir um idiota por querer algo com o qual você não concorda. É a maneira como você explica, é a experiência da tolerância entre pais e filhos. Tudo começa aí.

BBC Brasil - blaze machine Há crianças, especialmente as pequenas, que querem bater panela porque é divertido ou gritar "não vai ter golpe" para agradar ao amigo. Como os pais devem lidar com esse tipoblaze machinesituação?

blaze machine Katz - O convite dos pais temblaze machineser sempre para o pensar. Vai bater panela, filho? Por quê? Por que vai bater no pixuleco? Você sabe o que isso significa? E vale sempre mostrar a posição do outro.

BBC Brasil - blaze machine Estamos falhandoblaze machinemostrar para as crianças a posição do outro?

blaze machine Katz - O que me surpreende é a questão do maniqueísmo. A condição do maniqueísmo moral é própria da infância. É o bem e o mal, a princesa e a bruxa, o mocinho e o bandido. Essa é a formablaze machinepensar infantil. Mas o que estamos vendo são adultos virando maniqueístas. É responsabilidade do adulto mostrar que a vida não é assim, que uma pessoa acertou aqui e errou ali. É preciso pode transmitir para as crianças que vamos ter que viver com isso e não apesar disso.

É preciso abrir esse encontro para um espaço para ser um localblaze machinepensamento e não uma crença ou uma fé. E para isso, é preciso que haja lugar para a diversidade.

BBC Brasil - blaze machine E qual o papel da escolablaze machineum momento desses?

blaze machine Katz - A escola tem a obrigação éticablaze machineensinar o diálogo entre diferentes. Ensinar a suportar a experiência da alteridade, ou seja, a capacidadeblaze machinese colocar no lugar do outro.

As famílias também deveriam ter esse papel, claro. Você deveria estar aberto a ouvir que seu filho pensa ou vota diferente, mas sabemos que nem sempre é assim.

Já a escola que não tem escapatória. Éblaze machinefunção desconstruir esse maniqueísmo e ensinar os alunos a aceitar a sustentação do espaço dos outros.