Por que civilizações antigas não reconheciam a cor azul?:blackjack qual jogo
blackjack qual jogo Emblackjack qual jogoinvestigação sobre como a linguagem afeta a maneira como vemos o mundo, o linguista Guy Deutscher dedicou-se a um tema específico: a ausênciablackjack qual jogoreferências à cor azul nos textosblackjack qual jogodiversas civilizações antigas.
O primeiro intelectual a notar essa curiosidade foi o britânico William Ewart Gladstone (1809-1898), que não apenas foi quatro vezes primeiro-ministro como também um apaixonado pela obra do poeta Homero.
Apesar das maravilhosas descrições feitas por ele nos relatos A Ilíada e A Odisseia, que incluíam frases como "a aurora com seus dedos rosados",blackjack qual jogonenhum momento o autor pintava algoblackjack qual jogoceleste, índigo ou anil.
- Curtiu? Siga a BBC Brasil no <link type="page"><caption> Twitter</caption><url href="https://twitter.com/bbcbrasil" platform="highweb"/></link> e no <link type="page"><caption> Facebook</caption><url href="https://www.facebook.com/bbcbrasil" platform="highweb"/></link>
Gladstone repassou todo os dois textos, prestando atenção às cores mencionadas. Descobriu que, enquanto o branco era mencionado cem vezes e o preto, quase 200, as outras cores não tinham tanto destaque. O vermelho era citado menosblackjack qual jogo15 vezes e o verde e o amarelo, menosblackjack qual jogodez.
Ele leu, então, outros escritos gregos e confirmou que o azul nunca aparecia. Concluiu que a civilização grega não tinha à época um sensoblackjack qual jogocor desenvolvido e viviablackjack qual jogoum mundo preto e branco, com algumas pinceladasblackjack qual jogovermelho eblackjack qual jogobrilhos metálicos.
"Eles entendiam o azul com a mente, mas não com a alma", afirma o pesquisador.
- <link type="page"><caption> Leia também: Cidades submarinas e arranha-céus subterrâneos: a vida dentroblackjack qual jogo100 anos </caption><url href="http://vesser.net/noticias/2016/02/160216_cidades_em_100_anos_fn" platform="highweb"/></link>
Em parte alguma
A pesquisablackjack qual jogoGladstone inspirou o filósofo e linguista alemão Lazarus Geiger, que se perguntou se o fenômeno se repetiablackjack qual jogooutras culturas.
Ele descobriu que sim: no Alcorão,blackjack qual jogoantigas histórias chinesas,blackjack qual jogoversões antigas da Bíbliablackjack qual jogohebraico, nas sagas islandesas e até nas escrituras hindus, as Vedas.
"Esses hinosblackjack qual jogomaisblackjack qual jogodez mil linhas estão cheiosblackjack qual jogodescrições do céu. Quase nenhum tema é tratado com tanta frequência. O sol e o início da madrugada, o dia e a noite, as nuvens e os relâmpagos, o ar e o éter, tudo isso é contado", afirma Geiger.
"Mas uma coisa que ninguém poderia sabia por meio dessas canções é que o céu é azul."
Geiger também notou que houve uma sequência comum para o surgimento da descriçãoblackjack qual jogocores nas línguas antigas. Primeiro, aparecem as palavras para preto e branco ou escuro e claro - do dia e da noite -; logo, vem o vermelho - do sangue -; depois, é a vez do amarelo e do verde e, só ao final, surge o azul.
Mas por que o azul não apareceu antes?
"E por que deveria?", questiona o psicólogo Jules Davidoff, diretor do Centro para Cognição, Computação e Cultura da Universidadeblackjack qual jogoLondres. "Por que precisariam do azul para descrever algo? Quem disse que o mar e o céu são azuis? Por acaso, eles têm a mesma cor?"
- <link type="page"><caption> Leia também: Brasileiros viram celebridades do YouTube dando dicas sobre vida no exterior</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2016/02/160215_brasileiros_imigrantes_celebridades_redes_sociais_en_lgb" platform="highweb"/></link>
Cognição
Davidoff dedica-se à neuropsicologia cognitiva e a investigar a forma como reconhecemos objetos, cores e nomes. Ele fez experimentos com uma tribo da Namíbia, na África, cuja linguagem não tem uma palavra para o azul, mas possui várias para diferentes tiposblackjack qual jogoverde.
Quando mostrou a integrantes da tribo 11 quadrados verdes e um azul, não puderam achar qual era diferente, mas, seblackjack qual jogovezblackjack qual jogoazul, o quadrado fosseblackjack qual jogoum tomblackjack qual jogoverde levemente diferente e dificilmente notado pela maioria das pessoas, era destacado imediatamente.
Na verdade, poucas coisas na natureza são azuis: uma ou outra florblackjack qual jogoorquídea, as asasblackjack qual jogoalgumas borboleta, as plumasblackjack qual jogocertas aves, a safira e a pedra luz.
No entanto, Homero estava na Grécia, um lugar que para muitos é mercado pelo azul do céu e do mar. Como podiam ignorar essa cor?
Em seus estudos, Deutscher recorreu à filha, Alma, que estava aprendendo a falar na época. Como qualquer outro pai, ele brincava com ela e a ensinava o nomeblackjack qual jogodiferentes cores.
Teve, então, uma ideia para verificar o quão natural é o azul na linguagem e entender como as civilizações antigas, especialmente as que viviam no Mar Mediterrâneo, não deram um nome para a cor do céu.
Ele ensinou a Alma todas as cores, inclusive azul, mas fez com que ninguém lhe dissesseblackjack qual jogoque cor era o céu. "Quando tive certezablackjack qual jogoque sabia usar a palavra 'azul' para os objetos, sai com elasblackjack qual jogodiasblackjack qual jogocéu azul e perguntei qual erablackjack qual jogocor."
Por muito tempo, Alma não respondeu. "Ela respondia imediatamente a tudo mais, mas, com o céu, olhava e parecia não entender do que eu estava falando", conta Deutscher.
"Certa vez, quando já estava muito segura e confortável com todas as cores, ela me respondeu, dizendo primeiro 'branco'. Foi só depoisblackjack qual jogomuito tempo e após ver cartões-postaisblackjack qual jogoque o céu aparecia azul que usou essa cor para descrevê-lo."
- <link type="page"><caption> Leia também: O que aconteceria se o mundo inteiro tivesse a mesma hora?</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2016/02/160220_mundo_mesma_hora_rb" platform="highweb"/></link>
Necessidade
Foi assim queblackjack qual jogofilha ensinou a ele que nada é tão óbvio quanto pensamos. "Entendi com meu coração, observando uma pessoa, não lendo livros ou pensandoblackjack qual jogopovosblackjack qual jogoum passado remoto", afirma o pesquisador.
"E Alma nem sequer estava na mesma situação dos povos antigos: ela conhecia a palavra azul e, no entanto, não a usou para o céu. Compreendi que não é uma necessidadeblackjack qual jogoprimeira ordem dar um nome para a cor do céu. Não se tratablackjack qual jogoum objeto."
O mesmo ocorre com o mar: assim como o céu, não tem sempre a mesma cor e, acimablackjack qual jogotudo, não é um objeto, por isso não há motivo para "pintá-lo" com uma palavra.
"Nada mudoublackjack qual jogonossa visão. Há séculos, somos capazesblackjack qual jogover diferentes tons, mas não temos as mesmas necessidades", afirma o especialista. "Era perfeitamente normal dizer que o mar era preto, porque, quando está azul escuro, parece preto, e isso é suficiente nesta época. Uma sociedade funciona bem com o preto, o branco e um poucoblackjack qual jogovermelho."
Então, por que começamos a dizer que determinadas coisas são azuis?
"Conforme as sociedades avançam tecnologicamente, mais se desenvolve a gamablackjack qual jogonomes para cores. Com uma maior capacidadeblackjack qual jogomanipulá-las e com a disponibilidadeblackjack qual jogonovos pigmentos, surge a necessidadeblackjack qual jogouma terminologia mais refinada", afirma Deutscher.
"A cor azul é a última, porque, alémblackjack qual jogonão ser encontrada tão comumente na natureza, levou muito tempo para fazer este pigmento."
- <link type="page"><caption> Leia também: Nadablackjack qual jogotubarões ou cobras: 6 animais assassinos que você talvez não conheça </caption><url href="http://vesser.net/noticias/2016/01/151215_animais_assassinos_fn" platform="highweb"/></link>
Os egípcios antigos tinham o pigmento azul e uma palavra para nomeá-lo, por exemplo, pois se tratavablackjack qual jogouma "sociedade sofisticada".
"O que importa não é tanto a épocablackjack qual jogoque viveram, mas seu nívelblackjack qual jogoprogresso tecnológico. É aí que está a correlação com o volume do vocabulário para cores."
Mas não há no hebraico bíblico a palavra "kajol", que significa azul?
"Sim, mas essa palavra significava 'preto'. Tem a mesma raiz da palavra álcool, e o 'kohol' era um cosméticoblackjack qual jogopó feito com antimônio que as mulheres usavam para pintar os olhos e era preto."
Pouco a pouco, o termo foi mudando até assumir o significado que tem hoje no hebraico moderno. E este não é único caso, segundo o especialista.
"O mesmo aconteceu com a palavra 'kuanos'blackjack qual jogogrego. Homero a usa, mas significa preto ou escuro. Foi só depois que passou a significar 'azul'."