Pontoapp f12vista: Marchinha ‘pró-Chico’ combate intolerância com intolerância:app f12
app f12 "O fim da ditadura fez muito mal ao Chico Buarque", filosofou um dia o João. E completou: "Ele já não precisava mais fazer metáforas". (Era uma piada)
Uma vez, repeti a máxima do João na firma. Quase apanhei dos colegas. "Não fala do Chico." (Era uma piada!)
Teve o diaapp f12que perguntei no Facebook: "Renato Russo ou Chico Buarque?". E ouvi/liapp f12uma fã do autorapp f12Vai passar que o "Chico estáapp f12outro patamar e você sabe bem disso".
Sei ou não sei? Cresci ouvindo os Replicantes cuspirem que "o Chico era um chato antes mesmoapp f12nascer". Óbvio que era provocação; para os velhos punks gaúchos, questionar sempre foi melhor que endeusar.
Quem disse que o Chico não pode ou não quer ser questionado? Se não quisesse, ele não teria se dado ao trabalhoapp f12discutir, dianteapp f12celulares, com os "playboys-coxinhas-filhinhosapp f12papai" que contestaram seu apoio ao PT, numa movimentada calçada do Leblon no apagarapp f122015.
Um exército saiu imediatamenteapp f12defesa do compositor. Os "filhinhosapp f12papai" foram chamadosapp f12fascistas, gente que desrespeita a opinião alheia e quer, a todo custo, que o outro reconheça que está errado. No fundo (e no raso), uns intolerantes. É para eles o recado da marchinha <link type="page"><caption> "Não enche o saco do Chico"</caption><url href="https://www.youtube.com/watch?v=NZXuew__LyQ" platform="highweb"/></link>, que foi publicada no YouTube nesta semana e já vem causando polêmica nas redes sociais.
Curiosamente, a música combate a intolerância contra as posições políticasapp f12Chico com mais... intolerância. A letra (comentada):
"Se encontrar o Chico na rua / E não tiver nada pra dizer / Talvez seja melhor ficar naapp f12/ Ou achar outro saco pra encher"
(Justo.)
"Você pode ter aapp f12opinião / E pode discordar do Chico"
(Obrigado!)
"Mas se for pra tirar satisfação / É melhor você fechar o bico"
(Uai?)
"Não phode, não phode"
(No vídeo, um gatinho fofo faz aquele gesto feio com o dedo)
"Playboy patriotaapp f12araque"
(Vale xingar?)
"Não pode, não pode / Encher o saco do Chico Buarque"
(E por que não?)
"Não vai passar / Intolerante nem por um segundo"
(Isso não seria intolerância?)
"'Cálice' filhinhoapp f12papai"
(Isso é intolerância.)
"Vai trabalhar, vagabundo"
(Definitivamente.)
As referências à obraapp f12Chico na parte final da letra são especialmente infelizes. Alémapp f12grandes sucessos do compositor, Vai passar e Cálice são documentos históricos da luta pela liberdadeapp f12expressão no Brasil durante a ditadura militar.
Emocionam até hoje pela coragem e por terem mantido acesa a chama da democraciaapp f12tempos sombrios. "Não vai passar" e "Cálice, filhinhoapp f12papai" são o opostoapp f12tudo pelo que o Chico arriscou o pescoço nos anos 1970 e 1980. É estimular a censura e a intolerância sem nem (imagino) se dar conta disso.
E Vai trabalhar, vagabundo não tinha esse tomapp f12xingamento. A música é um retrato certeiro do desemprego no Brasil - atualíssimo, aliás. É da épocaapp f12que o Chico brilhava nas metáforas. Nem todo mundo alcança o verdadeiro sentido hoje (há 40 anos, também não). Mas é conversando que a gente se entende. ;)
O video foi postado no YouTube pelo coletivo Canto da Lagoa, "uma turmaapp f12amigos que se reúne às luas cheias para tocar e compor", "sem ideologias, partidos ou propósitos".
"Não enche o saco do Chico" já é o conteúdo mais acessadoapp f12seu canal. Pena que o vídeo surfe na onda fácil do confronto, que inflama, mas não faz pensar, desconsidera a existência do outro e não contribui para o debate.
Melhor seguir o que o próprio Chico recomenda no trecho enxertado no fim do vídeo, retirado desta <link type="page"><caption> entrevista</caption><url href="https://www.youtube.com/watch?v=n5LuD2CFhYE" platform="highweb"/></link>: "Você não vai ficar com raivaapp f12quem tem raiva. Não tem, deixa pra lá".