#JeSuisCharlie, um ano depois: o símbolo que virou 'maldição'bwinners àrevista:bwinners à
bwinners à Há um ano, após os primeiros ataquesbwinners àradicais islâmicosbwinners àParis, milhões saírambwinners àdefesa da liberdadebwinners àexpressão publicando a expressão "Je Suis Charlie" na internet. Desde então, eis o que ocorreu:
"Todos paramos tudo", lembra Joachim Roncin. "Algo grande estava acontecendo."
Roncin estava no trabalho naquele 7bwinners àjaneiro - é diretorbwinners àartebwinners àuma revista no centrobwinners àParis.
<link type="page"><caption> Leia também: Por que as chargesbwinners àMaomé causam tanta revolta?</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2015/01/150114_publicar_charge_charlie_hebdo_rb" platform="highweb"/></link>
Como o resto da França e boa parte do mundo, ele acompanhava as notícias após dois irmãos terem atacado a sede da revista Charlie Hebdo - matando 11bwinners àseus funcionários. Outras cinco pessoas foram mortasbwinners àtrês diasbwinners àviolência terrorista.
"Eu estava profundamente chocado, mas sem medo", lembra Roncin. Sentado na mesa do escritório, ele decidiu usar a fonte do logotipo do Charlie Hebdobwinners àuma imagem simplesbwinners àpreto e branco que dizia "Je Suis Charlie", ou "Eu sou Charlie",bwinners àfrancês. E a publicou no Twitter:
Foi "algo que fiz apenas para mim", ele diz. "Eu não comprava o Charlie Hebdo, mas a revista fez parte da minha juventude."
A ilustração do publicitário e o slogan se tornariam aquela que talvez seja a maior hashtagbwinners àsolidariedade da história. Ela não apenas foi usada nas redes sociais 1,5 milhãobwinners àvezes naquele dia e cercabwinners à6 milhõesbwinners àvezes na semana seguinte, como ainda inspirou inúmeras hashtags "Je Suis",bwinners àapoio a todo tipobwinners àcausa.
Mas a natureza simbólica do "Je Suis Charlie" - também motivou divergências e,bwinners àúltima instância, colocou nova cargabwinners àpressão sobre os funcionários sobreviventes da revista.
O que é Charlie?
Fundada como Hara Kiribwinners à1960, Charlie Hebdo é uma revista semanal radical, que lança ataques duros contra elites políticas, econômicas e sociais. Seu lema era "bete et mechant" - ou "malvada e desagradável". Seus desenhos são pensados para provocar reações.
<link type="page"><caption> Leia também: Quantas vítimas do extremismo são muçulmanas?</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/01/150119_vitimas_terrorismo_muculmanos_pai" platform="highweb"/></link>
Quadrinhos do profeta Maomé, referência máxima do islamismo, já tinham motivado ameaçasbwinners àmorte ao editor da publicação, Charb, mas a proteção policial 24 horas não evitou os ataquesbwinners àjaneiro,bwinners àque ele acabou sendo morto.
O sloganbwinners àJoachim Roncin, contudo, parecia expressar uma ideia mais ampla: abwinners àque alinhar-se ao Charlie Hebdo era uma declaraçãobwinners àvalores contra os terroristas.
Quatro dias após os ataques, 4 milhõesbwinners àpessoas marcharam pelas ruas da França,bwinners àuma manifestação sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial. Muitos carregavam a imagem desenhada por Roncin, e gritavam suas palavras.
O slogan explodiubwinners àpopularidade, avalia o publicitário, porque "estamos tentando nos sentir como comunidade". "É muito reconfortante estar juntos quando há algo horrívelbwinners àcurso."
Os sobreviventes do ataque ao Charlie Hebdo chegaram a agradecer pela criação do slogan, diz Roncin, citando um encontro com o cartunista Luz. "Ele disse 'muito obrigado', e foi um alívio para mim."
Na verdade, contudo, o que aconteceu é que muitos estavam começando a se desencantar com a hashtag.
Um debate: O que significa 'ser Charlie'?
Rapidamente, muitos disseram se sentir distanciados do "Je Suis Charlie" porque, apesar dos ataques, ainda discordavam da linha editorial da revista. Os quadrinhos que ridicularizavam o profeta Maomé, por exemplo, não ofenderam apenas muçulmanos - foram criticados por muitos pelo suposto cunho racista.
Apenas um dia após os atentados, uma "contrahashtag" surgiu - "Je Ne Suis Pas Charlie" ou "Eu não sou Charlie" - impulsionada por usuários da França ebwinners àpaíses ocidentais, mas também popular no Oriente Médio, América Latina e Paquistão.
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Em seguida, uma outra hashtag atingiu picosbwinners àuso no Twitter: "Je suis Ahmed", uma referência ao policial Ahmed Merabet, morto nos atentados e que era muçulmano praticante.
"Je Suis Charlie atribuía um tipobwinners ànobreza ao conteúdo do periódico, com a qual eu não podia concordar", diz Dyab Abou Jahjah, um escritor belga que ajudou a disseminar a "contrahashtag". "Minha questão com eles é que publicam estereótipos raciaisbwinners àmuçulmanos."
"Claro que é direito deles", acrescenta. "Mas também é direito das pessoas se sentirem ultrajadas por isso."
O que Charlie se tornou?
Analisando os efeitos da hashtag um ano depois dos fatos - e uma segunda ondabwinners àviolência extremista, ainda maior,bwinners àParis - uma questão chave é como o episódio afetou a própria revista.
Um pequeno e mal pago grupobwinners àcartunistas e escritores que se colocavabwinners àmaneira quase intencional nas margens do debate público subitamente se viu no centrobwinners àuma manifestação mundial. E o que acontece a eles quando milhõesbwinners àpessoas pelo mundo declaram que "são Charlie"?
Para eles, tudo mudou. Como outro atobwinners àsolidariedade, milharesbwinners àpessoas passaram a assinar a revista, que se tornou uma das mais lucrativas no país.
Mas o fluxobwinners àdinheiro e atenção pode ter sido uma carga muito pesada para aguentar. "Nós apenas sentimos que não somos mais o Charlie Hebdobwinners àantes, quando éramos duros e só queríamos fazer piadas o tempo todo", diz um dos jornalistas da revista, Zineb El-Rhazoui.
As expectativasbwinners àrenascimento do Charlie Hebdo chegaram, naturalmente, no pior momento da história da publicação. Onzebwinners àseus funcionários estavam mortos - e os sobreviventes estavam traumatizados, sob proteção policial e amedrontados.
Ao final do inverno no hemisfério norte, os dois principais cartunistas da revista, Luz e Riss, anunciaram que não desenhariam mais o profeta Maomé. Luz posteriormente deixou a publicação.
"Nós deveríamos ter continuado a desenhar o profeta, e Charlie Hebdo deixarbwinners àfazê-lo significa que não é mais Charlie", diz Patrick Pelloux, colunista que também acabou deixando a revista. "Mas é uma guerra e não somos soldados, somos desenhistas."
Pelloux também é médico. Ele foi o primeiro a estar no local após os ataques e prestou socorro a seus colegas. Em novembro, ele também atendeu vítimas do atentado na casabwinners àshows Bataclan.
Quando a reportagem da BBC o encontroubwinners àum cafébwinners àParis, ele parecia tranquilo, com seu cachecol e cigarros, mas do ladobwinners àfora havia uma van cheiabwinners àpoliciais armados - para protegê-lo.
"Charlie Hebdo se tornou um símbolo, mas isso também pode significar seu fim", diz ele. "Não é fácil sairbwinners àuma situaçãobwinners àquase desconhecimento para algo extremamente simbólico."
"Ser um símbolo... se torna uma obrigação. Então o Charlie Hebdo pode até continuar, mas terá que fazê-lobwinners àuma maneira diferente, e não sei até quando isso pode durar."
Críticas e incompreensão
O atual editor da revista, Gerard Biard, afirma que um efeito do "Je Suis Charlie" ebwinners àtoda a atenção é que, ironicamente, o material da publicação é mais criticado do que antes - os quadrinhos agora recebem atenção do mundo todo. "Às vezes é difícil, porque você atinge pessoas que não estão entre o público alvo da revista", diz.
Depois que um avião lotadobwinners àturistas russos caiu no Egito,bwinners àação associada ao grupo autodenominado Estado Islâmico, o Charlie Hebdo publicou uma imagembwinners àuma caveira com uma legenda que muitos russos considerarambwinners àmau gosto: "Os perigosbwinners àvoos russosbwinners àbaixo custo". É um dos vários cartoons da revista que milhares criticaram nas redes, após os ataques à revista.
"Muita gente pelo mundo descobriu o Charlie neste ano, ebwinners àrepente viramos um símbolo", afirma Biard. "Na Rússia eles não entendem porque não conhecem o contexto, o espírito da revista. E não conhecem a história dos cartoons franceses, que é muito específica."
O desencantobwinners àalguns com o Charlie Hebdo talvez revele algo sobre o problema com todos os símbolos, e sobretudo com frases curtas e atraentes que dominam as redes sociais - elas nunca possuem nuances suficientes para incluir a todos.
Para o homem que começou o "Je Suis Charlie", o significado do slogan ainda é bem claro.
"'Je suis Charlie' é apenas uma expressãobwinners àsolidariedade,bwinners àpaz", diz Joachim Roncin. "E isso é tudo. Estamos falando aqui sobre desenhosbwinners àum lado, e fuzis Kalashnikovsbwinners àoutro. Para mim, você não precisa pensar mais do que dois segundos. É vida ou morte."
Em outras palavras, para ele, ou você é Charlie ou não é.