A cidade pernambucana que controlou o Aedes aegypti com peixinhos:betnacional aposta
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"Entramos na internet e vimos um estudo feito no Rio Grande do Norte. Um colega nosso que já tinha trabalhadobetnacional apostaoutra cidade com esse método da piaba disse que lá eles conseguiram controlar os mosquitos. Eu o contatei e ele veio nos ajudar a fazer o mesmo", disse à BBC Brasil Edinaldo Hollanda, agentebetnacional apostasaúde da Funasa (Fundação Nacionalbetnacional apostaSaúde) e coordenadorbetnacional apostaCombate às Endemias no município.
"Começamos a colocar as piabas no mêsbetnacional apostaabril e fizemos o trabalho até julho. Em setembro, notamos que o índice do nosso município tinha baixado muito, para 1,2%. Agora, estamosbetnacional aposta2,4%, menos do que no mesmo período no ano passado. O pessoal da regional (10ª gerência regionalbetnacional apostasaúde, que dá apoio a 12 municípios na área) quase não acreditava. Deu tanto resultado que até hoje continuamos colocando peixes nas casas."
Segundo Hollanda, os peixes são colocadosbetnacional apostareservatórios fechados e abertos: tonéis, caixas d’água e principalmente cisternas, já que o Aedes aegypti prefere lugares escuros e com água parada para se reproduzir.
"Ele solta seus ovos nas paredes do depósito e quando você volta a colocar água, os ovos eclodem. A piaba se alimenta dos ovos e impede que virem novos mosquitos."
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Em busca do peixe
A técnica vinha sendo estudadabetnacional apostauniversidadesbetnacional apostaEstados nordestinos e aplicada pontualmentebetnacional apostacidades pequenas desde o início dos anos 2000, com diferentes grausbetnacional apostasucesso. Mesmo assim, não substitui o uso do larvicida (produto químico que mata as larvas do mosquito na água) e é vista com ressalvas pelo Ministério da Saúde, que diz haver riscobetnacional apostadiarreia caso os peixes sejam colocados na água para beber.
"Colocamos apenas uma piababetnacional apostacada reservatóriobetnacional apostaaté 200 litros. Em cisternas maiores,betnacional apostatrês a cinco mil litros, colocamos cercabetnacional apostacinco. Monitoramos as casas para saber se havia ocorrênciasbetnacional apostadiarreia e não tivemos nenhum caso", afirma Hollanda.
O cloro na água que chega com os caminhões-pipa fornecidos pelo Estado foi um dos primeiros obstáculos ao projeto, já que matava imediatamente os peixes que já estavam nos reservatórios. Inicialmente, era preciso substitui-los semanalmente.
Agora, a prefeitura pede que os moradores retirem os peixes antesbetnacional apostaencher seus reservatórios e esperem até cinco horas para colocá-los novamente. É o tempobetnacional apostaque os níveisbetnacional apostacloro da água caem o suficiente para não prejudicá-los, segundo o coordenador.
Todos os dias, os nove agentesbetnacional apostaendemias do município saem da secretariabetnacional apostasaúde com cercabetnacional aposta20 "kitsbetnacional apostapiabas", com cinco peixinhos cada, para visitar residências na cidade.
"Em cada casa que chegamos, usamos uma piaba ou duas, a depender do tamanho do reservatório. Então às vezes você usa até dois kitsbetnacional apostauma residência. A gente usabetnacional apostatornobetnacional aposta2 mil a 2.500 piabas por semana", diz Hollanda.
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O problema agora é conseguir os peixes para continuar o trabalho, diantebetnacional apostaum novo surtobetnacional apostadengue que já começa a se manifestar na região.
"O peixe não é vendido aqui, então começamos a procurá-lo nos açudes que ainda tinham água. Estávamos capturando as piabasbetnacional apostaTeixeira, na Paraíba, que fica a 30 km daqui. Mas eles acabaram, porque o açude está secando. Fizemos um criadouro aqui, mas também já acabou o estoque."
"Agora vamos comprarbetnacional apostaoutra cidade na Paraíba, a cercabetnacional aposta200 kmbetnacional apostaItapetim. Para não interromper o projeto, vamos comprar onde tiver."
Em entrevista à BBC Brasil, o secretáriobetnacional apostaSaúdebetnacional apostaPernambuco, Iran Costa, disse estar interessado no sucessobetnacional apostaItapetim com as piabas e que um grupobetnacional apostaestudo está pesquisando a possibilidadebetnacional apostarealizar a mesma técnicabetnacional apostaoutras cidades do Estado.
"Existem estudos que mostram que algumas dessas técnicas são efetivasbetnacional apostalocais pontuais, mas não sabemos se funcionambetnacional apostaescala", afirmou.
Insuficiente
Para o biólogo da Unicamp Carlos Fernando Salgueirosa, especialistabetnacional apostadengue ebetnacional apostacontrolebetnacional apostainsetosbetnacional apostaimportância médica, as técnicasbetnacional apostacontrole biológico, como a dos peixes, não são eficientes se o objetivo é erradicar o mosquito – que é o objetivo determinado pelo Ministério da Saúde.
"O controle biológico não serve para vetores, para um mosquito que transmite uma doença que causa microcefalia. Você precisa ser mais sério, mais rígido e eliminar as populaçõesbetnacional apostabairros", diz.
"Esse tipobetnacional apostacontrole só serve para reduzir a populaçãobetnacional apostaum 'inimigo' para um valor aceitável. Mas um índicebetnacional apostainfestação baixobetnacional apostaAedes aegypti ainda mantém a transmissãobetnacional apostadoenças. Onde está o sucesso do método?"
Outros predadores naturais do mosquito – como lagartixas, aranhas e libélulas – também costumam ser citadosbetnacional apostareportagens e blogs como aliados no combate ao mosquito, mas, segundo Salgueirosa, aumentar a presença deles nas casas não tem nenhum efeito prático.
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No caso dos peixes que se alimentam das larvas, estudos mostram que seu efeito é pontual ebetnacional apostagrupos muito pequenos, diz o especialista.
"O ser humano é o principal agentebetnacional apostacontrole biológico. A coisa funciona quando é baseada na comunidade. Não dá para pensar nisso (na técnica dos peixes) nem para uma cidadebetnacional apostacinco mil pessoas", afirma.
"Tampar os reservatórios com tampa rígida ou toucabetnacional apostatela. Esse é o principal enfoque que se pode dar para o combate ao mosquito. Dessa forma, não haverá larvas."
De Itapetim, Edinaldo Hollanda rebate as críticas: "Sabemos que tampar os reservatórios é o ideal, mas sabemos que as pessoas não fazem essa parte".
"Tem casas aqui com 50 baldesbetnacional apostaágua. Pedimos que as pessoas coloquem plástico ou um pano por cima, mas chegamos lá uma semana depois e está tudo destampado. No ano passado, conseguimos telas da Funasa e as colocamosbetnacional apostatodas as caixas d’água na cidade. Mas o pessoal do caminhão-pipa, que vem colocar água, rasgava as telas. O trabalho foi perdido."
"Nós usamos o larvicida, que combate, e fazemos campanhas educativas. Mas usando o peixe, que é uma ferramenta a mais, não vamos combater mais? Não vemos mosquitos nas casas aqui, e éramos cheiosbetnacional apostaAedes. Diminuiu muito o númerobetnacional apostafocos", afirma.
Mobilização
Segundo Jussara Araújo, secretária municipalbetnacional apostaSaúde, o projeto não foi divulgado pela cidade no início "porque se tivéssemos um surtobetnacional apostadiarreia ou coisa assim, o município poderia ser penalizado".
As autoridades decidiram apostar as fichas no projeto e afirmam que ele foi o responsável pelo controle do surto, mas não antes que cercabetnacional aposta500 pessoas fossem atingidas. Dos casos notificados, apenas 175 foram confirmados como dengue. Não houve resultados relativos à zika e à chikungunya.
Desde novembro, a cidadebetnacional aposta13.900 habitantes já tem 11 notificaçõesbetnacional apostamicrocefalia — má-formaçãobetnacional apostabebês que pode ser causada por infecções contraídas ainda na barriga da mãe —, que está sendo associada ao zika vírus. E mais podem aparecer.
"Ainda temos muitas mães que não deram à luz, mas tiveram manchas vermelhas na pele (um dos sintomas característicos do zika) quando estavam grávidas", afirma.
<link type="page"><caption> Leia mais: 'Municípios receberam tarefa, mas não condições para enfrentar mosquito', diz secretáriobetnacional apostaSaúdebetnacional apostaPE</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/12/151201_zika_entrevista_secretario_cc_rb.shtml" platform="highweb"/></link>
Agora, o município se prepara para enfrentar uma nova infestação do Aedes aegypti, que volta a atividade no períodobetnacional apostachuvas do início do ano, com o acúmulobetnacional apostaáguabetnacional apostacalhas, muros e utensílios domésticos, além dos próprios reservatórios dos moradores.
Por causa da crise econômica, a administração decidiu reduzir o salário do prefeitobetnacional aposta30%, o do vice-prefeitobetnacional aposta20% e os dos secretáriosbetnacional aposta15%.
Parte do dinheiro economizado está sendo usada nas campanhasbetnacional apostamobilização pelo combate ao mosquito, na compra das piabas e na contratação dos agentesbetnacional apostacombate às endemias da cidade —betnacional apostaacordo com a portariabetnacional apostajulho do Ministério da Saúde, Itapetim tem direito a apenas três campanhas com recursos do governo federal. Atualmente, o município tem nove campanhas pagas integralmente pela prefeitura e pretende contratar mais nos primeiros mesesbetnacional aposta2016.
"Além dos salários dos agentes, tem as despesas com fardamento e materialbetnacional apostatrabalho. Não estamos recebendo material, ficamos sem o larvicida por três meses e só na semana passada voltamos a receber. Se não fossem os peixes, como é que íamos trabalhar?", diz a secretáriabetnacional apostaSaúde.