Menino soldado enviado à guerra aos 6 sobreviveu a tiros e fome para se tornar advogado na Austrália:blazer com cassino

Recrutado aos seis anos, Deng Adut diz que um 'anjo' mudou seu destino e morreu para que ele pudesse viver

Crédito, Sally Tsoutas . Western Sydney University

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blazer com cassino O ex-menino soldado Deng Adut cresceu no Sudão, país africano destroçado por uma guerra sangrenta. Aos 11 anosblazer com cassinoidade, já levara tiros, sofrera tortura e envenenamento e corria riscoblazer com cassinovida por doenças e fome. Em depoimento ao programa Outlook blazer com cassino , do Serviço Mundial da BBC, Deng narrablazer com cassinoperigosa jornada, que começou à margem do Nilo, no Sudão do Sul, e terminou na Austrália, onde reconstruiublazer com cassinovida e hoje trabalha como advogado.

No percurso, a força protetorablazer com cassinoum homem - seu irmão John, morto no ano passado - salvou a vidablazer com cassinoDeng e mudou para sempre seu destino.

Tudo começoublazer com cassinoum lugarejo chamado Malek, no Sudão do Sul, onde Deng nasceu.

"Era uma cidadeblazer com cassinopescadores. A vida lá era boa, eu brincava com macacos, éramos uma família grande - minha mãe, irmãos, irmãs. Uma vida maravilhosa", ele conta. Mas tudo isso acabou quando estourou a guerra.

"A primeira lembrança que tenho da guerra éblazer com cassinofugirblazer com cassinouma canoa para o outro lado do rio, com minha mãe, meu irmão pequeno e minha irmã. Era assustador, o lugar todo estava iluminado por causa das explosões. Mesmo à noite, parecia que era dia."

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Seis anos

Isso ocorreublazer com cassino1988. Rebeldes do sul do Sudão – do Exércitoblazer com cassinoLibertação do Povo Sudanês – iniciaram uma guerra para se tornarem independentes do governo no norte do país.

Ambos os lados recrutavam crianças compulsoriamente, como soldados. Dois irmãos mais velhosblazer com cassinoDeng já lutavam junto com os rebeldes. Agora, tinha chegado a vez dele. Deng, com seis anosblazer com cassinoidade, e dois sobrinhos, foram levados pelas forças rebeldes.

"Fomos treinados, no começo, com armasblazer com cassinomadeira. Eram réplicasblazer com cassinouma AK47. Fizemos todo tipoblazer com cassinotreinamento militar, coisas que você jamais imaginaria uma criança sendo capazblazer com cassinofazer na vida real. Um treinamento completo."

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<link type="page"><caption> Deng explica, no entanto, que as crianças não se perturbavam com a situação. E rebelar-se, ou questionar aquilo, estavam forablazer com cassinoquestão.</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/11/151112_vert_earth_200_fd.shtml" platform="highweb"/></link>

"Após o treinamento que fizemos na Etiópia, voltamos para o Sudão do Sul inseparáveis. Nós crianças éramos uma família, tínhamos um objetivo e um plano. E o nosso plano era derrubar o governo no norte (do país). Tinham feito uma lavagem cerebralblazer com cassinomim e eu sabia quem era meu inimigo."

Deng recebia ordens e as executava. E isso incluía matar.

"Eu estavablazer com cassinoguerra. Se matei alguém? Você tem armas na mão e atirablazer com cassinotodas as direções. Você é capazblazer com cassinomatar qualquer pessoa."

O menino soldado foi ferido várias vezes.

"Na primeira vez, estilhaços penetraram minha cabeça. Na segunda, uma bala entrou pelas minhas costas e saiu pela minha virilha. A terceira passou pela minha perna mas não tocoublazer com cassinonada e sarou rápido."

Deng conta que, como menino soldado, recebia ordens e as executava - e isso incluía matar pessoas

Crédito, AFP

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Traumas e fome

Quem ouve uma história dessas logo se pergunta sobre os efeitos dessas experiênciasblazer com cassinouma criança tão pequena. No entanto, o trauma vivido por Deng só viria a se manifestar bem mais tarde.

"Naquela época, não era traumático. Se você é ferido, sabe que está seguro, porque não vai lutar na guerra e ser morto. Conheço alguns meninos que atiravamblazer com cassinosi próprios, nas pernas, para não teremblazer com cassinolutar na guerra. Ou você vai e morre, ou você volta ferido. Porque se você volta sem ferimentos, significa que vai terblazer com cassinoir para a guerrablazer com cassinonovo."

Os rebeldes recrutaram milharesblazer com cassinocrianças. Se não iam lutar, eram usadas como guardasblazer com cassinoprisioneiros ou nos postosblazer com cassinochecagem. Outros eram forçadas a marchar centenasblazer com cassinoquilômetros e colocadasblazer com cassinocamposblazer com cassinorefugiados, onde eram mantidasblazer com cassinoáreas segregadas, longe dos adultos – até serem novamente chamadas para a frenteblazer com cassinobatalha. As condições eram sub-humanas.

"Costumávamos recolher folhasblazer com cassinoárvores para comer. Às vezes, comíamos lama úmida para umedecer a boca."

Um dia, Deng e seus amigos estavam com tanta sede que abriram a barrigablazer com cassinoum elefante morto para sugar a grama que estava no estômago do animal. "Não era muito nojento. Também não era gostoso. Mas não era uma questãoblazer com cassinogosto, fazíamos isso para sobreviver."

Muitos dos meninos soldados que não morriam lutando sucumbiam nos camposblazer com cassinorefugiados. Deng, já perto da adolescência, ficou bem próximo da morte.

"Tive todo tipoblazer com cassinodoença. Num certo ponto, estava tão mal que tinhablazer com cassinoser carregadoblazer com cassinoum lugar ao outro. Me lembroblazer com cassinoouvir alguém dizer que os meus ossos tinham furado alguém. Eu quase cometi suicídio. A sorte é que estava tão fraco que não consegui."

"Quando melhorei, comecei a ter surtos psicóticos. Toda manhã, eu via uma pastagem com gado no meioblazer com cassinouma neblina. Eu seguia atrás dessa pastagem eblazer com cassinorepente a neblina desaparecia. À tarde, fazia a mesma coisa."

Reencontro

A essa altura, Deng havia perdido o contato comblazer com cassinofamília. Ele achava que todos os seus parentes homens, incluindo seu irmão John, tinham morrido na guerra. Devido ao seu péssimo estadoblazer com cassinosaúde, o menino tinha pouca utilidade para os rebeldes e agora cumpria tarefas simplesblazer com cassinoum campo na fronteira com o Quênia.

Muitos dos meninos soldados que não morriam lutando sucumbiam nos camposblazer com cassinorefugiados

Crédito, UNICEF

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"Eu jogava futebol, para melhorar minha condição física. Então, conheci um menino que estava ali com a mãe e a irmã. Ele era muito perseguido por todos (no campo) e eu fiquei louco, decidi parar com aquilo. Ficamos mais próximos depois disso. Um dia, ele me disse que um rapaz com história familiar parecida com a minha, e com nome parecido, estava vindo buscá-lo para levá-lo, junto com a família, para o Quênia. Esse cara, por acaso, era o meu irmão. Ele tinha se casado com a irmã do meu amigo."

Deng não sabia que seu irmão John estava vivo. Os dois tinham se encontrado duas vezes antes -blazer com cassino1989 e depoisblazer com cassino1991. Nas duas ocasiões, o irmão havia sido enviado para a frenteblazer com cassinobatalha – e os dois tinham novamente perdido contato.

"Me encontrar com ele pela terceira vez foi inacreditável, mas milagres acontecem. Eu senti uma coisa boa, mas ao mesmo tempo, resisti. Não queria conexões familiares que pudessem romper a armadura que me protegia. Mas ele decidiu me levar com ele."

John pediu permissão ao comandante dos rebeldes para levar Deng, mas o pedido foi recusado. Então, ele sugeriu a Deng que enrolasse seu cobertor para dar a impressãoblazer com cassinoque estava dormindo, com as armas ao lado. E que fosse encontrá-lo às três horas da manhã. Assim, Deng fugiu com John para o Quênia. Ele tinha 11 anosblazer com cassinoidade.

"Não era perigoso para mim, mas era perigoso para meu irmão", explica. "Se ele fosse pego, seria morto."

No Quênia, Deng e o irmão foram pararblazer com cassinoum campoblazer com cassinorefugiados. As condições eram terríveis. Os refugiados esperavamblazer com cassinofila, das 6h da manhã até 4h ou 5h da tarde, para receber comida. Às vezes, a comida não vinha.

Austrália

Depoisblazer com cassinoum tempo, por sugestão do irmão, Deng pediu um vistoblazer com cassinorefugiado para a Austrália.

"Meu irmão tomava todas as decisões. Ele sofreu muito por ter me tirado do acampamento dos rebeldes e por algumas outras coisas que tinha feito. Estava à beira da morte quando conheceu uma família australiana que prometeu nos ajudar. "

Assim,blazer com cassino1998, Deng, John e a famíliablazer com cassinoJohn viajaram para a Austrália.

Adaptar-se à Austrália, ao clima mais frio, ao idioma desconhecido, não foi fácil para Deng. Ele se sentia isolado também racialmente: não havia outros negros no local onde ele, o irmão e a cunhada viviam. Na escola, ouvia os outros meninos rindo e conversando, e achava que estavam rindo dele. Então, abandonou os estudos.

Mais tarde, sem saber ler ou escrever, Deng se matriculoublazer com cassinoum colégio técnico. Lá, conheceu dois sul-africanos e, finalmente, conseguiu vencer a barreira cultural. "Consegui me identificar com eles, entendiam minhas necessidades", conta Deng.

Deng teveblazer com cassinoestudar muito, mas conseguiu aprender a ler.

Anjo

Em 2005, Deng se matriculou na Universidade Western Sydney para estudar Direito.

"Foi ideia do meu irmão. Ele queria o melhor para mim, mas sabia que eu não faria algoblazer com cassinoque não gostasse. Sou um rebelde pela minha própria causa. Se me pedirem para fazer algo que não acho justo, vou dizer não. Então, ele achou que eu seria um bom advogado."

Em 2012, Deng foi visitarblazer com cassinomãe no Sudão do Sul. Não foi uma experiência fácil, ele conta.

"Eu falava com ela pelo telefone, mas não há uma conexão real entre nós. Ela é minha mãe, eu a amo como minha mãe, mas não temos um relacionamento próximo."

Nesse ínterim, o irmãoblazer com cassinoDeng, John, decidira voltar ao Sudão do Sul para tentar ajudar outras pessoas a escapar do conflito.

"No dia primeiroblazer com cassinojaneiroblazer com cassino2014, telefonei para o meu irmão para desejar feliz Ano Novo. Só conseguia ouvir tiros. Perguntei a ele se estava tudo bem e ele disse que sim, mas que estava muito perigoso onde ele estava. Então pedi para que me ligasse quando estivesseblazer com cassinolugar seguro. Ele concordou."

"Na manhã seguinte, eu ligava, mas o telefone continuava tocando. Eu sabia que ele estava morto, mas não disse nada. Fiqueiblazer com cassinosilêncio, até que alguém veio me dar a notícia."

Adaptar-se à Austrália, ao clima frio, ao idioma desconhecido, não foi fácil para Deng, mas hoje ele tem o país comoblazer com cassinocasa

Crédito, Getty

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John estava tentando ajudar pessoas a cruzar o Nilo – e escapar da guerra.

"Não sei como ele conseguia fazer aquilo. Se tem um homem no mundo que conheceu o sofrimento, esse homem foi o meu irmão."

Deng tenta expressar a importânciablazer com cassinoJohn emblazer com cassinovida mas, sem palavras, faz uma longa pausa, emocionado.

"Em 1989, ele me deu a única camisa que tinha e foi para a guerra levar tiros. Talvez ele tenha morrido para que eu pudesse viver. Ele sempre me dizia para não voltar ao Sudão do Sul porque era perigoso."

"Um pai não faria o que ele fez. Ele era mais como um anjo, capazblazer com cassinome protegerblazer com cassinotudo o que eu fazia. Salvou minha vida, me tirou do campo dos rebeldes. Como consequência, foi torturado duas vezes. E quanto às pessoas que o torturaram - conheço todas -, ele nunca procurou vingança. Era simplesmente um homem bom."

Estresse pós-traumático

As experiências que Deng sofreu na infância continuam presentes emblazer com cassinovida.

"São como um videogame que eu jogo, estão todas no meu corpo e na minha mente. Eu costumava acordar toda noite com a cabeça doendo. Um dia, percebi que eu corria à noite. Eu corria da cama e batia a cabeça na parede."

Deng tinha pesadelos, sonhava que estava correndo e batia com a cabeça na parede.

"Então decidi colocar o colchão no chão. Assim, se caísse, não me machucaria. Tenho controle sobre os pesadelos? Bem, fazer piadas sobre eles me alivia um pouco. Falar, escrever sobre eles e depois rasgar o papel... tudo isso me ajuda a controlar esses episódios."

"Outra coisa que me ajuda é dormir menos. Depoisblazer com cassinoseis horas, eles (os pesadelos) começam. Então reduzi meu sono a quatro horas ou menos."

Será que Deng sonha com um Sudão do Sulblazer com cassinopaz, para que ele possa voltar a viverblazer com cassinoseu país?

"A Austrália é minha casa agora. Quando eu estava no Sudão do Sul eles atiraramblazer com cassinomim, me torturaram. Fizeram todo tipoblazer com cassinomaldade comigo. Não vou voltar lá para morrer, como meu irmão. Vou tentar ajudar a minha família. Mas (os sudaneses) ainda precisam entender um conceito simples: humanidade."