‘Como é que você vai botar o pobre ali?’, diz bilionário ‘dono da Barra da Tijuca’:sol bet apostas

Carlos Carvalho mostra terrenos (Foto: BBC Brasil)

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Empresário Carlos Carvalho é dono das áreas onde ficam o Centro Metropolitano e a Vila dos Atletas da Rio 2016

Ao contráriosol bet apostasLondres, onde a hospedagem dos atletas deu lugar a moradias acessíveis numa área revitalizada da capital britânica, no Rio os prédios seguirão a lógica do alto padrão, com direito aos "Jardins do Rei", com maissol bet apostas70 mil metros quadrados, e apartamentos que podem valer maissol bet apostasR$ 1 milhão.

Quarenta anos depoissol bet apostaster apostado na direção contrária ao desenvolvimento tradicional do Rio, quando começou a comprar terras na Barra (ainda um grande areal cercadosol bet apostaslagoas e manguezais e distante da Zona Sul), Carvalho vem colhendo os frutos da "aventura", após construir condomínios, shoppings e hotéissol bet apostassucesso – e há espaço para expansão, já que 2,5 milhõessol bet apostasmetros quadradossol bet apostassuas terras ainda estão vazios.

Sem papas na língua,sol bet apostasentrevista à BBC Brasil na sedesol bet apostassua empresa, ele falou sobresol bet apostashistória, os impactos da Olimpíada para o Rio, e respondeu a críticas sobre remoções e declarações dadas recentemente ao jornal britânico The Guardian, quando disse que a Barra representa o "novo Riosol bet apostasJaneiro" como uma "cidade da elite, do bom gosto" e que, por esta razão, a Ilha Pura "precisava ser moradia nobre, e não moradia para os pobres".

Questionado pela BBC Brasil, disse que gosta dos ricos porque precisa deles, mas "prefere os pobres". Ele afirma que foi do povo e "continua sendo povo", embora admita que prefira "enchersol bet apostasrico" seu novo empreendimento na Vila dos Atletas.

"Você não pode pensarsol bet apostastirar um faveladosol bet apostasonde ele vive, do habitat dele, para que ele venha a pagar aluguel e condomínio. Se ele não for preparado e se não houver um apoio correto para ensiná-lo sobre o seu novo habitat, o plano realmente não vai poder dar certo."

Foto: Prefeitura do Rio

Crédito, Prefeitura do Rio

Legenda da foto, Localizada próximo ao Parque Olímpico, conjuntosol bet apostasprédios da Vila dos Atletas têm maissol bet apostas3,6 mil apartamentos

sol bet apostas Veja os principais trechos da entrevista:

sol bet apostas BBC Brasil - Uma das críticas ao destino da Vila dos Atletas após os Jogos Olímpicos é asol bet apostasque os 3.604 apartamentos serão todos partesol bet apostasum empreendimentosol bet apostasalto padrão, ao contrário do que ocorreusol bet apostasoutras cidades, como Londres. Por que não dividir o espaço, contemplando também a necessidadesol bet apostasmoradia popular no Riosol bet apostasJaneiro? O senhor acredita que a Barra deva ser um bairro somente para a elite?

sol bet apostas Carlos Carvalho - Nós já temos aqui o Conjunto Habitacional Bandeirantes, onde mora uma populaçãosol bet apostasapoio, que depende muito desse centrosol bet apostasnegócios,sol bet apostasgente que tem dinheiro para gastar. Aqueles que tiverem a chancesol bet apostaspoder morar nessa região serão privilegiados. Se não puderem morar ali, vão para o Bandeirantes, senão vão mais para frente, pegando o BRT. A cidade está aberta para eles. Nós dependemos muito do jardineiro, do pedreiro, e mantemos escolas para formação desse pessoal.

Para botar tubulaçãosol bet apostaságua esol bet apostasluz há um custo alto, e quem mora paga. Como é que você vai botar o pobre ali? Ele tem que morar perto porque presta serviço e ganha dinheiro com quem pode, mas você só deve botar ali quem pode, senão você estraga tudo, joga o dinheiro fora. Há muitos bairros que agasalham pessoas com poder aquisitivo mais modesto. Foi o meu caso. Eu vim morarsol bet apostasJacarepaguá porque era onde meu pai podia morar. Nasci ali, fiz escola pública e fiz minha vida. Cada um pode fazer a mesma coisa.

<link type="page"><caption> Leia mais: 'Antes e depois': as transformações no Rio para os Jogossol bet apostas2016</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/videos_e_fotos/2015/08/150804_rio2016_galeria_antes_depois" platform="highweb"/></link>

Eles (Comitê Rio 2016 e Comitê Olímpico Internacional) vão usar e devolver depoissol bet apostasum ano. Daísol bet apostasdiante, teremos ali apartamentos com serviços,sol bet apostastamanhos maiores e menores. A área é do tamanhosol bet apostasIpanema. Vou ter que resolver comercialmente e ver as coisas que a gente precisa fazer para que as pessoas se interessem a ir para lá. Tenho que conquistar o cliente.

E nós achamos que isso é que é fazer o lado social: ter a inteligênciasol bet apostasgerar conforto para aqueles que podem usufruir dele. Se não as pessoas ficam só desejando, mas nunca chegam lá. Temos que fazer com que aquilo seja um encantamento, que faça com que muitas pessoas melhoremsol bet apostasvida para poderem usufruir. A Ilha Pura vai ter os Jardins do Rei. Nós vamos transformar todo mundosol bet apostasrei. Estamos partindo para criar as bases para que uma nova cidade se desenvolva com condições satisfatórias para os moradores.

Agora, se vai morar o pobre ou o rico, o problema é do governo. Que subsidiem os pobres e os botem lá então.

sol bet apostas BBC Brasil - Após o término dos Jogos, o consórcio formado por Carvalho Hosken, Odebrecht e Andrade Gutierrez poderá explorar grande parte das terras do Parque Olímpico para empreendimentos imobiliários. Onde devem estar localizados estes prédios? Como vê a questão da Vila Autódromo, comunidade atualmentesol bet apostaspolêmico processosol bet apostasremoção, localizada às margens do parque?

sol bet apostas Carvalho - O Parque Olímpico é o local onde depois as crianças vão brincar e se divertir. Na área remanescente, que o município nos vendeu por cercasol bet apostasR$ 1 bilhão, vamos construir empreendimentos imobiliários a partirsol bet apostas2018. Alguns dos prédios vão ser construídos aqui nesta área (apontando para a faixasol bet apostasterrasol bet apostasfrente à Vila Autódromo, transformadasol bet apostasárea verde no plano, diante dos condomíniossol bet apostasalto padrão).

Foto: Prefeitura do Rio

Crédito, Prefeitura do Rio

Legenda da foto, Após os Jogos, construtoras poderão explorar região do Parque Olímpico para empreendimentos imobiliários

Mas tem gente que não concorda, que acha que isso não é bom, e que tinha que deixar os que estavam lá, mas esse problema não é meu. É um problema político, que eles sabem como resolver. Quem está dando o tom é o prefeito, e nós naturalmente estamos juntos, e achamos que as providências são adequadas. É uma opinião técnica, e não política.

Ali tem muita área que não pode ser habitada, e tudo dependesol bet apostascomo você organiza. Você só não consegue organizar com favela, até porque você não pode pensarsol bet apostastirar um faveladosol bet apostasonde ele vive, do habitat dele, para que ele venha a pagar aluguel e condomínio. Se ele não for preparado e se não houver um apoio correto para ensiná-lo sobre o seu novo habitat, o plano realmente não vai poder dar certo.

Você não pode ficar morando num apartamento e convivendo com índio do lado, por exemplo. Nós não temos nada contra o índio, mas tem certas coisas que não dá. Você está fedendo. O que eu vou fazer? Vou ficar pertosol bet apostasvocê? Eu não, vou procurar outro lugar para ficar.

sol bet apostas BBC Brasil - Um dos pontos polêmicos dos Jogos Olímpicos é o legado que deve ficar para o Rio. Nasol bet apostasvisão, quais devem ser os principais benefícios herdados pela população?

sol bet apostas Carvalho - A Olimpíada está trazendo essa cidade para todos, estão integrando o Rio. As obras vão trazer toda a Baixada para cá, o que vai desafogar a cidade. O legado é incomensurável. Este espaço privilegiado está recebendo uma infraestrutura que permitirá um desenvolvimento urbano ordenado, que evite que o povo sofra por erros urbanos. Tenho a convicçãosol bet apostasque a solução que está sendo dada, se não é a melhor que poderia ser, sem sombrasol bet apostasdúvidas já aliviasol bet apostas1.000% o sofrimento que o povo vinha tendo no exercíciosol bet apostasusar a cidade.

Na Baixada Fluminense você tem maissol bet apostas6 mil almas que levavam maissol bet apostasduas horas para chegar aqui na Barra e agora, com o BRT e a Transolímpica, já estão chegandosol bet apostas40 minutos. Os Jogos criaram um legado para a cidade que eu acho que R$ 100 bilhões não pagam o que vai se traduzirsol bet apostasbenefícios que todos vão ter. Há os BRTs, o metrô, e isso vai ajudar a arrumar o espaço do ladosol bet apostaslá (Zona Sul).

A Olimpíada, da forma como chegou, e com as definições que trouxe aqui para o Rio, foi uma benessesol bet apostasDeus para a cidade. Os Jogos vão dar a essa cidade aquilo que ela realmente representa no contexto nacional e internacional.

<link type="page"><caption> Leia mais: O garoto do Rio que pode trazer uma das medalhas mais inesperadassol bet apostas2016</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2015/08/150805_rio2016_promessa_tirocomarco_rm" platform="highweb"/></link>

sol bet apostas BBC Brasil - Nasol bet apostasvisão, a Barra deverá ser "o novo centro do Riosol bet apostasJaneiro". Por que o senhor acredita nesta transição do desenvolvimento urbano da cidade? Quais devem ser os desafios?

sol bet apostas Carvalho - Isso aqui virou o centro da cidade que cresce, porque do ladosol bet apostaslá (Zona Sul) parou, não se anda mais. E as pessoas ainda acham que tem que botar mais gente lá. Essa área aqui é cinco vezes maior do que a Zona Sul. Lá tem 25 milhõessol bet apostasmetros quadrados, e aqui são 125 milhões. A Barra é do tamanhosol bet apostasCingapura, um dos países mais ricos do mundo. Se souberem organizar, há muito futuro. Mas se não souberem, vai voltar a ser o que Cingapura era nas suas origens: lugarsol bet apostasmarginal,sol bet apostasfaltasol bet apostaseducação,sol bet apostastudo que era lixo que se mandava para lá. E chegou lá o inglês e deu um jeito naquilo.

Mas vamos precisarsol bet apostasobrassol bet apostasmobilidade interna. A nossa estrutura viária vai ter dificuldadesol bet apostassuportar o pêndulo que vai se formarsol bet apostasgente entrando e saindo, e essa população aumentando exponencialmente. Quando se construiu a Linha Amarela, foi igual ao Rio Nilo desenvolvendo o Egito às suas margens. Tudo veio junto.

sol bet apostas BBC Brasil - No mapa que decorasol bet apostassala, é possível ver a Barra da Tijuca cobrindo toda uma parede, e vê-se que algumassol bet apostassuas terras fazem fronteira com favelas. Houve tentativassol bet apostasocupação, ao longo dos anos? Como enxerga a questão?

sol bet apostas Carvalho - Desde os anos 1970, quiseram transformar muitas dessas áreassol bet apostasocupaçãosol bet apostasbaixa renda. Massol bet apostastermossol bet apostasfavela, nãosol bet apostasbaixa renda arrumada. Todo o tempo foi uma lutasol bet apostasdefesa do patrimônio. Houve tentativasol bet apostasinvasãosol bet apostasmuitas terras. Um exemplo delas é a atual favelasol bet apostasRio das Pedras, mas a minha terra é a que está ao lado, limpa. A verdade é que o processo político aqui na Barra é dividido entre os que querem arrumar e se eleger, e os que querem destruir e se eleger através dos pobres, sendo pai dos pobres, fazendo um discurso falso, sem fazer aquilo que deveria ser feito. Usam o pobre para dizer que são políticos a favor do pobre. E é nisso que não quero me envolver, porque esse problema não é meu.

Foto: Reuters

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Favela do lado do Parque Olímpico, Vila Autódromo virou símbolosol bet apostasresistência às remoções para a Rio 2016

Se houvesse a invasãosol bet apostastodas as áreas, que era o que iam fazersol bet apostas1982, isso aqui ia ser um bairro para o populismo, para eleger gentesol bet apostasesquerda, prometendo aos pobres o que não iam dar. Quando eu digo pobre, é porque todo mundo é pobre no Brasil. Rico mesmo há apenas uma meia dúzia. Eu não posso dizer que sou pobre, mas posso dizer que vivo como todo mundo. Saiosol bet apostascasa, trabalho, pago contas, pago empregada, me preocupo com dinheiro. Eu sou rico por dentro, mas por fora não sei se sou rico.

sol bet apostas BBC Brasil - Atualmentesol bet apostascrise, o mercado imobiliário estásol bet apostasprocessosol bet apostasretração, acompanhando as dificuldades econômicas vividas pelo país. Como estão as vendas dos apartamentos na Ilha Pura?

sol bet apostas Carvalho - Para mim não interessa agora. Está tudo suspenso. Temos que esperar o Brasil se definir, porque isso nos dará a postura comercial que podemos vir a tomar. Não adianta você brigar com os fatos. De repente a solução seja encher aquilo lásol bet apostasfavelados, ou enchersol bet apostasrico. Eu prefiro enchersol bet apostasrico, até porque se enchermossol bet apostasfavelados vai criar um bocadosol bet apostasproblemas para eles.

sol bet apostas BBC Brasil - As obras das quais o senhor participa no Parque Olímpico ocorremsol bet apostasparceria com a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, investigadas na Operacão Lava Jato. Há temorsol bet apostasimpactos na conclusão dos trabalhos?

sol bet apostas Carvalho - Não temo impactos. Até agora eles têm sido perfeitos. Não há nenhuma queixa, e não tenha dúvidassol bet apostasque se for necessário eu ajudá-lossol bet apostasalguma forma, eu o farei com muita alegria, porque os objetivos estão praticamente cumpridos. Só quem gostasol bet apostasser pessimista é que fica vendo risco. Eu não estou vendo risco nenhum. Estamos na reta final, e eles vêm honrando com todos os compromissos. São companheirossol bet apostasluta e estão sempresol bet apostasacordo com a linha que estou seguindo.

<link type="page"><caption> Leia mais: Cinco questõessol bet apostassegurança que o Rio precisa resolver antes da Olimpíada</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2015/08/150804_rio_olimpiada_seguranca_pai_jp" platform="highweb"/></link>

sol bet apostas The Guardian

sol bet apostas Carvalho - Eu me senti confrontado com os interesses da mídia. E a mídia precisa ter assuntos provocativos, que chamem a atenção do público. Precisa da polêmica. E eu não posso nem entrar na polêmica, porque eu não faço o que eu quero. Eu faço o que me dão liberdadesol bet apostasfazer. Não tenho dúvidassol bet apostasque vou ser sempre muito bem interpretado e também muito mal interpretado. Fiz uma aposta comigo mesmo,sol bet apostasque eu poderia ser útil. Pode ser que eu não seja útil e seja um criminoso. Se me acharem um criminoso, o que eu posso fazer?

Foto: BBC Brasil

Crédito, BBC Brasil

Legenda da foto, Prefeito Eduardo Paes afirma que Jogos do Rio serão "os Jogos do prazo, da economiasol bet apostasrecurso público e do legado"

Eu procurei fazer o que era melhor, e tive que me curvar à realidade da vida. Não estou aqui com a ilusãosol bet apostasque todo mundo está achando que eu estou fazendo um bem. Tem gente que vai achar que eu estou fazendo um bem, tem gente que vai achar que eu estou fazendo um mal. Eu não posso fazer nada. Não estou preocupado com opiniões.

sol bet apostas BBC Brasil - Muitos dos seus planos para o que considera ser "o novo Riosol bet apostasJaneiro" ainda estãosol bet apostascurso, como o Centro Metropolitano e a Ilha Pura. Como imagina a Barra como o "centro do Rio", e como encaminha o futurosol bet apostassua empresa?

sol bet apostas Carvalho - Com 91 anos, não me resta muito tempo, mas morrerei feliz se conseguir ver a cidade numa melhor posição. Acho que Deus nos deu uma oportunidadesol bet apostasouro, mas evidentemente o povo e os políticos resolverão isso melhor do que nós. Eu tenho projetosol bet apostasvida para 150 anos, se vou chegar lá, não sei. Para mim estou começando a vida, então não tem problema.

Tenho dois filhos que se interessam no futuro da minha empresa. Eles acreditam no que eu digo e no que eu estou fazendo, e tenho carta branca deles para agir. Eles têm estadosol bet apostasacordo, assim como os meus colaboradores. E se não estiveremsol bet apostasacordo ou pensarem diferente, eles saem, ou eu mesmo peço para saírem. Se eu só tenho mais 49 anossol bet apostasvida, tenho que estar preocupado, porque ela está curta. Se ela se encerrar antes, eu já fiz o que eu gostariasol bet apostasfazer na vida. Estou feliz e vou embora feliz. Mas agora, preciso continuar nesse "rame rame", porque virou um vício, é igual cocaína.