Por que a desigualdade extrema prejudica os ricos?:

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Legenda da foto, Estudoconsultoria britânica prevê que,2016, 1% mais ricos terão mais dinheiro do que os 99% mais pobres

Hoje o ebola é uma ameaça global ─ e, portanto, há uma corrida maluca para encontrar algum tratamento efetivo para a doença.

O que a tragédia evitável do ebola mostra é que,um mundo globalizado, os interesses dos ricos e pobres são muitas vezes os mesmos ─ embora seja difícil para as empresas reconhecer essa reciprocidadeinteresses quando há pressão por lucroscurto prazo.

Essa solidariedade entre aqueles com pouco e aqueles com muito também se esvai quando os governos são pressionados pelos eleitores para utilizar o dinheiro dos impostos apenasprol da saúde doméstica.

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Talvez o ponto mais importante é que, quando as decisões sobre quem fica com o que ou sobre como os fundosinvestimento são alocados cabem ao mercado, o resultado parece beneficiar apenas os ricos, mas a consequência dessa ação pode acabar prejudicando ricos e pobres.

Este é um forte argumento sobre por que o fosso cada vez maior entre ricos e pobres,termosriqueza e renda, é ruim para todo mundo ─ inclusive para os super-ricos, a não ser que eles queiram viver para sempre enclausuradosseus bunkers lindamente decorados.

Livre mercado?

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Legenda da foto, Ampliação da desigualdaderenda vem preocupando economistas e governos

A questão é que o funcionamento dos mercados,nosso mundo globalizado moderno, tanto leva à extrema concentraçãoriqueza quanto a resultados cada vez mais irracionais no que se refere à alocaçãofundos para combater ameaças ou promover bens públicos.

Essa é uma das razões pelas quais tanto o FMI (Fundo Monetário Internacional) quanto políticosesquerda edireita não vêm mais encarando com leveza o aumento do abismo entre ricos e pobres como um mal talvez custoso, mas necessário "para promover o crescimento".

Trata-se, na verdade,como um séculoestreitamento das desigualdades agora parece dar sinaismarcha à ré.

Para ser mais claro: na segunda-feira, a ONG britânica Oxfam divulgou um estudo prevendo que,2016, os 1% mais ricos terão mais dinheiro do que os 99% dos demais habitantes do planeta. A estimativa não me parecetodo implausível.

Um relatório recentemente divulgado pelo banco Credit Suisse revelou que,2014, 0,7% das pessoas do mundo com ativosmaisUS$ 1 milhão (R$ 2,65 milhões) controlavam 44%toda a riqueza mundial.

<link type="page"><caption> Leia mais: Riqueza1% deve ultrapassar a dos outros 99% até 2016, alerta ONG</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2015/01/150119_riquezas_mundo_lk" platform="highweb"/></link>

E uma importante pesquisa conduzida pelos professores Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, da Universidade da CalifórniaBerkeley (Estados Unidos) e da LSE (Inglaterra) mostrou que os 0,1% americanos mais ricos ─ ou 160 mil famílias, com patrimônio médiocercaUS$ 73 milhões (R$ 194 milhões) cada ─ detêm maisum quintotoda a riqueza do país, ou o mesmo montante controlado pelos 90% dos americanos mais pobres.

Existem todos os tiposrazões pelas quais tais aumentos na desigualdade são preocupantes, e não apenas para aqueles que estão na base da renda e da pirâmideriqueza.

Uma delas é que pessoasambição com rendimentos mais baixos são incentivadas a assumir grandes dívidas para sustentar seus padrõesvida ─ o que agrava a tendênciaaltos e baixos da economia.

Outra é que os pobres gastam mais do que os ricosforma agregada e, portanto, o crescimento tende a ser mais rápido quando a renda é distribuída mais uniformemente.

Então o discurso do Estado da UniãoObama, o qual se espera que contenha uma proposta para a tributação dos mais ricos, talvez deva ser visto como uma tentativa tardiapromover a estabilidade econômica e social que beneficiará ainda mais os ricos ─ mas que será muito provavelmente barrada pelo Congresso, hojemaioria republicana.

E o mais impressionante é a crescente percepção, inclusive por parte dos super-ricos,que já não é tão simples argumentar que a "igualdadeoportunidades" é tudo o que importa.

Ou melhor, não pode haver igualdadeoportunidadesum mundo onde existe um tipodesigualdade que não temos visto desde as primeiras décadas do século passado.