'Eles sonhavam com uma vida decente', diz homem que perdeu famíliabetano c9mtravessia à Europa:betano c9m

Família Bakr (BBC)
Legenda da foto, Vinte e três parentesbetano c9mAtef Bakr tentaram a travessia do Egito à Europabetano c9mum barcobetano c9mtraficantes

betano c9m Dos 23 integrantes da família Bakr que tentaram migrar do Egito para a Europabetano c9mum barco lotadobetano c9msetembro, acredita-se que apenas um tenha chegado ao continente: o corpobetano c9mMalak Raafat Bakr,betano c9mum ano e dois meses, encontrado na costa da Itália.

Acredita-se que os parentes que partiram com Malak - cujo nome significa anjo - estejam entre as 500 pessoas que morreram afogadas após os traficantes terem afundaram o barco onde eles estavam.

Sobreviventes dizem que os migrantes se recusaram a mudar para uma embarcação menor, temendo que não tivesse condiçõesbetano c9mnavegar no mar.

"Eu fui totalmente contra isso (a tentativabetano c9mimigrar), mas eles diziam que não havia futuro aqui oubetano c9mGaza", lamenta Atef Bakr, que perdeu o irmão, o filho e o neto na tragédia.

Ele não tentou a travessia à Europa. "Eles tinham esse sonhobetano c9mchegar à Europa e ter uma vida decente."

Vulneráveis

Como os integrantes da família Bakr, maisbetano c9m3 mil migrantes morreram afogados no Mediterrâneo só neste ano, segundo a Organização Internacional para Migração.

<link type="page"><caption> Leia mais: Diáriobetano c9muma repórter: Mortes e esperançabetano c9mSerra Leoa</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2014/10/141007_ebola_diario_bbc_fn" platform="highweb"/></link>

Eles estão no meiobetano c9mum impasse envolvendo o governo italiano e a União Europeia que ameaça deixar ainda mais vulneráveis os já desprovidos indivíduos que tentam chegar ao continente europeu por meiobetano c9mbarcos improvisados.

Uma operação do governo italiano para resgatar migrantes no Mediterrâneo já resgatou 160 mil pessoasbetano c9mpequenas embarcaçõesbetano c9mrefugiados. A iniciativa foi lançada após centenasbetano c9mmigrantes terem se afogado na ilhabetano c9mLampedusa.

Mas a um custobetano c9m9 milhõesbetano c9meuros por mês (cercabetano c9mR$ 2,8 bilhões), e o envolvimentobetano c9m900 oficiais, a operação Mare Nostrum é um custo que Roma já anunciou que pretende cortar.

Em seu lugar, a Agência Europeiabetano c9mGestão das Fronteiras Externas, a Frontex, pretende introduzir o maior exercício já realizado para deter migrantes. A operação Triton, que envolverá 20 países europeus, deverá ser iniciadabetano c9m1ºbetano c9mnovembro.

Mas o foco será no controlebetano c9mfronteiras, e não a busca e resgate, e agênciasbetano c9majuda temem que mais migrantes irão morrer no mar.

A organização britânica Refugee Council exemplificou o teor das críticas, dizendo que a medida levará mais gente a morrer "desnecessariamente e vergonhosamente no batente da Europa".

A Frontex justifica o menor escopo da operação apontando para os números recordesbetano c9mchegadabetano c9mimigrantes no continente europeu pelo mar: mais 182 mil pessoas chegaram à Europa por marbetano c9m2014, um número três vezes maior que o totalbetano c9m2013.

O impasse levou a Marinha italiana a anunciar que irá continuar com as missõesbetano c9mbusca e resgate paralelamente à operação Triton.

<link type="page"><caption> Leia mais: Em barco, milionários procuram imigrantes com problemas no Mediterrâneo </caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2014/08/140829_milionarios_barco_migrantes_mc_cc.shtml" platform="highweb"/></link>

Risco caro

Esta foi a segunda tragédia para a família Bakr,betano c9morigem palestina, nos últimos anos. O Hamas expulsou-osbetano c9mGazabetano c9m2007 e tomou os negócios que eles tinham. Eles se mudaram para o Egito, onde também enfrentaram problemas. Então, pela primeira vez, alguns recorreram aos traficantes.

Atef Bakr (BBC)
Legenda da foto, Bakr diz ter sido contra a viagem dos parentes: "Eles tinham esse sonhobetano c9mchegar à Europa e ter uma vida decente"

Atef Bakr, ex-coronel nas forçasbetano c9msegurança palestinas, tem uma fala branda e os olhos vermelhosbetano c9mum homem atingido pela tristeza. Hoje, ele passa seu tempobetano c9mbuscabetano c9mnotícias sobre o desastre e lamentando a perdabetano c9mgrande parte da família, incluindo seu irmão, filho e neto.

Sua mãe, Amina, sentada ao lado coberta por um véu branco, relembra dias melhoresbetano c9mGaza. "Costumávamos comer juntos, beber juntos, fazer tudo juntos. Rezamos a Deus que sejamos reunidos um dia. Temos a esperançabetano c9mque eles estão bem", disse ela, antesbetano c9mcairbetano c9mprantos.

Em uma triste coincidência, a maioria dos mortos tinha excelentes habilidadesbetano c9mnatação, já que a família erabetano c9mpescadores. "Eles nadavam no marbetano c9mqualquer época do ano", disse Bakr. "Eles podiam enfrentar mares turbulentos e água fria. Eles ainda eram jovens. Como eles poderiam se afogar?"

Os Bakr saírambetano c9mDamietta, no norte do Egito, onde o tráficobetano c9mpessoas é um negócio crescente. Acredita-se haver cercabetano c9m20 pontosbetano c9mpartida ao longo da costa.

Migrantes pagam ao menos US$ 2 mil (cercabetano c9mR$ 4,9 mil) e, algumas vezes, até US$ 4 mil (R$ 9,8 mil) por pessoa, dependendo das condições do barco.

<link type="page"><caption> Leia mais: Premiêbetano c9mMalta adverte: Mediterrâneo está virando cemitério</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2013/10/131012_malta_lampedusa_rp.shtml" platform="highweb"/></link>

Os traficantes operambetano c9mespaços públicos - incluindo portosbetano c9mbalneários turísticos - entre o amanhecer e as 17h para evitar patrulhas da guarda costeira durante a noite.

Mãebetano c9mBakr (BBC)
Legenda da foto, A mãebetano c9mBakr, Amina, limpa as lágrimas e diz: "Rezamos a Deus que sejamos reunidos um dia"

Quando os migrantes chegam ao pontobetano c9mpartida, são embarcadosbetano c9mbarcosbetano c9mpesca que os levam para embarcações maioresbetano c9máguas internacionais. Eles passam dois ou três dias a espera do barco ser lotado com centenasbetano c9moutros migrantes. Então, iniciam a viagem à Itália.

Eles são transferidos então para outro navio que os leva a águas italianas. Os traficantes, então, ligam para a guarda-costeira e jogam os migrantes no mar para serem resgatados.

'Corpo sem alma'

Abu Baraa, que tem cinco filhos, conhece bem os perigos da travessia à Europa. O refugiado sírio, que pediu que seu nome completo não fosse revelado, já tentou a jornada 10 vezes. Em abril, ele ficou à deriva no mar por uma semana combetano c9mesposa e crianças.

Vídeobetano c9mtraficantes
Legenda da foto, Imagembetano c9mvídeo amador mostra migrantes síriosbetano c9mbarcobetano c9mtraficantes durante travessia à Europa

"Havia 160 sírios no barco e 64 egípcios", disse.

Os principais traficantes são figuras obscuras, conhecidas apenas por apelidos como Abu Hamada, também chamadobetano c9mo Médico e o Capitão, e o General.

"No terceiro dia, eles disseram que não havia mais água, então começamos a beber água do mar. Estava quente durante o dia e frio à noite. Meus filhos ficavam assustados com o mar. Palavras não conseguem descrever o pânico, o cansaço e a fome. Estes sete dias foram como sete anos".

Alexandria (BBC)
Legenda da foto, Cidadebetano c9mAlexandria, no Egito, é um dos lugares usados pelos traficantesbetano c9mpessoas

Eles acabarambetano c9mvolta ao Egito após os traficantes se desentenderem sobre o pagamento. "Outro barco estava nos perseguindo e tentando nos afundar", disse Abu Baraa. "O capitão do nosso barco foi muito corajoso e nos levoubetano c9mvolta à costa bem rápido".

Sua esposa e seus filhos finalmente chegaram à Europabetano c9mjulho, mas ele não teve dinheiro para ir com eles. Ele mostra, com orgulho, uma fotobetano c9msua filhabetano c9m4 anos agarrando balões amarelosbetano c9mseu primeiro dia na escola na Alemanha.

"Não vou dizer que não tenho medobetano c9mfazer a travessia, mas se eu tiver dinheiro, tentarei novamente", disse ele.

"Eles estãobetano c9mum lugar e eubetano c9moutro. Sou como um corpo sem uma alma".