Ebola quebra tradição na Libéria e faz vendascaixão despencarem:

Fabricantescaixões na Libéria (AP)

Crédito, AP

Legenda da foto, Culturaenterros, forte no país, teveser substituída por cremações
  • Author, Jonathan Paye-Layleh
  • Role, Da BBC África,Monróvia (Libéria)

Em meio à epidemiaebola, a indústriacaixões da Libéria vive uma crisevendas.

Os caixões têm sido substituídos pelos sacos especiais para cadáveres, já que os fluidos corporais das vítimasebola são altamente contagiosos e devem ser cuidadosamente selados antesum enterro ou cremação.

Funerais, que costumam ser grandes eventos sociais na Libéria, nos quais amigos e familiares se reuniam ao redorum caixão aberto para se despedir do ente querido, também se tornaram uma memória do passado.

"Por causa dessa situação do ebola, as pessoas raramente vêm comprar aqui agora", diz o carpinteiro Titus Mulbah, mostrando sinais visíveisdecepção ao descobrir que a reportagem da BBC não estava ali para comprar.

Mulbah é um dos gerentes da empresa Talented Brothers Casket Centre (centrocaixões irmãos talentosos,tradução livre) na capital liberiana, Monróvia.

De origens humildes, a empresa vinha crescendo e passara a ocupar dois galpões cobertos à beira da estrada que liga o porto ao leste da cidade.

Antes da epidemia, Mulbah disse que os negócios iam bem. Mas "nos últimos dois meses, está difícil vender até mesmo um caixão por dia. E isso porque todos os corpos hoje são vistos como vítimas do ebola, como se outras doenças não estivessem matando pessoas por aqui".

E, para complicar a situaçãoMulbah, pessoas que haviam feito pagamentos adiantados para comprar caixões estão pedindo seu dinheirovolta, diz ele.

<bold><link type="page"><caption> Leia mais: Na Libéria, a dura rotinaquem combate o ebola</caption><url href="www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/videos_e_fotos/2014/10/141025_liberia_ebola_paciente_pai.shtml" platform="highweb"/></link></bold>

Medo da infecção

Agentes funerários também estão sentindo os efeitos da epidemia, já que funerais tradicionais estão sendo abandonados.

Mas Moses Ahoussouhe, proprietário da funerária St Moses, na mesma região, diz apoiar as medidas preventivas, já que não quer ter contato com corpos que podem não ser sido testados para verificar a contaminação pelo ebola.

"Preferimos perder dinheiro agora a fazer algo errado e ser infectado", diz à BBC. "Então seguimos as políticas e restrições do governo."

Após resistênciaalgumas comunidades quanto a enterrar vítimas do ebola naregião, o governo decretou a cremaçãotodos os corpos infectados.

"Sabemos que a cremação não faz parte da cultura do nosso país, nossa cultura é do enterro", diz Tolbert Nyenswah, ministro-assistente da Saúde, que lidera a resposta oficial ao ebola. "Mas agora temos a doença, então precisamos mudar a forma como fazíamos as coisas."

<bold><link type="page"><caption> Leia mais: 'Todos se foram', diz menino que perdeu pai, madrasta, avó, irmão e irmã</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/videos_e_fotos/2014/10/141020_sdasda.shtml" platform="highweb"/></link></bold>

Enterros secretos

No entanto, Nyenswah afirma que o medo da cremação tem levado muitas pessoas a ficarcasavezbuscar tratamento - tanto que há muitos leitos vagos nos centrostratamento da doença.

"Temos a informaçãoque enterros secretos estão acontecendo nas comunidades; precisamos parar com isso e avisar as autoridades a respeito das pessoas doentes, para que elas possam ser tratadas", diz ele.

Autoridades do ministério da Saúde afirmam que os testes são feitos para garantir que apenas corposvítimas do ebola sejam cremados, mas algumas pessoas se queixaramque pessoas mortas por outras causas tampouco puderam ser enterradas.

"Perdi uma parente que nunca foi testado ou tratado. Ela morreu e seu corpo foi cremado", disse o jornalistaTV Eddie Harmon, afirmando que a medida era "injusta".

Para muitos liberianos, é difícil lidar com a ideiaque não terão túmulosseus entes queridos para visitar nos cemitérios, algo que é parte importante da cultura local.

Quando a presidente do país, Ellen Johnson-Sirleaf, declarou estadoemergênciaagosto, ela resumiu o desespero do país: "o ebola atacou nosso estilovida".

De volta à lojacaixões, Mulbah ficaolho na estrada, à esperaclientes. Mas ninguém aparece.

Ele se apega à esperança, comum na Libéria,que a chegada da estação seca,breve, vaialguma forma conter a epidemia (já que as fortes chuvas bloqueiam estradas e prejuicam os esfoços contra a doença,um país com pouca infraestrutura).

"Queremos que o ebola se vá, para que possamos retomar os negócios", diz.