Tragédia une mãesbonus onebetmortos por policiais: 'Eles acham que a gente não tem voz':bonus onebet

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Legenda da foto, Somente há uma semana Mariabonus onebetFátima conseguiu falar sobre a morte do filho na Rocinhabonus onebet2012

Consultada pela BBC Brasil, a Secretariabonus onebetSegurança Pública do Estado do Riobonus onebetJaneiro respondeu sobre os três casos e disse que o policial responsável pelo disparo na ocorrência que acabou tirando a vidabonus onebetJohnatha foi indiciado pelo crimebonus onebethomicídio culposo (sem intençãobonus onebetmatar), e que segue trabalhando na UPPbonus onebetManguinhos enquanto aguarda julgamento.

Quanto ao casobonus onebetPaulo Roberto, cinco policiais da mesma UPP foram indiciados pelo crimebonus onebetlesão corporal seguidabonus onebetmorte, e trabalhambonus onebetoutros batalhões enquanto aguardam julgamento.

"Hojebonus onebetdia os jovensbonus onebetcomunidade têm que provar o tempo todo que são produtivos, que não estão envolvidos com nada. É uma pressão constante, e há muito desrespeito, há muita injustiça", diz Ana Paula Gomesbonus onebetOliveira.

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Legenda da foto, Mulheres se uniram e promovem reuniõesbonus onebetmãesbonus onebetvítimas policiais nas comunidades do Rio

Embora esteja distante, na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio, no outro lado da cidade, Mariabonus onebetFátima dos Santos Silva,bonus onebet55 anos, tem muitobonus onebetcomum com as duas amigas.

Ela também perdeu um filho, Hugo Leonardo dos Santos Silva, aos 32 anos, no dia 17bonus onebetabrilbonus onebet2012, meses antes da instalação da UPP na comunidade.

Embora seu caso seja mais antigo, somente há uma semana ela conseguiu falar publicamente sobrebonus onebethistória. "Foi lábonus onebetManguinhos, durante uma manifestação. Conheci a Ana Paula e a Fátima. Elas me deram muita força. Foi uma vitória, pegar o microfone e contar, diantebonus onebettodo mundo, a minha história. É bom a gente ver que não está sozinha", diz.

Sobre o caso, a Secretariabonus onebetSegurança Pública disse que a ocorrência foi registrada como homicídio decorrentebonus onebetintervenção policial, que ocorreu antes da instalação da UPP da Rocinha, e que permanece sendo investigada.

Integrantesbonus onebetgrupos como o Fórum Socialbonus onebetManguinhos, Mães Vítimasbonus onebetViolência e a Redebonus onebetMovimentos e Comunidades Contra a Violência, as três tornam-se, aos poucos, ativistas nas redes sociais e agora dão força umas às outras.

As três mães contaram suas históriasbonus onebetdor e perda à BBC Brasil para esta reportagem, partebonus onebetuma série especial sobre o tema da violência policial e contra policiais.

Os temas foram sugeridos pelos leitores da BBC Brasil nas redes sociais para nossa cobertura do temabonus onebetsegurança pública no contexto das eleições presidenciais,bonus onebetacordo com a proposta do projeto da BBC Brasil #SalaSocial, que pretende usar as redes sociais como fontebonus onebethistórias originais.

No início da semana, mostrou quebonus onebet2013 foram registrados 1.259 homicídios cometidos por policiais e, ao mesmo tempo, 316 agentes da lei foram assassinados (dadosbonus onebet22 Estados). Outra reportagem mostrou que o tema da violência policial está ausente dos programas dos principais candidatos à Presidência, no que analistas atribuíram ao medobonus onebetperder o eleitorado mais conservador.

Duas netasbonus onebetMariabonus onebetFátima acompanharam com atenção a reportagem na Rocinha, sendo que Carolina era a mais falante. Em Manguinhos, Maria Paula e Alejandra corriam e brincavam enquanto as mães, respectivamente Ana Paula e Fátima, davam suas entrevistas.

Todas com menosbonus onebetdez anos, presenciaram a emoção, choro, saudade, revolta e esperança da avó e das mães ao falarem sobre seus filhos mortosbonus onebetforma violenta.

"Nós nos ajudamos, e queremos Justiça. Somos as vozes dos nossos filhos que se foram. Mas lutamos por elas também. Para que no futuro não seja uma delas conversando com um repórter. Para que tenham um futuro sem essa dor", diz Ana Paula.

Veja abaixo os principais trechos dos três depoimentos:

Depoimentobonus onebetMariabonus onebetFátima dos Santos Silva

Mariabonus onebetFátima dos Santos Silva
Legenda da foto, "Agora sou a voz do meu filho", diz Mariabonus onebetFátima

"Eles vinham atrás dele, era sempre ele. Queriam que ele dissesse coisas, mas ele não sabiabonus onebetnada. Na primeira vez, bateram muito. Entraram na casa dele e espancaram. Na segunda, levaram para a delegacia, e ele foi liberado. Na terceira eles conseguiram, mataram meu filho", conta a diarista Mariabonus onebetFátima dos Santos Silva,bonus onebet55 anos, moradora do Beco 199, na Rocinha.

Naquele dia 17bonus onebetabrilbonus onebet2012, Hugo Leonardo dos Santos Silva descia as escadasbonus onebetum beco estreito quando foi surpreendido por três PMs que ordenaram que ele levantasse as mãos. O rapazbonus onebet32 anos estavabonus onebetfrente a uma creche, onde buscaria o sobrinho. Já com as mãos para o alto, andou na direção dos policiais, quando foi baleado no abdômen.

"Uma das minhas filhas ouviu. Nessa hora, os policiais discutiram entre si e um disse: 'Olha a merda que você fez, agora termina'. Foi quando atiraram na cabeça do meu filho, que já estava caído no chão. E aí começou uma confusão para conseguir lençóis para levar para o hospital. Uma gritaria. Os moradores não queriam dar, mas eles ameaçaram e assim conseguiram desfazer a cena do crime. Ele já estava morto", diz Mariabonus onebetFátima.

A polícia alegou que houve tiroteio e que Hugo seria traficante. "Ninguém ouviu mais do que aqueles dois tiros. E veja bem, a creche fica num beco muito estreito. Se tivesse havido tiroteio, muito mais gente teria morrido ali. Crianças, inclusive, do jeito que o lugar é apertado", diz a mãe.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretariabonus onebetSegurança Pública do Estado do Rio Janeiro informou que o caso foi registrado como homicídio decorrentebonus onebetintervenção policial e que as investigações estãobonus onebetandamento.

Mariabonus onebetFátima nunca mais passoubonus onebetfrente à creche. "Não consigo", diz.

Na salabonus onebetsua casa, no alto da favela da Rocinha, Mariabonus onebetFátima ainda chora quando relembra a história. "Eu tomei muito remédio para dormir, para os nervos. Nunca mais fui a mesma pessoa. Às vezes, estou ali cozinhando e ouvindo uma música e começo a chorar. É saudade", diz.

De um lado, bijuterias, elásticos e materiais para confeccionar brincos e correntes. Do outro, o computador aberto embonus onebetpágina do Facebook. Ela conta que, se não está fazendo faxina, faz artesanato e interage com outras mães nas redes sociais, para "ocupar a cabeça".

Ao lado do computador, um objeto chama a atenção. Uma cruzbonus onebetmadeira. "Mandei fazer para participarbonus onebetuma passeata na Candelária, relembrando a chacina (de oito jovens nas escadarias da igreja,bonus onebet1993)", conta.

"Minha cruz eu carrego todo dia. A gente é pobre, preto, desempregado, favelado. Eles pensam que a gente não tem voz. O que mais tem aqui dentro é gente apanhando. Tapa na cara, humilhação. E morrendo também. Isso é pacificação? Mas eu estou falando pelo meu filho. Agora eu sou a voz dele", diz.

Para a diarista, o que importa é limpar o nomebonus onebetHugo. "Ele não era traficante, era trabalhador. Aqui tenho a carteirabonus onebettrabalho, os holerites, tudo aqui na pastinha, você quer ver? Ah, e o que eu quero? Justiça. Eu quero Justiça. Alguém tem que fazer alguma coisa. Pouco depois dele mataram o Amarildo, que todo mundo aqui conhecia. Não pode ser assim para sempre, não pode", diz.

Depoimentobonus onebetAna Paula Gomesbonus onebetOliveira

Ana Paula Gomesbonus onebetOliveira
Legenda da foto, "É muito triste, tiraram um pedaçobonus onebetmim", diz Ana Paula

"Eram umas quatro horas da tarde do dia 14bonus onebetmaio deste ano, e eu tinha acabadobonus onebetfazer um pavê. Pedi ao Johnatha para levar para a minha mãe, que mora aquibonus onebetManguinhos também. Bati uma foto dele com o pavê na mão e mandei para a minha mãe por WhatsApp", conta Ana Paula Gomesbonus onebetOliveira,bonus onebet37 anos, formadabonus onebetpedagogia.

"Olha, é assim que está saindo daqui. Inteirinho", dizia a mensagem. "Mãe, tu é demais, não acredito que você está fazendo isso", o garoto respondeu bem-humorado, antesbonus onebetdar um beijobonus onebetAna Paula e sair com a namorada.

"Como eu ia imaginar que aquele seria meu último momento com ele?", diz a mãebonus onebetJohnathabonus onebetOliveira Lima, que morreu duas horas depois, aos 19 anos.

Ana Paula foi ao supermercado, e escolhia o refrigerante que o filho gostava. "Ele era a alegria da casa. Carinhoso comigo, com todo mundo. Sorridente, alegre", conta.

Na volta da casa da avó, Johnatha acabou entrando numa parte da favela onde acontecia uma confusão entre crianças e adolescentes. "É comum isso aqui. As crianças e jovens ficam na rua conversando, e por uma palavra atravessada, por alguma trocabonus onebetofensas, a polícia é agressiva", conta Ana Paula.

Quem testemunhou a cena foi Fátima dos Santos Pinhobonus onebetMenezes,bonus onebet40 anos, que foi avisada por vizinhosbonus onebetque uma confusão se formava ali por perto e a situação já era tensa.

"Eu fui lá ver, e o lugar é bem perto da minha casa mesmo. As crianças e adolescentes começaram a jogar pedras nos policiais, que estavam com os fuzisbonus onebetpunho. Eu cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP jábonus onebetposiçãobonus onebetatirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. O policial atirou, e quem morreu foi o filho da Ana Paula, minha amiga", conta.

No outro lado da comunidade, ainda no supermercado, Ana Paula ouviu tiros e comentou com a caixa enquanto pagava as compras. Não tinha ideiabonus onebetque os disparos que ela ouvia eram os que matavam seu filho enquanto ela comprava o refrigerante favorito do menino e se preocupava como o pavê teria chegado ao destino.

"É muito injusto. É muito triste. Até quando vai ser assim? Eles me tiraram um pedaço. Dói tanto, tanto, que só mesmo outra mãe pode entender. Eu perdi esse pedacinhobonus onebetmim, mas meu marido e minha filha também me perderam, porque eu nunca mais vou ser a mesma pessoa que eu era", diz.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretariabonus onebetSegurança Pública do Estado do Riobonus onebetJaneiro informou que o policial responsável pelo disparo foi indiciado pelo crimebonus onebethomicídio culposo (quando não há intençãobonus onebetmatar) e que ele segue lotado na UPPbonus onebetManguinhos enquanto o julgamento tramita na Justiça.

"Você quer saber o que dói também? Ver os policiais rindo e gozando da nossa cara do ladobonus onebetfora da igrejabonus onebetque acontecia a missabonus onebetsétimo dia do meu filho. Parentes se irritaram, mas eu pedi para deixarem, porque eu não queria mais confusão. É muito humilhante, é um desrespeito muito grande", diz Ana Paula.

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Fátima dos Santos Pinhobonus onebetMenezes
Legenda da foto, Para Fátima, falar sobre o filho morto pode evitar que casos se repitam

"Dói demais lembrar. Dói demais. Eu cheguei correndo, e eles não queriam me deixar passar. Minha filha ficou, mas eu passei por baixo das pernas do policial. Meu menino estava no chão, deitado, e eu acho que ele só estava esperando por mim. Era aquela gritaria, tudo ao mesmo tempo, e ele deu o último suspiro e morreu, nos meus braços."

Foi assim que há quase um ano,bonus onebet17bonus onebetoutubrobonus onebet2013, Fátima dos Santos Pinhobonus onebetMenezes, então com 39 anos, se despedia do filho Paulo Roberto Pinhobonus onebetMenezes,bonus onebet18 anos.

Ela demora a contarbonus onebethistória. Com um olhar distante, sereno, dá força para a amiga Ana Paula durante a entrevista, e comenta a situaçãobonus onebetviolênciabonus onebetgeral na favelabonus onebetManguinhos, na Zona Norte do Rio, pacificadabonus onebetjaneiro do ano passado.

"Sabe, a gente achou que quando eles [os policiaisbonus onebetUPP] chegassem, viria a paz, a segurança, a tranquilidade que a gente quis durante todos esses anos. Mas é humilhação, pancadaria, e morte, morte e mais morte. Eles estão matando com fuzil as crianças que jogam pedras. Não podemos deixar", argumenta.

Basta começar a contar o que aconteceu naquela noite, no entanto, para a fisionomiabonus onebetFátima mudar. O olhar distante e sereno dá lugar ao choro, gestos rápidos e um olhar que parece traduzir uma fração do desespero sentido ao presenciar o último suspiro do filho espancado até a morte.

"Eu fui avisada da confusão na favela. Fiquei com medo, e fui procurar o Paulo Roberto. Eles tinham marcação com ele. Era sempre ele que era abordado, revistado. Eles faziam perguntas, encrencavam. Eu sabia disso, então fiquei muito preocupada", conta.

Quando foi se aproximando do local, amigos do menino já vinham gritando: "Eles vão matar ele, tia, eles vão matar ele. Eles estão batendo muito nele, vão matar".

"Ele vinhabonus onebetum barzinho, e ia dormir na casabonus onebetum amigo. É a única diversão que eles têm, ficar conversando nesse barzinho até tarde. Eu tinha medo, mas adianta proibir? Os policiais da UPP estavam fazendo abordagem num beco, e quando ele foi passar, houve confusão e começaram a bater nele. Bateram até ele quase morrer, depois asfixiaram", diz Fátima.

Ela conta que os policiais quiseram argumentar que ele estava drogado e que tinha tido um mal súbito, embora na certidãobonus onebetóbito a causa da morte seja clara: "Múltiplas lesões e asfixia mecânica".

"Os exames da perícia mostraram que ele não tinha droga no organismo, e no dia seguinte, no caixão, dava para ver os hematomas. O rosto dele todo arranhado, cheiobonus onebetmarca roxa", diz a mãe, acrescentando que no seu caso também teve que enfrentar as piadas e gozações dos policiais do ladobonus onebetfora da Unidadebonus onebetPronto Atendimento para onde o menino foi levado.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretariabonus onebetSegurança Pública do Estado do Riobonus onebetJaneiro confirmou que os cinco policiais da UPPbonus onebetManguinhos foram indiciados pelo crimebonus onebetlesão corporal seguidabonus onebetmorte e que estão lotadosbonus onebetdiferentes batalhões da Polícia Militar enquanto aguardam julgamento.

"Eu sei que não vai trazer elebonus onebetvolta. Mas hoje faz quase um ano, 11 meses que ele se foi. E eu estou aqui, falando dele para você. Eu prometi isso pra ele. Ele foi, mas eu fiquei, e eu posso ser a voz do meu filho aqui, até que se faça Justiça, e que outras mães não passem mais por isso. Ninguém deveria passar por isso. Dói demais", diz Fátima.