Tragédia une mãesestrategia terminais roletamortos por policiais: 'Eles acham que a gente não tem voz':estrategia terminais roleta
- Author, Jefferson Puff
- Role, Da BBC Brasil no Rioestrategia terminais roletaJaneiro
estrategia terminais roleta "Cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP jáestrategia terminais roletaposiçãoestrategia terminais roletaatirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. Ele (o policial) atirou, mas quem morreu foi o filho da minha amiga", conta Fátima dos Santos Pinhoestrategia terminais roletaMenezes,estrategia terminais roleta40 anos, ao lado amiga Ana Paula Gomesestrategia terminais roletaOliveira,estrategia terminais roleta37 anos, na comunidadeestrategia terminais roletaManguinhos, na Zona Norte do Rioestrategia terminais roletaJaneiro.
Ambas moradoras da mesma favela, as duas mal se conheciam antes da tragédia ocorrida no dia 14estrategia terminais roletamaio desse ano, quando o menino Johnathaestrategia terminais roletaOliveira Lima morreu, aos 19 anos, baleado durante uma confusão entre policiaisestrategia terminais roletaUPP armados e crianças e adolescentes que atiravam pedras neles.
Agora, integram juntas o Fórum Socialestrategia terminais roletaManguinhos, ONG local que advoga pelos direitos da comunidade, e têm comparecido a manifestações, marchas e reuniõesestrategia terminais roletamães que perderam filhosestrategia terminais roletacomunidades cariocas.
Fátima já havia perdido um filho, Paulo Roberto Pinhoestrategia terminais roletaMenezes, no dia 17estrategia terminais roletaoutubroestrategia terminais roleta2013. Aos 18 anos, o garoto foi espancado até a morte e depois asfixiado.
Consultada pela BBC Brasil, a Secretariaestrategia terminais roletaSegurança Pública do Estado do Rioestrategia terminais roletaJaneiro respondeu sobre os três casos e disse que o policial responsável pelo disparo na ocorrência que acabou tirando a vidaestrategia terminais roletaJohnatha foi indiciado pelo crimeestrategia terminais roletahomicídio culposo (sem intençãoestrategia terminais roletamatar), e que segue trabalhando na UPPestrategia terminais roletaManguinhos enquanto aguarda julgamento.
Quanto ao casoestrategia terminais roletaPaulo Roberto, cinco policiais da mesma UPP foram indiciados pelo crimeestrategia terminais roletalesão corporal seguidaestrategia terminais roletamorte, e trabalhamestrategia terminais roletaoutros batalhões enquanto aguardam julgamento.
"Hojeestrategia terminais roletadia os jovensestrategia terminais roletacomunidade têm que provar o tempo todo que são produtivos, que não estão envolvidos com nada. É uma pressão constante, e há muito desrespeito, há muita injustiça", diz Ana Paula Gomesestrategia terminais roletaOliveira.
Conexão
Embora esteja distante, na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio, no outro lado da cidade, Mariaestrategia terminais roletaFátima dos Santos Silva,estrategia terminais roleta55 anos, tem muitoestrategia terminais roletacomum com as duas amigas.
Ela também perdeu um filho, Hugo Leonardo dos Santos Silva, aos 32 anos, no dia 17estrategia terminais roletaabrilestrategia terminais roleta2012, meses antes da instalação da UPP na comunidade.
Embora seu caso seja mais antigo, somente há uma semana ela conseguiu falar publicamente sobreestrategia terminais roletahistória. "Foi láestrategia terminais roletaManguinhos, durante uma manifestação. Conheci a Ana Paula e a Fátima. Elas me deram muita força. Foi uma vitória, pegar o microfone e contar, dianteestrategia terminais roletatodo mundo, a minha história. É bom a gente ver que não está sozinha", diz.
Sobre o caso, a Secretariaestrategia terminais roletaSegurança Pública disse que a ocorrência foi registrada como homicídio decorrenteestrategia terminais roletaintervenção policial, que ocorreu antes da instalação da UPP da Rocinha, e que permanece sendo investigada.
Integrantesestrategia terminais roletagrupos como o Fórum Socialestrategia terminais roletaManguinhos, Mães Vítimasestrategia terminais roletaViolência e a Redeestrategia terminais roletaMovimentos e Comunidades Contra a Violência, as três tornam-se, aos poucos, ativistas nas redes sociais e agora dão força umas às outras.
As três mães contaram suas históriasestrategia terminais roletador e perda à BBC Brasil para esta reportagem, parteestrategia terminais roletauma série especial sobre o tema da violência policial e contra policiais.
Os temas foram sugeridos pelos leitores da BBC Brasil nas redes sociais para nossa cobertura do temaestrategia terminais roletasegurança pública no contexto das eleições presidenciais,estrategia terminais roletaacordo com a proposta do projeto da BBC Brasil #SalaSocial, que pretende usar as redes sociais como fonteestrategia terminais roletahistórias originais.
No início da semana, mostrou queestrategia terminais roleta2013 foram registrados 1.259 homicídios cometidos por policiais e, ao mesmo tempo, 316 agentes da lei foram assassinados (dadosestrategia terminais roleta22 Estados). Outra reportagem mostrou que o tema da violência policial está ausente dos programas dos principais candidatos à Presidência, no que analistas atribuíram ao medoestrategia terminais roletaperder o eleitorado mais conservador.
Duas netasestrategia terminais roletaMariaestrategia terminais roletaFátima acompanharam com atenção a reportagem na Rocinha, sendo que Carolina era a mais falante. Em Manguinhos, Maria Paula e Alejandra corriam e brincavam enquanto as mães, respectivamente Ana Paula e Fátima, davam suas entrevistas.
Todas com menosestrategia terminais roletadez anos, presenciaram a emoção, choro, saudade, revolta e esperança da avó e das mães ao falarem sobre seus filhos mortosestrategia terminais roletaforma violenta.
"Nós nos ajudamos, e queremos Justiça. Somos as vozes dos nossos filhos que se foram. Mas lutamos por elas também. Para que no futuro não seja uma delas conversando com um repórter. Para que tenham um futuro sem essa dor", diz Ana Paula.
Veja abaixo os principais trechos dos três depoimentos:
Depoimentoestrategia terminais roletaMariaestrategia terminais roletaFátima dos Santos Silva
"Eles vinham atrás dele, era sempre ele. Queriam que ele dissesse coisas, mas ele não sabiaestrategia terminais roletanada. Na primeira vez, bateram muito. Entraram na casa dele e espancaram. Na segunda, levaram para a delegacia, e ele foi liberado. Na terceira eles conseguiram, mataram meu filho", conta a diarista Mariaestrategia terminais roletaFátima dos Santos Silva,estrategia terminais roleta55 anos, moradora do Beco 199, na Rocinha.
Naquele dia 17estrategia terminais roletaabrilestrategia terminais roleta2012, Hugo Leonardo dos Santos Silva descia as escadasestrategia terminais roletaum beco estreito quando foi surpreendido por três PMs que ordenaram que ele levantasse as mãos. O rapazestrategia terminais roleta32 anos estavaestrategia terminais roletafrente a uma creche, onde buscaria o sobrinho. Já com as mãos para o alto, andou na direção dos policiais, quando foi baleado no abdômen.
"Uma das minhas filhas ouviu. Nessa hora, os policiais discutiram entre si e um disse: 'Olha a merda que você fez, agora termina'. Foi quando atiraram na cabeça do meu filho, que já estava caído no chão. E aí começou uma confusão para conseguir lençóis para levar para o hospital. Uma gritaria. Os moradores não queriam dar, mas eles ameaçaram e assim conseguiram desfazer a cena do crime. Ele já estava morto", diz Mariaestrategia terminais roletaFátima.
A polícia alegou que houve tiroteio e que Hugo seria traficante. "Ninguém ouviu mais do que aqueles dois tiros. E veja bem, a creche fica num beco muito estreito. Se tivesse havido tiroteio, muito mais gente teria morrido ali. Crianças, inclusive, do jeito que o lugar é apertado", diz a mãe.
Consultada pela BBC Brasil, a Secretariaestrategia terminais roletaSegurança Pública do Estado do Rio Janeiro informou que o caso foi registrado como homicídio decorrenteestrategia terminais roletaintervenção policial e que as investigações estãoestrategia terminais roletaandamento.
Mariaestrategia terminais roletaFátima nunca mais passouestrategia terminais roletafrente à creche. "Não consigo", diz.
Na salaestrategia terminais roletasua casa, no alto da favela da Rocinha, Mariaestrategia terminais roletaFátima ainda chora quando relembra a história. "Eu tomei muito remédio para dormir, para os nervos. Nunca mais fui a mesma pessoa. Às vezes, estou ali cozinhando e ouvindo uma música e começo a chorar. É saudade", diz.
De um lado, bijuterias, elásticos e materiais para confeccionar brincos e correntes. Do outro, o computador aberto emestrategia terminais roletapágina do Facebook. Ela conta que, se não está fazendo faxina, faz artesanato e interage com outras mães nas redes sociais, para "ocupar a cabeça".
Ao lado do computador, um objeto chama a atenção. Uma cruzestrategia terminais roletamadeira. "Mandei fazer para participarestrategia terminais roletauma passeata na Candelária, relembrando a chacina (de oito jovens nas escadarias da igreja,estrategia terminais roleta1993)", conta.
"Minha cruz eu carrego todo dia. A gente é pobre, preto, desempregado, favelado. Eles pensam que a gente não tem voz. O que mais tem aqui dentro é gente apanhando. Tapa na cara, humilhação. E morrendo também. Isso é pacificação? Mas eu estou falando pelo meu filho. Agora eu sou a voz dele", diz.
Para a diarista, o que importa é limpar o nomeestrategia terminais roletaHugo. "Ele não era traficante, era trabalhador. Aqui tenho a carteiraestrategia terminais roletatrabalho, os holerites, tudo aqui na pastinha, você quer ver? Ah, e o que eu quero? Justiça. Eu quero Justiça. Alguém tem que fazer alguma coisa. Pouco depois dele mataram o Amarildo, que todo mundo aqui conhecia. Não pode ser assim para sempre, não pode", diz.
Depoimentoestrategia terminais roletaAna Paula Gomesestrategia terminais roletaOliveira
"Eram umas quatro horas da tarde do dia 14estrategia terminais roletamaio deste ano, e eu tinha acabadoestrategia terminais roletafazer um pavê. Pedi ao Johnatha para levar para a minha mãe, que mora aquiestrategia terminais roletaManguinhos também. Bati uma foto dele com o pavê na mão e mandei para a minha mãe por WhatsApp", conta Ana Paula Gomesestrategia terminais roletaOliveira,estrategia terminais roleta37 anos, formadaestrategia terminais roletapedagogia.
"Olha, é assim que está saindo daqui. Inteirinho", dizia a mensagem. "Mãe, tu é demais, não acredito que você está fazendo isso", o garoto respondeu bem-humorado, antesestrategia terminais roletadar um beijoestrategia terminais roletaAna Paula e sair com a namorada.
"Como eu ia imaginar que aquele seria meu último momento com ele?", diz a mãeestrategia terminais roletaJohnathaestrategia terminais roletaOliveira Lima, que morreu duas horas depois, aos 19 anos.
Ana Paula foi ao supermercado, e escolhia o refrigerante que o filho gostava. "Ele era a alegria da casa. Carinhoso comigo, com todo mundo. Sorridente, alegre", conta.
Na volta da casa da avó, Johnatha acabou entrando numa parte da favela onde acontecia uma confusão entre crianças e adolescentes. "É comum isso aqui. As crianças e jovens ficam na rua conversando, e por uma palavra atravessada, por alguma trocaestrategia terminais roletaofensas, a polícia é agressiva", conta Ana Paula.
Quem testemunhou a cena foi Fátima dos Santos Pinhoestrategia terminais roletaMenezes,estrategia terminais roleta40 anos, que foi avisada por vizinhosestrategia terminais roletaque uma confusão se formava ali por perto e a situação já era tensa.
"Eu fui lá ver, e o lugar é bem perto da minha casa mesmo. As crianças e adolescentes começaram a jogar pedras nos policiais, que estavam com os fuzisestrategia terminais roletapunho. Eu cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP jáestrategia terminais roletaposiçãoestrategia terminais roletaatirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. O policial atirou, e quem morreu foi o filho da Ana Paula, minha amiga", conta.
No outro lado da comunidade, ainda no supermercado, Ana Paula ouviu tiros e comentou com a caixa enquanto pagava as compras. Não tinha ideiaestrategia terminais roletaque os disparos que ela ouvia eram os que matavam seu filho enquanto ela comprava o refrigerante favorito do menino e se preocupava como o pavê teria chegado ao destino.
"É muito injusto. É muito triste. Até quando vai ser assim? Eles me tiraram um pedaço. Dói tanto, tanto, que só mesmo outra mãe pode entender. Eu perdi esse pedacinhoestrategia terminais roletamim, mas meu marido e minha filha também me perderam, porque eu nunca mais vou ser a mesma pessoa que eu era", diz.
Consultada pela BBC Brasil, a Secretariaestrategia terminais roletaSegurança Pública do Estado do Rioestrategia terminais roletaJaneiro informou que o policial responsável pelo disparo foi indiciado pelo crimeestrategia terminais roletahomicídio culposo (quando não há intençãoestrategia terminais roletamatar) e que ele segue lotado na UPPestrategia terminais roletaManguinhos enquanto o julgamento tramita na Justiça.
"Você quer saber o que dói também? Ver os policiais rindo e gozando da nossa cara do ladoestrategia terminais roletafora da igrejaestrategia terminais roletaque acontecia a missaestrategia terminais roletasétimo dia do meu filho. Parentes se irritaram, mas eu pedi para deixarem, porque eu não queria mais confusão. É muito humilhante, é um desrespeito muito grande", diz Ana Paula.
Depoimentoestrategia terminais roletaFátima dos Santos Pinhoestrategia terminais roletaMenezes
"Dói demais lembrar. Dói demais. Eu cheguei correndo, e eles não queriam me deixar passar. Minha filha ficou, mas eu passei por baixo das pernas do policial. Meu menino estava no chão, deitado, e eu acho que ele só estava esperando por mim. Era aquela gritaria, tudo ao mesmo tempo, e ele deu o último suspiro e morreu, nos meus braços."
Foi assim que há quase um ano,estrategia terminais roleta17estrategia terminais roletaoutubroestrategia terminais roleta2013, Fátima dos Santos Pinhoestrategia terminais roletaMenezes, então com 39 anos, se despedia do filho Paulo Roberto Pinhoestrategia terminais roletaMenezes,estrategia terminais roleta18 anos.
Ela demora a contarestrategia terminais roletahistória. Com um olhar distante, sereno, dá força para a amiga Ana Paula durante a entrevista, e comenta a situaçãoestrategia terminais roletaviolênciaestrategia terminais roletageral na favelaestrategia terminais roletaManguinhos, na Zona Norte do Rio, pacificadaestrategia terminais roletajaneiro do ano passado.
"Sabe, a gente achou que quando eles [os policiaisestrategia terminais roletaUPP] chegassem, viria a paz, a segurança, a tranquilidade que a gente quis durante todos esses anos. Mas é humilhação, pancadaria, e morte, morte e mais morte. Eles estão matando com fuzil as crianças que jogam pedras. Não podemos deixar", argumenta.
Basta começar a contar o que aconteceu naquela noite, no entanto, para a fisionomiaestrategia terminais roletaFátima mudar. O olhar distante e sereno dá lugar ao choro, gestos rápidos e um olhar que parece traduzir uma fração do desespero sentido ao presenciar o último suspiro do filho espancado até a morte.
"Eu fui avisada da confusão na favela. Fiquei com medo, e fui procurar o Paulo Roberto. Eles tinham marcação com ele. Era sempre ele que era abordado, revistado. Eles faziam perguntas, encrencavam. Eu sabia disso, então fiquei muito preocupada", conta.
Quando foi se aproximando do local, amigos do menino já vinham gritando: "Eles vão matar ele, tia, eles vão matar ele. Eles estão batendo muito nele, vão matar".
"Ele vinhaestrategia terminais roletaum barzinho, e ia dormir na casaestrategia terminais roletaum amigo. É a única diversão que eles têm, ficar conversando nesse barzinho até tarde. Eu tinha medo, mas adianta proibir? Os policiais da UPP estavam fazendo abordagem num beco, e quando ele foi passar, houve confusão e começaram a bater nele. Bateram até ele quase morrer, depois asfixiaram", diz Fátima.
Ela conta que os policiais quiseram argumentar que ele estava drogado e que tinha tido um mal súbito, embora na certidãoestrategia terminais roletaóbito a causa da morte seja clara: "Múltiplas lesões e asfixia mecânica".
"Os exames da perícia mostraram que ele não tinha droga no organismo, e no dia seguinte, no caixão, dava para ver os hematomas. O rosto dele todo arranhado, cheioestrategia terminais roletamarca roxa", diz a mãe, acrescentando que no seu caso também teve que enfrentar as piadas e gozações dos policiais do ladoestrategia terminais roletafora da Unidadeestrategia terminais roletaPronto Atendimento para onde o menino foi levado.
Consultada pela BBC Brasil, a Secretariaestrategia terminais roletaSegurança Pública do Estado do Rioestrategia terminais roletaJaneiro confirmou que os cinco policiais da UPPestrategia terminais roletaManguinhos foram indiciados pelo crimeestrategia terminais roletalesão corporal seguidaestrategia terminais roletamorte e que estão lotadosestrategia terminais roletadiferentes batalhões da Polícia Militar enquanto aguardam julgamento.
"Eu sei que não vai trazer eleestrategia terminais roletavolta. Mas hoje faz quase um ano, 11 meses que ele se foi. E eu estou aqui, falando dele para você. Eu prometi isso pra ele. Ele foi, mas eu fiquei, e eu posso ser a voz do meu filho aqui, até que se faça Justiça, e que outras mães não passem mais por isso. Ninguém deveria passar por isso. Dói demais", diz Fátima.