Quatro perguntas sobre o impacto da morteCampos na corrida eleitoral:
- Author, João Fellet
- Role, Da BBC BrasilBrasília
A morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos gera uma sérieincertezas para a corrida eleitoral deste ano - talvez as mais relevantes delas, neste momento, se a ex-senadora e presidenciável Marina Silva, vice na dobradinha, continuará na disputa e passará à cabeça da chapa para disputar o pleito.
Marina, que terminou as eleições2010 com 19% dos votos, é creditada por aportar uma parte importante do apoio dos eleitores à candidatura do PSB. Campos ocupava o terceiro lugar na disputa, atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB).
Por outro lado, analistas ouvidos pela BBC Brasil apontam que ela não circula com a mesma desenvoltura por círculos ideológicos diferentes, incluindo setores influentes do pontovista do financiamentocampanha.
A ex-senadora ainda não indicou o que pretende fazer.
Para explorar os diferentes cenários, elaboramos algumas perguntas sobre os possíveis impactos da morteCampos para a disputa eleitoral.
Quem pode assumir o lugarCampos na chapa?
Segundo a legislação eleitoral, o partidoCampos poderá escolher outro candidatoaté dez dias. A candidatura teráser respaldada pelas direções dos partidos que se coligaram com o PSB na disputa à Presidência: PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.
O candidato poderá ser do PSB ouqualquer um desses partidos, desde que todos estejamacordo. Entre os nomes mais cotados está o da ex-senadora Marina Silva, atual vice da chapa. Marina se filiou ao PSB após a Justiça Eleitoral rejeitar a criaçãoseu partido, a Rede Sustentabilidade.
No entanto, a relação entre Marina e dirigentes do PSB é delicada. Cabia a Campos harmonizar posições divergentes entre a vice e o PSB.
Se por um lado a morteCampos a torna a candidata natural do PSB para a disputa, por outro, unificar o partido – e as demais siglas da coalizão –tornoseu nome será um grande desafio.
Marina pode, ainda, abrir mão da disputa. A ex-senadora ainda não disse qual seráposição.
Para onde vão os eleitores dele?
Na última pesquisa do Ibope, divulgada na semana passada, Campos aparecia com 9% das intençõesvoto. Segundo analistas, seus votos não têm um herdeiro óbvio – nem mesmo se Marina Silva assumir a cabeça da candidatura.
Apesar da aliança com Marina, muitos dos seguidoresCampos expressam reserva com a vice.
"Campos circula melhor que a Marina entre os eleitores, porque não tem um discurso associado a dois perfiseleitor muitos distintos: o evangélico e o ambientalista", diz Silvana Krause, professoraCiência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Por outro lado, caso se candidate, Marina poderia recuperar votoseleitores que a apoiaram2010, mas planejavam votarDilma ou Aécio2014. A ex-senadora terminouterceiro lugar naquela eleição, com 19% dos votos.
Para Krause, os eleitoresCampos que não aderirem a uma eventual candidaturaMarina deverão se dividir entre Dilma e Aécio pelos seguintes critérios: a petista deve herdar os votoseleitorescentro-esquerda, preocupados com políticas sociais, enquanto o tucano ficará com os votos dos eleitores antipetistas, com perfil mais conservador.
Qual será a posição dos doadores da candidatura do PSB?
Bem relacionado com empresários, Campos havia recebido até agora R$ 8,2 milhõesdoações para a disputa2014, segundo a primeira parcial divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Dilma recebeu R$ 10,1 milhões, e Aécio, R$ 11 milhões.
A morte dele lança dúvidas sobre a capacidade do PSBmanter o fluxodoações.
As três empresas que até agora mais doaram para Campos são do ramo do agronegócio: a Atasuco, fabricantesucos e aromas, doou R$ 1,5 milhão; a JBS, maior produtoracarnes do mundo, doou R$ 1 milhão e o mesmo valor foi doado pela Cosan, gigante do setoraçúcar e biocombustíveis.
Caso Marina assuma a cabeça da chapa, é improvável que empresários do agronegócio mantenham o níveldoações, já que a candidata é vista pelo setor com reserva.
Com menos doações, uma eventual campanhaMarina teriaser mais modesta.
De que forma a morte afeta as coligações do PSB nos Estados?
Segundo a cientista política Silvana Krause, da UFRGS, as alianças costuradas por Campos para eleições estaduais não deverão ser alteradas, mesmo que Marina assuma a cabeça da chapa.
Em buscanacionalizarcampanha, Campos aliou-se a candidatosoutros partidosdisputas para governos estaduais. As negociações geraram atritos com Marina, que rejeitava alianças com partidos não alinhados ideologicamente com a candidatura.
Em nota divulgadajunho, a Rede Sustentabilidade, grupo políticoMarina incorporado pelo PSB nesta eleição, anunciou que a ex-senadora só participariaatividadescandidatos a governos estaduais apoiados pela Rede.
A Rede ainda não disse se a morteCampos altera esse quadro.
Para Krause, a tendência é que, caso assuma a candidatura do PSB, Marina só busque o apoiocandidatos cujas alianças ajudou a negociar.