Brasil é mais violento que África do Sul ao organizar Copa, diz pesquisador:site de apostas 1 real
Para ele, os comportamentos distintos talvez reflitam as diferentes perspectivas enfrentadas no Brasil e na África do Sul pela classe média, grupo que detém enorme influência política nos dois países. Ele diz que, enquanto a classe média brasileira se sente pressionada e cobra melhorias urgentes nos serviços públicos, a sul-africana ainda desfrutasite de apostas 1 realavanços recentessite de apostas 1 realseu padrãosite de apostas 1 realvida.
"Na África do Sul, a classe média é formada principalmente por negros que acabaramsite de apostas 1 realconseguir bons empregos, comprar casas, conquistar a liberdadesite de apostas 1 realopinião e movimento. Para a classe média sul-africana, o cenário talvez pareça mais positivo que para a brasileira."
Alegi cita, no entanto, o que considera uma diferença importante nos preparativos para a Copa dos dois países, que pode ter colaborado para inflamar os ânimos contra o Mundial aqui.
"O que a África do Sul quase não fez e o Brasil parece estar fazendo muito são as remoções forçadassite de apostas 1 realpessoas e um policiamento muito agressivo. Na África do Sul, não se via o Exército deslocando centenas ou milharessite de apostas 1 realsoldados para policiar bairros pobres", diz.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Alegi à BBC Brasil, por telefone.
site de apostas 1 real BBC Brasil – Quatro anos depois da Copasite de apostas 1 real2010, o que ficou do torneio para os sul-africanos?
site de apostas 1 real Peter Alegi - Há um tiposite de apostas 1 realnostalgia por aquele período, por aquela sensaçãosite de apostas 1 realunidade, solidariedade,site de apostas 1 realestar no centro do mundo. Os estrangeiros que foram para a Copa perceberam que os estereótipos negativos sobre a África do Sul não eram verdadeiros, e isso ainda faz o país se sentir bem. As emoçõessite de apostas 1 realum carnaval como a Copa são difíceissite de apostas 1 realbater.
site de apostas 1 real BBC Brasil - Houve outros legados?
site de apostas 1 real Alegi - O legado emocional foi importantesite de apostas 1 realdiferentes maneiras. Ele fez as pessoas sentirem um sensosite de apostas 1 realunidade num país ainda muito dividido quanto a raças, classes e gêneros. Nos estádios sul-africanos, as pessoas cantam o hino abraçadas ousite de apostas 1 realmãos dadas, como nas igrejas. Num país onde o povo não tem muitas oportunidadessite de apostas 1 realestar junto, a mágica do nacionalismo explodiusite de apostas 1 realuma maneira positiva.
Isso aconteceu só 16 anos após o apartheid. Sediar um evento bem sucedido fez com que os sul-africanos se sentissem muito orgulhosos.
O torneio também despertou sentimentossite de apostas 1 realpanafricanismo. Por um ou dois meses, os sul-africanos se sentiram parte do continente africano. Isso foi encorajador, levandosite de apostas 1 realconta os problemas do país com a xenofobia.
site de apostas 1 real BBC Brasil – A Copa também deixou legados físicos?
site de apostas 1 real Alegi - A Copa ocorreusite de apostas 1 realnove cidades, e algumas foram mais afetadas que outras. Nas maiores cidades, um dos efeitos positivos foi a melhoria do transporte público. Quando pessoas viram novas linhassite de apostas 1 realônibus,site de apostas 1 realtrens leves, sentiram que era bom ver o dinheiro delas gasto com coisas que durariam além da Copa.
Outra mudança física menos visível foi a melhoria nas telecomunicações. A África do Sul conectou um terceiro cabosite de apostas 1 realfibra óptica e melhorou os cabos no país.
Mas também houve mudanças negativas. Primeiro, os estádios. Construir um estádio para 70 mil pessoas na Cidade do Cabo era absolutamente insustentável. Os clubes locais não o usam, porque precisam preencher ao menos 14 mil cadeiras para pagar o aluguel, e nem isso eles conseguem.
O estádiosite de apostas 1 realNelspruit, com 42 mil lugares, raramente atrai maissite de apostas 1 real2 mil torcedores. Num lugar com imensa pobreza, parte dos impostos vai para a manutenção do estádio, já que nenhuma companhia privada quer administrá-lo.
Só dois dos dez estádios erguidos ou reformados para a Copa são usados semanalmente pela liga profissionalsite de apostas 1 realfutebol sul-africana. Quando vejo os estádios da Copasite de apostas 1 real2014site de apostas 1 realBrasília, Manaus ou Cuiabá, também me pergunto como essas lindas e caras estruturas serão bancadas depois do evento.
site de apostas 1 real BBC Brasil - Há diferenças na forma como o Brasil e a África do Sul organizaram a Copa?
site de apostas 1 real Alegi - O que a África do Sul quase não fez e o Brasil parece estar fazendo muito são as remoções forçadassite de apostas 1 realpessoas e um policiamento muito agressivo. Na África do Sul, não se via o Exército deslocando centenas ou milharessite de apostas 1 realsoldados para policiar bairros pobres -site de apostas 1 realparte porque esses bairros estavam longe dos hotéis e centrossite de apostas 1 realtreinamento, mas também porque a população da África do Sul apoiou fortemente o torneio.
Não houve incursões a comunidades pobres para limpá-las e removê-las à força. Essa é a diferença.
site de apostas 1 real BBC Brasil - Você se surpreendeu com os protestos no Brasil contra a Copa? Por que eles não ocorreram na África do Sul?
site de apostas 1 real Alegi - Todos os sul-africanos com que conversei antes, durante e depois da Copa sentiam que aquela era a Copa deles. Os sul-africanos sofreram por muitos anos com um sistema terrívelsite de apostas 1 realracismo governamental. Eles sabem como protestar – muitos se sacrificaram para trazer a democracia após o apartheid –, mas não queriam arruinar a festa.
E a África do Sul não é uma potência futebolística como o Brasil. No Brasil, as pessoas sabem que não precisam provar nada para o mundosite de apostas 1 realrelação ao futebol, então puderam sair para protestar.
Ambos os países têm uma grande desigualdade entre ricos e pobres, esite de apostas 1 realambos a classe média desempenha um papel central na política. Parece-me que aí está outra diferença. No Brasil, a classe média parece estar mais e mais pressionada, enquanto na África do Sul ela é formada principalmente por negros que acabaramsite de apostas 1 realconseguir bons empregos, comprar casas, conquistar a liberdadesite de apostas 1 realopinião e movimento. Para a classe média sul-africana, o cenário talvez pareça mais positivo que para a brasileira.
site de apostas 1 real BBC Brasil - A Fifa tem sido bastante criticada por suas rígidas regras na organização da Copa. É possível enfrentar a entidade e sediar o Mundialsite de apostas 1 realmodo diferente?
site de apostas 1 real Alegi - Os acordos impostos pela Fifa são a chave do problema, porque são contratossite de apostas 1 realnegócios. Eles impõem tantas condições e restrições que basicamente forçam os países anfitriões a se alugar para essa máquina transnacionalsite de apostas 1 realdinheiro chamada Fifa.
Os acordos são muito amplos: cobrem até a criaçãosite de apostas 1 realzonassite de apostas 1 realexclusão ao redor dos estádios, onde são suspensos os direitos constitucionais e a soberania nacional, porque são consideradas áreas extraterritoriais da Fifa.
Os acordos permitem à Fifa movimentar dinheiro dentro e fora do país sem restrições, seus funcionários ganham imunidade diplomática – coisas que nem o papa, quando visita um país, pode usufruir.
O único momentosite de apostas 1 realque os países têm algum poder é antessite de apostas 1 realassinar os papéis. É nesse momento que deveriam dizer: por que devemos arcar com todos os custossite de apostas 1 realconstruir estádios, por que a Fifa não pode dividir os custos?
A Fifa tem cercasite de apostas 1 realUS$ 1,3 bilhãosite de apostas 1 realreservas na Suíça, embora seja uma organização sem fins lucrativos. Você já ouviu falarsite de apostas 1 realuma organização sem fins lucrativos que tenha US$ 1,3 bilhãosite de apostas 1 realreservas?
Eles levaram da África do Sul US$ 2,35 bilhõessite de apostas 1 reallucros, sem impostos. Não poderiam usar parte desse dinheiro para cobrir os custos?
O problema é que o país anfitrião tem que ser cuidadoso. Se começa a jogar duro, a Fifa pode dizer: "então vamos para Catar ou a Rússia, onde distúrbios democráticos não são um problema".
site de apostas 1 real BBC Brasil - Foi uma coincidência que, num momentosite de apostas 1 realque recebia tantas críticas, a Fifa tenha escolhido esses dois países, geridos por governos não democráticos, para receber as duas próximas Copas?
site de apostas 1 real Alegi - Achei muito suspeito. Vladimir Putin (presidente da Rússia) e os catarianos são os parceiros ideais para Fifa para a proteçãosite de apostas 1 realseus interesses financeiros. O problema para a Fifa é que, do pontosite de apostas 1 realvistasite de apostas 1 realimagem, eles levaram uma pancada forte. As mortes dos trabalhadores nos estádios do Catar são um pesadelosite de apostas 1 realrelações públicas para eles.
site de apostas 1 real BBC Brasil - Acha possível que a Fifa mude suas atitudes por causa das críticas?
site de apostas 1 real Alegi - Eu acho que a Fifa vai se tornar uma máquinasite de apostas 1 realrelações públicas ainda melhor, mas não acho que fará reformas significativas num futuro próximo.
site de apostas 1 real BBC Brasil – O Brasil deve a seu futebol alegre e vitorioso boa parte da boa famasite de apostas 1 realque desfruta no resto do mundo. Nas últimas décadas, porém, o futebol brasileiro vem se tornando mais defensivo e pragmático. A imagem do país sofre com essa mudançasite de apostas 1 realestilo?
site de apostas 1 real Alegi - Não acho que técnicos como Dunga ou Luiz Felipe Scolari façam muito pela imagem do futebol bonito do Brasil. As pessoas na África do Sul ficaram chocadas com o estilo do Brasilsite de apostas 1 real2010. Eu dizia que eles não jogavam aquele tiposite de apostas 1 realfutebol alegre desde o Telê Santana (que comandou o time nacional na décadasite de apostas 1 real1980).
É interessante ver como essa imagemsite de apostas 1 realfutebol-samba, que não existe mais, se prolongou com campanhas publicitárias bem-sucedidas. Se o Brasil não ganhar a Copa, talvez a imagem do país mude sim, e para pior.