'Deveríamos tratar portebetboo grátisdrogas como tratamos infraçãobetboo grátistrânsito':betboo grátis
Hart replicou o estudo com a droga metanfetamina e chegou aos mesmos resultados. Ainda descobriu que, ao aumentar o valor para US$ 20, todos os dependentes optavam pelo dinheiro. A descoberta o fez investigar ainda mais a fundo o universo da drogas e chegar à conclusãobetboo grátisque muitas premissas nas quais se baseiam as atuais políticas governamentais sobre drogas são invalidadas por pesquisas científicas.
Sua experiência está resumidabetboo grátisUm Preço Muito Alto (Editora Zahar), que será lançado neste mês no Brasil. No livro, Hart detalha episódios pessoais com as drogas – ele chegou a traficar maconha – e explica comobetboo grátisafinidade por esporte, música e literatura, além do tempobetboo grátisque serviu no Exército e dos conselhos recebidos por seus mentores, o levaram por um caminho diferente.
Hoje, Hart é professorbetboo grátispsicologia e psiquiatria na Universidade Columbia, o primeiro negro a ocupar esse cargo, e é pesquisador da Divisãobetboo grátisAbusobetboo grátisSubstâncias do Institutobetboo grátisPsiquiatriabetboo grátisNova York. A BBC Brasil conversou com Hart, que está no Brasil para lançar seu livro e realizar palestras sobre drogas.
Na entrevista a seguir, ele defende que a problemas sociais, como a pobreza e a faltabetboo grátiseducação, são mais preponderantes do que o potencial viciantebetboo grátissubstâncias químicas. Diz que é preciso esclarecer os mitos e reais perigos das drogas para que as pessoas tomem decisões conscientes e advoga pela descriminalização, mas pela legalização. "Ainda somos muito ignorantes para isso", diz.
betboo grátis BBC Brasil - O senhor diz que a política empregada contra as drogas está equivocada. Por quê?
betboo grátis Carl Hart - Na maioria do mundo, as políticasbetboo grátisdrogas são baseadabetboo grátispremissas falsas como, por exemplo, que drogas são muito viciantes, perigosas e imprevisíveis. As pessoas pensam que se viciarão ao usar cocaína uma única vez ou que a maconha leva a drogas mais pesadas. Em ambos os casos, é mentira, assim como muitos dos danos que as drogas supostamente causam ao cérebro. A maioria das pessoas usa drogasbetboo grátisforma segura. Dirigir é estatisticamente perigoso, mas não dizemos que uma motorista certamente sofrerá um acidente ou que passará por uma situação perigosa sempre que entrar no carro. Fazemos isso com as drogas. Ao basear uma políticabetboo grátismentiras, as leisbetboo grátistorno dela não refletem a realidade.
betboo grátis BBC Brasil - Em seu livro, o senhor diz que só 10% a 20% das pessoas se viciambetboo grátiscrack e metanfetamina. Esse índice é alto ou baixo? betboo grátis
betboo grátis Hart - Quem diz isso são as pesquisas feitas nos Estados Unidos nos últimos 30 anos. O índice é relativamente baixo porque significa que a grande maioria não se vicia. Mesmo entre as que se viciam, isso normalmente acontece quando elas são jovens. Quando somos jovens, cometemos erros.
betboo grátis BBC Brasil - Por que algumas pessoas se viciam e outras não?
betboo grátis Hart - Algumas porque tem outros problemas psiquiátricos, como ansiedade, esquizofrenia ou depressão. Usam drogas e não percebem que têm que se tratar. Com celebridades ou pessoas muito ricas, é comum que elas tenham tido alguém dizendo o que podem ou não fazer. Quando usam drogas, não fazem issobetboo grátisforma responsável. Outras se viciam porque se drogar é a melhor opção que têmbetboo grátissuas vidas. Questões sociais normalmente têm um papel mais importante do que qualquer outro fator. Mas podemos influenciar nestas questões. Se as pessoas estão desempregadas e sem alternativas, podemos tentar garantir que tenham empregos. Podemos mostrar que são valorizadas e fazer com que sejam incluídas na sociedade.
betboo grátis BBC Brasil - Por que o senhor não concorda com a noçãobetboo grátisque a maconha é a porta para o víciobetboo grátisoutras drogas?
betboo grátis Hart - Porque os dados não apoiam isso. É verdade que usuáriosbetboo grátisheroína e cocaína usaram maconhabetboo grátisalgum momento, mas o inverso não é verdadeiro. Os últimos três presidentes americanos experimentaram maconha e chegaram a um dos cargos mais poderosos do mundo. É assim com a maioria das pessoas que fuma maconha: eles seguem com suas vidas, trabalham, pagam impostos.
betboo grátis betboo grátis BBC Brasil - O senhor diz que é um erro separar a maconhabetboo grátisoutras drogas tidas como mais pesadas, por quê?
betboo grátis Hart - Todas as drogas são psicoativas, interferem com o cérebro para gerar seu efeito. Todas são potencialmente perigosas, mas também podem ser usadasbetboo grátisforma segura se as pessoas têm acesso a informações e são educadas sobre o assunto. Por isso não faz sentido tratar a maconhabetboo grátisforma diferente, como hoje fazemos com o álcool, por exemplo. Um pessoa pode morrerbetboo grátisabstinênciabetboo grátisálcool, mas nãobetboo grátismaconha,betboo grátiscocaína ou heroína.
betboo grátis BBC Brasil - E por que tratamos álcoolbetboo grátisforma diferente?
betboo grátis Hart - Porque a populaçãobetboo grátisgeral é muito bem informada sobre o álcool. Não acreditariam se disséssemos dizer que, se uma pessoa bebe, ela enlouquece ou mata seus familiares. Mas quando isso é dito sobre cocaína e,betboo grátiscerta forma, sobre a maconha, as pessoas acreditam porque não têm conhecimento ou experiência sobre estas drogas. Se algo é reiterado por tanto tempo, como estamos fazendo com os mitos das drogas, vira verdade, mesmo que não seja.
betboo grátis BBC Brasil - Tendo tudo issobetboo grátismente, como deveríamos lidar com as drogas?
betboo grátis Hart - Primeiro, corrigir as falsas premissas sobre drogas e acabar com a desinformação. Depois, é preciso criar leis para tratar o consumo ou portebetboo grátisdrogas como tratamos hoje uma infraçãobetboo grátistrânsito. Não deveríamos prender pessoas. É preciso manter os usuários e dependentes fora da prisão, onde há outros problemas e doenças. Deveríamos multá-las ou dar um alerta. Não deveríamos haver uma guerra contra drogas porque há uma guerra contra dirigir carros. Precisamos mudar nossa abordagem se queremos aumentar a segurançabetboo grátisnossa sociedade.
betboo grátis BBC Brasil - Por que isso não é feito?
betboo grátis Hart - Há governos que fazem o que sugiro, como os da Noruega e da Suíça, mas suas sociedades são homogêneas. Em sociedades como a brasileira e a americana, que são muito diversas social e etnicamente, a políticabetboo grátisdrogas é usada como uma ferramenta para perseguir grupos que não são muito bem quistos. Para mostrar que eles são inferiores. O racismo tem um papel nisso. Ninguém admite, mas é que vemos quando analisamos as evidências e os dados.
betboo grátis BBC Brasil - Algumas pessoas podem pensar que o senhor defende a legalização das drogas, mas não é esta posição que o senhor defende, certo?
betboo grátis Hart - Ainda somos muito ignorantes para legalizar as drogas. Primeiro, temos que acabar com os mitos e descriminalizarbetboo grátisvezbetboo grátisresponsabilizar as drogas por tudo que hábetboo grátiserrado na sociedade.
betboo grátis BBC Brasil - betboo grátis Em grandes cidades do Brasil, como Rio e São Paulo, os governos vêm tentando acabar com áreasbetboo grátisconsumo conhecidas como "cracolândias". Parte desse esforço envolve internar essas pessoas à forçabetboo grátisclínicas com o avalbetboo grátissuas famílias. Como o senhor vê esse tipobetboo grátispolítica?
betboo grátis Hart - Você gostaria que fizessem isso com você? Provavelmente não. Fazer isso é ridículo.
betboo grátis BBC Brasil - O argumento é que estes dependentes estão num estado crítico que não permite a eles tomar esse tipobetboo grátisdecisão se precisambetboo grátistratamento ou não.
betboo grátis Hart - Quem pensa assim está completamente errado. Em minha pesquisa, lidei com muitos dependentesbetboo grátiscrack. Estas pessoas têm condiçõesbetboo grátistomar decisões por si mesmas. Se uma pessoa comete um crime ou infração, deve ser punida, mas não podemos forçá-la a fazer algo contrabetboo grátisprópria vontade. Isso é barbárie.
betboo grátis BBC Brasil - Ao mesmo tempo,betboo grátisSão Paulo, a prefeitura oferece emprego, com remuneraçãobetboo grátisR$ 15 por diabetboo grátistrabalho, cursosbetboo grátiscapacitação e abrigo para os dependentes. Isso pode funcionar?
betboo grátis Hart - Parece ser um passo na direção certa. Mas é preciso ter certeza que estas pessoas acreditam que suas vidas melhorarão se elas fizerem isso. Deixar claro que isso as tirarábetboo grátisuma situação terrível, que as levará a ter uma vida mais responsável. Que permitirá a elas cuidarbetboo grátissuas famílias.
betboo grátis BBC Brasil - Como podemos mostrar isso a elas?
betboo grátis Hart - As pessoas não são estúpidas. Se você diz que ganharão certa quantiabetboo grátisdinheiro para fazer uma coisa e que espera-se delas certas atitudes, elas sabem isso será bom. É o que minha pesquisa mostrou.
betboo grátis BBC Brasil - Mesmo os mais jovens têm capacidadebetboo grátisusar racionalmente as drogas? Muitos pais acreditam que eles não estão preparados.
betboo grátis Hart - Sou pai. Tenho filhosbetboo grátis13 e 19 anos. Sei que eles agirão racionalmente com as drogas porque ensinei isso a eles. Expliquei desde muito cedo. Mas as drogas não são o principal assunto entre nós. Falamos maisbetboo grátiscomo eles se comportarãobetboo grátissociedade e como contribuirão para ela. Eles fazem coisas erradas como qualquer criança ou adolescente, porque querem testar limites. Mas, no fim das contas, um adolescente sabe o que é ir longe demais se os pais fazem um bom trabalho. O problema é que há muitos que não fazem um bom trabalho.
betboo grátis BBC Brasil - Como o senhor prepara o seus filhos para as drogas?
betboo grátis Hart - Sei, por exemplo, que uma das principais drogas consumidas por adolescentes é o álcool, então, falamos muito sobre isso. Também falamos sobre maconha, a droga ilegal mais usada. Explico que eles e os amigos devem começar por doses menores e ter cuidado com o lugar onde estão se forem usar drogas. Ainda digo que,betboo grátiscasobetboo grátisqualquer problema, devem me ligar para que possa garantir que estejam seguros.
betboo grátis BBC Brasil - No livro, o senhor recontabetboo grátisprópria experiência com as drogas. Por que decidiu incluir esse relato pessoal? betboo grátis
betboo grátis Hart - Porque queria que todos soubessem que a maioriabetboo grátisnós usa drogasbetboo grátisalgum momento e que isso não impede alguémbetboo grátisser um membro produtivo da sociedade. Muitas pessoas são hipócritas e dizem que nunca usaram drogas. Não queria ser hipócrita.
betboo grátis BBC Brasil - O senhor ainda usa drogas?
betboo grátis Hart - Claro que sim. Bebo e tomo medicamentos.
betboo grátis BBC Brasil - E drogas ilegais?
betboo grátis Hart - Sou muito inteligente para usar drogas ilegais. Não preciso buscar drogas nas ruas. Posso ir ao meu médico para conseguir isso. Esse é um dos benefíciosbetboo grátisenvelhecer e ser responsável: poder obter suas drogas legalmente. E o corpo não faz distinção entre substâncias legais e ilegais.
betboo grátis BBC Brasil - O senhor defende uma posição polêmica. Sofreu algum tipobetboo grátisrepresália ou prejuízo por conta disso?
betboo grátis Hart - Com certeza. Às vezes, acreditam que defendo a legalizaçãobetboo grátisdrogas e me tratambetboo grátisforma diferente, mas a maioria das reações têm sido positivas. Dizem que gostariambetboo grátispoder dizer o que digo.
betboo grátis BBC Brasil - betboo grátis Mas o senhor perdeu financiamentosbetboo grátispesquisa, não?
betboo grátis Hart - Ninguém disse que foi por causa disso, mas é o que suspeito. Isso não me surpreende. Porque, assim como a polícia, cientistas se beneficiam da histeria criadabetboo grátistorno das drogas. Se você diz à população que drogas são terríveis, mais dinheiro é dado para cientistas e policiais para lutar contra o impacto e efeitos das drogas.
betboo grátis BBC Brasil - O quão difícil é contrariar uma noção tão estabelecida na nossa sociedade?
betboo grátis Hart - É difícil, mas sou um negro que cresceu nos Estados Unidos. A dificuldade faz parte da minha vida.