'Deveríamos tratar portebonus pixbet365drogas como tratamos infraçãobonus pixbet365trânsito':bonus pixbet365

Carl Hart (Divulgação)

Crédito, Divulgacao

Legenda da foto, O neurocientista defende a descriminalização das drogas
  • Author, Rafael Barifouse
  • Role, Da BBC Brasilbonus pixbet365São Paulo

bonus pixbet365 O neurocientista Carl Hart,bonus pixbet36547 anos, acreditou durante boa parte da vida que as drogas tinham um alto poder viciante e seriam a causabonus pixbet365diversos problemas sociais.

Tendo crescido na periferiabonus pixbet365Miami, ele viu amigos e familiares se tornarem dependentes do crack, recorrerem a crimes para sustentar o consumo e acabarem presos ou mortos ao se envolver com o tráfico. Sua visão mudou quando tornou-se pesquisador nos anos 1990.

Na busca por uma formabonus pixbet365impedir que as drogas viciem, Hart estudou o comportamentobonus pixbet365dependentes e chegou à conclusãobonus pixbet365que estas substâncias não são tão viciantes como imaginava.

Hart oferecia US$ 5 a dependentes para que não tomassem uma segunda dose diáriabonus pixbet365crack. Se a primeira havia sido alta, os dependentes normalmente optavam por uma nova dose. Mas, se a primeira havia sido pequena, era mais provável que abrissem mão da segunda dose. Isso mostrou ao cientista que os dependentes eram capazesbonus pixbet365tomar decisões racionais.

Hart replicou o estudo com a droga metanfetamina e chegou aos mesmos resultados. Ainda descobriu que, ao aumentar o valor para US$ 20, todos os dependentes optavam pelo dinheiro. A descoberta o fez investigar ainda mais a fundo o universo da drogas e chegar à conclusãobonus pixbet365que muitas premissas nas quais se baseiam as atuais políticas governamentais sobre drogas são invalidadas por pesquisas científicas.

Sua experiência está resumidabonus pixbet365Um Preço Muito Alto (Editora Zahar), que será lançado neste mês no Brasil. No livro, Hart detalha episódios pessoais com as drogas – ele chegou a traficar maconha – e explica comobonus pixbet365afinidade por esporte, música e literatura, além do tempobonus pixbet365que serviu no Exército e dos conselhos recebidos por seus mentores, o levaram por um caminho diferente.

Hoje, Hart é professorbonus pixbet365psicologia e psiquiatria na Universidade Columbia, o primeiro negro a ocupar esse cargo, e é pesquisador da Divisãobonus pixbet365Abusobonus pixbet365Substâncias do Institutobonus pixbet365Psiquiatriabonus pixbet365Nova York. A BBC Brasil conversou com Hart, que está no Brasil para lançar seu livro e realizar palestras sobre drogas.

Na entrevista a seguir, ele defende que a problemas sociais, como a pobreza e a faltabonus pixbet365educação, são mais preponderantes do que o potencial viciantebonus pixbet365substâncias químicas. Diz que é preciso esclarecer os mitos e reais perigos das drogas para que as pessoas tomem decisões conscientes e advoga pela descriminalização, mas pela legalização. "Ainda somos muito ignorantes para isso", diz.

bonus pixbet365 BBC Brasil - O senhor diz que a política empregada contra as drogas está equivocada. Por quê?

bonus pixbet365 Carl Hart - Na maioria do mundo, as políticasbonus pixbet365drogas são baseadabonus pixbet365premissas falsas como, por exemplo, que drogas são muito viciantes, perigosas e imprevisíveis. As pessoas pensam que se viciarão ao usar cocaína uma única vez ou que a maconha leva a drogas mais pesadas. Em ambos os casos, é mentira, assim como muitos dos danos que as drogas supostamente causam ao cérebro. A maioria das pessoas usa drogasbonus pixbet365forma segura. Dirigir é estatisticamente perigoso, mas não dizemos que uma motorista certamente sofrerá um acidente ou que passará por uma situação perigosa sempre que entrar no carro. Fazemos isso com as drogas. Ao basear uma políticabonus pixbet365mentiras, as leisbonus pixbet365torno dela não refletem a realidade.

Um Preço Muito Alto (Divulgação)

Crédito, Editora Zahar

Legenda da foto, No livro, Hart mescla experiências pessoais e pesquisas

bonus pixbet365 BBC Brasil - Em seu livro, o senhor diz que só 10% a 20% das pessoas se viciambonus pixbet365crack e metanfetamina. Esse índice é alto ou baixo? bonus pixbet365

bonus pixbet365 Hart - Quem diz isso são as pesquisas feitas nos Estados Unidos nos últimos 30 anos. O índice é relativamente baixo porque significa que a grande maioria não se vicia. Mesmo entre as que se viciam, isso normalmente acontece quando elas são jovens. Quando somos jovens, cometemos erros.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Por que algumas pessoas se viciam e outras não?

bonus pixbet365 Hart - Algumas porque tem outros problemas psiquiátricos, como ansiedade, esquizofrenia ou depressão. Usam drogas e não percebem que têm que se tratar. Com celebridades ou pessoas muito ricas, é comum que elas tenham tido alguém dizendo o que podem ou não fazer. Quando usam drogas, não fazem issobonus pixbet365forma responsável. Outras se viciam porque se drogar é a melhor opção que têmbonus pixbet365suas vidas. Questões sociais normalmente têm um papel mais importante do que qualquer outro fator. Mas podemos influenciar nestas questões. Se as pessoas estão desempregadas e sem alternativas, podemos tentar garantir que tenham empregos. Podemos mostrar que são valorizadas e fazer com que sejam incluídas na sociedade.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Por que o senhor não concorda com a noçãobonus pixbet365que a maconha é a porta para o víciobonus pixbet365outras drogas?

bonus pixbet365 Hart - Porque os dados não apoiam isso. É verdade que usuáriosbonus pixbet365heroína e cocaína usaram maconhabonus pixbet365algum momento, mas o inverso não é verdadeiro. Os últimos três presidentes americanos experimentaram maconha e chegaram a um dos cargos mais poderosos do mundo. É assim com a maioria das pessoas que fuma maconha: eles seguem com suas vidas, trabalham, pagam impostos.

bonus pixbet365 bonus pixbet365 BBC Brasil - O senhor diz que é um erro separar a maconhabonus pixbet365outras drogas tidas como mais pesadas, por quê?

bonus pixbet365 Hart - Todas as drogas são psicoativas, interferem com o cérebro para gerar seu efeito. Todas são potencialmente perigosas, mas também podem ser usadasbonus pixbet365forma segura se as pessoas têm acesso a informações e são educadas sobre o assunto. Por isso não faz sentido tratar a maconhabonus pixbet365forma diferente, como hoje fazemos com o álcool, por exemplo. Um pessoa pode morrerbonus pixbet365abstinênciabonus pixbet365álcool, mas nãobonus pixbet365maconha,bonus pixbet365cocaína ou heroína.

bonus pixbet365 BBC Brasil - E por que tratamos álcoolbonus pixbet365forma diferente?

bonus pixbet365 Hart - Porque a populaçãobonus pixbet365geral é muito bem informada sobre o álcool. Não acreditariam se disséssemos dizer que, se uma pessoa bebe, ela enlouquece ou mata seus familiares. Mas quando isso é dito sobre cocaína e,bonus pixbet365certa forma, sobre a maconha, as pessoas acreditam porque não têm conhecimento ou experiência sobre estas drogas. Se algo é reiterado por tanto tempo, como estamos fazendo com os mitos das drogas, vira verdade, mesmo que não seja.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Tendo tudo issobonus pixbet365mente, como deveríamos lidar com as drogas?

bonus pixbet365 Hart - Primeiro, corrigir as falsas premissas sobre drogas e acabar com a desinformação. Depois, é preciso criar leis para tratar o consumo ou portebonus pixbet365drogas como tratamos hoje uma infraçãobonus pixbet365trânsito. Não deveríamos prender pessoas. É preciso manter os usuários e dependentes fora da prisão, onde há outros problemas e doenças. Deveríamos multá-las ou dar um alerta. Não deveríamos haver uma guerra contra drogas porque há uma guerra contra dirigir carros. Precisamos mudar nossa abordagem se queremos aumentar a segurançabonus pixbet365nossa sociedade.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Por que isso não é feito?

bonus pixbet365 Hart - Há governos que fazem o que sugiro, como os da Noruega e da Suíça, mas suas sociedades são homogêneas. Em sociedades como a brasileira e a americana, que são muito diversas social e etnicamente, a políticabonus pixbet365drogas é usada como uma ferramenta para perseguir grupos que não são muito bem quistos. Para mostrar que eles são inferiores. O racismo tem um papel nisso. Ninguém admite, mas é que vemos quando analisamos as evidências e os dados.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Algumas pessoas podem pensar que o senhor defende a legalização das drogas, mas não é esta posição que o senhor defende, certo?

bonus pixbet365 Hart - Ainda somos muito ignorantes para legalizar as drogas. Primeiro, temos que acabar com os mitos e descriminalizarbonus pixbet365vezbonus pixbet365responsabilizar as drogas por tudo que hábonus pixbet365errado na sociedade.

bonus pixbet365 BBC Brasil - bonus pixbet365 Em grandes cidades do Brasil, como Rio e São Paulo, os governos vêm tentando acabar com áreasbonus pixbet365consumo conhecidas como "cracolândias". Parte desse esforço envolve internar essas pessoas à forçabonus pixbet365clínicas com o avalbonus pixbet365suas famílias. Como o senhor vê esse tipobonus pixbet365política?

bonus pixbet365 Hart - Você gostaria que fizessem isso com você? Provavelmente não. Fazer isso é ridículo.

bonus pixbet365 BBC Brasil - O argumento é que estes dependentes estão num estado crítico que não permite a eles tomar esse tipobonus pixbet365decisão se precisambonus pixbet365tratamento ou não.

bonus pixbet365 Hart - Quem pensa assim está completamente errado. Em minha pesquisa, lidei com muitos dependentesbonus pixbet365crack. Estas pessoas têm condiçõesbonus pixbet365tomar decisões por si mesmas. Se uma pessoa comete um crime ou infração, deve ser punida, mas não podemos forçá-la a fazer algo contrabonus pixbet365própria vontade. Isso é barbárie.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Ao mesmo tempo,bonus pixbet365São Paulo, a prefeitura oferece emprego, com remuneraçãobonus pixbet365R$ 15 por diabonus pixbet365trabalho, cursosbonus pixbet365capacitação e abrigo para os dependentes. Isso pode funcionar?

bonus pixbet365 Hart - Parece ser um passo na direção certa. Mas é preciso ter certeza que estas pessoas acreditam que suas vidas melhorarão se elas fizerem isso. Deixar claro que isso as tirarábonus pixbet365uma situação terrível, que as levará a ter uma vida mais responsável. Que permitirá a elas cuidarbonus pixbet365suas famílias.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Como podemos mostrar isso a elas?

bonus pixbet365 Hart - As pessoas não são estúpidas. Se você diz que ganharão certa quantiabonus pixbet365dinheiro para fazer uma coisa e que espera-se delas certas atitudes, elas sabem isso será bom. É o que minha pesquisa mostrou.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Mesmo os mais jovens têm capacidadebonus pixbet365usar racionalmente as drogas? Muitos pais acreditam que eles não estão preparados.

bonus pixbet365 Hart - Sou pai. Tenho filhosbonus pixbet36513 e 19 anos. Sei que eles agirão racionalmente com as drogas porque ensinei isso a eles. Expliquei desde muito cedo. Mas as drogas não são o principal assunto entre nós. Falamos maisbonus pixbet365como eles se comportarãobonus pixbet365sociedade e como contribuirão para ela. Eles fazem coisas erradas como qualquer criança ou adolescente, porque querem testar limites. Mas, no fim das contas, um adolescente sabe o que é ir longe demais se os pais fazem um bom trabalho. O problema é que há muitos que não fazem um bom trabalho.

bonus pixbet365 BBC Brasil - Como o senhor prepara o seus filhos para as drogas?

bonus pixbet365 Hart - Sei, por exemplo, que uma das principais drogas consumidas por adolescentes é o álcool, então, falamos muito sobre isso. Também falamos sobre maconha, a droga ilegal mais usada. Explico que eles e os amigos devem começar por doses menores e ter cuidado com o lugar onde estão se forem usar drogas. Ainda digo que,bonus pixbet365casobonus pixbet365qualquer problema, devem me ligar para que possa garantir que estejam seguros.

bonus pixbet365 BBC Brasil - No livro, o senhor recontabonus pixbet365própria experiência com as drogas. Por que decidiu incluir esse relato pessoal? bonus pixbet365

bonus pixbet365 Hart - Porque queria que todos soubessem que a maioriabonus pixbet365nós usa drogasbonus pixbet365algum momento e que isso não impede alguémbonus pixbet365ser um membro produtivo da sociedade. Muitas pessoas são hipócritas e dizem que nunca usaram drogas. Não queria ser hipócrita.

bonus pixbet365 BBC Brasil - O senhor ainda usa drogas?

bonus pixbet365 Hart - Claro que sim. Bebo e tomo medicamentos.

bonus pixbet365 BBC Brasil - E drogas ilegais?

bonus pixbet365 Hart - Sou muito inteligente para usar drogas ilegais. Não preciso buscar drogas nas ruas. Posso ir ao meu médico para conseguir isso. Esse é um dos benefíciosbonus pixbet365envelhecer e ser responsável: poder obter suas drogas legalmente. E o corpo não faz distinção entre substâncias legais e ilegais.

bonus pixbet365 BBC Brasil - O senhor defende uma posição polêmica. Sofreu algum tipobonus pixbet365represália ou prejuízo por conta disso?

bonus pixbet365 Hart - Com certeza. Às vezes, acreditam que defendo a legalizaçãobonus pixbet365drogas e me tratambonus pixbet365forma diferente, mas a maioria das reações têm sido positivas. Dizem que gostariambonus pixbet365poder dizer o que digo.

bonus pixbet365 BBC Brasil - bonus pixbet365 Mas o senhor perdeu financiamentosbonus pixbet365pesquisa, não?

bonus pixbet365 Hart - Ninguém disse que foi por causa disso, mas é o que suspeito. Isso não me surpreende. Porque, assim como a polícia, cientistas se beneficiam da histeria criadabonus pixbet365torno das drogas. Se você diz à população que drogas são terríveis, mais dinheiro é dado para cientistas e policiais para lutar contra o impacto e efeitos das drogas.

bonus pixbet365 BBC Brasil - O quão difícil é contrariar uma noção tão estabelecida na nossa sociedade?

bonus pixbet365 Hart - É difícil, mas sou um negro que cresceu nos Estados Unidos. A dificuldade faz parte da minha vida.