Mortes e protestos no Rio reacendem debate sobre UPPs às vésperas da Copa:365 bet brasil

Policiais passam perto365 bet brasilcarro incendiado na favela do Cantagalo (foto: AFP)

Crédito, AFP

Legenda da foto, Para especialista, modelo365 bet brasilUPPs entrou no "automático" e deve ser revisto logo
  • Author, Jefferson Puff
  • Role, Da BBC Brasil no Rio365 bet brasilJaneiro

365 bet brasil O caso do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, encontrado morto numa creche da favela Pavão-Pavãozinho na última terça-feira, e os protestos e confrontos violentos que tomaram duas ruas do bairro365 bet brasilCopacabana - resultando365 bet brasilmais uma morte - reacenderam o debate365 bet brasiltorno das UPPs (Unidades365 bet brasilPolícia Pacificadora) na capital fluminense.

A 49 dias da Copa, o caso e as cenas365 bet brasilbarricadas365 bet brasilchamas, tiroteios, e violência acabaram tendo grande destaque na mídia mundial.

Para o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório365 bet brasilAnálise da Violência da Universidade Estadual do Rio365 bet brasilJaneiro, o incidente na favela Pavão-Pavãozinho é mais uma evidência365 bet brasilque o programa das UPPs está365 bet brasilcrise.

"O que aconteceu na Pavão-Pavãozinho não é um caso isolado. O programa das UPPs foi recebido como a grande solução para o problema365 bet brasilsegurança pública no Rio. Com o tempo, ele foi colocado no piloto automático e agora temos cada vez mais indícios365 bet brasilque precisa ser reavaliado", diz.

O secretário365 bet brasilSegurança Pública José Mariano Beltrame afirmou que os casos365 bet brasiltrocas365 bet brasiltiros no Pavão-Pavãozinho e365 bet brasiloutras favelas com UPPs seriam uma tentativa do crime organizado365 bet brasil"banalizar" o projeto365 bet brasilpolícia pacificadora.

Beltrame usou como exemplo a suspeita da polícia365 bet brasilque os confrontos no Pavão-Pavãozinho teriam sido iniciados devido ao retorno à região do traficante365 bet brasildrogas Adaulto Nascimento Gonçalves, o "Pitbull". Com apoio365 bet brasiluma quadrilha, o criminoso estaria realizando ações para acabar com a tranquilidade e impor o medo entre moradores.

Dançarino do programa Esquenta!, da TV Globo, DG, como era conhecido, morreu vítima365 bet brasilum tiro, segundo informação da própria polícia. A mãe do dançarino, Maria365 bet brasilFátima, diz que o corpo e os documentos do filho estavam molhados e que ouviu relatos365 bet brasiltestemunhas apontando que ele teria sido alvo365 bet brasiltortura, confundido com traficantes durante operação da polícia.

"Não descarto (ação policial), absolutamente. Mas não podemos condená-los365 bet brasilantemão. Várias hipóteses estão sendo examinadas, precisamos365 bet brasilrespostas técnicas, não365 bet brasiluma guerra365 bet brasilinformação", declarou Beltrame.

O terror que se espalhou por Copacabana por mais365 bet brasilquatro horas na última terça e as reações e cenas do dia seguinte deixam claro, no entanto, que o clima e a dinâmica365 bet brasilpacificação365 bet brasilalgumas favelas cariocas está longe do desejado pelo programa das UPPs, iniciado cinco anos atrás.

Crise

Entre os indícios da necessidade365 bet brasilreavaliação do programa365 bet brasilpacificação, como sugere o sociólogo Ignacio Cano, estariam denúncias365 bet brasilabuso por parte da polícia365 bet brasilfavelas ocupadas e a onda365 bet brasilataques contra UPPs. Há confrontos e retomada365 bet brasilespaço pelo tráfico365 bet brasilcomunidades importantes, como a Rocinha e o Complexo do Alemão, e a ocupação do Complexo da Maré tem sido alvo365 bet brasilmuitas críticas.

Também teve grande repercussão o caso do ajudante365 bet brasilpedreiro Amarildo Dias365 bet brasilSouza, que desapareceu após ser levado para uma UPP na Rocinha e assassinado365 bet brasiljulho do ano passado.

Cano explica que o formato do programa não é sustentável a longo prazo e que, se fosse interrompido365 bet brasilforma abrupta, não garantiria a manutenção dos baixos índices365 bet brasilcriminalidade.

"Tal como o programa está hoje, se os policiais saíssem365 bet brasildeterminadas comunidades, poderíamos ter uma reversão dos avanços na contenção da violência365 bet brasilum curto espaço365 bet brasiltempo, questão365 bet brasilsemanas", diz. "Até agora tivemos um foco grande na retomada do controle territorial, mas faltaram iniciativas na área365 bet brasilformação policial, por exemplo."

Outro ponto crítico, segundo o sociólogo, seria a falta365 bet brasilmecanismos institucionais para melhorar a relação entre policiais e moradores das favelas ocupadas.

"Hoje, essa relação depende do comandante da polícia365 bet brasilcada local", diz Cano. "Poderíamos ter, por exemplo, conselhos365 bet brasilque policiais e membros dessas comunidades discutissem juntos regras365 bet brasilconvivência."

Para o sociólogo, é natural que a proximidade da Copa aumente a preocupação das autoridades365 bet brasilrelação aos ataques contra UPPs.

"Cinco anos atrás, o que ocorreu na Pavão-Pavãozinho nem seria notícia fora do Brasil", diz ele.

"Agora, não só o mundo está365 bet brasilolho no que acontece aqui como sempre há a possibilidade365 bet brasilque incidentes como esse contribuam para ampliar o descontentamento com o problema365 bet brasilsegurança pública e inflar protestos."

Tensão e revolta

Um breve giro pelos arredores do Morro Pavão-Pavãozinho no dia seguinte aos confrontos é suficiente para medir o clima na região.

Furgões365 bet brasilemissoras365 bet brasilTV estacionados, lixo pela rua, muitos policiais, tropas do Bope (unidade365 bet brasilelite da polícia militar carioca) subindo pela entrada do morro365 bet brasiltempos365 bet brasiltempos, comércio fechado e olhares apreensivos mostram que a situação ali está longe da normalidade.

Vinicius, jovem morador365 bet brasilIpanema que não quis informar seu nome verdadeiro, diz que andava365 bet brasilskate quando notou a confusão vinda da direção da entrada do morro.

"Pouco depois365 bet brasileu chegar aqui na rua, o tumulto começou para valer. Do morro vinham muitas garrafas365 bet brasilvidro e bombinhas, e os policiais revidavam com tiros365 bet brasilfuzil. Achei dez cartuchos depois, só ao redor365 bet brasilonde fiquei encurralado, deitado embaixo365 bet brasilum carro, só ouvindo tiro", diz.

Jorge,365 bet brasil47 anos, nasceu e cresceu no Pavão-Pavãozinho. Ele vê benefícios na política365 bet brasilpacificação, mas diz que algo mudou nos últimos meses.

"Aceitamos a pacificação, foi uma coisa muito boa. Mas ultimamente a coisa saiu do controle. Os policiais chegam revistando com o fuzil apontado, invadem a365 bet brasilcasa, é demais", conta.

Para ele, a comunidade nos últimos meses tem virado "terra365 bet brasilninguém" após as 22h.

João,365 bet brasil47 anos, mora há mais365 bet brasildez365 bet brasilCopacabana, próximo do acesso ao morro. Ele diz que a prova365 bet brasilque a situação na região tem se deteriorado é que apesar dos altos preços365 bet brasiloutros bairros da Zona Sul, os imóveis ali têm se desvalorizado cada vez mais.

"É um absurdo, acho que está pior com a UPP. Eu cheguei aqui por volta365 bet brasil23h, quando a coisa já tinha se acalmado. E se tivesse chegado às 18h30, 19h? Quem quer voltar365 bet brasilum dia365 bet brasiltrabalho e ver a rua365 bet brasilchamas, tiroteio e gente morta na calçada?", questiona.

Identificado como Edilson da Silva dos Santos, o homem morto com um tiro durante os confrontos sofria365 bet brasilproblemas mentais e já tinha passagem por um manicômio judiciário.

*Com colaboração365 bet brasilRuth Costas, da BBC Brasil,365 bet brasilSão Paulo.