Com Crimeia anexada, Putin indica saída para crise e espera sinais do Ocidente:wazamba bonus

O presidente da Rússia, Vladimir Putin (AFP)

Crédito, AFP

Legenda da foto, O presidente justificou a anexação da Crimeia pela Rússia, mas indicou que não quer invadir Ucrânia

Assim, o discurso também foi o momentowazamba bonusque o presidente russo tentou deixar mais claro para o Ocidente – a quem taxouwazamba bonus“irresponsável” porwazamba bonuspolítica na Ucrânia – quais são os tão temidos limiteswazamba bonussua estratégia nas ex-repúblicas soviéticas.

O presidente inúmeras vezes procurou legitimar a decisãowazamba bonusintegrar a Crimeia na federação do pontowazamba bonusvista histórico, lembrando do resultado “convincente” do referendo, da “injustiça histórica” que foi a descisãowazamba bonusMoscouwazamba bonusceder o território à Ucrâniawazamba bonus1954, e ressaltando que havia uma “ameaça”wazamba bonusavanço da Otan na região.

“Deixe-me lembrar a vocês as declarações que vem sendo feitaswazamba bonusKiev sobre a iminente integração da Ucrânia à Otan. O que tal possibilidade representaria para a Crimeia e para Sevastopol? Que uma frota da Otan teria aparecido na cidade da glória militar russa; que uma ameaça teria surgidowazamba bonustodo o sul da Rússia”, afirmou.

Também, conforme o esperado, procurou desqualificar os argumentos do Ocidente contra a anexação, citando a independênciawazamba bonusKosovo da Sérviawazamba bonus1999 e afirmando que as intervenções no Iraque e no Afeganistão “violaram a lei internacional”.

“Nos disseram que houve uma invervenção, uma agressão na Crimeia por parte da Rússia. Eu não consigo pensarwazamba bonusum único exemplo na históriawazamba bonusque uma intervenção tenha ocorrido sem um único tiro e sem vítimas”, disse o presidente.

Ainda que atacando o Ocidente, é possível interpretar que Putin,wazamba bonusseu discurso, ofereceu uma saída para a crise: que Kiev, e seus aliados, aceitem que a Crimeia foi “perdida”. Em troca, implícita, estaria a promessawazamba bonusMoscouwazamba bonusnão escalar a tensão entre as comunidades russas no leste da Ucrânia ewazamba bonusoutros países.

Se a interpretação é correta, surgem então duas perguntas: como a Ucrânia e o Ocidente irão reagir à proposta? E será que já não é tarde demais para evitar uma reaçãowazamba bonuscadeia das comunidades russas que sonhamwazamba bonusretornar ao seiowazamba bonusMoscou?

Conflitos 'adormecidos'

O que está ocorrendo agora indica que a estratégiawazamba bonusPutin pode ter aberto uma caixawazamba bonuspandorawazamba bonusoutras ex-repúblicas soviéticas onde ainda existem os chamados “conflitos adormecidos” envolvendo russos.

O primeiro sinal disso, como era esperado, veio da Transnístria, um território na prática independente no leste da Moldávia onde há uma quantidade significativawazamba bonusrussos. O local já foi palcowazamba bonusum conflito com a Moldáviawazamba bonus1992 ewazamba bonus2006 realizou um referendowazamba bonusque 97,2% da população votou pela integração à Federação Russa.

O governo da Transnístria pediu a Moscou que aprove um projetowazamba bonuslei que facilitariawazamba bonusanexação. Moscou pode ignorar os pedidos, o que poderia ajudar a acalmar os ânimos. Por outro lado, o governo da Moldávia pode aprovar um acordowazamba bonusintegração com a União Europeia (o mesmo que deu início à crise na Ucrâniawazamba bonusnovembro). Isso poderia ser interpretado como uma afronta aos russos da Trasnístria e a Moscou, gerando mais tensão.

E há ainda outros “conflitos adormecidos”: a Ossétia do Sul,wazamba bonusfato independente desde a Guerra entre Geórgia e Rússiawazamba bonus2008, pode reviver seu sonhowazamba bonusintegração com a Ossétia do Norte, que é uma república da Federação Russa. Minorias russas nos países bálticos poderiam retomar suas velhas reinvidicaçõeswazamba bonusmais direitos e até mesmo o Cazaquistão poderia ter problemas comwazamba bonusnumerosa comunidade russa.

A instabilidade na Ucrânia,wazamba bonusseu iníciowazamba bonusnovembro, foi o reflexowazamba bonusuma crise política ucraniana – o fimwazamba bonusum pacto velado entre elites pró-Rússia e pró-Ocidente que permitia que Moscou tivesse influência decisiva no alinhamento geopolítico do país.

Da mesma forma, a intensificação da crise, com o envolvimento russo na Crimeia, tem relação com a natureza da política doméstica e externa russa sob a batutawazamba bonusPutin.

Desde awazamba bonusreeleição,wazamba bonus2010, o presidente tem intensificado os esforços para sacramentar a nação russa e seus valores como o “centro” da identidade da Federação Russa, na qual outros grupos étnicos são aceitos desde que não entremwazamba bonuschoque com a preponderância dos russos. Tal esquema lembra a concepçãowazamba bonusHomo sovieticus que ganhou força durante o regimewazamba bonusJosef Stalin.

Ao mesmo tempo e levando issowazamba bonusconta, Putin ampliou os esforços para solidificarwazamba bonuszonawazamba bonusinfluência nos países vizinhos que faziam parte da URSS. Veio a União Alfandegária com Belarus e Cazaquistão e a promessawazamba bonusUnião Euroasiática. Nesses planos, a Ucrânia, porwazamba bonusligação história e identificação étnica com a Rússia, representava uma promessa fundamental.

Com a ruptura do pacto políticowazamba bonusKiev, Moscou decidiu responder primeiramente com o uso do soft power, incentivando a numerosa comunidade russa a se rebelar contra o que qualificouwazamba bonus“golpe”; e depois, optou pelo hard power, ampliando a presença militar que já existia na Crimeia – onde a semente da reunificação já estava plantada.

Assim, criou uma agitação na comunidade russa da Crimeia, do leste da Ucrânia e, agora, na Transnístria – gerando o riscowazamba bonusuma crise muito maior.

Reação do Ocidente

Quanto à possibilidadewazamba bonuso Ocidente aceitar que a Crimeia foi “perdida”, não há sinaiswazamba bonusque a estratégiawazamba bonussanções para pressionar Moscou esteja sendo abandonada. Muito pelo contrário.

Depoiswazamba bonusUE e dos Estados Unidos terem anunciado o congelamentowazamba bonusbens e restrições às viagenswazamba bonusinúmeras autoridades russas e ucranianas, nesta terça-feira a Grã-Bretanha anunciou a primeira sanção comercial contra Moscou: cancelou todas as licençaswazamba bonusexportaçãowazamba bonusarmas para a Rússia.

Autoridades americanas e europeias reiteraramwazamba bonusvisãowazamba bonusque o referendo na Crimeia foi ilegal e que novas sanções poderão ser tomadas a seguir, com um potencial prejuízo imenso tanto para a Rússia quanto para o Ocidente – o que, talvez, esteja atrasando a adoçãowazamba bonustais medidas.

Além do prejuízo financeiros com as sanções, continua no ar o quanto elas possam ser eficientes para pressionar Moscou. Pela reação das autoridades russas que já foram submetidas às restrições, não há motivos para acreditar que o Kremlin está preocupado.

Evidentemente, o fantasmawazamba bonusuma escalada militar na Ucrânia permanece assombrando a todos. A situação é tão tensa na Ucrânia que uma faísca poderia iniciar um incêndio. Basta um tiro ser disparado contra um soldado russo ou ucraniano na Crimeia.

Mas tal possibilidade sequer vem sendo citada por europeus e americanos, enfraquecidos demais para pensarwazamba bonusalgo mais do que sanções. Se elas se mostrarem inúteis, é mais provável que o Ocidente aposte simplementewazamba bonusum apaziguamento natural dos ânimos, que viria com o tempo: seria a apostawazamba bonusque, sem novos desdobramentos, a situação vá se acalmando a pontowazamba bonuspossibilitar uma normalização das relações com Moscou.

O elemento-chave continua sendo Kiev. Como o governo interino pretende reagir se essa for a estratégia do Ocidente? Provavelmente teria que aceitar isso, mas poderia também adotar uma posturawazamba bonustudo ou nada e enviar suas tropas para Crimeia, esperando que o apoio retórico do Ocidente se transformewazamba bonusalgo mais do que isso.

De qualquer forma, a anexação da Crimeia cria um precendente perigoso, com consequências ainda imprevisíveis.

*Rafael Gomez é mestrewazamba bonusestudos da Rússia e Europa Oriental pela Universidadewazamba bonusBirmingham, Reino Unido.