Tim Vickery: Como o Brasil não se preparou para a Copablaze gg11 anos:blaze gg
- Author, Tim Vickery
- Role, Do Rioblaze ggJaneiro para a BBC Brasil
blaze gg "Estádios são coisas relativamente simplesblaze ggse construir", disse a presidente Dilma Rousseffblaze ggvisita à Suíça na semana passada. Issoblaze ggfato nos leva a uma pergunta óbvia: então por que tantos estádios para a Copa do Mundo estão tão atrasados?
A alta procura por ingressos e pacotesblaze gghospitalidade ajudam a explicar a faltablaze ggpaciência da Fifa com os prazos assumidos e não cumpridos – e não importa o que se pense sobre o relacionamento entre a Fifa e o governo brasileiro, a Copa do Mundo foi um negócioblaze ggque o Brasil entrou (e que o Brasil aceitou) voluntariamente.
Mas uma hora as máscaras caem, como quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, comentou recentemente que,blaze ggtodos os anos que esteve no comando da entidade, nunca viu uma Copa do Mundo com tantos atrasos. Ele ainda acrescentou que o Brasil foi definido como país-sede da Copablaze gg2014blaze gg2007 e, portanto, acabou se beneficiandoblaze ggum ano extra para se preparar – sete,blaze ggvez dos tradicionais seis.
E aqui ele não está sendo generoso. Porque a realidade é que o Brasil não teve sete anos para se preparar. Teve 11.
Um poucoblaze gghistória: Blatter tentou levar a Copa do Mundoblaze gg2006 para a África do Sul, mas ele perdeu uma votação controversa no Comitê Executivo da Fifa. Por razões políticas, ele não poderia fracassarblaze ggnovo quatro anos depois. Por isso, junto com Danny Jordaan (presidente da Confederação Sul-Africanablaze ggFutebol), ele sugeriu a ideiablaze ggrevezar o torneio entre os cinco continentes. Em 2010, ele conseguiu decretar: seria a vez da África. Problema resolvido.
E para onde a Copa do Mundo iria depois? A América do Sul, que não recebia o Mundial desde 1978, era o candidato óvio. Então,blaze ggmarçoblaze gg2003, Joseph Blatter anunciou queblaze gg2014 seria a vez do subcontinente. O torneio havia dobradoblaze ggtamanho desde a Copa da Argentina,blaze gg1978. Quantos países no continente seriam capazesblaze ggsediar um Mundial com os 32 times que jogam atualmente? Na realidade, havia apenas um - e assim, alguns dias após o anúncioblaze ggBlatter, a Conmebol (Confederação Sul-Americanablaze ggFutebol) declarou que o Brasil era o seu único candidato.
(É verdade que a Colômbia rapidamente rompeu com a Confederação e até lançou uma candidatura separada, mas nunca chegou a alimentar sérias esperanças. Ela estava apenas se protegendo contra a vizinha e rival Venezuela, que estava investindo pesadoblaze ggestádios à época para sediar a Copa Américablaze gg2007. O real objetivo da Colômbia – que foi alcançado – era superar a Venezuela na disputa para sediar o Mundial Sub-20blaze gg2011).
Mas não dá para escapar da verdade: o Brasil sabia que iria sediar a Copa do Mundoblaze gg2014 desde marçoblaze gg2003. Não havia nenhuma tensão dramática quando, quatro anos e meio depois, a palavra "Brazil" saiu do envelope. Isso simplesmente confirmou o que todos já sabiam. Então por que outubroblaze gg2007 foi tratado, não apenas pela mídia brasileira, como o pontoblaze ggpartida?
Se tivesse havido uma disputa competitiva pela Copablaze gg2014, os países candidatos teriam que apresentar propostas. Uma das primeiras coisas que eles teriam quem fazer seria identificar as cidades-sede. Seria um princípio básico, necessário apenas para entrar na briga.
Mas nenhum outro país estava na briga com o Brasil. A disciplina da competição, então, acabou não existindo e abriu espaço para alguns velhos vícios brasileiros; muita politicagem nos bastidores, muita esperteza e pouco progresso. De fato, a consequência da experiência brasileira foi o fim da ideiablaze ggrevezamentoblaze ggcontinentes para sediar a Copa do Mundo.
Nenhuma decisão definitiva sobre as cidades-sede foi tomada até o fimblaze ggmaioblaze gg2009. Anos foram jogados fora. E uma vez que você fica atrás do relógio, os princípios básicos começam a valer; o custo do que você pode fazer aumenta. A escala do que você pode fazer diminui. E muitos estádios estão atrasados, com o orçamento estourado, enquanto inúmeros projetosblaze ggmobilidade urbana, a principal área que iria beneficiar realmente a sociedade, ainda não saíram do papel ou sequer têm chancesblaze ggficarem prontas a tempo.
Os estádios são bastante impressionantes. Aindablaze gg2007, o medo era que eles se tornassem Engenhões, versões maiores do estádio construído no Rioblaze ggJaneiro para os Jogos Pan-Americanosblaze gg2007 que custou caro e nasceu obsoleto. Em vez disso, deixandoblaze gglado por um minuto a questão dos preços dos ingressos, os estádios são grandiosamente modernos. Eu não voltei lá depois da Copa das Confederações, mas achei a Fonte Nova,blaze ggSalvador, um lugar maravilhoso para se apreciar o futebol.
Em termos políticos, porém, o fatoblaze ggos estádios serem impressionantes cria um problema. Isso ficou implícito – eblaze ggmuitas vezes explícito – na mensagem dos protestos que estouraramblaze ggjunho e julho do ano passado; se os estados brasileiros foram capazesblaze ggconstruir essas arenas, então por que seriam incapazesblaze ggentregar os serviços públicos no chamado "padrão Fifa"?
O pentacampeãoblaze gg2002, Rivaldo, disse outro dia que "o Brasil vai passar vergonha na Copa". Não vejo exatamente assim, embora imagino que haverá problemas e que já ficou claro que o evento não vai cumprir seu potencial para a sociedade brasileira.
Mas a "vergonha" éblaze ggquem? Do frentista ou da recepcionista que moram na periferiablaze gguma grande cidade, acordando às 4 da manhã todo dia para chegar ao trabalho? Por que eles deveriam se sentir envergonhados? Eles não tiveram qualquer participação no processo. Não houve nenhum debate público no Brasil sobre os objetivos da Copa do Mundo, sobre quanto a sociedade estava disposta a gastar e o que queriablaze ggtroca. Por anos, não havia sequer um lugar no Comitê Organizador Local para representantes eleitores pela sociedade (o que, por sinal, é um contraste gritante com a Copa da África do Sul, onde havia um envolvimento generalizado no governo). As pessoas não são porta-vozes das suas nações ou responsáveis por ações da classe dominante.
Infelizmente, todos os atrasos que afetaram a Copa do Mundoblaze gg2014 eram previsíveis. O que não era nem um pouco previsível foi a reação do povo durante a Copa das Confederações, saindo às ruasblaze ggcentenas, milhares, desafiando a noção que os brasileiros tinham – tinham, no passado – deles mesmosblaze ggser um povo tão passivo a pontoblaze ggser idiota.
O país estava mudando bemblaze ggfrente aos nossos olhos. O Brasil que existia até maioblaze gg2013 se foi para sempre. Ainda não está claro aonde isso vai nos levarblaze ggjulhoblaze gg2014. Mas aqueles envolvidos na luta positiva para formar uma nova nação não estão passando vergonha. Estão passando para o mundo a visãoblaze ggum Brasil alternativo, um Brasil mais justo e mais competente.