Ex-escravos lembram rotinacyber betfazenda nazista no interiorcyber betSP:cyber bet
"Um dia, os porcos quebraram uma parede e fugiram para o campo", ele disse. "Notei que os tijolos tinham caído. Achei que estava tendo alucinações".
Na parte debaixocyber betcada tijolo estava gravada uma suástica.
É sabido que no período que antecedeu a Segunda Guerra, o Brasil tinha fortes vínculos com a Alemanha Nazista. Os dois países eram parceiros comerciais e o Brasil tinha o maior partido fascista fora da Europa, com maiscyber bet40 mil integrantes.
Mas levou anos para que Maciel, com o auxílio do historiador Sidney Aguillar Filho, conhecesse a terrível história que conectavacyber betfazenda aos fascistas brasileiros.
Ação Integralista
Filho descobriu que a fazenda tinha pertencido aos Rocha Miranda, uma famíliacyber betindustriais ricos do Riocyber betJaneiro. Três deles - o pai, Renato, e dois filhos, Otávio e Osvaldo - eram membros da Ação Integralista Brasileira (AIB), organizaçãocyber betextrema direita simpatizante do Nazismo.
A família às vezes organizava eventos na fazenda, recebendo milharescyber betmembros do partido. Mas também existia no lugar um campo brutalcyber bettrabalhos forçados para crianças negras abandonadas.
"Descobri a históriacyber bet50 meninos com idadescyber bettornocyber bet10 anos que tinham sido tiradoscyber betum orfanato no Rio", conta o historiador. "Foram três levas. O primeiro grupo,cyber bet1933, tinha dez (crianças)".
Osvaldo Rocha Miranda solicitou a guarda legal dos órfãos, segundo documentos encontrados por Filho. O pedido foi atendido.
"Ele enviou seu motorista, que nos colocoucyber betum canto", conta Aloysio da Silva, um dos primeiros meninos levados para trabalhar na fazenda, hoje com 90 anoscyber betidade.
"Osvaldo apontava com uma bengala - 'Coloca aquele no cantocyber betlá, esse nocyber betcá'. De 20 meninos, ele pegou dez".
"Ele prometeu o mundo - que iríamos jogar futebol, andar a cavalo. Mas não tinha nada disso. Todos os dez tinhamcyber betarrancar ervas daninhas com um ancinho e limpar a fazenda. Fui enganado".
As crianças eram espancadas regularmente com uma palmatória. Não eram chamadas pelo nome, mas por números. Silva era o número 23.
Cãescyber betguarda mantinham as crianças na linha.
"Um se chamava Veneno, o macho. A fêmea se chamava Confiança", conta Silva, que ainda mora na região. "Evito falar sobre esse assunto".
Argemiro dos Santos é outro dos sobreviventes. Quando menino, foi encontrado nas ruas e levado para um orfanato. Um dia, Rocha Miranda veio buscá-lo.
"Eles não gostavamcyber betnegros", conta Santos, hoje com 89 anos.
"Havia castigos, deixavam a gente sem comida ou nos batiam com a palmatória. Doía muito. Duas batidas, às vezes. O máximo eram cinco, porque uma pessoa não aguentava".
"Eles tinham fotografiascyber betHitler e você era obrigado a fazer uma saudação. Eu não entendia nada daquilo".
Alguns dos descendentes da família Rocha Miranda dizem que seus antepassados deixaramcyber betapoiar o Nazismo antes da Segunda Guerra Mundial.
Maurice Rocha Miranda, sobrinho-bisnetocyber betOtávio e Osvaldo, também nega que as crianças eram mantidas na fazenda como "escravos".
Em entrevista à Folhacyber betSão Paulo, ele disse que os órfãos na fazenda "tinhamcyber betser controlados mas nunca foram punidos ou escravizados".
O historiador Sidney Aguillar Filho, no entanto, acredita nas histórias dos sobreviventes. E apesar da passagem do tempo, ambos Silva e Santos - que nunca mais se encontraram desde o tempocyber betque viveram na fazenda - fazem relatos muito parecidos e perturbadorescyber betsuas experiências.
Para os órfãos, os únicos momentoscyber betalegria eram os jogoscyber betfutebol contra timescyber bettrabalhadores das fazendas locais, como aquelecyber betque foi tirada a foto onde se vê a bandeira com a suástica. (O futebol tinha papel fundamental na ideologia integralista.)
"A gente se reunia para bater bola e a coisa foi crescendo", diz Santos. "Tínhamos campeonatos, éramos bonscyber betfutebol."
Mas depoiscyber betvários anos, ele não aguentava mais.
"Tinha um portão (na fazenda) e um dia eu o deixei aberto", ele conta. "Naquela noite, eu fugi. Ninguém viu".
Santos voltou ao Rio onde, aos 14 anoscyber betidade, passou a dormir na rua e trabalhar como vendedorcyber betjornais. Em 1942, quando Brasil declarou guerra contra a Alemanha, Santos se alistou na Marinha como taifeiro, servindo mesas e lavando louça.
Depoiscyber bettrabalhar para nazistas, Santos passou a lutar contra eles.
"Estava apenas prestando um serviço para o Brasil", explica. "Não sentia ódio por Hitler, não sabia quem ele era".
Santos saiucyber betpatrulha pela Europa e depois passou um período, ainda durante a guerra, trabalhandocyber betnavios que caçavam submarinos na costa brasileira.
Hoje, Santos é conhecido, na comunidade onde vive, pelo apelidocyber betMarujo. E se orgulhacyber betum certificado e uma medalha que recebeucyber betreconhecimento por seus serviços durante a guerra.
Mas ele também é famoso por suas proezas futebolísticas, jogando como meiocyber betcampocyber betvários grandes times brasileiros na décadacyber bet1940.
"Naquela época, não existiam jogadores profissionais, éramos todos amadores", diz. "Joguei para o Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama... Os jogadores eram todos vendedorescyber betjornais e lustradorescyber betsapatos".
Hoje, Santos vive uma vida tranquila com a esposa, Guilhermina, no sudoeste do Brasil. Eles estão casados há 61 anos.
"Eu gostocyber bettocar meu trompete,cyber betsentar na varanda e tomar uma cerveja gelada. Tenho muitos amigos e eles sempre aparecem para bater papo", conta.
As lembranças do tempo difícil que passou na fazenda, no entanto, são difíceiscyber betapagar.
"Quem diz que sempre teve uma vida boa desde que nasceu está mentindo", diz Santos. "Na vidacyber bettodo mundo acontecem coisas ruins".