Jovemcbet sign up24 anos morreu um mês após chegar a Pedrinhas:cbet sign up
- Author, João Fellet
- Role, Enviado especial da BBC Brasil a São Luís
cbet sign up Quando a assistente social disse pelo telefone que tinha uma notícia para lhe dar, Concita Ferreira não deixou que ela fosse adiante: largou o celular e, sem se despedir da amiga que visitava, saiu correndo para a rua.
Desorientada e ofegante, a donacbet sign upcasa foi encontrada depois pela mesma amiga. Esta portava o aparelho abandonado e a informação que, àquela altura, já correra o bairrocbet sign upFátima,cbet sign upSão Luís.
"Mataram o Juju", ela disse, envolvendo-acbet sign upseus braços.
Juju, ou Joarlison Paulo Neves Ferreira, era o filho caçulacbet sign upConcita. Tinha 24 anos quando,cbet sign upmaiocbet sign up2013, foi encontrado estrangulado dentro da cela que dividia com outros dez detentos no Centrocbet sign upCustódiacbet sign upPresoscbet sign upJustiça (CCPJ) do complexo penitenciáriocbet sign upPedrinhas.
A unidade, a maiorcbet sign upSão Luís, foi alçada à fama neste ano pela divulgaçãocbet sign upum vídeo que mostra corpos decapitados numacbet sign upsuas prisões.
Ferreira foi um dos 62 presos que, segundo a ONG Sociedade Maranhensecbet sign upDireitos Humanos, morreramcbet sign upPedrinhas desde 2013. Desde 2007, a organização diz que houve 173 mortes no presídio.
Concita recebeu a BBC Brasil na casacbet sign upparentes, no mesmo bairrocbet sign upque soube da morte do filho. Vestia uma camiseta estampada com um retrato do caçula, envolto por um coração azul. Acima, a palavra "saudades".
O jovem, negro, posava sempre sorridente nas fotos. Embora alto, tinha a aparênciacbet sign upum adolescente. Usava brinco, pulseira e colar prateados.
Gostavacbet sign upjogar futebol ecbet sign upandarcbet sign upmoto, segundo a mãe.
Dois meses até a liberdade
Ferreira fora preso um ano e três meses antescbet sign upsua mortecbet sign upUberaba, no interiorcbet sign upMinas, por tráficocbet sign updrogas. Levado a São Luís para participarcbet sign upduas audiências judiciais, deveria ficarcbet sign upPedrinhas pouco maiscbet sign upum mês.
Depois, diz a mãe, voltaria a Uberaba e passaria só mais dois meses preso até ganhar a liberdade. "Ele não via a horacbet sign upsair, sentia muita falta dos filhos", conta Concita. Ferreira era paicbet sign upcinco crianças, que hoje têm entre 4 e 7 anos.
A mãe torcia para que o desejocbet sign upconviver com os meninos encorajasse o filho a "desistir do crime". Alguns anos após deixar os estudos ainda na sétima série, conta ela, o caçula se cansoucbet sign upprocurar emprego e passou a vender drogas, ignorando os apelos maternos.
No dia dacbet sign upúltima audiênciacbet sign upSão Luís e na véspera do regresso a Uberaba, porém, Concita diz que seu caçula "amanheceu morto".
Ela diz que o filho estava com as mãos quebradas e tinha hematomas no rosto – sinaiscbet sign upque fora torturado oucbet sign upque tentara resistir ao ataque.
Concita afirma que o assassinocbet sign upseu filho jamais foi identificado. "Queria muito saber quem fez."
Como compensação pela morte, diz que o Estado lhe deu um caixão – e nada mais. "Até o formol tive que pagar do meu bolso".
Bolachas e suco
A mãe tampouco soube o motivo do assassinatocbet sign upseu filho. Segundo ela, o diretor do presídio lhe contou que Ferreira não tinha problemas com outros presos nem com agentes carcerários e que, portanto, a ordem para matá-lo provavelmente partiracbet sign upfora dali.
Entre os detentos, conta ela, outras versões circulavam. A principal dava contacbet sign upque Ferreira não respeitara a ordemcbet sign upuma facção criminosa para isolar um detento ao compartilhar com ele bolachas e suco – por quebrar a monotonia das quentinhas servidas na cadeia, esses itens, fornecidos pelas famílias dos presos, são tidos ali como iguarias.
Para Concita, porém, a administração do presídio foi a maior responsável pela morte. "Ele veiocbet sign upoutro Estado, não era para ficar misturado com os outros presos".
Ainda que tivesse crescidocbet sign upSão Luís, Ferreira já não vivia ali fazia alguns anos. E num presídio rachado entre gangues rivais e regido por códigos intrincados, detentoscbet sign upoutras cidades ou regiões se tornam especialmente vulneráveis.
Aconselhada por uma conhecida, Concita diz ter procurado um advogado para buscar uma indenização do Estado à família. Sua maior preocupação, diz ela, são os cinco órfãos deixados pelo filho – cada umcbet sign upuma mãe diferente.
Os contatos, porém, não avançaram.
Órfão
Rafael Custódio, advogado da ONG Conectas, diz que a Constituição ampara a noçãocbet sign upque o Estado deve indenizar famíliascbet sign uppessoas mortascbet sign upprisões, ainda que o tema jamais tenha sido regulamentado por lei.
"A Constituição estabelece que a tutela do preso é responsabilidade do Estado e, a partir do momentocbet sign upque o preso é morto no presídio, imediatamente há o direito à indenização, porque o Estado falhou no que tem que fazer", diz Custódio.
A Conectas acompanhou processos judiciaiscbet sign upque a Justiça determinou que famíliascbet sign upmenores mortos na antiga Febem (hoje Fundação CASA, autarquia do governocbet sign upSão Paulo vinculada à Secretaria estadualcbet sign upJustiça) recebessem indenizaçãocbet sign upcercacbet sign upR$ 100 mil cada.
Para Custódio, há bases para que os mesmos princípios e valores se apliquem aos parentescbet sign upmortoscbet sign upPedrinhas oucbet sign upqualquer outro presídio brasileiro.
Entre organizações que monitoram o sistema carcerário maranhense, porém, desconhecem-se casoscbet sign upindenizações a famíliascbet sign updetentos mortos.
Agora, um grupocbet sign upparentescbet sign uppresoscbet sign upPedrinhas se organiza para reverter o quadro. Com o apoio da Sociedade Maranhensecbet sign upDireitos Humanos, eles pretendem contatar todas as famíliascbet sign uppessoas mortas no presídio para ajudá-las a cobrar indenizações ao Estado e facilitar seu acesso a psicólogos.
Sentada na sala diantecbet sign upum calendário que montou com as fotos do filho, Concita lembra o momento mais difícil por que passou desde a morte do caçula.
Há alguns meses, conta ela, seu netocbet sign upquatro anos – o órfão mais novocbet sign upFerreira – se aproximou devagarinho. Ele perguntou à avó "por que mataram o pai dele, se o pai dele era tão bom".
Concita baixa os olhos e silencia por um longo instante. "É difícil".