‘Ajudei minha família a romper o ciclocassinopobreza’:cassino

Lucineide é uma das entrevistadas da BBC na série 100 Mulheres – VozescassinoMeio Mundo, que aborda os anseios e as conquistas das mulheres atuais.
Legenda da foto, Lucineide é uma das entrevistadas da BBC na série 100 Mulheres – VozescassinoMeio Mundo, que aborda os anseios e as conquistas das mulheres atuais.
  • Author, Paula Adamo Idoeta
  • Role, Da BBC BrasilcassinoSão Paulo

cassino Lucineide do Nascimento, 44, nasceu nos arredorescassinoNatal (RN), trabalhou na roça desde cedo e, se tudo tivesse corrido como o planejado pelo seu pai, teria casado cedo e continuado com a vida humilde no campo.

"Mas eu era atrevida e baticassinofrente com meus pais", diz ela. Aos 17 anos, decidiu ir para o RiocassinoJaneiro, onde trabalhou como empregada doméstica e depois, jácassinoSão Paulo, como representante comercial, vendendo utensílios domésticos.

Em 2007,cassinobuscacassinomais autonomia, decidiu abrir um negócio próprio,cassinosacolas reutilizáveiscassinoalgodão cru – justamente a matéria-prima que plantava e colhia emcassinojuventude no Rio Grande do Norte.

Sua história retrata algumas das transformações do Brasil na última década, da ascensãocassinomilhõescassinopessoas à classe média às mudanças que isso desencadeia na dinâmica das famílias e do mercadocassinotrabalho – sobretudo entre o sexo feminino.

Hoje, a potiguar é a dona da empresa que sustentacassinofamília e emprega seu marido e um dos dois filhos (de 15 e 17 anos), produzindo 10 mil sacolas por mês, na zona sulcassinoSão Paulo. Ela diz que aprendeu a delegar tarefas da casa para poder dar conta do crescimento da empresa e "para poder ter tempocassinoencontrar as amigas".

E ajudou a mudar a realidadecassinoseus parentes no Nordeste.

"Somos uma família enorme,cassinosete filhos, muito humilde. A gente não tinha nem energia elétrica. Meu pai tinha medo que fôssemos para a cidade grande, queria que eu casasse (enquanto) nova e ficasse na roça, tendo uma vidinha pacata. Eu fui a ovelha negra, mas hoje sou o orgulho da família. Todos moram na cidade, decidiram estudar, muitos estão se formando na faculdade. Ajudei eles a sair do ciclocassinopobreza."

cassino BBC Brasil - Você veiocassinoum ambiente rural ecassinooutrocassinomutação, que é o do trabalho doméstico. Viveu machismo ou preconceito?

cassino Lucineide do Nascimento - Cheguei a ser humilhada por patrões por ser nordestina e, como representante comercial, sofria com cantadas. Mas hoje me sinto respeitada. Brinco que, quando subo no salto, não há quem me enfrente!

Aqui no Brasil ainda existe preconceito, (muitos) acham que a mulher veio ao mundo para cuidar do lar, e mesmocassinoempregos iguais, ganha menos que o homem. Isso está mudando aos poucos, nós mesmas somos as maiores responsáveis por quebrar isso. O que pensei é: se tenho capacidade, por que não abrir meu próprio negócio?

Tive uma trajetória muito difícil,cassinomuito sofrimento. Vim (do RN) muito ingênua. Mas meu pai diz que eu sempre fui atrevida. Enquanto era profissional autônoma, comecei a buscar informações sobre o que era ecologicamente correto, liguei para (a ONG ambiental) Greenpeace. Aprendi que, para substituir as sacolascassinoplástico, o melhor eram sacolascassinoalgodão cru, (tecido) que se decompõe.

Comecei comprando no atacado e vendendo as minhas sacolas para escolas ou para empresascassinobrindes, que eram intermediários. Agora vendo direto para o consumidor final e quero triplicar minha produção. O negócio cresceu no boca a boca.

cassino Que papel a educação, formal ou informal, teve nacassinoformação?

Só estudei até o terceiro colegial, mas fiz um cursocassinocapacitação no Sebrae.

Meus pais sempre me disseram que confiavamcassinomim. Isso me fez enxergar que era uma pessoacassinomuito potencial. Então sempre me cobrei muito, me achei no direitocassinocrescer.

Para os meus filhos, a lição que eu quero passar écassinosuperação e integridade. Eles são motivocassinoorgulho para mim porque têm a cabeça boa, são preocupados com o futuro. Eles me dizem, "mãe, te admiro. Você é uma mulher forte". Um deles vai cursar engenharia na faculdade.

Na roça, (minha família) antes só queria ter filhos, havia muita ignorância. (Falava para eles) que a educação e o conhecimento são importantes. Ajudei a minha irmãcassinoSanta Cruz do Rio Grande do Norte, que fazia marmitas, a fazer o negócio dela crescer. Comprei um terreno para ela, que montou uma cozinha e um salão. Agora, eles têm planoscassinoabrir uma churrascaria.

cassino E quais seus principais desafios como mulher hoje?

No profissional, acho que é fazer a minha empresa (Edilu Sacolas Ecológicas) se tornar uma marca (conhecida), porque está ficando sólida nesse mercado sustentável.

No pessoal, tento delegar bastante as funções entre a família, porque eu dedico boa parte do meu tempo à Edilu. Eles passaram a me ajudar a lavar louça, fazer comida e administrar suas próprias responsabilidades, como ir no dentista, no inglês, estudar para prova.

Porque teve uma época muito difícil,cassinoque eu tocava a empresacassinonoite enquanto ainda era representante comercialcassinodia. Fiquei doentecassinoestresse, tinha tremedeira, cansaço. Achei que era problema do coração, mas o médico falou que eu tinha sintomascassinodepressão. Eu queria fazer tudo ao mesmo tempo, não tinha descanso.

Daí eu me tratei, passei a delegar. Hoje (meu desafio) é que sobre tempo para as minhas coisascassinomulher, sair para bater papo com as amigas. Aprendi com o tempo que a vida não é só trabalho e família.