Geórgia tem delegaciavidro para combater corrupção:
- Author, Steve Rosenberg
- Role, Da BBC NewsTblisi
Há uma década, a Geórgia tinha uma péssima reputação quando o assunto era corrupção. Mudanças políticas implementaram transformações substanciais – incluindo a construçãodelegaciaspolícia com paredesvidro para torná-las mais "transparentes". Mas será que o problema foi resolvido?
Nos últimos anos, a capital Tblisi adquiriu um toque moderno, com prédiosvidroestilo palaciano que embelezam vários pontos da cidade. De longe, parecem um show roomcarros. De perto, são delegacias com paredes transparentes por onde o público pode ver o que os policiais estão fazendo.
Esse tipoconstrução simboliza a nova transparência que a Geórgia vem promovendo desde a chamada Revolução Rosa,2003. Para um país que até pouco tempo era descrito como uma das nações mais corruptas do mundo, promover este tipolimpeza tem sido um desafio.
"Havia um certo orgulhoser corrupto por aqui", diz Mark Mullen, representante da ONG da Transparência Internacional na Geórgia.
"Há várias palavrasgeorgiano referentes à corrupção, como "magarichi", que significa "presente entre homens".
Mas a corrupção estava estrangulando a Geórgia na era pós-soviética.
Todas as transações comerciais eram feitas embaixo da mesa. Quem quisesse abrir uma empresa, tinha que pagar por fora. Quem quisesse ingressaruma boa universidade e tirar boas notas, também tinha que molhar a mãoalguém. Algumas pessoas tinham atépagar propina para ter eletricidadecasaépocasracionamento.
Georgianos que quisessem ser policiais tinhampagar altas quantias para entrar na corporação. Quando começavam a exercer a profissão, cobravam o mesmopropinas para rever o dinheiro perdido. O resultado era um ciclo vicioso que contaminavas todas as camadas da sociedade.
Missão Impossível
Em 2003, as coisas começaram a mudar.
Enfurecidos com uma corrupção galopante e eleições parlamentares fraudulentas, a população conseguiu com um movimento pacífico retirar do poder o então presidente do país Eduard Shevardnadze.
Mikheil Saakashvili tomou o poder prometendo algo que os georgianos nunca tinham tido antes: transparência.
Uma nova polícia foi criada, substituindo a antiga, notoriamente conhecida pela corrupção. Cerca16 mil postostrabalho foram cortados e os novos recrutas começaram a receber melhores salários e a serem monitoradosperto para que não aceitassem propinas.
A policial Nino Gvinianidze usa um carropatrulha no estilo americano. Quando ela para veículos, cumprimenta e sorri para motoristas.
"No passado, muitas pessoas tentavam dar dinheiro para os policiais", relembra.
E não foi só a polícia que se tornou mais transparente.
O governo inaugurou prédios gigantescos que abrigam serviços públicos que permitem à população obter documentos sem tersubornar as autoridades.
"Aos 16 anos eu me lembroalguém me pedir para trazer uma propina para poder tirar meu passaporte", diz o gerenteserviços públicos Givi Chanukvadze.
"Hojedia as pessoas vêm aqui, tiram uma foto (para o passaporte) e é só", diz ele.
Ao promover uma faxina na polícia e nos serviços públicos, a Geórgia parece ter cumprido uma missão impossível e hoje alcança posições mais altasrankings globaistransparência do que muitos países europeus.
Um relatório sobre percepçãocorrupção divulgado na terça-feira pela Transparência Internacional mostra que 70% da população da Geórgia acredita que a corrupção caiu no país nos últimos dois anos. No Brasil, este índice é18%. Para maismetades dos brasileiros (56%), a corrupção cresceu desde 2011.
Corrupçãoelite
Em outubro do ano passado, o partido do presidente Saakashvili, UNM, perdeu as eleições parlamentares após uma década à frente do país. Ele continua sendo presidente, mas o governo é liderado por seu rival, o bilionário Bidzina Ivanishvili, que acredita que seu antecessor não era exemplotransparência.
"No que se refere à luta contra corrupção nas baixas e médias camadas da sociedade, nossos antecessores foram bem sucedidos", diz Ivanishvili. "Mas o dinheiro que antes era distribuído nessas camadas passou a ser dividido entre um pequeno grupoalto escalão. Isso era corrupçãoelite", acusa ele.
Mikhail Saakashvili nega essas e outras acusações. Recentemente, o presidente foi acusadousar dinheiro público para pagar hotéisluxo e tratamentosbeleza, inclusive injeçõesbotox,Nova York.
"Olha para mim? Você vê alguma coisa?", pergunta o presidente apontando para seu rosto. "A questão é: é só disso que eles podem me acusar?"
"Onde estão esses milhões e bilhões que teriam sido mal empregados ou roubados? Em lugar nenhum, porque o país estava limpo", afirma o presidente.
A Geórgia atingiu tanto e tão rápido. Nunca emhistória ficou tão difícil esconder a corrupção. Mas os georgianos sabem que a garantia da total transparência do exercício da lei ainda está longese tornar realidade.