Lucas Mendes: Roupas e operários descartáveis:betesporte comercial

  • Author, Lucas Mendes
  • Role, De Nova York para a BBC Brasil

betesporte comercial Xuxa já foi rainha do varejobetesporte comercialNova York. No começo dos anos 90, ela ia à rua 14 numa limusine com suas paquitas. Compravam roupas para mesesbetesporte comercialprogramas.

Era o inicio da grande invasão chinesa na moda barata que arrebentaria as industrias americanas ebetesporte comercialoutros países pelos acordos comerciais.

Até a décadabetesporte comercial70, 100% das roupas americanas eram fabricadas nos Estados Unidos. Nos 90 caíram para 50%, hoje são apenas 2%.

A martelada definitiva da globalização na moda foibetesporte comercial2005, quando as cotasbetesporte comercialimportação foram eliminadas. Desde então, as confecções fugirambetesporte comercialmassa para China e, depois, Bangladesh.

Nova York já foi uma das maiores produtorasbetesporte comercialroupas nos Estados Unidos e cenáriobetesporte comercialum dos incêndios mais trágicos do país, o da fábrica Triangle Waist,betesporte comercial1911.

Morreram 147 pessoas, quase todas mulheres que saltaram do oitavo e nono andares porque todas as portas estavam trancadas.

Os dois donos escaparam por uma das poucas portas abertas, foram processados por homicídio e absolvidos.

As decisões no tribunal foram pífias e devastadoras para as famílias, mas tiveram um impacto revolucionário nas leis trabalhistas.

Entre as várias consequências das duas tragédiasbetesporte comercialBangladesh, o incêndio que matou 112 numa confecçãobetesporte comercialdezembro e a mortebetesporte comercialmaisbetesporte comercial700 quando um prédio desmoronou,betesporte comercialabril, pode estar a ressurreição da indústriabetesporte comercialroupas nos Estados Unidos.

Elizabeth Cleine é escritora e repórter. Passou três anos na investigação da indústria, entre eles um ano disfarçadabetesporte comercialcompradorabetesporte comercialroupas americanas nas fábricas da China ebetesporte comercialBangladesh. O resultado foi o livro Overdressed - The Shockingly High Cost of Cheap Fashion.

A China tem 40 mil fábricas com 15 milhõesbetesporte comercialempregados, equipamentos modernos com computadores da Apple. Pagam saláriosbetesporte comercialUS$ 200 por mês. As fábricas poluem e consomem uma quantidade criminosabetesporte comercialágua, mas por dentro são limpas e eficientes.

As 4 mil fábricasbetesporte comercialBangladesh são pavorosas até para o século 19. No livro, Elizabeth Cline descreve, profeticamente, prédios decadentes, perigosos, cheiosbetesporte comercialrachaduras.

Muito antes das duas tragédias ela culpou o insaciável consumidor americano e as máquinasbetesporte comercialvendas e promoções das grandes redesbetesporte comercialroupas - H&M, Zara, Gap, Uniqlo, Joe Fresh e dezenasbetesporte comercialoutras que mudaram o conceito da moda moderna.

Antigamente havia os lançamentosbetesporte comercialoutono/inverno e primavera/verão. Hoje as lojas ganham na venda por volume e os inventários mudambetesporte comercialmenosbetesporte comercialum mês.

Uma americana tem,betesporte comercialmédia, 350 peçasbetesporte comercialroupas nos armários, gavetas, caixas debaixo das camas e nos porões. Comprambetesporte comercialmédia 68 vestidos e 7 sapados por ano, o dobro do que consumiambetesporte comercial1950, e gastam apenas 3% do salário anual. Nos antigamentes dos anos 50, guarda-roupa representava 17% da renda familiar.

Este furorbetesporte comercialconsumobetesporte comercialroupas baratas gerou as expressões "roupas descartáveis" e "indústria fast fashion". A escritora acha que existe uma relação social e cronológica entre "fast food" e "fast fashion" . As duas explodiram quase ao mesmo tempo.

Elizabeth conta o exemplo da mulher que chega na loja e, no impulso, pelo preço, compra uma blusa bonita por US$ 10. Em casa, acha a blusa jeca, mas o preço é tão baixo que não vale a pena perder tempo com a devolução. Leva para as agênciasbetesporte comercialcaridade com outras que estavam na pilha das descartáveis.

A Salvation Army e a Goodwill, duas das maiores, recebem todos os dias carradas dessas roupas quase sem uso. Ficam no máximo três semanas à venda por um terço do preço.

O encalhe, monumental, tem três destinos: as vendedorasbetesporte comercialfarrapos; as fábricasbetesporte comercialautomóveis onde servem para revestimento dos carros contra calor e frio; ou são empacotadasbetesporte comercialcaixas gigantes e exportadas para países emergentes, a maior parte para a Africa, onde as peças mais valiosas são as calcinhas da Victoria Secret. Aquela blusabetesporte comercialUS$ 10 vale alguns centavos na Africa.

As grandes cadeiasbetesporte comercialroupa estão numa cintura justíssima. Algumas anunciaram que vão pararbetesporte comercialfabricarbetesporte comercialBangladesh, outras prometeram indenizar as vítimas e exigir melhores condiçõesbetesporte comercialtrabalho.

Entre as propostas está a criaçãobetesporte comercialum selobetesporte comercialgarantia que o produto foi fabricadobetesporte comercialcondições decentes. Os preços vão subir. Quanto o consumidor, acostumado a comprar muito por pouco, está disposto a pagar para proteger emergentes explorados?

A Universidadebetesporte comercialMichigan fez a pesquisa num subúrbiobetesporte comercialDetroit. Meias idênticas foram empilhadas lado a lado.

À esquerda, as supostamente fabricadasbetesporte comercialmás condiçõesbetesporte comercialtrabalho. à direita,betesporte comercialboas. Metade dos consumidores optaram pelas boas condições, a outra metade ignorou a diferença.

Quando subiram os preçosbetesporte comercial5%, só um terço se dispôs a pagar mais pelas meias do bem. Quando os preços subiram até 50%, a grande maioria, 75%, optou pelas meias do mal.

Na indústria da fast moda, o trabalhadorbetesporte comercialBangladesh é um bem tão descartável quanto as roupas que ele fabrica.