Sete elementos para entender a campanha eleitoral na Venezuela:
A campanha para eleger o sucessor do presidente venezuelano Hugo Chávez, que morreu no iníciomarço, começa oficialmente nesta terça-feira e terminarásomente dez dias.
Especialistas acreditam que a luta pelo poder na Venezuela será uma das mais acirradas na história do país.
Nas eleições do dia 14abril, a oposição voltará a concorrer à vaga deixada por Chávez com um único candidato, Henrique Capriles, que havia sido derrotado pelo então presidente venezuelanooutubro passado.
A intenção dos opositores é pôr fim a 14 anosgoverno chavista na Venezuela.
A BBC Mundo, o serviçoespanhol da BBC, preparou este guia com os sete elementos-chave para entender esta eleição.
Candidatos
Apesarestarem na disputa oficialmente sete candidatos, na prática apenas dois devem ganhar mais destaque nas urnas – o viceChávez e agora presidente interino, Nicolás Maduro, e Henrique Capriles, governador do EstadoMiranda (norte do país), queoutubro passado foi derrotado por Chávez.
Durante toda a pré-campanha, Maduro, que já disse ser "apóstoloChávez", buscou manter viva a memória do presidente venezuelano para tentar herdar seu capital eleitoral.
A todo momento, ele tem prometido manter as políticas sociais criadas pelo presidente venezuelano sob penaevitar que a "extrema direita parasitária" chegue ao poder.
Já Capriles vem minimizando a conexãoseu adversário com o falecido presidente, reiterando que Maduro era um dos ministros que o próprio Chávez acusavaser ineficiente e repreendiapúblico. Capriles também acusa Maduroser responsável pelo que chamouos "cem piores dias" da gestão chavista, quando Maduro substituiu o presidente doente.
O governadorMiranda se apresenta como a única alternativa frente ao enorme problemainsegurança que afeta o país. Ele também promete recuperar a democracia e dar impulso da economia, mantendo os benefícios das políticas sociais chavistas.
Bocaurna
A maioria das pesquisasintençãovoto tem dado considerável vantagem a Maduro. Segundo a empresa GIS XXI, controlada pelo ex-ministro chavista Jesse Chacón, Maduro teria 55% das intençõesvotos e Capriles, 44%, cenário semelhante ao das eleições presidenciais do ano passado, quando Chávez obteve 55% dos votos e Capriles, 45%.
Outra sondagem foi realizada pela companhia Hinterlaces dá o mesmo porcentual a Maduro (55%), mas reduz a intençãovoto para Capriles (35%).
Já para o instituto Datanálisis Maduro teria 49% das intençõesvoto, enquanto Capriles, 34%.
A oposição, entretanto, desconfia dos números. Para ela, as pesquisas são o retratoum momento e não refletem a realidade, pois mostram um cenáriocomoção com a morteChávez, que favoreceria Maduro.
Agenda
Criminalidade e desabastecimento, os dois problemas que mais preocupam os venezuelanos atualmente, foram questões que ambos os candidatos abordaram exaustivamentesuas pré-campanhas.
A campanha voltará a ter como um dos protagonistas a taxahomicídios, que é54 por cada 100 mil habitantes, segundo o governo, e73 por cada 100 mil habitantes,acordo com o Observatório Venezuelano da Violência.
Maduro e Capriles, entretanto, têm visões diferentes sobre por que a taxa subiu e sobre possíveis soluções para o problema.
Para o primeiro, o crescimento dos homicídios está associado ao capitalismo e aos valores promovidos pelos meioscomunicação privados.
Já para o segundo, o problema é resultado da ineficiência e da faltavontade política por parte do governo.
A economia também polariza os dois principais candidatos à presidência da Venezuela. Segundo relatos da oposição, a inflação no país supera os 20%. Já o desabastecimento oficialmente atinge o mesmo porcentual, embora existam estimativasque chega a 38%.
A versão oficial credita a subida dos preços aos especuladores. O governo também destaca que a Venezuela é o país menos desigual da região, alémter reduzido a pobreza extremaquase 30%2003 para 6%2012.
Para a oposição, o governoChávez desperdiçou uma oportunidade histórica, com a alta do preço do petróleo,viabilizar a prosperidade econômica e social do país nos últimos anos.
Abstenção
Na Venezuela, o voto não é obrigatório. Por isso, a abstenção é outra tema que permeia as campanhas.
Nas últimas eleições presidenciais, vencidas por Chávez com 55% dos votos, a participação foicerca80% do universo totaleleitores do país.
Já nas eleições regionaisdezembro passado, quando o presidente venezuelano já se encontrava hospitalizado, a taxa caiu para 54%.
A estratégia da oposição é convencer os eleitoresCapriles a votarem nele novamente, enquanto espera que Maduro perca cercaum terço dos votosChávez.
"Mas será difícil convencer os chavistas a não votar", afirmou à BBC Mundo o cientista política Javier Corrales, especialistaassuntos latino-americanos do Amherst College, nos EUA.
Sistema eleitoral
Os venezuelanos, particularmente os simpatizantes do governo, confiam cegamente no sistema eleitoral do país. Tal sentimento é,parte, partilhado pela oposição, que reconhece os resultados emitidos pelo Conselho Nacional Eleitoral, órgão do governo responsável pela contagem dos votos.
Entretanto, críticos denunciam desequilíbrios e abusos do poder no sistema eleitoral, inclusive dentro o conselho.
O CNE é dirigido por cinco membros. Os chavistas acusam um delesestar a serviço da oposição, enquanto os opositores, por outro lado, alegam que os outro quatro são alinhados ao governo, entre eles, a presidente do conselho, Tibisay Lucena.
Embora tenha descartado qualquer possibilidadefraude, Vícente Díaz, outro membro do órgão, afirmou que "do pontovista político, a disputa (eleitoral) é totalmente injusta e abusiva".
"A injustiça eleitoral é combatida por meio do voto. E isso se dá por meio da renovação das autoridades públicas", afirmou Díaz.
Vantagem
Segundo o cientista político Javier Corrales – que analisou campanhas presidenciais na América Latina desde 1984 -, na região, o presidente tradicionalmente tem larga vantagem no casouma eventual campanha para a reeleição.
O estudoCorrales mostra que,1989 a 2011, um presidente candidato a um novo mandato foi derrotado apenas duas vezes na América Latina: Daniel Ortega, na Nicarágua,1990, e Hipólito Mejía, na República Dominicana,2004.
Para o cientista, uma das explicações para a força dos presidentes candidatos à reeleição são os laços emocionais que os latino-americanos desenvolvemrelação a seus líderes, como foi o casoChávez. Outras razões são a tendênciaquerer manter o status quo, alémfacilitar o repasse dos recursos federais aos estados.
O cientista político destaca ainda que os 11 pontos que separaram Capriles da Presidência venezuelanaoutubro do ano passado foram a menor desvantagem contra um presidente que tentava a reeleição na história latino-americana.
Agora, o candidato do Chavismo não é Chávez, mas Maduro. Ainda assim, Corrales acredita que Maduro tem a tendênciaganhar, "mas não por muito".
Formalmente, Maduro não concorre à reeleição – ele está no poder para substituir Chávez, que amealhou durante anos a adoração fervorosaseus seguidores. Apesartentar puxar para si os fãsChávez, ainda não está claro se Maduro “é capazmaterializar o endossoChávez, quedezembro, antessua última operação, pediu que seus simpatizantes votassem nele”, disse Corrales.
Mas, se isso é incerto, o presidente interino tem com certeza o apoio da máquina estatal, incluindo os meioscomunicação do governo, o que gerou críticas por parte da oposição.
Oposição
Capriles recebeu cerca6,5 milhõesvotosoutubro passado, ou 44% do total. Com um porcentual semelhante, as forçasoposição conquistaram três das 23 províncias do país nas eleições regionaisdezembro.
Com a nova eleição presidencial, a oposição terá mais uma oportunidade para tomar o poder dos chavistas, ainda que analistas acreditam que o objetivo é agora apenas voltar a medir forças com o Chavismo, obtendo um resultado bom no pleito.
Capriles ainda sofre com as consequênciaserros estratégicos da oposição no passado, que permitiram que Chávez chegasse ao poder. Outro erro ocorreu2005, quando a oposição se recusou a participar das eleições legislativas.
Por fim, Capriles, enfrenta críticas porpostura durante o golpeEstado2002 contra Chávez, cujo aniversário coincide com as próximas eleições.
Na época, Capriles, governanteuma cidade na regiãoCaracas, foi acusadonão fazer o suficiente para controlar manifestantesoposição que cercaram a embaixada cubana e realizaram um violento protesto.
Para superar esses problemas, Capriles não tem deixadolado seu discurso conciliador, mas apostaelevar o tom contra Maduro.