'Passivo histórico' ainda limita avanços sociais no Brasil:

EstudantesBrasília,fotoarquivo (Ag Brasil)
Legenda da foto, Avançoseducação ajudaram a melhorar o IDH do Brasil nos últimos anos

O Brasil apresentou leve avançoseu ÍndiceDesenvolvimento Humano (IDH) deste ano, principalmenteexpectativavida e renda per capita, consolidando o que a ONU classifica como um dos "mais altos desempenhos"questões sociais no mundo e superando inclusive países vizinhos.

Ainda assim, o país ainda convive com alta desigualdade e com um "passivo histórico" - os baixíssimos indicadores sociais do Brasil sobretudo antes1990 -. que mantêmnotaIDHnível inferior à média da América Latina.

O relatóriodesenvolvimento humano, divulgado nesta quinta-feira pelo Pnud (programadesenvolvimento da ONU), dá nota0,730 ao Brasil, levemente superior aos 0,728 do relatório anterior (quanto mais próximo1, mais alto é o IDH). A média latino-americana/caribenha é0,741.

Mas na avaliaçãolongo prazo, a partir1990, o país é um dos que tiveram um dos maiores avançosseus indicadores sociais. Os motivos principais, na avaliação da ONU, foram reformas econômicas e investimentoseducação, saúde e distribuiçãorenda.

"Entre 1990 e 2012, o IDH saiu0,590 para 0,730, um aumento24%. Essa taxacrescimento do IDH brasileiro no período é maior que aChile (40ª posição no rankingIDH, com 187 países), Argentina (45ª) e México (61ª), por exemplo", informa o Pnud.

Com isso, o país fica entre os 15 países que mais conseguiram reduzir o déficit no IDH (ou seja, a diferença restante para chegar à nota 1) entre 1990 e 2012.

"O Brasil cresce atualmente mais rápido no IDH e não sórenda, maseducação e saúde. O desafio é grande, mas o modelo do país é um exemplo a ser seguido", diz à BBC Brasil Daniela Gomes Pinto, analistadesenvolvimento do Pnud.

Para efeitos comparativos,2004, segundo o Pnud, o Brasil tinha 71,5 anosexpectativavida ao nascer e US$ 8.325renda per capita anual. Isso aumentou,2012, respectivamente, para 73,8 anos e US$ 10.152.

Patamar baixo

Apesar disso, o Brasil ainda tem IDH inferior aovizinhos latino-americanos como Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela, Costa Rica e México.

O motivo, explica Daniela, é o "passivo histórico" do país.

"Em 1990, a médiaestudo dos adultos brasileiros eraquatro anos, a metade da Argentina na época", exemplifica a analista. "E o Chile1990 já tinha a expectativavida que o Brasil tem hoje. Partimosum patamar muito baixo."

Os avançosindicadores sociais do Brasil são elogiados pelo relatório da ONU, mas os dados mostram que o país ainda apresenta forte desigualdaderenda. Na medição que levaconta a desigualdade social, o país perde 27%sua notaIDH.

Estimativas recentes da própria presidente Dilma Rousseff dão contaque cerca700 mil famílias ainda estejam à margempolíticas estatais; e críticos dizem que o patamarrenda per capitaR$ 70, estabelecido pelo governo para determinar quem vivepobreza extrema, é muito baixo.

Segundo o relatório da ONU, os avanços sociais dependem"políticas estruturaislongo prazo".

"O país está no caminho certo, mas que o percurso ainda é longo para que isso chegue a surtir efeito no valor do IDH", diz o texto.

O IDH, que mede expectativavida, saúde, educação, renda e acesso a recursos para uma vida digna, é um dos principais indicadores mundiaisdesenvolvimento humano.

"Ele mede poucas variáveis e tem dificuldade(igualar) diferenças metodológicas (entre os países), mas dá um retrato do desenvolvimento no longo prazo", opina Daniela. "Isso permite fugir da visãoolhar um país apenas por seu Produto Interno Bruto."