Como leis contra o aborto estão deixando no limbo as gestações com complicações nos EUA:bet635

Crédito, Getty Images

Desde que a Suprema Corte derrubou a decisão do caso Roe v. Wadebet635junho, vários Estados americanos decidiram pressionar pela proibição do aborto ou restringir severamente o procedimento.

Com a entradabet635vigor dessas leis, surgiram desdobramentos.

Médicos e pacientes dizem que as regras confusas e a linguagem vaga tiveram um efeito assustador nos Estados antiaborto, deixando um rastrobet635tragédias presentes e futuras.

'Não podemos te ajudar, boa sorte'

Abortos por razões médicas são raros e representaram menosbet6354%bet635todos os procedimentos do tipo nos EUAbet6352004,bet635acordo com o Instituto Guttmacher.

Mas, para certas complicações da gravidez, eles são um tratamento aceito e comum para salvar vidas.

A modelo Chrissy Teigen, por exemplo, dissebet6357bet635outubro que passou por um aborto que salvou a vida dela quando estava com 20 semanasbet635uma gravidez inviável.

Mas hoje,bet635Estados com limites rígidos ao aborto, essa opçãobet635procedimento está se tornando cada vez mais difícil.

No ano passado, Amanda Horton, uma médica do Texas especializadabet635gestaçõesbet635alto risco, teve problemas para cuidarbet635pacientes com complicações na gravidez.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Chrissy Teigen revelou que fez um abortobet6352020 após complicações na gravidez

Em algumas ocasiões, Horton precisa informar às famílias que os bebês foram diagnosticados com alguma anomalia que é fatal.

Esses distúrbios são raros e provavelmente levarão à morte do feto no útero ou logo após o nascimento.

Mas sob uma proibição estrita do aborto no Texas, as mãos da médica estão atadas.

"O que podemos dizer é: 'Se você está interessadabet635interromper a gravidez, isso é sempre uma opção. Mas não se você está no Texas'. E é aí que o aconselhamento começa e termina", relata.

"São pessoas que amam os filhos ainda não nascidos e que, sem culpa, estão sendo desafiadasbet635maneiras que nunca esperaram", diz.

E porque o Estadobet635que vivem proíbe todos os tiposbet635aborto, "agora a resposta é: 'Não podemos ajudá-la, boa sorte'", acrescenta a especialista.

Definiçãobet635emergência

O Texas tem uma das proibiçõesbet635aborto mais restritivas dos EUA. Mas, mesmo com todas os vetos aprovados este ano, o Estado ainda permite uma exceção quando a gravidez colocabet635risco a vida da mãe.

De fato, todos os Estados que proíbem o aborto incluem exceções semelhantes quando a vida da mulher está ameaçada.

Cercabet635uma dúziabet635leis estaduais incluem uma permissão a abortosbet635"emergência médica", e três possuem uma exceção específica para anomalias fetais.

Na Virginia Ocidental, que acababet635aprovar a proibição do aborto, o procedimento só não é vetadobet635casobet635"emergência médica ou um feto clinicamente inviável".

A propostabet635Graham para uma lei nacional sobre o tema também viria com isenções amplamente redigidas para mulheres "cujas vidas estãobet635perigo".

No entanto, os críticos dizem que, na prática, essas leis fornecem pouca orientação sobre termos amplos como "ameaça à vida" ou o que constitui uma emergência médica que realmente permitiria um aborto.

Isso deixa amplo espaço para o debate sobre quando um médico deve agir e,bet635alguns casos, até inibe a escolhabet635opções que seriam consideradas como padrãobet635atendimento.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, US Senator Lindsey Graham proposed a bill that would ban all US abortions at 15-weeks

Em julho, uma mulher do Texas, identificada apenas como Amanda, disse ao jornal The New York Times que passou 48 horasbet635agonia, sentadabet635uma banheira enquanto a água ficava "vermelha escura" e esperava que seu corpo expelisse o feto naturalmente, num aborto espontâneo.

Anteriormente, ela teve outro aborto espontâneo. À época, os médicos a submeteram a um procedimentobet635dilatação e curetagem, no qual o tecido é removido do útero.

Já nesse segundo episódio, o Texas havia implementado uma lei que permite processar qualquer pessoa que ajude alguém a realizar um aborto após seis semanasbet635gravidez.

Amanda então não passou pelo procedimentobet635dilatação e curetagem.

"Foi tão diferente da minha primeira experiência, onde eles foram gentis e tranquilizadores. Agora me senti sozinha e aterrorizada", relata.

Esses casos expuseram a lacuna que existe entre as políticas escritas sobre os limites do aborto e a realidade, o que preocupa os médicos.

"É muito perigoso quando legisladores que não têm formação na área criam leis sobre como podemos praticar a medicina e nos proíbembet635fornecer os cuidados necessários", critica Daniel Grossman, obstetra da Universidade da Califórnia,bet635San Francisco.

'Julgamento médico razoável'

Muitas das proibições são inspiradasbet635um projetobet635lei proposto pelo National Right to Life (NRL), a mais antiga organização antiaborto do país.

A legislação modelo do grupo só permite abortos quando a vida da mãe estábet635perigo.

"A linguagembet635nossa proposta diz 'julgamento médico razoável' pelo responsável, que é o caso usualbet635todas as situações médicas, não apenasbet635abortos", disse a NRL à BBC Newsbet635um comunicado.

"Não temos conhecimentobet635nenhuma legislação pró-vida, incluindo nossa lei modelo, que impeça o tratamento médico adequadobet635nenhum desses casos", continua o texto.

Mas para as pessoas que enfrentam uma gestação complicada, essas leis podem realmente atrapalhar os cuidadosbet635saúde.

Na Louisiana, a históriabet635Nancy Davis ganhou as manchetes nacionais depoisbet635ela divulgar que os médicos não interromperiambet635gravidez inviável.

Em uma entrevista coletiva, Davis reveleu a repórteres que seu bebê tinha acrania, um distúrbio que faz com que um feto se desenvolva sem o crânio, condição que é incompatível com a vida.

"Basicamente, eles disseram que eu tinha que continuar a gravidez e enterrar meu bebê", disse.

Ela acrescentou que os médicos "pareciam confusos com a lei e com medo do que aconteceria se realizassem um 'aborto criminoso'".

Crédito, Getty Images

"Quero que vocês imaginem como foi continuar a gravidez por mais seis semanas após esse diagnóstico", complementou.

"Isso não é justo para mim, e não deveria acontecer com nenhuma outra mulher."

Na Carolina do Sul, Neal Collins, um senador Estadual do Partido Republicano, ganhou destaque por confessar que se arrependeubet635votar a favor da proibição do aborto a partir das seis semanas, depois que um obstetra local contou a ele a históriabet635uma garotabet63519 anos que passou por uma experiência angustiante,bet635que foi negado o atendimento médico.

"A semana toda eu não dormi", contou Collinsbet635um discurso ao comitê judiciário estadual.

Ele disse que fez o acompanhamento do caso e, duas semanas depois, o pronto-socorro conseguiu "extrair" o feto, mas somente depois que ele estava morto.

Medicamento por isenção

Dias depoisbet635se arrepender, Collins votou por uma proibição quase total do aborto, que inclui uma listabet635uma dúziabet635situações que se qualificam como exceções.

No mês passado, depois que Davis abortou, o Departamentobet635Saúde da Louisiana divulgou uma listabet635condições que tornariam uma gravidez "medicamente supérflua" e que se qualificariam como uma exceção à proibição do procedimento no Estado.

Mas Grossman diz que é impossível listar as condições que atendem à exceçãobet635"emergência médica".

"Não funciona assim. Na medicina há muitas incertezas e áreas cinzentas", diz.

"Caso exista uma probabilidadebet63520%bet635morrer no próximo mês se a gravidez continuar, esse é um risco tremendamente alto. O atendimento médico necessário seria oferecer a essa paciente a interrupção da gravidez".

- Este texto foi publicadobet635http://vesser.net/internacional-63242766

bet635 Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal bet635 .

bet635 Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube bet635 ? Inscreva-se no nosso canal!