Medusa não foi um monstro, mas sim vítimaprinciples of cbetestupro, diz escritora sobre mito grego:principles of cbet

Autoraprinciples of cbetseis livros,principles of cbet2021 publicou A Thousand Ships (Mil Naviosprinciples of cbettradução livre), que narra a lendária Guerraprinciples of cbetTróia e suas terríveis consequências por meio das históriasprinciples of cbetvárias mulheres.

Ambientadoprinciples of cbetuma Tróia reduzida a cinzas após dez anosprinciples of cbetguerra sangrenta, pelo livro desfilam desde mulheres troianas - cujos destinos agora estavam nas mãos dos gregos - até a princesa amazona que lutou contra Aquiles, passando por Penélope e as três deusas que iniciaram a disputa.

Alémprinciples of cbetescritora, Haynes está à frente do programa da BBC Radio 4 Natalie Haynes Stands Up for the Classics (Natalie Haynes defende os clássicos) e colabora com jornais britânicos como The Times, The Independent, The Guardian e The Observer.

A BBC News Mundo, serviçoprinciples of cbetespanhol da BBC, conversou com ela no âmbito do HAY Festival Querétaro, que ocorreu na Cidade do México entre 1 e 4principles of cbetsetembro. No mesmo mês, foi lançado seu livro mais recente, Stone Blind (Cego como Pedra,principles of cbettradução livre) um romnce sobre a vidaprinciples of cbetMedusa.

principles of cbet BBC - A Guerraprinciples of cbetTróia das mulheres é muito diferente da dos homens?

principles of cbet Natalie Haynes - Acho que realmente é. Obviamente, a grande narrativa que temos da Guerraprinciples of cbetTróia é a Ilíadaprinciples of cbetHomero, mas muitas vezes as pessoas se esquecem - tenho que me lembrar disso às vezes - que a Ilíada se passaprinciples of cbetapenas dois meses, o último ano daquele conflito, que durou no total cercaprinciples of cbetuma década.

Isso é tudo. Apenas 60 dias. Portanto, há muito a dizer sobre o que aconteceu antes e depois.

E como a Ilíada se concentra intensamente no campoprinciples of cbetbatalha, também nos esquecemos das consequências da guerra e do que acontece fora dela.

principles of cbet BBC - E precisamente o seu livro ( principles of cbet A Thousand Ships principles of cbet ) conta essa guerraprinciples of cbetum pontoprinciples of cbetvista muito diferente daquele do campoprinciples of cbetbatalha...

principles of cbet Haynes - Sim, Ilíada se concentra sobretudo nos avanços e retrocessos dos dois lados da guerra. E eu queria contar o que acontece à margemprinciples of cbetuma guerra e não apenasprinciples of cbetseu epicentro.

O fio condutor são as mulheres troianas e as personagens femininasprinciples of cbetgeral fora do campoprinciples of cbetbatalha.

Eu queria mostrar o alcance épico das mulheres, mostrar as deusas que estavam envolvidas na guerra, as mulheres gregas esperandoprinciples of cbetcasa por seus homens.

Nós nos concentramos tanto na experiência dos homensprinciples of cbetuma guerra - muitas vezes com razão, porque eles são os participantes ativos -, que isso às vezes nos priva da oportunidadeprinciples of cbetcontar o que as mulheres vivenciam. Aquelas que lutam, como Pentesileia, e aquelas que sofrem os danos terríveis causados por essas disputas.

Acho que Eurípides percebeu, muito brilhantemente, que se você quer quebrar o coração das pessoas, tem que sair do campoprinciples of cbetbatalha. Ele escreveu oito tragédias sobre a Guerraprinciples of cbetTroia, sete delas com personagens femininas no título.

Ele entendeu que tinhaprinciples of cbetir, por exemplo, para onde Efigênia é sacrificada - para que os gregos pudessem chegar à Troia. Ou entre as mulheres troianas que sobreviveram enquanto atrás delas, no horizonte, estão os restos incendiadosprinciples of cbetsua cidade.

principles of cbet BBC - A Guerraprinciples of cbetTroia foi vencida pelos gregos, mas, na verdade, parece que todos perderam...

principles of cbet Haynes - Há muita infelicidade nesta guerra. Achei muito importante mostrar que não havia ali um mundo onde quem ganha fica feliz e quem perde fica triste.

Se pensarmos que quando Ulisses - um dos personagens mais conhecidos - volta para casa vitorioso, ele massacra maisprinciples of cbet100 homens e enforca 12 mulheres. Esse é o comportamentoprinciples of cbetum herói ou alguém com transtorno do estresse pós-traumático?

Na verdade, a guerra foi muito devastadora para todos os envolvidos, vencedores e perdedores. E isso,principles of cbetcerta forma, era mais óbvio entre as mulheres do que entre os homens, porque eles tendem a morrer lutando, então a história deles chega a um fim abrupto.

Mas, por mais trágico que isso seja, muitosprinciples of cbetnós talvez considerássemos pior ser escravizado, estuprado várias vezes e finalmente morto. É o que acontece com as mulheres nessa história.

principles of cbet BBC - Provavelmente a personagem feminina mais famosa da Grécia antiga é Helenaprinciples of cbetEsparta, Helenaprinciples of cbetTroia, cujo rapto por Paris inicia a guerra, certo?

principles of cbet Haynes - Ela é famosaprinciples of cbettodo o mundo... exceto na Grécia, onde se você perguntar quem é o personagem mais famoso da Guerraprinciples of cbetTroia, as pessoas dizem que é Hércules.

Muitas vezes pensamosprinciples of cbetHelena como uma personagem bastante passiva, mas Homero certamente não a via dessa maneira.

Embora na Ilíada ela apareça como uma espécieprinciples of cbetmarioneteprinciples of cbetAfrodite, na Odisseia ela é um personagem muito mais forte, com muito mais escolhas e ações.

principles of cbet BBC - Penélope é outra das grandes personagens femininas dessa história...

principles of cbet Haynes - Penélope é um arquétipo pelo qual os gregos estavam particularmente interessados: a esposa leal que nunca desiste e é dedicada ao marido desaparecido.

Agamenon, no último livroprinciples of cbetIlíada, diz que os próprios deuses comporiam uma canção para celebrar Penélope, porque ele tem invejaprinciples of cbetque Ulisses pôde voltar para casa e reencontrar uma esposa fiel e devotada,principles of cbetvezprinciples of cbetuma esposa que o aguardava com um machado para matá-lo (como aconteceu com ele, que foi decapitado porprinciples of cbetesposa, Clitemnestra).

Fico fascinada pelo fatoprinciples of cbetPenélope ser considerada a esposa ideal por homens que realmente não sabem como ela era.

principles of cbet BBC - Por quê? Como ela era?

principles of cbet Haynes - Não sei se posso responder isso com certeza. Em Odisseia, quando conhecemos Penélope, ela está literalmente velada, ela tem um véu sobre o rosto.

E, repetidamente, ao longo do poema, somos informadosprinciples of cbetque alguém coloca uma ideia emprinciples of cbetcabeça, que lhe envia um sonho.

Ela e Ulisses só se encontram novamente no livro 23, então é muito difícil dizer quem é Penélopeprinciples of cbetHomero.

O que posso dizer é que minha versãoprinciples of cbetPenélope está mais próxima daquela que vemosprinciples of cbetHeroides,principles of cbetOvídio, escrito no século 1 a.C..

principles of cbet BBC - Por quê?

principles of cbet Haynes - Vou dar um exemplo: na Ilíada há um livro que falaprinciples of cbetum ataque noturnoprinciples of cbetque Ulisses mata um espião, o rei dos trácios e rouba seus cavalos. Isso é narrado como um episódioprinciples of cbetgrande valentia.

Mas,principles of cbetHeroides, deOvídio, quando Penélope comenta esse acontecimento,principles of cbetuma carta a Ulisses, ela lamenta que ele não tenha pensado nela e no filho quando embarcou nessa missão maluca (em Tróia) e pergunta se ele se lembravaprinciples of cbetque ela estava esperando por ele.

De repente, você percebe que o que parece um ato heroicoprinciples of cbetuma perspectiva,principles of cbetoutra - oprinciples of cbetPenélope - parece uma traição.

A primeira vez que li aquele poemaprinciples of cbetOvídio pensei: "Essa é minha garota".

E é por isso que a parteprinciples of cbetOs Mil Navios sobre Penélope está escritaprinciples of cbetformaprinciples of cbetcartas.

principles of cbet BBC - A história por trás da Medusa também parece ser diferente da que conhecemos. Em nosso imaginário, Medusa é um monstro terrível e, no entanto, ela também era uma vítima.

principles of cbet Haynes - Sim. As pessoas pensamprinciples of cbetMedusa como o monstro arquetípico, mas ela foi vítimaprinciples of cbetestupro.

Ela foi primeiro estuprada por um deus masculino (Poseidon) e depois punida por uma deusa feminina (Atena) por ter sido agredida sexualmenteprinciples of cbetseu templo.

Escrever sobre Medusa para o meu livro Pandora's Jar (O Jarroprinciples of cbetPandora) foi muito terapêutico. Realmente gosteiprinciples of cbetpoder dizer às pessoas: "Veja como tratamos essa personagem queprinciples of cbetfato não fez absolutamente nadaprinciples of cbeterrado".

Quando terminei o capítulo sobre Medusa, estava muito zangada com a forma como a história a trata, e decidi priorizar partes muito específicasprinciples of cbetsua trajetória.

principles of cbet BBC - Por que você acha que a versão do mito da Medusa que chegou até nós não fala que ela foi estuprada e que também foi punida por sofrer agressão sexual?

principles of cbet Haynes - Acho que, sem pensar, tendemos a ficar do ladoprinciples of cbethomens aventureiros, porque tantas históriasprinciples of cbettodas as culturas nos convidam a fazer isso.

Até há relativamente pouco tempo, apenas algumasprinciples of cbetnossas histórias pediam para nos identificarmos com mulheres.

As personagens femininas tiveram um papel muito importante nas narrativas antigas, mas depois ficaram perdidas por muito tempo.

Quase todos nós crescemos com Perseu como nosso herói, o bravo homem que salva Andrômedaprinciples of cbetum monstro marinho.

Mas para salvar Andrômeda, Perseu precisa primeiro pegar a cabeçaprinciples of cbetMedusa, e isso imediatamente a desumaniza.

Não pensamos na Medusa como uma górgona, mas como a dona da cabeça que precisamos.

As pessoas têmprinciples of cbetser lembradas que ela é umaprinciples of cbettrês irmãs, que choram quando ela é tirada delas. Medusa não fez nadaprinciples of cbeterrado.

Na verdade, seu poderprinciples of cbettransformarprinciples of cbetpedra quem olhaprinciples of cbetseus olhos só é usado apósprinciples of cbetmorte, justamente por Perseu. Ela não usa esse poder quando está viva.

E, no entanto, tendemos a olhar para isso com horror.

principles of cbet BBC - Existe também uma leitura distorcidaprinciples of cbetPandora, a primeira mulher segundo a mitologia grega? Ela é culpada por ter aberto a caixa que os deuses lhe deram e que continha todo o mal, liberando assim todos os infortúnios que afligem o mundo e os seres humanos.

principles of cbet Haynes - Sim, Pandora também foi mal compreendida.

Acho que a história dela foi influenciada pela históriaprinciples of cbetEva, narrada no livroprinciples of cbetGênesis, da Bíblia.

Para começar, Pandora não tem uma caixa. De fato, na arte antiga ela nunca é retratada com qualquer tipoprinciples of cbetcaixa, jarra ou receptáculoprinciples of cbetqualquer tipo.

Nos tempos antigos, a históriaprinciples of cbetPandora estava cheiaprinciples of cbetnuances e versões.

Em algumas, como no poemaprinciples of cbetHesíodo, ela tem uma garrafa que contém os males do mundo, masprinciples of cbetoutros ela está cheiaprinciples of cbetcoisas bonitas. Às vezes é o marido que abre o pote, outras vezes é ela. Ou ela simplesmente não tem nadaprinciples of cbetsuas mãos.

principles of cbet BBC - E por que todas essas nuances desapareceram?

principles of cbet Haynes - Porque surgiu a históriaprinciples of cbetEva, que basicamente conta que uma linda mulher fez com que todos nós fôssemos expulsos do paraíso para sempre.

Sua história se popularizou e influenciou a narrativa sobre Pandora, que nos tempos antigos não era considerada um ser maligno.

Em grego, Pandora era "kalòn kakòn", algo bom e ruim, bonito e feio, gentil e mau. Pandora é boa e má ao mesmo tempo, e essa natureza duplaprinciples of cbetgrego a torna moralmente neutra.

No entanto, a históriaprinciples of cbetEva é muito mais contundente. E à medida que o cristianismo prolifera, a históriaprinciples of cbetPandora simplesmente se funde com aprinciples of cbetEva. E, infelizmente, seu significado como personagem da mitologia grega é negligenciado.

Mais tarde, no início do século 16, Erasmoprinciples of cbetRotterdã cometeu um erro e traduziu erroneamente a palavra "pithos" - que significa jarroprinciples of cbetgrego - como caixa.

E isso piorou as coisas, porque um frasco é inerentemente frágil, mas uma caixa é algo que exige esforço para abrir.

A partir daí, muito rapidamente, Pandora começa a ser representada na arte com uma caixa. Primeiro com uma caixa comum e depois, por décadas, com uma espécieprinciples of cbetcofre cercado por correias, que Pandora levaria horas para abrir e liberar todo o mal que havia dentro.

principles of cbet BBC - Por que os mitos gregos ainda são válidos?

principles of cbet Haynes - Os mitos são um espelhoprinciples of cbetnós e mudam com o tempo porque nós mudamos.

As gerações redescobrem os mitos gregos porque eles são universais.

Uma das coisas realmente importantes sobre eles é que os seres humanos estão no centro. Até os deuses são muito humanos: petulantes como crianças, mas muito humanos, e costumam se envolver com homens e mulheres.

O ser humano é a unidade monetária dos mitos gregos e das tragédias gregasprinciples of cbetparticular. Nos mitos nórdicos, por exemplo, há coisas como uma árvore gigante. Eu amo aquela árvore gigante, mas não sinto que ela fale diretamente comigo.

Os mitos gregos sim, e acho que é por isso que eles nunca sairãoprinciples of cbetmoda.

- Este texto foi publicado originalmenteprinciples of cbethttp://vesser.net/geral-62784089

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