Colômbia: acadêmica e ex-empregada doméstica negras disputam vice-presidência:

Montagem com fotosMarelen Castillo e Francia Marquez

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Castillo e Márquez nasceram na mesma região do país, mas têm perfis bastante diferentes

As candidatas têm, contudo, mais diferenças do que semelhanças, já que compõem chapas com ideologias e propostas bastante distintas.

Esta é a primeira vez que a disputa presidencial na Colômbia se dará entre um candidato da esquerda ou centro-esquerda e um candidato que se apresenta como "outsider" do sistema político. Os partidos tradicionaisdireita ecentro-direita, que governaram o país por décadas, foram derrotados no primeiro turno, realizado no dia 29/05.

Márquez foi escolhida como vicePetro após receber ampla votação nas primárias partidárias realizadas pela coligação Pacto Históricomarço passado.

Com 40 anos, ela é definida como uma "fenômeno eleitoral" porcapacidadeaglutinar apoiadores, que cresceu apósparticipação nos protestos nacionais realizados2019 e 2020. Dois anos atrás, ela escreviasuas redes sociais querer ser presidente do país "para que nossas crianças possam andar sem medoserem assassinadas".

Entre suas bandeirasdefesa do meio ambiente, ressaltadas nesta campanha eleitoral, está a oposição ao fracking para a exploraçãopetróleo e gás, que vai ao encontro da propostaPetrodesacelerar a exploração petrolífera no país — e que tem gerado críticas do setor empresarial colombiano.

Francia caminhandocorredor, com homens atrás

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Francia começou o ativismo ambiental ainda na adolescência

Castillo era, como ela mesma se definiu, uma "perfeita desconhecida" do eleitorado colombiano até pouco tempo. Há apenas três meses, ingressou na chapa do ex-prefeitoBucaramanga Rodolfo Hernández, que enfrentou dificuldades para nomear uma candidata a vice.

O empresário do ramo da construção, à frente da coligação Liga dos Governantes Anticorrupção, é donofrases definidas como machistas, entre elas aque as mulheres deveriam ficarcasa cuidando dos filhos.

Com 53 anos, Castillo é formada no México e nos Estados Unidos e devota da santa católica VirgemGuadalupe.

Passou a ganhar popularidade na reta final da campanha do segundo turno ao expor seu trabalho ligado à inclusão universitáriajovensáreas pobres do país e ao defender a criaçãooportunidades para as mulheres.

"Eu aceitei a candidatura para poder ajudar tantas mulheres colombianas que não têm oportunidades. E porque acredito que a política e a educação têm o mesmo objetivofazer o bem à cidadania", declarou.

A candidata disse que Hernández tem experiência como "empreendedor e empresário" e queparticipaçãoum eventual governo se daria principalmente na área da educação. O presidenciável já afirmou que, caso a chapa seja eleita, Castillo ocupará também o Ministério da Educação.

Nos planos da possível futura vice estão aumentar o salário dos professores das escolas públicas e a realizaçãoinvestimentos nas áreasesportes e artes.

Em seu currículo, enviado porassessoriaimprensa à reportagem, constam quatro diplomas universitários, incluindo doutoradoeducação nos Estados Unidos, mestradoadministraçãoempresas no México, engenharia industrial e biologia e química na Colômbia.

Castillo discursa no microfone e gesticula, observada por outras pessoas

Crédito, EPA

Legenda da foto, Castillo foi chamada'perfeita desconhecida' do eleitorado colombiano

Primeiro turno com recordecandidatos afrocolombianos

Para a cientista política Luciana Manfredi, da Universidade Icesi,Cali, as declaraçõesCastillo atuam como uma espécie"contenção" às polêmicas afirmaçõesHernández.

"Ele a escolheu para service após várias tentativas que não deram certo. Ela é uma educadora preparada, mas tem uma trajetória muito diferente daFrancia, [que é] muito mais popular e com mais experiência no âmbito político", completa

Em entrevistas, Castillo, mãedois filhos, contou ter crescidouma famíliaclasse média e miscigenada, com um pai branco e uma mãe negra, onde raça não era um assunto discutido.

Marquéz, mãe solteira aos 16 anos, teve uma vidadificuldades financeiras. Ainda na adolescência, aos 15 anos, iniciou o ativismodefesa do meio ambiente e contra as empresas ilegaismineraçãoCauca, como mostram suas entrevistas daquela época disponíveis.

Anos mais tarde,2018, ela recebeu poratuação nessa área o prêmio internacional Goldman, definido por especialistas como o "Nobel Verde".

Márquez diz ter decidido estudar direito por contasuas preocupações ambientais e pordedicação a enfatizar seus antepassados escravizados. Empágina na internet, define-se como "parte da luta contra o racismo estrutural".

Em um país "profundamente racista", como disse o professorciências políticas Alejo Vargas Velázquez, da Universidade Nacional da Colômbia, ela passou a ser conhecida e respeitada nacionalmente porliderança e defesa também do meio ambiente.

Apesarpelo menos 10% da população do país ser negra, não se registra esta presença nas altas esferas do poder, como Márquez costuma frisar.

Esta campanha eleitoral, contudo, marcou o recordecinco candidatos afrocolombianos à vice-presidência na primeira etapa da disputa eleitoral, o que foi definido pela professorasociologia e diretora do CentroEstudos Afrodiaspóricos da Universidade Icesi, Aurora Vergara-Figueroa, como "algo inédito e que ocorre quando há cerca170 anos os afrodescendentes estavamcondiçõesescravidão na Colômbia".

Perfis diferentes, desafios diferentes

O analista Jorge Restrepo, da Universidade Javeriana,Bogotá, observa que as semelhanças entre as duas vices parece limitada ao fatoserem originárias da região do Pacífico colombiano.

"Estamos começando a conhecer a viceHernández, enquanto Márquez já é uma políticaexpressão nacional e que já tinha influência antes mesmoser vicePetro".

Márquez foi presidente do Comitê NacionalPaz e Reconciliação e Convivência do Conselho NacionalPaz, quando apoiou e "impulsou", como disse, a implementação do acordopaz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que depuseram as armas após 50 anosconflitos.

Durante a campanha eleitoral, como publicou o El Espectador,Bogotá, ela foi alvo"fake news" que apontaram supostos vínculos seu com o grupo guerrilheiro ELN. Neste ano, ela entrou com uma ação na Justiça contra um senador que teria sugerido este vínculo, mas o Judiciário entendeu que o processo iniciado não tinha sustentação.

Seu currículo como ativista e personalidade nacional inclui o ano2014, quando ela liderou o que ficou conhecido como "a marcha dos turbantes" contra a mineração na comunidade negra eterra natalLa Toma, no municípioSuárez,Cauca.

A marcha reuniu dezenasmulheres afrocolombianas que caminharam mais500 quilômetros durante 22 dias até a capital do país para denunciar a exploração ilegalminerais.

Várias vezes ameaçadamorte por suas denúncias contra a mineração ilegal e a contaminaçãorios, como denuncioudiferentes ocasiões, Márquez subiu ao palanque da campanha eleitoral acompanhada por seguranças.

Em um dos comícios,Bogotá, quando era comemorado o dia da "afrocolombianidade", seus assessores decidiram tirá-la do palco às pressas quando um laser verde foi apontado contra a candidata.

Para analistas, enquanto o desafioCastillo é passar a ser mais conhecida entre os colombianos, oMárquez é contar com apoio dos que não compartilhamseu ativismodefesa do meio ambiente.

- Este texto foi originalmente publicadohttp://vesser.net/internacional-61849469

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