Guerra na Ucrânia: Qual a realidade por trás das armas a laser declaradas pela Rússia:

"Se o Peresvet cega, então a nova geraçãoarmas a laser leva à destruição física do alvo — destruição térmica, eles queimam", afirmou Borisov.

No entanto, uma autoridade do DepartamentoDefesa dos EUA disse que não viu "nada que corrobore os relatos sobre usolasers" na Ucrânia.

Enquanto isso, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, zombou da alegação russa, comparando-a com as chamadas "armas milagrosas" que a Alemanha nazista alegou estar desenvolvendo durante a Segunda Guerra Mundial.

"Quanto mais claro ficava que eles não tinham chance na guerra, mais propaganda havia sobre uma arma incrível que seria tão poderosa a pontogarantir uma reviravolta", disse eleum discursovídeo.

"E então vemos que no terceiro mêsuma guerragrande escala, a Rússia está tentando encontrar'arma milagrosa'... tudo isso mostra claramente o fracasso completo da missão."

O que as armas a laser podem — e não podem — fazer

Pouco se sabe sobre o sistemalaser Zadira, mas2017, a mídia russa afirmou que a Rosatom, agência nuclear estatal, ajudou a desenvolvê-lo como parteum programa para criar armas baseadasnovos princípios da física, informou a agêncianotícias Reuters.

Mas há pelo menos um país que desenvolveu uma arma a laser. No mês passado, Israel divulgou um vídeo mostrando um sistemalaser derrubando foguetes e drones.

O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, disse que poderia derrubar drones, morteiros e foguetes por apenas US$ 3,50 por disparo.

"Pode parecer ficção científica, mas é real", afirmou.

Mas o especialistadefesa antimísseis Uzi Rubin, do InstitutoEstratégia e SegurançaJerusalém (JISS, na siglainglês), acredita que a tecnologiaarmas a laser não alteraria o equilíbriopoder no campobatalha na Ucrânia.

"Zelensky está certo — não é uma arma milagrosa", diz ele à BBC.

"Levaram vários segundos para derrubar o UAV (siglainglês para "veículo aéreo não tripulado", mais conhecido como drone). Há maneiras muito melhoresfazer isso, usar um Stinger ou qualquer míssil antiaéreo teria sido mais barato, mais rápido emaior alcance."

Os lasers funcionam enviando um feixeluz infravermelha que aquece seu alvo até que entrecombustão.

Rubin afirma que até mesmo a potênciaarmas a laser avançadas ainda era muito fraca para fazer uma diferença significativa no campobatalha, e lembra que estas armas têm uma "taxaletalidade" baixa.

"Não é como em Star Wars,que eles apontam uma arma a laser para os vilões, rapidamente apertam um botão, e o vilão explode. Na realidade, é mais como um mero fornomicro-ondas. Se você quiser colocar um copoágua para ferver, leva algum tempo. O laser é a mesma coisa. Você precisa colocá-lo no alvo e esperar até que o aqueça e o destrua", explica.

O laser só consegue focarum alvocada vez, acrescenta Rubin, enquanto os sistemasdefesa antimísseis podem destruir vários alvos simultaneamente.

Além disso, os lasers são neutralizados pelo mau tempo porque não funcionam na chuva ou na neve e não conseguem penetrar nas nuvens.

No entanto, o "FeixeFerro"Israel tem uma lógica, segundo ele, mas sobretudo como uma formaeconomizar dinheiro. Os caros mísseis interceptadores do DomoFerro são projetados para proteger as principais cidades dos mísseis que chegam,vezmorteiros ou drones.

"A guerra com mísseis é uma guerrarecursos. É mais barato fabricar foguetes do que se defender deles. Portanto, tudo o que você pode fazer para reduzir os custos da defesa é útil", explica.

"As armasenergia podem ser úteis na reduçãocustos — mas não vão fazer uma revolução."

Além disso, a Rússia poderia usar lasers no campobatalha para cegar soldados ucranianos, conforme afirmou o generalbrigada aposentado do exército australiano Mick Ryan ao jornal americano Washington Post, embora isso seja proibidoacordo com um protocolo1995 adicionado ao tratado da ONU que proíbe armas que causem ferimentos excessivos ou tenham impacto indiscriminado.

A Rússia, os EUA e o Reino Unido estão entre os países signatários do protocolo.

O histórico das 'armas milagrosas'

A referênciaZelensky às "armas milagrosas" — Wunderwaffen — remete à propaganda nazista alemã disseminadaum momentoque a guerra estava indo mal para eles.

O ministério da Propaganda, dirigido por Joseph Goebbels, tentou elevar o moral da população e manter os alemães acreditando na vitória, insinuando que estavam chegando novas armas especiais que "virariam" a guerra decisivamente a seu favor.

Quando os nazistas começaram a dispararbomba voadora V-1 contra a Grã-Bretanha, a máquinapropaganda nazista começou a dizer que isso forçaria o país a abandonar a guerra,acordo com Michael Neufeld, curador do Smithsonian MuseumWashington, nos EUA.

"A propaganda dizia: Vamos nos vingar e virar esse jogo. Não estou surpreso que Zelensky possa se referir a esse episódio da Segunda Guerra Mundial", diz ele à BBC.

Houve desilusão quando isso não aconteceu — mas a ideiaque estas novas armas poderiam ter sido decisivas sobrevive até hoje, observa Neufeld, que diz ter passadocarreira lutando contra isso.

No entanto, ele adverte contra traçar um paralelo muito direto com o anúncio da Rússia sobrearma a laser, dizendo que Moscou sempre enalteceu seu arsenal, com referências a armas nucleares e hipersônicas.

"Pode ser prematuro ver isso como um casoreação porque a guerra está indo mal", avalia.

"No início da guerra, eles presumiram que falar sobre estas novas armas intimidaria e forçaria a Ucrânia a desistir. E agora eles podem estar dando a volta por cima e dizendo que ainda são superiores."

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