Como aquecimento global pode estar por trásge futebol200 mil casosge futeboldoença renal no Brasil:ge futebol
A títuloge futebolcomparação, 202 mil pessoas equivalem aproximadamente a população inteirage futebolcidades como Araçatuba (SP), Lauroge futebolFreitas (BA) ou Passo Fundo (RS).
Aquecimento global e desidratação
Embora o estudo sejage futebolassociação e não permita estabelecer uma relação diretage futebolcausa e efeito, os autores especulam algumas possíveis explicações para a ligação entre aumento da temperatura e mais doenças nos rins.
"De forma geral, os problemas renais podem acontecer por causa da desidratação, que está relacionada ao aumento na temperatura", explicam os médicos Yuming Guo e Shanshan Li, professoresge futebolsaúde ambiental e saúde pública da Universidade Monash e autores principais do artigo.
Eles responderam por e-mail a algumas perguntas enviadas pela reportagem da BBC News Brasil
A mecânica é relativamente simples: no calor, o suor ajuda a manter a temperatura corporal estável. Mas a perdage futebollíquidos pode dificultar o trabalho dos rins, que sofrem para cumprir age futebolmissãoge futebolfiltrar o sangue e manter o equilíbrioge futeboldiversas substâncias essenciais para nossa sobrevivência.
Esses órgãos, então, podem passar por crises agudas e deixamge futebolfuncionar como deveriam ou sofrem com infecções e inflamações decorrentesge futeboltodo esse desgaste.
O trabalho recém publicado ainda observou que a saúde renalge futebolalguns grupos acaba mais afetada pelo aumento da temperatura. Os que mais sofrem com a subida do calor são as mulheres, as crianças com menosge futebol4 anos e os idosos com maisge futebol80 anos.
Para o patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdadege futebolMedicina da USP e um dos cientistas brasileiros que assinam o estudo, dois fatores ajudam a explicar essa maior vulnerabilidade, especialmente nos extremos da vida.
"Indivíduos muito jovens ou muito idosos costumam ter o 'termostato' do corpo, que envolve receptores na pele responsáveis por perceber o calor, imaturo ou desregulado. Com isso, o organismo não aciona muito bem os mecanismos que regulam a temperatura", afirma.
Além disso, é necessário ofertar água continuamente para pessoas dessas faixas etárias, pois a percepçãoge futebolsede é diferente e se modifica ao longo da vida.
Sem a vontadege futebolbeber água (ou sem a possibilidadege futebolpegar um copo por conta própria, no caso dos bebês), o riscoge futeboldesidratação fica ainda mais alto. E essa sequênciage futebolcaracterísticas e particularidades dessas idades prejudica, mais uma vez, os rins.
Uma 'epidemia' silenciosa
A médica Andrea Pioge futebolAbreu, diretora da Sociedade Brasileirage futebolNefrologia, classifica as doenças renais como um problemage futebolsaúde pública oculto no país.
"No Brasil, umage futebolcada dez pessoas tem doença renal e muitas nem sabem disso, pois não apresentam sintomas e nunca fizeram o diagnóstico", alerta a nefrologista, que não esteve envolvida diretamente com a pesquisa publicada no The Lancet.
"O problema é que esses quadros podem permanecer ocultos por anos e os rins só dão algum sinal quando operam com menosge futebol50% da capacidade original", conta.
Segundo dados da própria Sociedade Brasileirage futebolNefrologia e outras entidades da áreage futebolsaúde, cercage futebol140 mil brasileiros passam por diálise atualmente. O procedimento, feito algumas vezes na semana, exige que o paciente se conecte a uma máquina, que passa a fazer o trabalhoge futebolfiltragem do sangue.
A diálise é indicada num estágio avançado das doenças renais, onde os órgãos não conseguem mais realizar seu trabalho como antes.
Abreu alerta que hipertensão (pressão alta) e diabetes são as principais causadorasge futebolproblemas do tipo.
"Juntas, essas duas enfermidades são responsáveis por maisge futebol70% dos casosge futeboldoença renal crônica", calcula.
A médica também se mostra preocupada com as mudanças climáticas e essa relação entre temperatura e saúde dos rins evidenciada no estudo. "Os quadrosge futeboldesidratação são muito frequentesge futebolépocasge futebolcalor intenso, e precisamos ter cada vez mais atenção com esse risco", admite.
Como se proteger?
Cuidar dos rins num cenárioge futebolaquecimento global exige as mais variadas ações, que vão desde atitudes simples até políticas públicas complexas.
Os cientistas Guo e Li adiantam que as cidades mais afetadas pelas mudanças climáticas precisarão criar sistemasge futebolalarme para proteger a saúde das pessoas.
"Alguns países, por exemplo, vão necessitarge futeboluma comunicação eficiente para ensinar a população sobre os cuidados e eventualmente até criar 'centrosge futebolresfriamento' nas temporadasge futebolverão", sugerem.
Saldiva também cita as mudançasge futebolambientes urbanos que podem segurar o avanço da temperatura. "É preciso fazer uma recomposição da cobertura vegetal das cidades, quege futebolmuitos casos viraram um desertoge futebollajesge futebolconcreto", classifica.
"Nos períodosge futebolcalor, também devemos ter maior atenção com os mais vulneráveis, como crianças e idosos, se hidratar bem e usar roupas leves", acrescenta o patologista.
"Também é importante passar por consultas médicas regularmente, controlar diabetes e hipertensão e fazer testes simples que avaliam a saúde renal, como o examege futebolurina e a dosagem da creatinina no sangue, que são amplamente acessíveis no sistema público brasileiro", acrescenta Abreu.
Por fim, a nefrologista cita uma estratégia fácilge futeboladotar no dia a dia para prevenir problemas mais sérios: olhar a cor da urina, que deve sempre ser amarela clara ou quase transparente.
"Se ela estiver muito amarelada ou escura, é sinalge futebolque não estamos bebendo água o suficiente", conclui a médica.
Urgência das mudanças climáticas
Pesquisas desse tipo já haviam sido feitasge futeboloutros países.
"Até então, os estudos que investigam as doenças renais relacionadas ao calor foram conduzidos nos países desenvolvidos, e tínhamos poucos dados disponíveis sobre o que acontecege futebolnaçõesge futebolbaixa e média renda, como o Brasil", observam Guo e Li.
"Essas enfermidades são uma preocupação na saúde pública e estiveram relacionadas com 2,5 milhõesge futebolmortes no mundoge futebol2017. Precisamos entender melhor como as alteraçõesge futeboltemperatura influenciam esse cenário", dizem os especialistas.
Para o patologista Paulo Saldiva, entender a relação entre fatores ambientais e saúde aproxima a ameaça das mudanças climáticas da realidadege futeboltodos nós.
"Aquele discurso distante,ge futebolque precisamos mudar as coisas para estabilizar a temperatura daqui a 70 anos e salvar a Amazônia e os ursos polares, é substituído pela urgência do agora, pois o problema está aqui na nossa frente", analisa.
"Não precisamos esperar tanto tempo para a situação ficar ruim. As mudanças climáticas estão acontecendo e já afetam a nossa saúde", chama a atenção.
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