Guerra na Ucrânia: russos perdem empregos por opiniões contrárias à invasão:ufc palpitao

Kamran Manafly

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Kamran Manafly perdeu seu empregoufc palpitaoprofessor após post no Instagram

"Eu não queria apagá-lo", disse Manafly à BBC. "Eu soube imediatamente que não havia sentidoufc palpitaodiscutir, então pensei que era melhor simplesmente pedir demissão."

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Quando chegou à escola no dia seguinte, esperando pegar suas coisas e assinarufc palpitaocartaufc palpitaodemissão, ele foi impedidoufc palpitaoentrar nas instalações.

"Eles disseram que tinham uma ordem para não me deixar entrar. As crianças começaram a sair para a rua para me apoiar, dizer adeus e assim por diante. Então alguém chamou a polícia e disse que eu estava organizando uma manifestação não autorizada", relata.

Vídeos vistos pela BBC mostram as crianças se aglomerando ao redorufc palpitaoManafly, aplaudindo, sorrindo e se despedindo.

Ele finalmente recuperou seus pertences e, no dia seguinte, conseguiu encontrar o diretor da escola, que solicitou uma explicação formal sobre por que o professor havia expressado suas opiniões políticas nas redes sociais. Manafly recusou, esperando pedir demissãoufc palpitaoqualquer maneira, mas foi informadoufc palpitaoque a situação havia mudado e ele seria demitido.

"Dois dias depois, fui informadoufc palpitaoque havia sido demitido por comportamento imoral no trabalho", disse Manafly. "Para mim, o mais estranho é que eles consideram a expressãoufc palpitaouma opinião pessoal 'imoral'."

O diretor da escola não respondeu a um pedidoufc palpitaocomentário, masufc palpitaomensagens no WhatsApp às quais a BBC teve acesso, os pais da escola foram informadosufc palpitaoque as postagensufc palpitaoManafly nas redes sociais quebraram seu acordoufc palpitaotrabalho com seus empregadores, o que ele nega.

Repressão a informações 'falsas'

Depois que a Rússia invadiu a Ucrâniaufc palpitao24ufc palpitaofevereiro, milharesufc palpitaorussos, particularmenteufc palpitaoMoscou e São Petersburgo, expressaramufc palpitaooposição à chamada "operação militar especial", assinando petições, postando nas redes sociais ou participandoufc palpitaoprotestosufc palpitaorua contra a guerra.

A resposta do Estado foi pesada, detendo milharesufc palpitaomanifestantes e introduzindo uma nova lei que torna a divulgaçãoufc palpitaoinformações "falsas" sobre os militares russos punível com até 15 anosufc palpitaoprisão.

Ainda assim, a postagemufc palpitaoManafly no Instagram não infringiu essa lei,ufc palpitaoacordo com o jornal russo Novaya Gazeta, que publicou-a na íntegra mesmo depois da entradaufc palpitaovigor da nova legislação.

Katya Dolinina

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Katya Dolinina perdeu o emprego depoisufc palpitaoassinar uma carta aberta contra a "operação especial" da Rússia

Apesar do risco crescente, para Katya Dolinina, a invasão da Ucrânia foi o momentoufc palpitaoque ela não conseguiu mais ficar calada. Gerenteufc palpitaodois cinemas da rede estatal Moskino, Dolinina costumava guardar suas opiniões políticas para si mesma.

"Eu amava meu emprego, gostava dele. Não queria perdê-lo", disse ela à BBC, explicando por que não havia participadoufc palpitaoprotestos anteriores contra o governo.

Mas, quando a guerra começou, isso mudou. Quando amigos lhe enviaram uma carta aberta contra a chamada "operação especial", assinada por pessoas que trabalham no setor cultural, ela não hesitouufc palpitaoacrescentar seu nome.

"Concordei com a opiniãoufc palpitaoque essas operações deveriam ser interrompidas imediatamente, que isso não estava certo", diz ela.

Logo após assinar a carta, Dolinina recebeu um telefonemaufc palpitaoseu chefe. Ela deveria remover seu nome imediatamente, ou pedir demissão. Se ela se recusasse a fazer qualquer um dos dois, seria demitida, disseram-lhe. A rede Moskino não respondeu ao pedidoufc palpitaocomentário da BBC.

"Eu senti que não importa mais. Não sei como trabalhariaufc palpitaoqualquer maneira se eles não pedissem para eu me demitir. Depois que esta operação especial começou, não sinto nenhuma motivação para fazer nada que não esteja relacionado a isso", afirma.

Ela pediu demissão sem alarde, relata, porque estava preocupada que,ufc palpitaooutra maneira, seus empregadores encontrariam um pretexto para demiti-la, o que causaria mais problemas para ela no futuro.

Todo o processoufc palpitaorescisãoufc palpitaoseu emprego levou apenas algumas horas, e a atmosfera na última reunião com seus gerentes foi cordial — eles disseram a Dolinina que estavam tristes por vê-la partir, embora ela agora se pergunte se isso foi apenas para evitar conflito.

Mas, para Anna Levadnaya, pediatra e influenciadora com maisufc palpitaodois milhõesufc palpitaoseguidores no Instagram, a reuniãoufc palpitaoque ela descobriu que deveria se demitir não foi nada amigável.

Anna Levadnaya

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Anna Levadnaya, médica e influenciadora nas redes socias, foi 'constrangida publicamente' na frenteufc palpitaomaisufc palpitao100 colegas

Ela estavaufc palpitaoférias no exterior quando a invasão da Ucrânia começou. Naquele dia, postou uma fotografia no Instagramufc palpitaouma janelaufc palpitaoavião, com a imagemufc palpitaouma pomba da paz.

"Eu não escolhi a agressão", escreveu ela. "Estou com medo por todos nós." Ela descreveu as raízes ucranianasufc palpitaosua família e pediu que "este inferno" terminasse o mais rápido possível.

Com tantos seguidores no Instagram, era improvável que a postagem passasse despercebida por seu empregador, um importante centro médico estatalufc palpitaoMoscou.

Dias depois, Levadnaya, ainda no exterior, ouviuufc palpitaocolegas que a diretora do centro médico havia criticado seus comentários contrários à guerra durante a conferência matinal na frenteufc palpitaomaisufc palpitao100ufc palpitaoseus colegas. Ela recebeu uma gravaçãoufc palpitaovídeo do evento.

"Foi um constrangimento público", disse Levadnaya à BBC. "Eles deixaram claro que alguém que não apoia os objetivos do governo não deve trabalharufc palpitaouma instituição estatal."

O diretor fez um discurso,ufc palpitaovários minutos, explicando que, se Levadnaya estivesse melhor informada sobre os eventos mundiais, ela apoiaria a "operação especial". Logo depois, ela foi instruída a escrever uma cartaufc palpitaodemissão e, se recusasse, seria demitida.

Sua carta consistiaufc palpitaouma única frase, explicando simplesmente que seria "impossível continuar seu trabalho".

Em suas postagens nas redes sociais, Levadnaya explica problemas médicos atuaisufc palpitaouma forma envolvente que faz sentido para seu público. Ela aprendeu a conviver com os "trolls" da internet (usuários que fazem comentários agressivos apenas para provocar) e com comentários raivosos, afirma, mas a invasão da Ucrânia levou a situação a um nível diferente.

"Mesmo as vacinas contra covid, que geraram muitas agressões, não causaram tanto ódio entre as pessoas quanto esta guerra. Há uma enorme divisão na sociedade agora, porque todo mundo só acredita emufc palpitaoprópria verdade", diz a profissionalufc palpitaosaúde.

Muitos que se encontram no lado oposto dessa divisão com relação ao Estado russo tiveram suas vidas viradasufc palpitaocabeça para baixo pela guerra na Ucrânia.

Alguns perderam seus empregos, outros pediram demissãoufc palpitaoprotesto. Relações familiares tornaram-se tensas, muitas vezes com rachas geracionais.

Para Kamran Manafly e muitos outros, a única opção foi deixar o país. Mas nem todos podem, ou querem, dar esse passo.

"Nem todo russo que discorda da propaganda do Kremlin pode deixar este país", disse Katya Dolinina. "Ainda estamos aqui. Ainda temos esperança. Tentamos não desistir."

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