Inflação: por que taxa na Argentina é quase 5 vezes a do Brasil:site de apostas seguro

Ter custos que aumentam 1% a cada semana,site de apostas seguromédia, pulveriza a renda dos argentinos e é um dos principais motivos da disparada da pobreza, que hoje atinge entre 42% e 50% da população, segundo números oficiais.

Viver com inflação alta não é novidade para os argentinos. Embora uma inflação mensal próxima a 4% seja enorme, o país teve aumentossite de apostas seguropreços muito mais vertiginosos nos últimos 50 anos.

O pior momento foi a hiperinflaçãosite de apostas seguro1989, quando os preços subiram maissite de apostas seguro3.000%, levando à queda do governosite de apostas seguroRaúl Alfonsín, que havia assumido após o retorno da democracia e da adoção do peso, moeda usada até hoje.

A títulosite de apostas segurocomparação, naquele ano, a inflação brasileira subiu 1.973% e chegaria a 2.477%site de apostas seguroseu pior momento,site de apostas seguro1993 — ano que antecedeu o Plano Real, que finalmente daria fim à hiperinflação por aqui.

Na décadasite de apostas seguro1990, a chamada "conversibilidade" — que atrelou o peso argentino ao dólar — fez com que a inflação desaparecesse.

Mas isso acabou catastroficamente com o corralito (quesite de apostas seguroespanhol significa cercadinho)site de apostas segurodezembrosite de apostas seguro2001, que determinou o congelamento dos depósitos bancários e limites semanais para retiradas, o que acabou gerando violentos protestos e a renúncia do presidente Fernando De la Rúa.

A crise econômica e política do início deste século reabriu o ciclo inflacionário, que voltou a se acelerar durante o segundo governosite de apostas seguroCristina Fernándezsite de apostas seguroKirchner (2011-2015), e superou a barreira dos 50% ao final do mandatosite de apostas seguroMauricio Macri (2015-2019).

Embora a desaceleração da economiasite de apostas seguro2020, devido à pandemia do coronavírus, tenha reduzido a inflação argentina a 36%, neste ano ela voltou a uma taxa acumuladasite de apostas seguro12 mesessite de apostas seguro52%.

E muitos economistas preveem que,site de apostas seguro2022, a inflação no país será ainda maior.

Por que tão alta

Mas por que a Argentina tem esse problema há tanto tempo esite de apostas seguroforma tão mais grave do que os demais países da região?

Os economistas ortodoxos garantem que a razão subjacente é simples: o país sistematicamente gasta mais do que deveria.

As estatísticas mostram isso com clareza: nos últimos 60 anos, foram apenas seis anos sem déficit fiscal (entre 2003 e 2008, quando os preços internacionais das matérias-primas foram recordes, gerando um grande aumento na arrecadação).

E não é que a Argentina tenha poucos impostos, muito pelo contrário: segundo o Banco Mundial, é um dos países com maior carga tributária sobre a economia formal do mundo.

Mas como, mesmo assim, a arrecadação não é suficiente para manter os gastos públicos, sucessivos governos têm recorrido a duas ferramentas para se financiarem: o endividamento e a emissão monetária.

O primeiro levou a Argentina ao calote — ou ao defaultsite de apostas segurosua dívida — nove vezes, o que prejudicousite de apostas segurocapacidadesite de apostas seguroobter empréstimos a taxas semelhantes às pagas por seus vizinhos.

Essa limitação tornou o país cada vez mais dependente da segunda opção para manter a carteira volumosa do Estado: a impressãosite de apostas segurocédulas (ou o que os economistas chamamsite de apostas seguro"política monetária expansionista").

É essa emissão que, segundo a visão ortodoxa, gera inflação.

O atual ciclo inflacionário

Marina Dal Poggetto, diretora executiva da consultoria econômica EcoGo, explica por que hoje a Argentina é o único país da região — exceto a Venezuela — que tem um problemasite de apostas seguroinflação tão alta.

"Na décadasite de apostas seguro1980, vários países latino-americanos sofreram crises inflacionárias, e, na décadasite de apostas seguro1990, todos entraramsite de apostas seguroprocessossite de apostas segurodesinflação, incluindo a Argentina", diz.

Mas, no início deste século, "ao contrário do resto, a Argentina perdeu uma oportunidade sem precedentessite de apostas seguroconstruir uma moeda e manter as taxassite de apostas seguroinflação baixas".

"Todo o resto da região aproveitou o cenário globalsite de apostas segurodesvalorização do dólar e os altos preços das commodities que a economia latino-americana experimentou nos anos 2000 para atar suas moedas a taxassite de apostas segurojuros positivas. Foi assim que valorizaram e construíram suas moedas", afirma.

"Mas a Argentina, que vinha da crisesite de apostas seguro2001, tinha sistematicamente uma taxasite de apostas segurojuros que era a metade da taxasite de apostas seguroinflação."

O governosite de apostas seguroNéstor Kirchner (2003-2007) "priorizou o curto prazo" e manteve o peso barato para torná-lo mais competitivo, o que permitiu ao país crescer "a taxas chinesas" (muito altas) por alguns anos.

Com esse superávit fiscal sem precedentes, diz Dal Poggetto, "o governo Kirchner entrousite de apostas seguroum cenáriosite de apostas seguropolíticas muito expansionistas, com uma política agressivasite de apostas segurodistribuiçãosite de apostas segurorenda".

Apesarsite de apostas seguroa altasite de apostas seguropreços da soja ter desacelerado quandosite de apostas seguroesposa e sucessora, a atual vice-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), tomou posse e "os dólares acabaram", o governo continuou a expandir seus gastos, e,site de apostas seguro2009, a Argentina mais uma vez voltou a ter suas contas no vermelho.

Durante o kirchnerismo, o salário real subiu 50%, e incorporaram-se 3 milhõessite de apostas seguroaposentados (dobrando o número total) que não haviam feito as contribuições correspondentes, algo "insustentável", segundo a economista.

"Embora a arrecadação tenha crescidosite de apostas seguro19% para 34% do Produto Interno Bruto (PIB), com as políticas fiscais expansionistas do kirchnerismo, o gasto público passousite de apostas seguro25% para 41% do PIB", afirma.

Isso gerou "uma deterioração muito grande da macroeconomia", com uma taxasite de apostas segurocâmbio defasada e uma inflação que atingiu dois dígitossite de apostas seguro2006, desencadeando o processo inflacionário que continua até hoje.

O único governo não kirchnerista que a Argentina teve durante este século — osite de apostas seguroMauricio Macri (2015-2019), que chegou ao podersite de apostas segurogrande parte devido ao descontentamento popular com o aumento da inflação — manteve altos gastos do Estado durante os primeiros dois anos, massite de apostas segurovezsite de apostas seguroimprimir dinheiro, foi financiado pela emissãosite de apostas segurodívida.

Isso conseguiu desacelerar brevemente a inflaçãosite de apostas seguro2017. Mas os fundossite de apostas seguroinvestimento estrangeiros que compraram grande parte dos papéis emitidos pela Macri, atraídos pelos juros altíssimos, acabariam gerando uma grave crise econômica.

Uma corrida cambialsite de apostas seguro2018 levou a uma "megavalorização" do peso, que foi automaticamente repassada aos preços. A inflação duplicousite de apostas seguroum único ano, chegando a quase 48%.

Macri perdeu as eleiçõessite de apostas seguro2019 e terminou o mandato com a maior inflação das últimas duas décadas: 53,83%.

Além disso, deixou a Argentinasite de apostas segurouma nova crisesite de apostas segurodívida, após ter negociado com o FMI o maior empréstimosite de apostas segurosua história — que não chegou emsite de apostas segurototalidade, mas que voltou a deixar o país com um pesado fardo, e que, se não for negociada com sucesso, pode resultarsite de apostas seguroum novo calote.

Como se tudo isso não bastasse,site de apostas seguromarçosite de apostas seguro2020, chegou a pandemia.

Sem acesso a crédito, o novo governosite de apostas seguroAlberto Fernández teve que apelar para mais emissãosite de apostas seguromoeda para aliviar a crise sanitária e econômica.

Massite de apostas segurodecisãosite de apostas seguroimpor uma das quarentenas mais longas do mundo obrigou o Banco Central a imprimir um número recordesite de apostas seguronotas, o que representa pressão inflacionária extra.

O problema do dólar

Alémsite de apostas segurouma emissão monetária elevada, a Argentina tem outra peculiaridade que influencia a alta dos preços.

O fatosite de apostas seguroter uma moedasite de apostas seguroconstante desvalorização e taxassite de apostas segurojurossite de apostas seguropesos historicamente abaixo da inflação fez com que os argentinos economizassem e pensassemsite de apostas segurodólares.

Mas, como a Argentina não gera verdinhas suficientes para atender à demanda, os governos aplicam controlessite de apostas segurocapital, conhecidos localmente como "armadilhas cambiais".

Isso gera outro fenômeno que pressiona a inflação: a chamada "brecha" cambial.

Por não conseguirem comprar dólares no mercado oficial — que alémsite de apostas seguroser restrito a US$ 200 (R$ 1.086) por pessoa ao mês, têm taxas que hoje chegam a 65% — empresas e poupadores recorrem aos mercados paralelos, o mais famoso deles é o informal, chamado localmentesite de apostas seguro"dólar blue".

Diante da desconfiança gerada pelo peso, o preço do "dólar blue" é considerado por muitos argentinos como referência na horasite de apostas segurorealizar transações, como aluguel ou comprasite de apostas segurosuprimentos para construção, produtos eletrônicos ou automóveis.

Por isso, quando o preço desse dólarsite de apostas seguromercado está bem acima do dólar oficial — como agora, quando a diferença entre um e outro chega a 100% — isso leva a um aumentosite de apostas seguroalguns preçossite de apostas seguropesos, e gera uma sensaçãosite de apostas seguroque a moeda local está desvalorizada.

Isso, apesarsite de apostas seguroque, como afirma Dal Poggetto, "há muitos preços na economia que estão a um dólar mais parecido com o oficial do que com o blue".

"Se desvalorizassem o dólar oficial, a inflação ficaria muito maior", alerta.

Monopólios

Mas o governo e os economistas heterodoxos estão convencidossite de apostas seguroque não é nem a questão monetária nem o hiato da taxasite de apostas segurocâmbio que levam à alta dos preços, mas sim os "grupos concentradossite de apostas seguropoder".

"A inflação é multicausal, mas um dos principais fatores é que você concentrou setores da economia, principalmente na produção e distribuiçãosite de apostas seguroalimentos, que têm capacidadesite de apostas segurofixar preços", diz Alan Cibils, pesquisador e professor da Áreasite de apostas seguroEconomia Política da Universidade Nacional General Sarmiento (UNGS).

"Esses setores dão retornosite de apostas segurodólares, porque a maioria é estrangeira. Então, eles querem poder remeter dólares independente do tiposite de apostas segurocâmbio", afirma.

"Eles fixam os preçossite de apostas seguropesos, porque podem, e isso contribui fortemente para a inflação."

Seguindo a mesma linhasite de apostas seguropensamento, o governosite de apostas seguroAlberto Fernández restringiu as exportaçõessite de apostas segurocarnes para que o preço local caísse, medida que o kichnerismo já havia adotado no passado e que levou à redução da produção pecuária.

Poucos dias antes das eleições legislativassite de apostas seguro14site de apostas seguronovembro, o governo também recorreu a outra ferramenta utilizada durante o governosite de apostas seguroCristina Kirchner: o congelamentosite de apostas seguropreços.

O Ministério do Comércio Interno emitiu uma resolução ao finalsite de apostas segurooutubro que estabelece a "fixaçãosite de apostas seguropreços máximos" para maissite de apostas seguro1,4 mil produtossite de apostas seguroconsumosite de apostas seguromassa até janeirosite de apostas seguro2022.

Embora ambas as medidas tenham sido duramente criticadas pela oposição, o chefe do governo da cidadesite de apostas seguroBuenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, considerado o sucessor políticosite de apostas seguroMacri, concordou que os setores concentrados da economia são parte do problema inflacionário.

"Temos que ir pra cima dos monopólios para que haja competição real, os monopólios não ajudam a baixar a inflação", disse elesite de apostas segurodeclarações à rádio Urbana Play.

Uma roda que não para

Mas, para além das discussões sobre o que causa a inflação na Argentina, há algosite de apostas seguroque todos parecem concordar: é um processo muito difícilsite de apostas segurofrear.

O grande problema, eles apontam, é a inércia inflacionária, que faz com que todos estabeleçam preços com base na inflação passada.

De acordo com relatório da consultoria EconViews, "pelo menos 40% do núcleo da inflaçãosite de apostas seguroum mês é explicado pela inflação do mês anterior".

"Eles tendem a indexar contratos, aluguéis. Os sindicatos negociam reajustes anuaissite de apostas segurosalários", exemplifica Cibils.

"Tem gente que aumenta os preços todo mêssite de apostas seguro'xis' por cento por precaução. Como você não sabe o que vai acontecer, você se protege na medida do possível", explica.

São esses comportamentos "inerciais" que fazem com que a inflação "se auto propague", diz ele.

Como interromper esse ciclo vicioso?

Para o governo e para quem tem uma visão heterodoxa: com mais intervenção do Estado.

Já organizações como o FMI e muitos economistas, como Dal Poggetto, acreditam que a solução é corrigir o problema subjacente. Ou seja, reduzir os gastos.

A questão é como fazer isso sem prejudicar ainda mais uma população já abatida e sem gerar as crisessite de apostas segurogovernabilidade vividassite de apostas segurooutros países que tentaram ajustar gastos, como Colômbia e Equador, afirma.

"Sempre digo que o problema é que todos concordamos que o gasto deve ser reduzido, mas todos concordamos que o outro deve fazer o ajuste."

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