'Seu filho está morto': o trauma dos massacres da era Fujimori no Peru:blaze crash foguetinho

A operação deixou 15 mortos e quatro feridos.

O maridoblaze crash foguetinhoRosa, Manuel Ríos Pérez, e o filhoblaze crash foguetinhooito anos do casal, Javier Ríos Rojas, morreram pelas balas disparadas por agentes do Estado.

O crime foi uma das violaçõesblaze crash foguetinhodireitos humanos que, décadas depois,blaze crash foguetinho2009, resultariam na prisãoblaze crash foguetinhoAlberto Fujimori, na época presidente do Peru, eblaze crash foguetinhoseu mão direita Vladimiro Montesinos, condenados pela Justiça peruana como responsáveis intelectuais pelas ações do Grupo Colina.

"Até hoje dizem que éramos terroristas, quando nós não tínhamos nada a ver com isso", lamenta Rosa,blaze crash foguetinhoentrevista à BBC News Mundo, serviçoblaze crash foguetinhoespanhol da BBC.

Segundo o jornalista Gustavo Gorriti, "não houve no Peru um esforço sérioblaze crash foguetinhoprocessar aqueles acontecimentos. E qualquer pessoa que tenha uma posição favorável aos direitos humanos é atacada pelos gruposblaze crash foguetinhoultradireita — que se fortaleceram nos últimos anos — como sendo terrorista".

O massacreblaze crash foguetinhoBarrios Altos

Em 1991, o Peru estava convulsionado pela escaladablaze crash foguetinhoatentados que a guerrilha Sendero Luminosos promovia no país.

Até então, o grupo havia centrado na zona rural as suas ações violentas, que resultaramblaze crash foguetinhodezenasblaze crash foguetinhomilharesblaze crash foguetinhomortos. Uma ofensiva urbana virou um problema para Fujimori — eleito com a promessablaze crash foguetinhoacabar com os atentados e estabilizar a economia.

Os ataques do Sendero haviam se tornado tão habituais que, quando Rosa viu chegar um grupo encapuzado e armado, a primeira coisablaze crash foguetinhoque pensou antesblaze crash foguetinhocomeçar a correr foi: "meu Deus, os terroristas chegaram".

"Tínhamos organizado a 'pollada' para conseguir dinheiro para consertar o bueiro, porque saía muita sujeira dali e era onde meus filhos brincavam. Daí entraram esses homens gritando 'cachorros, todos ao chão'. Saí correndo, pensando que todos os demais fariam o mesmo, masblaze crash foguetinhorepente me vi correndo sozinha."

Pedindo ajuda desesperada aos demais moradores, elablaze crash foguetinhorepente começou a ouvir o som dos tiros.

Primeiro, encontrou o marido, já morto, "com os olhos abertos, como se estivesse olhando para mim".

Depois encontrou o filho, mas resistiu a acreditar que a criança também estivesse morta. Carregou-o desfalecido nos braços até que encontrou um policial e pediu ajuda.

"Eles me conheciam e disseram, 'deixe-o, seu filho está morto'", conta Rosa, entre lágrimas, 30 anos depois.

Anosblaze crash foguetinhobuscablaze crash foguetinhojustiça

Foi então que começou para Rosa uma luta compartilhada com as outras vítimasblaze crash foguetinhobuscablaze crash foguetinhojustiça e por seguirblaze crash foguetinhofrente com o que restoublaze crash foguetinhosua família: duas filhas que na época tinham 5 anos e 9 meses.

"Deixava as meninas com a minha irmã e saía para fazer vendas com meu triciclo, na Plaza Italia,blaze crash foguetinhoLima", ela conta. No verão, vendia sorvetes; no inverno, pratos com mandioca e doces.

Também participavablaze crash foguetinhoprotestos e iniciativas para reivindicar punição aos responsáveis, um esforço que se chocou com os anosblaze crash foguetinhoapogeu do poderblaze crash foguetinhoFujimori no Peru.

Gorriti afirma que "a partirblaze crash foguetinho1992, Fujimori viveu uma épocablaze crash foguetinhoconsiderável fortalecimento, na qual muitos preferiram olhar para o outro lado" diante das denúnciasblaze crash foguetinhoviolaçõesblaze crash foguetinhodireitos humanos.

Antesblaze crash foguetinhoBarrios Altos, já havia denúnciasblaze crash foguetinhoabusos por partesblaze crash foguetinhoagentes do Estado peruano na zona rural, eblaze crash foguetinhojulhoblaze crash foguetinho1992 outra ação do Grupo Colina deixou mais dez mortos, no que ficou conhecido como o massacreblaze crash foguetinhoLa Cantuta.

Os clamores por justiçablaze crash foguetinhoRosa e das demais vítimas se viram frustrados por duas anistias sucessivas e por outros esforços para blindar os responsáveis.

Segundo o relatório final da Comissão da Verdade e da Reconciliação do Peru, "a investigação do crime (de Barrios Altos) foi deliberadamente impedida mediante uma imposiçãoblaze crash foguetinhomecanismos legislativos e judiciais encobrindo e dificultando a ação dos responsáveis (pelos processos)".

Segundo Rosa, um dos aspectos mais dolorosos foi a criminalização das vítimas por parte da sociedade peruana.

Um exemplo foi quando umablaze crash foguetinhosuas filhas ouviu na escola que "seu pai foi morto por ser terruco", que é o termo depreciativo usado pelos peruanos para se referirem aos integrantes e colaboradores do Sendero Luminoso.

"Eu havia tentado evitar contar às minhas filhas a respeitoblaze crash foguetinhocomo seu pai tinha morrido e tentava protegê-las das notícias", conta Rosa. A filha mais nova precisoublaze crash foguetinhoacompanhamento psicológico.

Foi só durante a Presidênciablaze crash foguetinhoAlejandro Toledo (2001-06) que Rosa conseguiu ser indenizada pela morte do marido e do filho.

A quantia foi gasta para comprar uma casa e um túmulo para as duas vítimasblaze crash foguetinhoum cemitérioblaze crash foguetinhoLima e para custear a educação das filhas.

Rosa diz que também ajudou algumas famílias afetadas, até que "o dinheiro acabou".

'Ódio não vai me devolver meu marido e meu filho'

Quanto a Fujimori, ele foi extraditado do Chile ao Perublaze crash foguetinho2007 e nos anos seguintes condenado pelo massacreblaze crash foguetinhoBarrios Altos e outras violaçõesblaze crash foguetinhodireitos humanos, alémblaze crash foguetinhocrimesblaze crash foguetinhocorrupção.

O ex-presidente segue preso, emborablaze crash foguetinhofamília e advogados tenham repetidamente pedidoblaze crash foguetinholibertação por motivosblaze crash foguetinhosaúde e idade avançada (ele tem 83 anos).

Até hoje Fujimori segue dividindo os peruanos: seus simpatizantes o veem como o presidente que derrotou o Sendero Luminoso e se concentrou na economia. Seus críticos, como Rosa, apontam para os abusosblaze crash foguetinhodireitos humanos (o ex-presidente foi condenado a 25 anosblaze crash foguetinhoprisão pela morteblaze crash foguetinho25 pessoas e por sequestros).

"É um assassino (...) que tratou o Peru como se fosseblaze crash foguetinhopropriedade sem se importarblaze crash foguetinhodeixar mortos, viúvas e órfãos", declara Rosa.

Ao mesmo tempo, ela paroublaze crash foguetinhoparticipar dos protestosblaze crash foguetinhodefesa dos direitos humanos e, nesta quarta-feira, passou o aniversárioblaze crash foguetinhomorte do marido e do filhoblaze crash foguetinhouma missa íntima emblaze crash foguetinhoparóquia.

"O ódio não vai me devolver meu marido e meu filho, então faz anos que os perdoei (os culpados)", diz.

Embora nunca tenha recebido um pedidoblaze crash foguetinhodesculpas, nemblaze crash foguetinhoFujimori, nemblaze crash foguetinhoninguém.

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