Afeganistão: 'Não fomos lá para formar uma nação'; os argumentosturn cbet meaningBiden para abandonar o país:turn cbet meaning

Joe Biden

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Para o presidente Joe Biden, cabe aos afegãos lutar para impedir retrocessos

Quase 20 anos depois, tudo parece retornar ao pontoturn cbet meaningpartida, com o grupo fundamentalistaturn cbet meaningvolta ao comando, mulheres temendo por suas vidas e seus direitos, e civis contrários ao grupo islamista lotando o aeroporto internacionalturn cbet meaningCabul, tentando fugir do país.

Para críticos à retirada das tropas, esse cenário é uma humilhação a Biden e aos EUA. No entanto, o presidente americano não parece disposto a voltar atrás na decisão.

Na verdade a retirada das tropas americanas do Afeganistão foi acordada pelo ex-presidente Donald Trump. Em fevereiroturn cbet meaning2020, os Estados Unidos firmaramturn cbet meaningDoha, no Catar, um acordo com lideranças Talebã, que previa a retirada dos soldados americanos daquele país. Pelo seu lado, o Talebã se comprometia a combater a Al-Qaeda e a qualquer outro grupo extremista, como o autoproclamado, Estado Islâmico, que chegou a ter forte presença no Afeganistão.

Mas quais os argumentosturn cbet meaningJoe Biden para "abandonar" o Afeganistão e permitir que o Talebã retorne a todo vapor? O presidente tem repetido cinco justificativas para deixar os afegãos à própria sorte e encerrarturn cbet meaningvez uma guerra que dura 20 anos.

Saiba quais são elas:

'Já cumprimos a missão'

Joe Biden sempre foi crítico da presença prolongadaturn cbet meaningtropas americanas no Afeganistão. Para ele, a missão dos EUA com essa guerra deveria se resumir a: abater Osama Bin Laden e impedir que o Afeganistão se tornasse base para grupos radicais contrários aos EUA.

Ou seja, na visãoturn cbet meaningBiden, não seria papel dos EUA permanecer no país até que ele fosse reconstruído e tivesse uma estrutura institucional sólida, com regime democrático estável.

"Os Estados Unidos já cumpriramturn cbet meaningmissão no Afeganistão: pegar os terroristas que nos atacaram no 11turn cbet meaningsetembro, garantir punição a Osama Bin Laden e degradar a ameaça terrorista, para impedir que o Afeganistão se tornasse base para que ataques contra os EUA fossem planejados", disse Joe Bidenturn cbet meaningjulho.

"Nós alcançamos esses objetivos. Foi para isso que fomos lá."

De fato, Osama Bin Laden foi morto numa operação da Marinha dos EUAturn cbet meaningmaioturn cbet meaning2011, e diversos integrantes do alto escalão da Al-Qaeda também foram mortos ou detidos desde o início da guerra.

Mas o regime que deu cobertura para as ações da Al-Qaeda, o Talebã, continua inegavelmente forte. O governo afegão que até domingo 15turn cbet meaningagosto era dirigido pelo então presidente eleito, Ashraf Ghani, nunca chegou a ter controle total do país. O Talebã nunca deixouturn cbet meaningoperar abertamenteturn cbet meaningcertas áreas.

Sem as tropas americanas, os combatentes conseguiram avançar sem resistência pelas grandes cidades do país. As forças militares afegãs, que haviam sido treinadas pelos americanos, se retiraram sem lutarturn cbet meaninggrande parte dos distritos, inclusive na capital, Cabul.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, fugiu do país, argumentando que fez isso para evitar "derramamentoturn cbet meaningsangue", e homens armados tomaram o palácio presidencial sem qualquer dificuldade.

A capital era a única grande cidade ainda nas mãos do governo civil. Com a conquista desse último refúgio, o Talebã passou a dominar praticamente o país todo novamente.

A pergunta que fica é: com a volta do Talebã ao poder, o governo americano realmente pode afirmar que alcançou o objetivoturn cbet meaningimpedir que o Afeganistão se tornasse base para grupos radicais e eventuais ataques aos EUA?

'Cabe aos afegãos decidir seu futuro'

Ao falar sobre os motivos da retirada das tropas do Afeganistão, o presidente Biden deixou claro considerar que os Estados Unidos não devem assumir para si a responsabilidade pela democracia, o respeito aos direitos humanos e a estabilidade no pais.

"Nós não fomos ao Afeganistão para formar uma nação. É direito e responsabilidade exclusiva da população afegã decidir seu futuro e como querem administrar seu país", declarou.

Ao estabelecer setembro e, posteriormente, o fimturn cbet meaningagosto como data para a retirada total das tropas americanas no Afeganistão, Biden declarou que os EUA já haviam feito aturn cbet meaningparte treinando soldados afegãos, garantindo armas e financiamento para o regime civil.

Homem cobre imagemturn cbet meaningmulher com tinta

Crédito, LOTFULLAH NAJAFIZADA/TWITTER

Legenda da foto, Imagensturn cbet meaningmulheres começam a ser apagadas das ruasturn cbet meaningCabul

"Juntamente com aliados da Otan e parceiros, nós treinamos e equipamos quase 300 mil membros ativos da Força Nacionalturn cbet meaningSegurança Afegã, e muitos outros que não estão mais na ativa", declarou Bidenturn cbet meaningjulho,turn cbet meaningdiscurso feito para explicar os planosturn cbet meaningretirada das tropas.

"Nós fornecemos aos nossos parceiros afegãos todos os instrumentos. Deixe eu enfatizar, todos os instrumentos, treinamento e equipamentos militares modernos. Vamos continuar a financiar e dar equipamentos. E vamos garantir a capacidadeturn cbet meaningmanter a força aérea", declarou.

Enquanto Biden destacava o treinamento dado pelos EUA aos militares afegãos, especialistas alertavam que as forças do Afeganistão, sozinhas, não seriam capazesturn cbet meaningimpedir o avanço do Talebã.

As previsões dos analistas se confirmaram e agora boa parte do arsenal militar doado pelos EUA podem cair nas mãos do grupo radical islâmico.

'Estou cumprindo um acordo'

Outro argumentoturn cbet meaningBiden para retirar as tropas americanas do Afeganistão é a necessidadeturn cbet meaningcumprir acordo firmado pelo governo do ex-presidente Dinald Trump com o Talebã.

Assinadoturn cbet meaningfevereiroturn cbet meaning2020, o acordo previa que os EUA retirariam suas tropas do país até maioturn cbet meaning2021. Em troca, o Talebã não atacaria integrantesturn cbet meaningforças internacionais. A saída total das tropas acabou sendo adiada mas, quando tomou posseturn cbet meaningjaneiroturn cbet meaning2021, Joe Biden declarou que não voltaria atrás no acordo firmado por Trump e retiraria as tropas até 11turn cbet meaningsetembroturn cbet meaning2021, data dos 20 anos do ataque às Torres Gêmeas,turn cbet meaningNova York.

Posteriormente, Biden antecipou o prazo finalturn cbet meaningsaída dos militares americanos para agosto. Ao justificar a decisão, Biden declarou,turn cbet meaningjulho, que o acordo firmado pelo ex-presidente dos EUA evitou mortesturn cbet meaningsoldados americanos.

"Se eu tivesse anunciadoturn cbet meaningabril que os EUA iriam voltar atrás no acordo feito pela última administração, os Estados Unidos e forças aliadas permaneceriam no Afeganistão e o Talebã voltaria a atacar as nossas tropas", declarou Biden.

"Ficar significaria mortes entre as tropas dos EUA. Homens e mulheres americanas no meioturn cbet meaninguma guerra civil."

Ou seja, segundo Biden, uma vez tendo firmado o acordo, os EUA ficariam mais expostos do que nunca se permanecessem no território. O presidente anunciou que ofereceria aos afegãos que trabalharam para o governo americano nos últimos 20 anos a possibilidadeturn cbet meaningmorar nos EUA, para que não fossem alvosturn cbet meaningataques.

Mas milharesturn cbet meaningpessoas que se dedicaram a construir um regime civil desde o início da guerra agora temem ser mortos ou perder seus direitos num regime controlado pelo Talebã.

Eles acusam o governo americanoturn cbet meaningter abandonado a população à própria sorte, principalmente as mulheres que, num regime fundamentalista islâmico, podem voltar a ser impedidasturn cbet meaningestudar, trabalhar ou até andar pelas ruas sozinhas.

'Ameaça terrorista vai além do Afeganistão'

Biden também justificou a retirada das tropas dizendo que os EUA precisam utilizar recursos e efetivo para combater o terrorismoturn cbet meaningmaneira mais estratégica. Segundo ele, células e grupos terroristas se deslocaram para além do Afeganistão.

combatentes do talebã

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Talebã não se desintegrou durante a presençaturn cbet meaning20 anos dos EUA no Afeganistão

"Os Estados Unidos não podem se dar ao luxoturn cbet meaningse manter presos a políticas que respondem a um mundo que existia há 20 anos. Precisamos lidar com as ameaças que se apresentam hoje. A ameaça terrorista atualmente se espalhou para além do Afeganistão", argumenta.

"Portanto, estamos reposicionando recursos e o combate ao terrorismo para alcançar as ameaças onde elas estão maiores hoje: sul da Ásia, Oriente Médio e África", disse.

Biden ainda argumentou que os EUA precisam reservar recursos para fazer frente à competição com a China.

"Temos que focarturn cbet meaningfortalecer os principais pontos fortes da América para enfrentar a competição estratégica com a China e outras nações, que realmente vai determinar nosso futuro", disse ele.

'Já tivemos gastos e mortes demais'

Biden tem mencionado ainda, como argumento pela retirada das tropas, o númeroturn cbet meaningmortesturn cbet meaningmilitares americanos e os gastos que os EUA tiveram com a guerra.

"Depoisturn cbet meaning20 anos, trilhõesturn cbet meaningdólares foram gastos treinando e equipando as forçasturn cbet meaningSegurança Nacional e Defesa afegãs. 2.448 americanos foram mortos, 20.772 foram feridos e milharesturn cbet meaningoutros voltaram às suas casas com traumas que afetamturn cbet meaningsaúde mental", argumentou.

"Eu não vou mandar uma nova geraçãoturn cbet meaningamericanos para a guerra no Afeganistão sem que haja uma expectativa razoávelturn cbet meaningalcançar um resultado diferente."

aeroportoturn cbet meaningCabul
Legenda da foto, Aeroportoturn cbet meaningCabul foi tomado pelo caos, a medidaturn cbet meaningque milhares tentam fugir do país com medoturn cbet meaningretaliações do Talebã

Mas o custo da guerraturn cbet meaningperdaturn cbet meaningvidas foi muito maior para os afegãos. Desde o início do conflito, há 20 anos, maisturn cbet meaning66 mil militares afegãos e 47,2 mil civis morreram. Estima-se que maisturn cbet meaning50 mil guerrilheiros do Talebã tenham sido mortos no conflito.

Porta-vozes do Talebã afirmam que não vão matar ou se vingar das pessoas que apoiaram e atuaram no regime civil que governou o Afeganistão durante a ocupação americana. Mas as memórias do períodoturn cbet meaningque o grupo islamista esteve no poder deixam margem para temer que o oposto aconteça.

Questionadoturn cbet meaningjulho, numa entrevista coletiva, se os EUA seriam responsáveis pelas mortesturn cbet meaningcivis se o Talebã ocupasse o país após a retirada das tropas, Biden respondeu:

"Não, não, não. Cabe ao povo do Afeganistão decidir que governo eles querem, não a nós impor um governo a eles."

Na mesma entrevista, Biden foi perguntado por uma jornalista afegã sobre o que ele teria a dizer às mulheres do país, que temem perder todos os direitos que conquistaram. Em resposta, o presidente americano contou que, há um tempo, visitou uma escola para meninas no Afeganistão e recebeu um apeloturn cbet meaninguma meninaturn cbet meaning14 ou 15 anos para que os EUA não deixassem o país.

Mulheres buscam refúgioturn cbet meaningmesquita

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Futuroturn cbet meaningmulheres no regime talebã é incerto. Elas temem não poder mais estudar nem trabalhar

"Vocês não podem ir embora, não podem. Eu quero ser médica e, se vocês forem embora, eu nunca vou conseguir ser médica", disse a menina, segundo o relatoturn cbet meaningBiden.

O presidente disse que o apelo foiturn cbet meaning"partir o coração" e,turn cbet meaningresposta à pergunta da jornalista, afirmou que o papel dos EUA foi cumprido ao treinar e financiar as forçasturn cbet meaningsegurança afegãs para que impedissem retrocessos.

Com o Talebã no poder, no entanto, o futuro das mulheres do país é incerto e o sonho da meninaturn cbet meaningse tornar médica parece ter se tornado distante.

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