Olimpíada1neon54Tóquio 2021: como o sexismo se reflete no controle dos uniformes das atletas:1neon54

Time1neon54handebol1neon54praia masculino e feminino da Noruega posam lado a lado para evidenciar a diferença nos uniformes - os homens usam bermuda e camiseta, as mulheres; biquíni

Crédito, Niclas Dovsjö / Norwegian Handball Federation

Legenda da foto, Uniformes dos times masculino e feminino1neon54handebol1neon54praia são bem diferentes

1neon54 "Vamos continuar a lutar, juntos, para mudar as regras1neon54vestuário, para que os atletas possam jogar com as roupas com as quais se sentem confortáveis."

Essa foi a declaração dada pela Federação Norueguesa1neon54Handebol depois que a equipe feminina da modalidade1neon54praia1neon54seu país foi multada1neon541,5 mil euros (cerca1neon54R$ 9,2 mil) ao se recusar a usar biquíni no campeonato europeu.

Um dia antes, uma atleta paralímpica que participava do campeonato inglês1neon54atletismo ouviu1neon54um funcionário da competição que suas roupas eram "curtas demais e mostravam muito".

Só que o escrutínio ao qual as atletas (e mulheres1neon54geral) são submetidas por causa do que vestem não é novidade.

Relembre, a seguir, alguns dos incidentes que acabaram virando notícia — e1neon54repercussão.

Equipe1neon54handebol1neon54praia multada por não usar biquíni

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Esse foi o caso mais recente,1neon54julho deste ano. As jogadoras da equipe norueguesa1neon54handebol1neon54praia se queixaram do biquíni usado como uniforme oficial, argumentando que ele restringia os movimentos das atletas, era desconfortável e as hiperssexualizava.

Assim, elas optaram por usar shorts na disputa contra a Espanha pela medalha1neon54bronze do campeonato europeu.

Antes da partida, a Noruega entrou1neon54contato com a Federação Internacional1neon54Handebol e pediu permissão para que suas jogadoras usassem uma alternativa ao biquíni.

O pedido não apenas foi recusado — a federação avisou ao país que a mudança configurava uma violação às regras da competição e, assim, era passível1neon54punição. Assim, quando o time optou por usar shorts durante o jogo, foi multado no equivalente a 150 euros por jogadora.

A Federação Europeia1neon54Handebol aplicou a punição sob a justificativa1neon54que a decisão da Noruega não estava "de acordo com as regras sobre uso1neon54uniformes para os atletas definidas pela Federação Internacional1neon54Handebol para o handebol1neon54praia".

A reação

Seleção norueguesa1neon54handebol1neon54praia1neon542018

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Debate sobre código1neon54vestimenta das atletas é tema1neon54debate há muito tempo

O episódio gerou uma forte reação contrária.

Muitas pessoas questionaram o fato1neon54os jogadores dos times masculinos poderem usar regatas largas e compridas e shorts que vão até próximo ao joelho, quando o mesmo direito é negado às mulheres.

"O mais importante é ter uniformes com os quais os atletas se sintam confortáveis", argumentou o chefe da Federação1neon54Handebol da Noruega, Kåre Geir Lio, que apoiou as jogadoras e afirmou que a organização arcaria com a multa.

"Em 2021, isso nem deveria ser um problema", comentou o presidente da Federação Norueguesa1neon54Vôlei, Eirik Sordahl.

Em um tuíte, o ministro da Cultura e do Esporte do país, Abid Raja, afirmou: "É completamente ridículo — uma mudança1neon54atitude é necessária na comunidade esportiva internacional machista e conservadora".

Em meio à polêmica, a cantora americana Pink se ofereceu inclusive para pagar a multa.

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Há muitos anos as atletas reclamam dessa assimetria nos esportes1neon54praia e dizem considerar o biquíni humilhante e pouco prático, do ponto1neon54vista da performance esportiva.

"Todo esporte precisa1neon54regras. O problema é quando temos um conjunto1neon54regras só para mulheres", disse à BBC a jornalista esportiva Renata Mendonça.

"Isso é sexismo na1neon54forma mais cristalina. Infelizmente, o sexismo no esporte é ainda muito recorrente e é um dos fatores que explica porque tantas atletas brilhantes abandonam suas modalidades", afirma a criadora1neon54conteúdo digital e ex-advogada Tova Leigh.

"A questão não é o short. A questão é que mesmo1neon542021 as mulheres ainda tendo que ouvir o que podem ou não podem vestir, porque os corpos das mulheres ainda são vistos como objeto para o proveito dos homens, algo sobre o que se tem direito1neon54comentar,1neon54exigir e1neon54decidir", completa.

"As mulheres no esporte muitas vezes não são levadas a sério, são tratadas como 'colírio' [por conta1neon54sua aparência], e não como as atletas profissionais que são", acrescenta Leigh, que costuma se manifestar nas redes sociais sobre o escrutínio sexista a que os corpos das mulheres são submetidos

"Não há justificativa razoável para o biquíni. O esporte não vai mudar1neon54nenhum aspecto caso as jogadoras possam jogar1neon54bermuda — se algo mudar, será o fato1neon54que elas vão se sentir mais confortáveis", concorda Mendonça.

A jornalista é cofundadora da plataforma digital Dibradoras, que visa aumentar a visibilidade das mulheres no esporte dando-lhes a exposição, segundo ela, que merecem, mas que muitas vezes não lhes é dada nas mídias convencionais.

"As competições esportivas foram concebidas para homens — esse tipo1neon54incidente deixa isso claro. Em 2021, os dirigentes1neon54organizações esportivas, geralmente homens brancos, ainda veem as atletas como um adorno, que estão ali apenas para agradar aos homens. Caberia às mulheres decidir qual é o melhor traje para elas. Mas, como são poucas as mulheres1neon54posição1neon54comando nas organizações esportivas, as vozes das atletas não são ouvidas", afirma.

Outro lado da mesma moeda

O problema enfrentado pela seleção norueguesa não é um caso isolado.

Um dia antes do anúncio da multa, a paratleta britânica Olivia Breen ficou "sem palavras" quando ouviu que deveria usar um short "mais apropriado" durante uma competição1neon54atletismo do campeonato inglês.

O comentário veio1neon54um funcionário do evento, que disse que a parte1neon54baixo do uniforme, semelhante a um biquíni, era "muito curto e mostrava demais".

A velocista e saltadora, que deve competir na Paraolimpíada1neon54Tóquio1neon54agosto, diz que1neon54intenção ao compartilhar a experiência era tentar impedir que isso acontecesse a outras pessoas.

Breen descreve1neon54roupa como a "parte1neon54baixo1neon54um biquíni1neon54cintura alta".

"Queremos ser o mais leve possível quando estamos competindo, ao mesmo tempo1neon54que nos sentimos confortáveis", disse ela à BBC.

"Eu uso isso há nove anos, nunca tive um problema."

"Esses dois exemplos podem parecer contraditórios, mas são simplesmente os dois lados da mesma moeda", pontua Leigh.

"Os corpos das mulheres são tratados e vistos como 'o problema'. Nossos corpos ou são 'inadequados' ou não são 'entretenimento suficiente'."

Competindo1neon54hijab

Egípcia Doaa Elghobashy e alemã Kira Walkenhorst se enfrentam na Olimpíada do Rio1neon542016

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Partida entre a egípcia Doaa Elghobashy e a alemã Kira Walkenhorst na Olimpíada1neon542016 gerou mais comentários sobre as ventimentas das atletas do que sobre o jogo1neon54si

Essa mesma questão emergiu1neon542016, quando uma imagem da Olimpíada do Rio passou a ser amplamente compartilhada e comentada.

Uma foto1neon54duas jogadoras1neon54vôlei1neon54praia, uma do Egito e outra da Alemanha, virou assunto não por causa1neon54suas habilidades esportivas, mas por causa1neon54seus uniformes.

Em alguns jornais, a foto foi usada para ilustrar um aparente "conflito cultural" — leitura que foi enfaticamente refutada por aqueles que argumentavam o contrário, o "poder unificador do esporte".

A egípcia Doaa Elghobashy foi a primeira jogadora olímpica1neon54vôlei1neon54praia a usar um hijab. Na época, ela comentou: "Uso o hijab há 10 anos... E isso não me afasta das coisas que adoro fazer, e o vôlei1neon54praia é uma delas".

Para muitos, a proporção tomada por uma simples foto chamou atenção para um problema antigo.

"Não importa1neon54que cultura você vem, os corpos das mulheres e a forma como esses corpos são vestidos ainda são vistos como propriedade pública — ou, mais precisamente, propriedade do patriarcado", escreveu a jornalista britânica Hannah Smith na época.

"Não importa o que você vista para praticar esportes como mulher, você sempre será julgada pelos homens que estão assistindo."

O macacão1neon54Serena Williams

Serena Williams usa seu macacão preto no torneio1neon54Roland Garros1neon542018

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Serena Williams usou macacão por razões médicas

De volta às quadras depois1neon54retornar1neon54licença-maternidade, a estrela do tênis Serena Williams dedicou seu uniforme no torneio1neon54Roland Garros1neon542018 a "todas as mães que tiveram uma gravidez difícil".

A atleta americana, que foi 23 vezes campeã do Grand Slam, disse que o "macacão" que vestiu na ocasião a fez se sentir uma "rainha1neon54Wakanda",1neon54referência ao filme Pantera Negra.

Williams descobriria depois, contudo, que não poderia mais usar a roupa na competição. Em entrevista à revista Tennis, o presidente da Federação Francesa1neon54Tênis, Bernard Giudicelli, disse que "é preciso respeitar o jogo e o lugar". "Acho que às vezes vamos longe demais", afirmou.

A tenista afirmou que o macacão a ajudou a lidar com problemas1neon54coagulação sanguínea que enfrentava na época e que quase lhe custaram a vida ao dar à luz.

Segundo a atleta, ela chegou a conversar com Giudicelli, explicou que a decisão pelo uniforme diferente "não era grande coisa". "Se eles sabem que algo é por motivo1neon54saúde, então não há como não aceitarem."

Marcando posição na Olimpíada1neon54Tóquio

Atleta alemã Pauline Schaefer-Betz competindo com collant1neon54corpo inteiro na Olimpíada1neon54Tóquio

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Atleta alemã Pauline Schaefer-Betz foi uma das que competiu com collant1neon54corpo inteiro

As ginastas alemãs usaram macacões1neon54corpo inteiro na etapa1neon54qualificação da Olimpíada1neon54Tóquio1neon54um posicionamento contra a sexualização da modalidade.

Algumas já tinham usado uniformes semelhantes no campeonato europeu no início deste ano. Na época, a ginasta Sarah Voss afirmou que ela e as colegas queriam fazer com que as jovens se sentissem seguras no esporte.

Os collants são bem diferentes daqueles tradicionalmente usados na ginástica. Até então, as únicas atletas que optavam por cobrir totalmente as pernas o faziam por motivos religiosos.

A equipe alemã usou os macacões1neon54corpo inteiro também durante os treinos na semana passada.

"Queríamos mostrar que toda mulher, todo mundo, deve decidir o que vestir", disse a ginasta Elisabeth Seitz.

A touca1neon54natação e questão racial

Nadadora britânica Alice Dearing usa touca da marca Soul Cap

Crédito, Luke Hutson-Flynn

Legenda da foto, Nadadora britânica Alice Dearing usa touca da marca Soul Cap, proibida na Olimpíada1neon54Tóquio

A fabricante1neon54toucas1neon54natação Soul Cap, cujos produtos são desenhados para cabelos com dreadlocks, afros, tramas, extensões1neon54cabelo, tranças, cabelos grossos e encaracolados, tem enfrentado resistência no mundo do esporte — mas a maré pode estar mudando.

As toucas da marca foram proibidas nos Jogos Olímpicos1neon54Tóquio, mas, após a repercussão negativa do episódio, a decisão pode ser reconsiderada para outras competições internacionais.

A Federação Internacional1neon54Natação (Fina) decidiu proibir as toucas sob o argumento1neon54que elas não seguiriam "o formato natural da cabeça". O comentário gerou uma avalanche1neon54críticas1neon54nadadores, e muitos ressaltaram que a medida poderia inclusive desencorajar atletas negros1neon54participar do esporte.

Após a reação, a Fina afirma estar "revendo a situação".

É improvável que histórias sobre atletas criticadas pelo que vestem não apareçam nas manchetes no futuro

Mas, para Leigh, o fato1neon54chamar atenção para esses casos é importante. "Temos que mostrar às meninas, desde a mais tenra idade, que o esporte é lugar1neon54mulher".

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