OlimpíadaTóquio 2021: competição começameio ao medo e revolta dos japoneses:
Segundo a mídia japonesa, entre os ausentes estará o ex-premiê Shinzo Abe, lembrado por muitos brasileiros pelo cosplay que fez do personagemvideogame Super Mario na Rio 2016 para divulgar as OlimpíadasTóquio.
Abe promoveu a campanha olímpica anunciando o renascimento do país após um longo períodoestagnação econômica, prometendo os Jogos da Reconstrução uma década depois do terremoto seguidotsunami e acidente nuclearFukushima.
Diante da pandemia e apostando no fim da crise sanitáriaum ano, ele decidiu adiar a Tokyo 2020 para o verão deste ano - e logo depois precisou renunciar ao cargo devido a problemassaúde.
A pandemia continua, mas os Jogos começaram. E poucas pessoas perceberam isso, possivelmente pela discrição com que o tema olímpico tem aparecido na imprensa.
A corridarevezamento da tocha pelas 47 províncias japonesas também perdeu força ao longo do percurso, emuitos lugares a população foi desconvidada a assistir a passagem dos corredores pela cidade para evitar o contágio pelo coronavírus.
Com o cancelamento dos eventos que costumam acompanhar uma Olimpíada, como festasconfraternização e exibição pública, o torcedor esporádicoquatro anos não encontra motivação para entrar no clima olímpico. Ele também está banidoassistir às competições, com rara exceção, como a cidadeSendai (Ibaraki) que conseguiu aprovar a presençaespectadores.
No primeiro dia aberto ao público, a arquibancada ficou menos ocupada do que poderia. A goleada brasileira por 5 a 0 sobre a China na partidafutebol feminino, disputada dia 21, foi assistida presencialmente por 3 mil pessoas, metade das 6 mil que tinham ingresso para entrar no estádio Miyagi.
Com capacidade para 49 mil pessoas, o estádio poderá receber público nos dez jogosfutebol masculino e feminino programados para o local até dia 31julho.
Desses, apenas as partidas dos dias 28 (jogos do masculino) e 31 (quartas-de-final do masculino) tiveram 10 mil ingressos liberados (máximo permitido por local).
Os organizadores não estão confiantesque a maioria dos sorteados vá usufruir do direitopertencer ao seleto grupotorcedoresuma Olimpíada quase sem público.
O medo dos japonesesse contaminar com o coronavírus parece maior do que a vontadeparticiparum evento olímpicocasa.
Tóquio encontra-seestadoemergência que vai até 22agosto, e registrou na véspera da abertura dos Jogos, mais 1.979 casosCovid-19. Esta é a primeira vez que a contagem diária chega a 1.900cercaseis meses, e não vai demorar muito para ultrapassar o recorde histórico2.520 registrado7janeiro.
O conselheiro médico do governo sobre a Covid-19, Shigeru Omi, estimou recentemente que já na primeira semanaagosto Tóquio deverá atingir a média diária3.000 casos.
A lentidão na campanhavacinação aumenta o medo e esfria ainda mais a temperatura das Olimpíadas.
O Japão enfrentaquinta ondaCovid-19 e tem índicecobertura vacinal baixocomparação com outros países desenvolvidos: 35,07% da população tomou a primeira dose e 23,11% também a segunda,acordo com dados oficiais do dia 20.
Tudo isso tem servido como argumento para vários grupos anti-olimpíadas pedirem o cancelamento dos Jogos, mesmo que seja no minuto final.
Na terça-feira, 20, um grupoacadêmicos, jornalistas e escritores entregou para o Governo MetropolitanoTóquio, petição com 140 mil assinaturas.
"É um absurdo ir adiante com as Olimpíadas nessas circunstâncias, perante um aumento da difusão do coronavírus e outros problemas", disse Chizuko Ueno, professora eméritaSociologia da UniversidadeTóquio. Feminista famosa no Japão, ela integra o grupo que vem coletando adesão online desde o dia 2julho.
Outro representante, o ex-diplomata Yutaka Iimura, disse que há dúvidas sobre a viabilidadeum jogo seguro e protegido como tem defendido o atual premiê Yoshihide Suga.
A socióloga Ueno explicou que ela pertencia à geração estudantil que culpava os pais por não pararem a guerra. "Agora podemos ser acusados pela geração mais jovemnão impedirmos esses jogos ridículos."
Segundo pesquisa recente do jornal Asahi, 68% dos entrevistados expressaram dúvidas sobre a capacidade dos organizadores das Olimpíadascontrolar o contágio por coronavírus, e 55% disseram ser contrários à realização dos Jogos.
Para o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, na vida não existe risco zero.
"Só existe risco maior ou risco menor", disse na quarta-feira, ao elogiar o protocolo adotado pelos organizadores dos Jogos e emitir votoconfiança no sucesso do evento. Porém, o número crescentecasosCovid-19 destoa do tom otimista do dirigente da OMS.
A equipeginástica dos Estados Unidos - integrada pela campeã Simone Biles - decidiu trocar a Vila Olímpica por um hotel nas proximidades, na tentativaevitar o coronavírus.
Desde 1ºjulho e até a véspera da abertura dos Jogos, já eram 91 pessoas envolvidas no evento, entre atletas, integrantescomissões técnicas, dirigentes, funcionários e jornalistas, testadas positivo para Covid-19.
Os casos mais recentes são do mesatenista tcheco Pavel Sirucek e da skatista holandesa Candy Jacobs. "Estou com o coração partido", disse a atleta empostagem.
Outros atletas olímpicos testaram positivo anteschegar ao Japão. A atiradora da Grã-Bretanha, Amber Hill, ranqueada como a número 1 do skeet feminino e a tenista americana Cori Gauff são parte dessa lista que não paracrescer.
Se a cada dia os Jogos perdem estrelas,compensação ganhamescândalos e constrangimentos.
Um dia antes da abertura, os organizadores dos Jogos demitiram Kentaro Kobayashi, um dos diretores da cerimônia, por declarações antissemitas feitas quando integrava uma duplacomediantes na década1990.
O Comitê Organizador só soube do episódio após uma organização internacional judaicadireitos humanos ter divulgado uma declaração condenando o comportamento anterior do compositor japonês.
"Qualquer vínculo desta pessoa com a OlimpíadaTóquio seria um insulto à memóriaseis milhõesjudeus", disse o rabino Abraham Cooper.
Dias antes, a organização da Tokyo 2020 tinha decidido não utilizar uma música composta por Keigo Oyamada para a cerimôniaabertura, após fortes críticas ao compositor por praticar bullying contra colegas com deficiência quando estudante.
Esses episódios são sequênciaoutros escândalos que vêm desde que o Japão iniciou os preparativos dos Jogos.
Apesar do pessimismo no entorno, a japonesa Erina Shirahama torce para verTóquio um pouco do que presenciou quando esteve na Rio-2016.
Ela trabalhou como tradutora para uma emissoratevê japonesa, e se recorda da animação da torcida e da expectativa que havia na épocamanter esse clima clima com os Jogos "From Rio to Tokyo" (do Rio para Tóquio).
Apesar dos riscos, e se tiver que acontecer, acredita que pode haver méritos na Olimpíadaplena pandemia. "As pessoas se encontram presascasa, desanimadas e preocupadas, e isso pode ser revertido através do esporte. Ele transmite uma energia difícildescreverpalavras,"
Muitos japoneses ainda se recordam, emocionados, da cenaque Yoshinori Sakai, nascido no dia do bombardeio atômicoHiroshima (6agosto1945), entra no estádio levando a tocha até a pira olímpica na Olimpíada1964.
A Tóquio 2020 parece estar muito longeprovocar uma emoção nessas proporções, e mais aindaconseguir a audiência como a alcançada naquela cerimôniaabertura57 anos atrás, acompanhada por 87,4% dos televisores existentes na época.
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