As diferenças entre o comunismo da China, da União Soviética e da América Latina:

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Legenda da foto, Em 1ºoutubro1949, Mao Tse-Tung estabeleceu a República Popular da China, com base nas teoriasMarx e Lenin

Porvez, o Partido Comunista Chinês resolveu suas divisões internas sobre como responder aos protestos domésticos, com o triunfo da ala linha-dura, e o massacremanifestantes que se seguiuTiananmen abalou o mundo.

Nesta quinta-feira (1/7), o Partido Comunista Chinês comemora seu centenáriofundação,1921, consolidando-se como um dos partidos políticos mais poderosos do planeta, com uma influência que chega até à América Latina.

Longeconsiderar esse resultado fortuito, diferenças cruciais entre o comunismo chinês e o soviético explicam por que um permanece no poder enquanto o outro desapareceu.

"O interessante é que, embora os sistemas soviético e chinês tenham adotado a forma do partido leninista como principal veículo político, na URSS, isso levou à atrofia e à esclerose, enquanto na China continua sendo uma organização adaptável e flexível", diz Anthony Saich, professorRelações Internacionais da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

'Reinvente-se para sobreviver'

Apósfundação e até assumir o poder sob a liderançaMao Tse-Tung, o partido desenvolveu uma revolução local com características próprias por quase três décadas.

Saich, autorDe rebelde a governante: 100 anos do Partido Comunista Chinês, observa que isso deu ao grupo experiêncialidar com diferentes ambientes antesexercer o poder e representa uma grande diferençarelação aos comunistas soviéticos.

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Legenda da foto, O maoísmo promoveu uma pregação beligerante contra o Ocidente

Depois disso, a República Popular da China passou por vários estágios, desde "O Grande Salto À Frente" para industrializar a economia até a "Revolução Cultural" para eliminar os rivais políticos.

Milhõespessoas morreram nesses períodos, principalmentefome, após a escassezalimentos entre 1959 e 1961, mas também como resultado da perseguição política desencadeada1965.

No entanto, Saich enfatiza que o partido "foi capazse reinventar para sobreviver àqueles traumas que teriam derrubado quase qualquer outro partido" e, então, provou "ser muito flexível desde 1978", com a reforma e abertura promovidas por seu líder Deng Xiaoping.

Para ele, esse pragmatismo chinês marcou outra diferença com a URSS, que já havia alcançado uma maior industrialização quando entrouapuros e a "esclerose" do sistema atrapalhou as reformas econômicasGorbachev.

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Legenda da foto, Mikhail Gorbachev visitou a Chinauma época desafiadora para ambos os Estados comunistas

Mario Esteban, pesquisador do Instituto Real Elcano, na Espanha, explica que, depois das mudanças implementadas por Deng, o partido chinês combinou a manutençãoum regimepartido-Estado com o capitalismoEstado.

"O sistema capitalista na China teve ou tem muito mais peso do que jamais teve na URSS", diz Esteban, que também é professorEstudos do Leste Asiático na Universidade AutônomaMadri.

O progresso econômico das últimas décadas permitiu que a China melhorasse a qualidadevidasua população e que o Partido Comunista Chinês evitasse novos protestos como osTiananmen, mesmo sem implementar reformas democráticas como fez Gorbachev.

Recentemente, o atual presidente chinês, Xi Jinping, deixou claro que está determinado a manter o poder do partido, sem dar espaço para opiniões divergentes, assim como fez a URSS duranteexistência.

O paradoxo latino-americano

Outra diferença que Esteban destaca entre o comunismo chinês e o soviético é que a revolução maoísta foi baseada mais nos camponeses do que a revolução russa,que o proletariado industrial era a chave.

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Legenda da foto, Mao baseou seu apoio popular no campesinato chinês

Por outro lado, após chegar ao poder, o Maoísmo promoveu uma pregação mais beligerante contra o Ocidente do que a URSS, que defendia uma "coexistência pacífica" na Guerra Fria, um dos fatores por trás da ruptura sino-soviética na década1960.

Tanto o caráter rural da revolução maoísta quanto a atitude combativaseu líder para com o mundo capitalista fizeram com que alguns esquerdistas na América Latina vissem a China como um modelo.

De fato, na década1960, surgiram partidos comunistas "pró-chineses" no Brasil, na Bolívia etodos os países da costa sul-americana do Pacífico.

Marisela Connelly, especialistaHistória Chinesa do ColegioMéxico que estudou esse fenômeno, argumenta que os países da região que mais foram influenciados pelo maoísmo são a Colômbia e o Peru, onde grupos com essa tendência política, como o ExércitoLibertação Popular e Sendero Luminoso, praticaram a luta armada por décadas.

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Legenda da foto, Durante a presidênciaXi Jinping, a China ampliouinfluência na América Latina

Durante a Guerra Fria, explica Connelly, a China deu às organizações da América Latina alinhadas com seu partido comunista apoio ideológico, cooperação agrícola e,alguns casos, treinamentoguerrilha.

Mas a influência do partido chinês era muito maioroutras regiões, começando com o sudeste da Ásia, e nenhum grupo maoísta latino-americano chegou ao poder ou esteve pertoconseguir isso.

Por outro lado, sem ser vista como um modelo ideológico ou revolucionário, nos últimos 20 anos, a China alcançou uma influência sem precedentes na América Latina com seu crescente poder econômico, tornando-se um importante parceiro comercial e financeiro da região.

"O interessante também é que agora sim os países latino-americanos estão vendo a China como um modelo, apesar da relação econômica assimétrica", argumenta Connelly."É como outro paradoxo da história."

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