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Discutir conflito entre 'saúde e economia' não faz sentido para governos, avalia economista:g1 casa de apostas
Não é, no entanto, uma dicotomia para os governos, segundo Ferreira, que foi diretorg1 casa de apostasPolítica para Desenvolvimento do Banco Mundial, onde atuou por maisg1 casa de apostas20 anos.
"Acho interessante essa questão do trade-off (conflitog1 casa de apostasescolha) entre o econômico e o sanitário porque acho que ele existe do pontog1 casa de apostasvista individual. O indivíduo que tinha que tomar decisãog1 casa de apostassair como trabalhador informal ou ficarg1 casa de apostascasa, aquela pessoag1 casa de apostasfato vivia um dilema entre protegerg1 casa de apostassaúde e botar comida na mesa", disse Ferreira,g1 casa de apostasentrevista à BBC News Brasil.
Do pontog1 casa de apostasvista do governo — ou seja, que deve estar pensando na sociedade como um todo —, ele diz que parece não ter havido esse dilema.
"As contrações econômicas foram maiores para os países que tiveram maior mortalidade per capita. Ou seja, as taxasg1 casa de apostasmortalidade e as taxasg1 casa de apostascontração da economia estão positivamente correlacionadas, e não negativamente: os países que perderam mais economicamente foram os mesmos que perderam maisg1 casa de apostastermosg1 casa de apostasmortalidade, na média."
Com outros três economistas, vinculados ao Banco Mundial e à Universidadeg1 casa de apostasOxford, Ferreira elaborou um estudo que analisa a quantidadeg1 casa de apostasanos perdidos para a mortalidade prematura e a quantidadeg1 casa de apostasanos passados na pobreza devido à pandemia, procurando padrõesg1 casa de apostascomo isso aconteceu nos diferentes gruposg1 casa de apostaspaíses.
A estimativa ég1 casa de apostasque, até dezembrog1 casa de apostas2020, quase 20 milhõesg1 casa de apostasanosg1 casa de apostasvida foram perdidos para a covid-19 no mundo. Esse tipog1 casa de apostascálculo é feito considerando a chamada expectativag1 casa de apostassobrevida (ou seja, a quantidadeg1 casa de apostasanos a mais que se espera que viva uma pessoa que já alcançou uma determinada idade).
Além disso, no mesmo período, pela definição mais conservadora, a pandemia foi responsável por maisg1 casa de apostas120 milhõesg1 casa de apostasanos adicionais na pobreza, segundo o artigo.
O estudo, ainda inédito, atualiza resultados encontrados pela equipeg1 casa de apostasartigo publicado no site do Banco Mundialg1 casa de apostasmeadosg1 casa de apostas2020.
"O que aprendemos (sobre lockdown) é que o importante era agir rápido, forte e cedo. Como a Coreia fez, que conseguiu bloquear cedo. Essa era a resposta fundamental. No pontog1 casa de apostasque a coisa escapa e se dissemina pelo país, meio que o lockdown ou não lockdown acabam, parece,g1 casa de apostastermos econômicos, fazendo menos diferença do que você imaginaria. Em termosg1 casa de apostassaúde, obviamente o lockdown ajuda, desde que seja cumprido."
Questionado se o Brasil teria tido condiçõesg1 casa de apostasagir rápido, o economista diz que o problema no Brasil foig1 casa de apostascondução política e cita "a ausênciag1 casa de apostasvontade eg1 casa de apostasdecisão política do governo Bolsonaro para agir".
Neste domingo (21/3), no Brasil, maisg1 casa de apostas200 economistas, banqueiros, empresários e ex-autoridades do setor público assinaram uma carta aberta com críticas à atuação ao governo Bolsonaro na pandemia, cobraram mais vacinas, máscaras gratuitas e medidasg1 casa de apostasdistanciamento social e refutaram o "falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável".
Auxílio emergencial
Em relação ao combate à pobreza, Ferreira, que participou da elaboração do Bolsa Família, destaca a importância do pagamento do auxílio emergencial no Brasilg1 casa de apostas2020 e defende uma discussão sobre como será feita uma transiçãog1 casa de apostaspolítica emergencial para "um sistema mais permanenteg1 casa de apostasproteção social".
"Não pode ficar acumulando um benefíciog1 casa de apostascima do outro sem considerar os incentivos que isso gera. Precisa fazer um redesenhog1 casa de apostasforma coerente."
O professor da LSE diz que retomar o pagamento do auxílio emergencial é "fazer a coisa certa" e aponta os riscosg1 casa de apostasa medida ser usadag1 casa de apostasforma política.
"Devemos continuar exigindo que o governo faça essas transferências, porque é certo, mas o ideal seria o governo e a imprensa não permitirem que uma pessoa — o presidente Bolsonaro ou seja lá quem for — use aquilog1 casa de apostasforma populista e eleitoreira, no sentidog1 casa de apostasdizer que tudo é mérito dele. Isso tem que ser evitado. Agora, é uma coisa difícilg1 casa de apostasevitar. Populistas,g1 casa de apostasquaisquer países, ricos ou pobres, tentam se beneficiar dessas políticasg1 casa de apostasmaneira eleitoral. É um risco."
E o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se beneficiou politicamente por ter lançado o Bolsa Família, até hoje símbolo da gestão petista?
"O Lula também se beneficiou eleitoralmenteg1 casa de apostascriar programasg1 casa de apostastransferência, com certeza. E na época eu dizia exatamente isso que estou dizendo agora. As pessoas diziam ´ah, esse Bolsa Família é só uma política populista para beneficiar o Lula´. E eu dizia: beneficia o Lula, mas beneficia porque ele está fazendo a coisa certa. No caso agora, o Bolsonaro também. Minha opinião dos dois é diferente, mas se ele tiver fazendo a coisa certa, aquilo vai beneficiá-lo eleitoralmente, é inevitável."
Importância do Estado
No início da pandemia, apesarg1 casa de apostastodos os efeitos ruins, Ferreira considerou que a situação poderia representar uma oportunidade para repensar o contrato social estruturalmente desigual na América Latina.
Agora, questionado sobre o tema, ele diz que "a vontade sempre é falar da oportunidade perdida", mas considera que houve,g1 casa de apostasmenor grau do que ele desejaria, "um movimento na direçãog1 casa de apostascompreender melhor a importância do Estado como instrumento para gerir risco e para gerir choques desse tipo".
Como exemplo deste fenômenog1 casa de apostasoutros países, Ferreira cita o estímulo fiscalg1 casa de apostasUS$ 1,9 trilhão do governo dos Estados Unidos como um movimentog1 casa de apostasampliar a importância do Estado como distribuidor.
"Chamar issog1 casa de apostasrenegociação do contrato social pode ser um pouco otimista, mas vai na direçãog1 casa de apostasuma compreensãog1 casa de apostasque as pessoas e os mercados, sozinhos, não conseguem lidar com crise dessa magnitude. Grandes crises, grandes choques exógenos como esses requerem uma agregaçãog1 casa de apostasrisco que é o que o Estado pode fazer", disse.
No Brasil, segundo ele, o auxílio emergencial foi nessa direção e "trouxe todo um debateg1 casa de apostasrenda mínima" que estava esquecido.
Novas e velhas desigualdades
Sobre a tão falada frase da pandemia — "estamos todos no mesmo barco" —, Ferreira aponta que é um mito ("porque a pandemia claramente cria e exacerba desigualdades"). Mas, ao mesmo tempo, diz que "enfatizar isso talvez possa ser parte do esforçog1 casa de apostasmudar aquele contrato social,g1 casa de apostasdizer: olha, deveríamos estar todos no mesmo barco".
"É uma frase normativa: nós deveríamos estar indo nessa direção."
Na prática, o que acontece, segundo Ferreira, é um mistog1 casa de apostasnovas desigualdades com reforço das já existentes.
"A pandemia cria desigualdade no sentidog1 casa de apostasque traz grande recessão, então os jovens que estão se formando e entram no mercadog1 casa de apostastrabalhog1 casa de apostasum período desse, as consequências disso vão segui-los ao longog1 casa de apostasmuito tempo. Sabemos disso por estudos anteriores. Essa é uma desigualdade que não existia, entre a pessoa que se formoug1 casa de apostas2019 e a que se formoug1 casa de apostas2020."
O pior, no entanto, está no reforçog1 casa de apostasdesigualdades que já existem, segundo ele — como o abismo entre a criança que estudag1 casa de apostasuma boa escola privada e a que ia para uma escola pública mediana. Ou no mercadog1 casa de apostastrabalho, entre o trabalhador com maior escolaridade e maior rendimento que pode continuar trabalhandog1 casa de apostascasa e o trabalhador que precisa sairg1 casa de apostascasa, que sofre tanto o riscog1 casa de apostascontágio maior, quanto a chanceg1 casa de apostasver mais vagasg1 casa de apostastrabalho fecharem, o que tende a gerar redução no salário.
E existe uma geração mais prejudicada?
"É difícil dizer, porque a pandemia afeta faixas etárias diferentesg1 casa de apostasmaneiras diferentes. Os mais velhos são os que mais sofremg1 casa de apostastermosg1 casa de apostasriscog1 casa de apostasmortalidade. Em termosg1 casa de apostasperdag1 casa de apostasrenda, é pior para quem está no mercadog1 casa de apostastrabalho. Em termosg1 casa de apostasrendimento futuro, é pior para crianças pelo efeito que está tendo na escolaridade e na evasão escolar."
O que ele diz é que, considerando mercadog1 casa de apostastrabalho e escolaridade, o principal efeito da pandemia vai será sentido no futuro, com o que está acontecendo com escolaridade infantil. "A quantidade e seriedade dessa perda a gente ainda não está quantificando."
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