A históriaamor 'não tão romântica' entre Napoleão e Josefina:
Mas a realidade é que a união foi apaixonada por um breve período e logo se tornou tempestuosa e terrível.
Início do romance
Tudo começou no outono1795, quando Napoleão foi convidado para uma festa oferecida por Paul Barras, um dos membros mais efetivos do Diretório, formagoverno adotada durante a Revolução Francesa.
"Barras era bissexual, esperto, corrupto, libertino e notório", descreve o escritor Xavier Roca-Ferrer, que traduziu para o espanhol o livro As guerras privadas do clã Bonaparte (sem versãoportuguês), obra que reúne as memóriasMadameReìmusat, companheira da Imperatriz Josefina que ganhou a amizadeNapoleão.
Ao fazer o convite para a festa, Barras queria colocar o talento indubitávelNapoleão a seu serviço.
"Naquela época, Barras tinha entre suas amantes (alémsua jovem secretária) a viscondessaBeauharnais, que já tinha se relacionado com outros homens daquele meio, entre os quais se destaca o prestigioso general Hoche", revela Roca-Ferrer.
Josefina tinha passado maus bocados durante o Terror, a fase sangrenta que marcou a Revolução Francesa entre os anos1793 e 1794.
Seu marido havia sido guilhotinado e ela estava prestes a perder a própria cabeça também. Mas a viscondessa conseguiu sair da prisão antesser executada.
Agora livre, ela logo se tornou "rainha" da sociedade parisienseparceria comamiga íntima, a espanhola Teresa Cabarrús, mais conhecida como Madame Tallien.
"Elas começaram a criar tendênciasmoda nas roupas que usavam e tomaram atitudes que modificavam até questões sexuais", explica Roca-Ferrer.
Napoleão ficou completamente deslumbrado com Josefina assim que a viu.
"Barras, naquela época apaixonado por um menino que se afogaria no rio Sena meses depois, queria se livrarsua amante para se concentrar emnova paixão. Assim, ele 'deu' a viscondessaBeauharnais ao pequeno general, que a aceitoubom grado porque ele já a amava ao ponto da obsessão", completa o escritor.
Resultado: apenas seis meses após o encontro, Napoleão e Josefina marcaram o casamento civil para o dia 9março1796.
Na certidãocasamento, os dois mentiram sobreidade: ela subtraiu quatro anos, enquanto ele acrescentou um.
Cartasamor
"No início, Napoleão estava perdidamente apaixonado por Josefina, não há dúvida disso", diz o historiador e jornalista Ángeles Caso, encarregadocompilar e traduzir para o espanhol a enorme correspondência que o casal imperial trocou ao longo13 anosrelacionamento.
"As cartas que ele escreveu para ela tinham um importante conteúdo erótico, ele estava morrendopaixão e desejo por ela. Mas, depois dos anos, aquele fervor e fascínio não só acabou, como Napoleão passou a tratar Josefina muito mal", acrescenta.
"Quanto a Josefina, acho que ela nunca correspondeu a Napoleão, pelo menos não da mesma forma. Ela nunca viveu aquela paixão absoluta que ele sentia", observa.
A verdade é que ambos eram muito diferentes.
O general era um homem culto, enquanto Josefina (nascidauma famíliacolonosMartinica, uma ilha caribenha que pertence à França) nunca foi vista com um livro nas mãos, segundo as memóriasMadameRémusat,.
"Desde a infância ela era caracterizada como uma 'estrangeira rica perfeita': preguiçosa, sensual, caprichosa e profundamente rebelde, algo que acabou deixando Bonaparte desesperado. De resto, o hábitocomer xaropecana estragou seus dentes, característica que ela sempre tentava disfarçar colocando xales e leques na altura do rosto e dando um meio sorriso muito especial", enfatiza Roca-Ferrer.
Viagens e infidelidades
Poucos dias depois do casamento, Napoleão partiu para a Itália. Muito apaixonado, ele escrevia a Josefina diariamente, às vezes até duas vezes por dia, enchendo suas cartas com declaraçõesamor extasiadas.
Mas Josefina logo voltou àvida social agitada e continuou a ter amantes, embora nas cartas ao marido fingisse ter muitas saudades dele.
"Para justificar que não ia à Itália para fazer companhia como ele pediu, Josefina inventou uma gravidez e um aborto enquanto continuava a 'apanhar' garanhões famintos nas festasBarras", explica Roca-Ferrer.
"Para controlá-la, Bonaparte mandou umseus oficiais (Murat, seu futuro cunhado) a Paris com a ordemzelar pelo bem-estarsua esposa. Por fim, atendendo às exigênciasBarras, Josefina foi à Itália para impedir que o general deixasse o exército e voltasse à França. Mesmo assim, ela foi acompanhada por umseus favoritos, um jovem oficial chamado Hippolyte Charles."
Depois que o trabalho na Itália acabou, os dois voltaram para Paris.
Mas assim que uma nova campanha no Egito começou e Napoleão precisou marchar novamente, desta vez para a terra dos faraós, ela voltou aos seus velhos hábitos, voltando-se para seu amado Charles.
Desta vez, a separação durou 13 meses.
"Um dia,julho1798, enquanto se dirigiam ao Cairo sob um sol escaldante, seu amigo e agora brigadeiro Junot revelou a Bonaparte as infidelidades públicassua amada e lhe falou sobre Charles", conta Roca-Ferrer.
De acordo com Bourrienne, o secretário particularNapoleão, o general empalideceu como um moribundo com a notícia: "Suas feições se convulsionaram, uma expressão selvagem apareceuseus olhos e ele começou a bater na cabeça com os punhos", descreve.
Cheiofúria, ele investiu contra Bourrienne e Junot por não o terem informado antes.
A notícia das infidelidadesJosefina destruiuuma vez por todas a paixão que Bonaparte sentia por ela.
"Josefina também não era apenas infiel, mas também desleal. Pelas costasNapoleão, sem que ele soubesse, ela começou a se associar a negócios duvidosos. Entre esses empreendimentos estava a vendasapatosmuito mau estado para o exército ou o fornecimentocomidapéssima qualidade aos combatentes. Isso significava um risco à vida dos soldados e do próprio marido, mas rendia muito dinheiro", analisa Caso.
Casamento por conveniência
Quando Josefina descobriu que o marido sabia tudo sobre as suas infidelidades e estava prestes a retornar a Paris, entroupânico.
Ela foi ao porto encontrá-lo na companhiaHortensia, filha do casamento anterior que tinha uma ótima relação com Napoleão.
Mas o general desembarcououtro lugar e se trancouseu escritório antesfalar com a família.
Curiosamente, a partir desse momento, Josefina começou a amar profundamente Napoleão.
Mas era tarde demais: Hortensia atirou-se aos pés do padrasto pedindo perdão pela mãe.
Para espantotodos os que o conheciam, Napoleão abandonou a ideia do divórcio e não puniu ninguém, mas disse a Josefina que a traição havia matado seu coração e ele nunca mais seria capazamar.
"À medida que Napoleão se afastava, Josefina ficou loucaciúme. Não por amor, mas porque viuposição social abalada", diz Caso.
Eles continuaram a se comportar como marido e mulher para terceiros, mas a partirentão Napoleão deixouser um marido fiel.
A situação mudou completamente: ela se tornou uma esposa devotada e leal enquanto ele a traía. "O marido passou a maltratá-la, verbalmente e também fisicamente. Há testemunhos que revelam como pelo menos uma vez ele bateu nela", informa Caso.
O casal dormiaquartos separados, embora ele visitasse Josefina algumas noites quando tinha insônia e "precisava suar", segundo as memóriasMadameRémusat.
Quando Napoleão se tornou imperador dos francesesdezembro1805, ele coroou Josefina como imperatriz na presença do Papa.
Ela aproveitou a presença do pontífice para também se casar pela Igreja, sugestão que foi prontamente acatada pelo esposo.
"Napoleão continuou com Josefina porque o casamento o interessava do pontovista social, especialmente depois que ele foi coroado imperador", interpreta Caso.
Além disso, Josefina sabia muito bem o que significava ser imperatriz
A romancista Sandra Gulland, autoraJosefina Bonaparte: Sonhos e Confidências da Jovem Josefina (sem versãoportuguês) escreve: "Embora bastante inteligente, ela não tinha realmente um grande intelecto. Porém,alguma forma sabia como ser uma imperatriz".
O divórcio
Napoleão queria um herdeiro e Josefina nunca lhe deu um.
Então, no dia 14dezembro1809, ele se divorciou dela. A essa altura, o relacionamento entre os dois já estava completamente desgastado.
Mesmo assim, ele deixou Josefina com o títuloimperatriz e com boas condiçõesvida.
"Em parte, isso deveu ao respeito porprópria dignidade imperial e porque naquele momento final ele sentiu um certo carinho por ela", opina Caso.
Em 1810, após o desquite, Napoleão casou-se com Maria Luisa da Áustria, com quem teve um filho: Napoleão Francisco Carlos José, que seria intitulado reiRoma.
"A lendaque Napoleão e Josefina tiveram um amor apaixonado do começo ao fim não é verdade. Ele era um psicopata e ela gastava fortunasroupas, joias e na decoraçãoseus palácios", garante Caso
"Ela também foi uma mulher sem nenhuma ética, que construiu seu destino na cama dos homens. Mas posso entendê-la, já que naquela época a mulher não tinha possibilidadesdesenvolvimento pessoal ou profissionalforma independente", interpreta o historiador.
"Josefina foi uma mulher que usou o seu físico, aelegância e o seu charme para sobreviver primeiro, e depois manter uma posição social", completa.
Mas por que então se considera seu relacionamento com Napoleão como um dos grandes casosamor da história?
"Porque o destinoNapoleão parece estar ligadouma forma estranha ao seu casamento com Josefina", responde Caso.
"Antes do casamento, ele não passavaum general sem destino. É justamente após o matrimônio que começam as suas grandes vitórias. Assim que o imperador se divorcia para se casar com Maria Luisa, suas derrotas voltam a aparecer", continua.
"É como se Josefina, apesartoda frivolidade e deslealdade, fosse uma espécieamuleto para ele. E, claro, todo mundo gostalendasamor, mesmo que elas sejam falsas", completa.
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