O planoNicolás Maduro para pegar carona nos dólares que circulam contra hiperinflação:

Nicolás Maduro, um homem venezuelano com bigode e cabelos pretos curtos o dedo estirado,terno,frente à bandeira da Venezuela

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O governoNicolás Maduro mudouatituderelação ao dólar

A Venezuela sofre com a hiperinflação e a constante perdavalor do bolívar, a moeda nacional. Isso tem agravado os efeitos da crise econômica para a população, que busca cada vez mais o dólar e outras moedas como alternativa.

Imagemuma notadinheiro venezuelana

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A moeda da Venezuela tem sofrido forte desvalorização

Qual é o novo sistema?

"Na realidade, o governo está apenas reconhecendo uma prática que já existia para lhe dar um marco legal mais estável", afirma Luis Vicente León, da consultoria Datanálisis, à BBC News Mundo, o serviçoespanhol da BBC.

Diante do crescente fluxotransaçõesdólares, muitas empresas enfrentaram o problemaonde depositar o valor. Os bancos começaram no ano passado a oferecer as chamadas contascustódia, com as quais ofereciam a possibilidadeguardar o dinheiroseus cofres, mas não operar com ele.

Para empresas como supermercadosCaracas, que faturam grandes quantiasdólares todos os dias, esta foi uma solução parcial para colocar seus lucroslugar seguro.

E os bancos venezuelanos conseguiram criar mecanismos que contornaram as restrições legais e permitiram que esses dólares fossem usados ​​como garantia nas transações.

A novidade é que agora empresas e pessoas físicas poderão começar a usar esses dólares para adquirir bens e serviços por meios eletrônicos comunspagamento, como cartõesdébito.

Henkel García, especialista da firma Econométrica, explica: "Na verdade, o que está por trás disso é uma operaçãocâmbio. O banco desconta do usuário os dólares emconta e dá ao comerciante o equivalentebolívaresacordo com o câmbio do dia "

Segundo Luís Vicente León, "este sistema facilitará as transações, pois facilitará os pagamentos".

Na verdade, pagar por qualquer coisa costuma ser uma tarefa complicada no país. As notasbolívares estãofalta há anos, e as falhas no fornecimentoenergia e nas comunicações muitas vezes tornam os terminaispagamento eletrônico inutilizáveis.

Apesarhaver cada vez mais dólares, quase não há notas pequenas nesta moeda, o que muitas vezes dificulta o pagamento do valor exato com ela.

PEssoas carregando caixasbicicletas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Muitos dos dólares que chegam no país entram por meio do mercado ilegal

A mudança resolve os problemas?

"Ao facilitar as transações, o governo busca reativar a economia", diz Henkel García.

León aponta outro ponto-chave: "Como muitas operações agora se tornarão formais, o governo aumentaráarrecadação tributária".

"O governo não teve escolha, pois ao obrigar as pessoas a usarem o bolívar, a única coisa que causava era um crescente mercado clandestinodólares", acrescenta León.

Autorizar os bancos a operar com dólares e outras moedas representa mais um passo na linhaabertura que o governo venezuelano parece seguir nos últimos meses, divergindo um poucosua política estatista erestrições à atividade privada.

Maduro promoveu recentemente a chamada "Lei Antibloqueio", com a qual pretende atrair investidores internacionais para impulsionar uma economia que perdeu mais da metade do seu valor desde que ele assumiu o poder. O país sofre bloqueios econômicos internacionais desde 2014.

No fimjaneiro, Jorge Rodríguez, considerado um dos dirigentes mais influentes do chavismo, se reuniu com os dirigentes da Fedecámaras, maior organizaçãoempresários do país, com a qual o governo tradicionalmente mantinha relações conflituosas.

León afirma que "a economia está se abrindo, não porque o governo mudoufilosofia, mas porque perdeu a capacidadecontrolar".

"Antes ele era donotodos os dólares que entravam no país e tinha recursos para competir com o setor privado. Mas as sanções dos EUA deixavam o Estado sem acesso à moeda e sem poder operar no mercado internacional. Então agora o setor privado é a única coisa que resta para garantir o abastecimento do país."

Analistas destacam que, com o novo sistema, o governo busca reduzir os obstáculos à circulação do dinheiro, mas os obstáculos continuarão a ser muitos.

Coisas comunsoutros países, como transferir dólaresum banco para outro, ainda serão impossíveis.

"Isso exigiria a participaçãoum banco central como fiador desse sistema e o Banco Central da Venezuela está impedidodesempenhar esse papel por sanções internacionais", afirma Henkel García.

E a Superintendência das Instituições do Setor Bancário (Sudeban) venezuelana determinou que os bancos estão proibidosconceder empréstimosmoeda estrangeira e lembrou que as entidades precisamautorização prévia para suas operações, o que parece limitar o alcance dos anúnciosMaduro.

Em todo caso, alertam os especialistas, quem não se beneficiará das vantagens potenciais do novo sistema serão os muitos venezuelanos que só têm rendabolívares, setor majoritário e desfavorecido da população.

Pessoas fazem filaum caixasupermercadoCaracas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Muitos mercados recebem pagamentosnotasdólar

Mudançatom no governo

O governoNicolás Maduro por anos proibiu o uso do dólar, que considerava uma moeda "criminosa" que o "império" dos EUA usava em"guerra econômica" contra a Venezuela.

Mas Maduro agora se refere a ele como uma "válvulasegurança" para a economia.

O fim do controle cambialvigor no país há anos tornou a taxacâmbio do mercado paralelo muito semelhante à do mercado oficial.

Ainda assim, Henkel García acredita que quem tem acesso a dólares "tem pouco incentivo para depositar suas economiasum sistema controlado por um governo que não inspira confiança".

"Os dólares que entrarem no sistema serão o mínimo necessário para as transações, mas as pessoas que conseguirem continuarão a poupar no estrangeiro ou ficarão com o dinheirocasa".

A escassez dos cofresum Estado esgotado por anospolíticas ineficientes e pelas sanções dos EUA fazem as pessoas ficarem cautelosas.

"Não parece provável neste momento, mas os governos latino-americanos sempre foram tentados a recorrer a um confisco", afirma Garcia.

Línea

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