Trumpfimmandato: qual a posição dos militares nos EUA nesse momento excepcional no país:

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Legenda da foto, A Guarda Nacional estáalerta máximo para a posseBiden

Analistas asseguram que se tratauma mensagem inusitada dos dirigentes dos ramos militares do Exército, embora esteja no contexto do climatensão no país.

"Estamos vivendo um momento excepcional e este é um teste", disse o general aposentado Dana Pittard à BBC News Mundo, serviçonotíciasespanhol da BBC.

"Nossa república está passando por um momento perigoso. O que o Estado-Maior diz não é excepcional: basicamente repete seu juramento à Constituição", diz Peter Feaver, professorCiência Política na Duke University e especialistadefesa.

"Mas o que é excepcional é que eles sentem a necessidadedizê-lo e que as tropas precisam ser lembradas disso", acrescenta o autor do livro Armed Servants: Agency, Oversight, and Civil-Military Relations ("Funcionários públicos armados: ação, supervisão e relações cívico-militares").

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Legenda da foto, A Guarda Nacional protegeu o Congresso durante a abertura do processoimpeachmentDonald Trump

MilharespartidáriosTrump invadiram o Congresso6janeiro, quando a vitóriaJoe Biden nas eleições presidenciais3novembro foi certificada.

A agressãocidadãos que acreditam — como afirma Trump — que houve fraude nas eleições resultou na mortecinco pessoas.

Nesta semana, Trump, que deixará ao poder20janeiro, se tornou o primeiro presidente da história dos EUA a ser submetido a um segundo processoimpeachment.

Neste último julgamento, ele é acusado"incitar a insurreição".

Silêncio rompido

Uma semana depois dos acontecimentos, o Exército rompeu o silêncio.

O secretárioDefesaexercício, Chris Miller, já havia condenado o ataque na semana passada, mas o presidente do Estado-Maior, general Mark Milley, ainda não havia se pronunciado.

E,acordo com a Reuters, ele não fez isso porque queria ficar longe da política. Segundo a mídia local, muitos soldados expressaramparticularpreocupação com a faltaliderança após o que muitos consideram um ataque à democracia.

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Legenda da foto, Mark Milley é o chefe do Estado-Maior dos EUA

O silêncioMilley contrasta com outro episódioque ele parecia estar ao ladoTrump. Foijunho do ano passado, quando Milley apareceuuma caminhada com Trump logo depois que a Guarda Nacional e policiais dispersaram um grupomanifestantes pacíficos perto da Casa Branca,um protesto contra a morte do afro-americano George Floyd.

Agora, com o Exércitovolta aos holofotes após o ataque ao Capitólio, Milley e o resto do alto comando militar consideraram importante fazer um lembrete sobre o papel das forças.

"O direito à liberdadeexpressão e reunião não dá a ninguém o (direito)recorrer à violência, sedição e insurreição", diz a circular divulgada no começo da semana.

O Pentágono está trabalhando com o FBI para ver se há membros ativos do Exército entre os invasores do Capitólio, e também para descobrir se algum dos 10 mil membros da Guarda Nacional que irão reforçar a posseBiden no dia 20 precisa ser investigado.

"O Exército é um reflexo da sociedade a que serve e, portanto, existem crenças diferentes. E você tem que garantir que não haja pessoas que queiram derrubar nosso governo", disse o major-general aposentado Dana Pittard.

Para quem foi esse recado do Estado-Maior?

Segundo Pittard, a circular tem dois destinatários: as tropas e o públicogeral.

"Internamente, com certeza há pessoas quealguma forma podem simpatizar com a invasão. Será uma minoria, claro, mas a circular deixa claro que é inaceitável", diz o ex-militar, que admite que isso pode ser preocupante.

Na quinta-feira, foi relatado que gruposextremistas armados têm como alvo a posseBiden na próxima semana.

"E externamente, você quer que as pessoas saibam que nossa tradição, que tem funcionado tão bem, é que o Exército não pode ser usado como arma política interna, não pode tomar partido", acrescenta.

"Obviamente, há uma preocupaçãoque as pessoas não tenham entendido totalmente o papel do Exército."

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Legenda da foto, Membros da Guarda Nacional descansam dentro do Congresso no diaque o impeachment do presidente Donald Trump foi votado

"O Exército não deve lealdade a um indivíduo, e isso deve ser enfatizado novamente. É por isso que o Estado-Maior publicou aquela carta", diz Pittard.

Richard K. Betts, diretor do Instituto Saltzman para EstudosGuerra e Paz da UniversidadeColumbia, concorda com Pittard, mas acrescenta mais um destinatário: o presidente.

"É um sinal para Trump não abusar da Constituição ao colocar o Exército a seu ladouma tentativa ilegítimaanular a eleição presidencial", disse Betts à BBC News Mundo.

Uma relação tensa

Durante o governo Trump, houve momentosque a tradicional neutralidade política dos militares, algo que Pittard define como um "valor sagrado", sofreu grande pressão.

"O presidente Trump tentou, sem sucesso, tornar o Exército leal a ele, e não à Constituição. Muitos outros líderes populistas e autoritários do mundo tentaram. Mas o Exército dos EUA resistiu", disse Feaver.

Talvez o momentomaior tensão tenha sido quando Trump fez com que a Guarda Nacional participasse da segurança contra protestos contra o racismojunho do ano passado após a morte do afro-americano George Floyd.

Floyd morreu enquanto era detido violentamente por policiais brancos.

O presidente então pediu o fim dos protestos, que ele atribuiu à "esquerda radical".

Nesse contexto, Trump deu um passeio com Milley, vestido com um uniforme militar, para tirar uma fotofrente a uma igreja que havia sido vandalizada durante os protestos perto da Casa Branca.

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Legenda da foto, Mark Milley (à esquerda) pediu desculpas porpresençauma polêmica caminhadaTrumpmeio a protestos contra o racismo no ano passado

Isso aconteceu depoissemanasquestionamentoalguns militares sobre a forma como Trump respondeu aos protestos com o envio da Guarda Nacional.

A presençaMilley - o oficialmais alta patente do Exército - ao ladoTrump, foi vista como se os superiores validassem a forma como o presidente lidou com os protestos.

O chefe militar admitiu mais tarde que errou.

"Eu não deveria estar lá. Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepçãoos militares estarem envolvidos na política interna", disse.

Na época, o presidente estava até considerando invocar o Insurrection Act, uma lei1807, para enviar tropas para conter os protestostodo o país, uma linha que vários militares dos EUA disseram que não cruzariam.

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Legenda da foto, Donald Trump às vezes manteve tensão com o Exército

Os militares e principalmente os ex-militares reagiram naquela época, assim como agora, para lembrar a lealdade do Exército apenas à Constituição, e não a um partido ou a um presidente.

"O princípioque o Exército é leal à Constituição e nunca se envolve na política foi fortalecido ao longo do tempo pela estabilidadenossas instituições políticas", disse o professor Betts à BBC News Mundo.

"Essa estabilidade foi abalada na era Trump, mas não foi quebrada", acrescenta.

"No iníciosua presidência, ele pensava que os generais do Exército eram seus empregados e deve ter sido lembrado periodicamenteque o sistema americano não funciona assim."

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