'Não temos nada a esconder': cientista estrelaWuhan convida OMS para visitar laboratório no centropolêmica por origemcoronavírus:

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Legenda da foto, Virologista chinesa Shi Zhengali aceitou visita da OMS a seu laboratório

Encontramos obstáculosnosso caminho, incluindo um caminhão "quebrado", que os moradores confirmaram ter sido colocado do outro lado da estrada alguns minutos antesnossa chegada.

E nos deparamos com postoscontrole onde homens não identificados nos disseram que seu trabalho era nos manter distantes dali.

À primeira vista, tudo isso pode parecer um esforço desproporcional dado o nosso destino pretendido, uma minacobre abandonada e indefinida onde,2012, seis trabalhadores sucumbiram a uma doença misteriosa que acabou ceifando a vidatrês deles .

Mas a pandemiacovid-19 deu um novo significado a essa tragédia, que quase certamente teria sido amplamente esquecida.

Essas três mortes estão agora no centrouma grande controvérsia científica sobre as origens do vírus e a questãosaber se ele veio da natureza ouum laboratório.

E as tentativas das autoridades chinesasnos impedirchegar ao local são um sinalcomo estão se empenhando para controlar a narrativa.

Legenda da foto, BBC encontrou estradas "bloqueadas" na China.

Estudocampo

Por maisuma década, as colinas cobertasselvaYunnan e os sistemascavernas dentro delas têm sido o focoum gigantesco estudocampo científico.

O estudo foi conduzido pela professora Shi Zhengli, do InstitutoVirologiaWuhan (IVW).

A professora Shi foi elogiada internacionalmente pordescobertaque a doença conhecida como SARS, que matou mais700 pessoas2003, foi causada por um vírus que provavelmente veiouma espéciemorcegouma cavernaYunnan.

Desde então, a professora Shi, conhecida como a "Mulher-morcego da China", tem estado na vanguardaum projeto para tentar prever e prevenir novos surtos desse tipo.

Ao capturar morcegos, retirar amostrasfezes deles e,seguida, levar essas amostras para o laboratórioWuhan, a 1,6 mil quilômetrosdistância, a equipe por trás do projeto identificou centenasnovos coronavírusmorcegos.

Mas o fatoWuhan agora abrigar o principal centropesquisacoronavírus do mundo, bem como ser a primeira cidade atingida por um surtouma nova e mortal pandemia, alimentou as suspeitasque esses dois elementos pudessem estar conectados.

'Boas-vindas'

O governo chinês, o IVW e a professora Shi rejeitaram fortemente a acusaçãoque o vírus chamadoSARS-CoV2 causador da covid-19 tenha saído do laboratórioWuhan.

Mas com a chegadacientistas indicados pela OMS para visitar Wuhanjaneiro para uma investigação sobre a origem da pandemia, a professora Shi, que pouco falou com a imprensa, respondeu a uma sérieperguntas da BBC por email.

"Entreicontato com os especialistas da OMS duas vezes", escreveu ela, quando questionada se uma investigação poderia ajudar a descartar um vazamentolaboratório e acabar com as especulações. "Expressei pessoal e claramente que gostariarecebê-losuma visita ao IVW", disse.

Questionada se isso incluiria uma investigação formal com acesso aos registroslaboratório do IVW e dados experimentais, ela afirmou: "Aceitaria pessoamente qualquer formavisita baseadaum processo aberto, transparente, confiável ediálogo razoável. Mas o plano específico não é minha decisão."

Posteriormente, a BBC recebeu uma ligação da assessoriaimprensa do IVW, dizendo que a professora Shi estava falando a título pessoal e que suas respostas não haviam sido aprovadas pelo IVW.

A BBC rejeitou o pedidoenviar uma cópia desta reportagem com antecedência.

'Teoria da conspiração'

Muitos cientistas acreditam que o cenário mais provável é que o SARS-Cov-2 saltou naturalmente dos morcegos para os humanos, possivelmente atravésuma espécie intermediária.

E apesar da oferta da professora Shi, por enquanto parece haver pouca chanceque a OMS investigue a teoriaque o vírus saiu do laboratório.

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Legenda da foto, MercadoHuanan,Wuhan, foi associado aos primeiros casoscoronavírus

Os termosreferênciapesquisa da OMS não mencionam a teoria e alguns membros da equipe10 pessoas praticamente a descartaram.

Peter Daszak, zoólogo britânico, foi escolhido como parte da equipe devido ao seu papelliderançaum projeto internacional multimilionário para colher amostrasvírus selvagens.

Esse projeto envolveu uma estreita colaboração com a professora Shi Zhengli emamostragemmassamorcegos na China, e Daszak já havia se referido à teoriafugalaboratório como uma "teoria da conspiração" e como "um absurdo absoluto".

"Ainda não vi nenhuma evidênciavazamentolaboratório ou envolvimentolaboratório neste surto", disse ele.

"Tenho visto evidências substanciaisque esses são fenômenos naturais causados pela invasão humana no habitat da vida selvagem, que é claramente observada no sudeste da Ásia."

Quando questionado sobre ter acesso ao laboratórioWuhan para descartar a teoria do vazamentolaboratório, ele diz: "Não é meu trabalho fazer isso."

"A OMS negociou os termosreferência e dizem que vamos seguir as evidências e é isso que temos que fazer", acrescentou.

O foco da investigação será um mercadoWuhan que era conhecido pelo comércioanimais selvagens e estava relacionado a uma sériecasos iniciais, embora as autoridades chinesas pareçam ter descartado esse mercado como fonte do vírus.

Daszak diz que a equipe da OMS "examinará esses gruposcasos, examinará os contatos, veráonde vieram os animais do mercado e verá aonde isso nos leva".

Relação com vírus RaTG13

A morte dos três trabalhadoresTongguan após a exposiçãoum poçoextração cheiomorcegos levantou suspeitasque eles tivessem sucumbido a um tipocoronavírus transmitido por esse animal.

Foi exatamente o tipo"derramamento" - passagem -animal para humano que estava levando o IVW a colher mostrasmorcegosYunnan.

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Legenda da foto, China impôs fortes restrições a Wuhan para deter o vírus

Não ése surpreender que, após essas mortes, os cientistas do IVW começaram a coletar amostrasmorcegos na minaTongguan, fazendo várias visitas nos três anos seguintes e detectando 293 coronavírus.

Mas, alémum pequeno artigo, muito pouco foi publicado sobre os vírus que coletaram nessas viagens.

Em janeiro deste ano, a professora Shi Zhengli se tornou uma das primeiras pessoas no mundo a sequenciar a SARS-Cov-2, que já se espalhava rapidamente pelas ruas e casassua cidade.

Ele então comparou a longa sequêncialetras que representam o código genético único do vírus com o extenso registrooutros vírus coletados e armazenados ao longo dos anos.

E descobriu que o bancodados continha o parente mais próximo conhecido do SARS CoV-2: o RaTG13.

O RaTG13 é um vírus cujo nome deriva do morcego do qual foi extraído (Rhinolophus affinis, Ra), do local onde foi encontrado (Tongguan, TG) e do anoque foi identificado, 2013.

Sete anos depoisser encontrado naquela mina, RaTG13 estava prestes a se tornar um dos assuntos científicos mais polêmicosnosso tempo.

Possibilidade descartada

Houve muitos casos bem documentadosvírus escapandolaboratórios.

O primeiro vírus da SARS, por exemplo, vazou duas vezes do Instituto NacionalVirologiaPequim2004, muito depoiso surto ter sido controlado.

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Legenda da foto, Médicos e cientistas lutaram para conter pandemiaWuhan

A práticamanipular geneticamente os vírus também não é nova, permitindo aos cientistas torná-los mais infecciosos ou mortais, para que possam avaliar a ameaça e, talvez, desenvolver tratamentos ou vacinas.

E desde o momentoque foi isolado e sequenciado, os cientistas ficaram surpresos com a notável capacidade do SARS-Cov-2infectar humanos.

A possibilidadeadquirir essa habilidade como resultado da manipulaçãoum laboratório foi levada a sério o suficiente para que um grupo influentecientistas internacionais a investigassem.

O RaTG13 desempenha um papel importante no que se tornou o artigo definitivo que exclui a possibilidadeum vazamentolaboratório.

Publicadomarço na revista Nature Medicine, ele sugere que, se houvesse um vazamento, a professora Shi Zhengli teria encontrado uma correspondência muito mais próximaseu bancodados do que o RaTG13.

Embora o RaTG13 seja o parente mais próximo conhecido, com 96,2%similaridade, ainda está muito longe para ter sido manipulado e transformadoSARS-Cov-2.

Era provável que o SARS-Cov-2, concluíram os autores, teria ganhadoeficiência única por meioum longo períodocirculação não detectadohumanos ou animaisum vírus precursor natural e mais brando que eventualmente evoluiu para o potente e mortal identificado pela primeira vezWuhan2019.

No entanto, alguns cientistas estão começando a se perguntar onde estão os reservatóriosuma infecção natural anterior.

Busca por vírus precursores

Daniel Lucey é médico e professordoenças infecciosas no Georgetown Medical CenterWashington DC e um veteranomuitas pandemias: SARS na China, Ebola na África, Zika no Brasil.

Legenda da foto, Daniel Lucey diz acreditar que SARS-CoV-2 provavelmente surgiu naturalmente, mas não quer descartar outras possibilidades

Ele tem certezaque a China já realizou pesquisas extensas por evidênciasvírus precursoresamostras humanas armazenadashospitais epopulaçõesanimais.

"Eles têm a habilidade, os recursos e a motivação, então é claro que fizeram estudos com animais e humanos", diz ele.

Encontrar a fonteum surto é vital, acrescenta Lucey, não apenas para uma compreensão científica mais ampla, mas também para evitar que ele ressurja.

"Devíamos pesquisar até encontrar. Acho que pode ser encontrado e acho muito possível que já tenha sido encontrado", diz. "Mas então surge a pergunta, por que não foi revelado?"

Lucey diz acreditar que o SARS-Cov-2 provavelmente surgiu naturalmente, mas não quer descartar outras possibilidades.

"Então, aqui estamos, 12, 13 meses após o primeiro caso reconhecidocovid-19 e não encontramos a origem animal", diz ele. "Então, para mim, é mais um motivo para investigar explicações alternativas."

Um laboratório chinês poderia ter um vírus geneticamente mais próximo do SARS-Cov-2? E eles nos diriam agora se o fizessem? "Nem tudo o que é feito é publicado", diz Lucey.

Legenda da foto, Peter Daszak diz não ter visto nenhuma evidênciaque o que aconteceu foi um vazamentoum laboratório

Essa é uma pergunta que fiz a Peter Daszak, membro da equipe da OMS para o estudo das origens do vírus.

"Trabalho com o IVW há uma década ou mais", diz ele. "Conheço algumas pessoaslá muito bem e tenho visitado os laboratórios com frequência, encontrando-me e jantando com eles por 15 anos."

"Estou trabalhando na China com meus olhos bem abertos e estou quebrando minha cabeça no tempobusca do menor indícioalgo estranho. E eu nunca vi isso", acrescenta.

Quando questionado se essas amizades e relaçõesfinanciamento com o IVW representavam um conflitointeresses por seu papel na investigação, ele diz: "Nossos documentos estão arquivados; tudo está à vistatodos".

"Isso me torna uma das pessoas no planeta que mais sabe sobre as origens desses coronavírusmorcegos na China", acrescenta, sobrecolaboração com o IVW.

A China pode ter fornecido apenas dados limitados sobrebusca pela origem do SARS-Cov-2, mas começou a promover uma teoria própria.

Com basealguns estudos inconclusivoscientistas europeus, sugerindo que a covid-19 pode ter circulado antes do que se pensava, a propaganda estatal está repletahistórias que sugerem que o vírus não começou na China.

"Não temos nada a esconder"

Na ausênciadados adequados, é provável que as especulações aumentem, muitas das quais centradas no RaTG13 e suas origensum poçomineração Tongguan.

Legenda da foto, Desde a morte dos mineirosTongguan, os cientistas do IVW detectaram pelo menos 293 coronavírus

Artigos acadêmicos antigos foram desenterrados online e parecem diferir das declarações do IVW sobre mineiros doentes, incluindo uma teseum estudante da Universidade do HospitalKunming.

"Acabeibaixar a tesemestrado do aluno da Universidade do Hospital Kunming e li", diz a professora Shi à BBC.

"A narrativa não faz sentido", assinala. "A conclusão não é baseadaevidências ou lógica. Mas os teóricos da conspiração a usam para duvidarmim. Se você fosse eu, o que faria?", questiona.

A professora Shi também enfrentou dúvidas sobre por que o bancodadosvírus online público IVW foi repentinamente retirado do ar.

Shi explica à BBC que o site do IVW e o trabalho da equipe e e-mails pessoais foram hackeados.

Por causa disso, diz ela, o bancodados foi retirado do ar por motivossegurança.

"Todos os resultadosnossas pesquisas são publicadosperiódicos ingleses na formaartigos", destaca. "As sequênciasvírus também são armazenadas no bancodados GenBank (gerenciado pelos EUA). É completamente transparente. Não temos nada a esconder", completa.

Mais obstáculos ao longo do caminho

Há perguntas importantes a serem feitas no interiorYunnan, não apenas por cientistas, mas também por jornalistas.

Após uma décadaamostragem e experimentação com vírus coletadosmorcegos, sabemos agora que2013 foi descoberto o ancestral mais próximo conhecidouma ameaça futura que ceifaria mais1 milhãovidas e devastaria a economia global.

Legenda da foto, Carro seguindo a equipe da BBC

No entanto, o IVW,acordo com informações publicadas, não fez nada com ele, exceto sequenciá-lo e inseri-loum bancodados.

Isso deveria questionar a própria premissaque se baseia a cara, e alguns diriam arriscada, amostragemmassavírus selvagens?

"Dizer que não fizemos o suficiente é absolutamente correto", diz Peter Daszak à BBC. "Dizer que falhamos não é justo. O que deveríamos ter feito é trabalhar dez vezes com esses vírus."

Tanto Daszak quanto a professora Shi insistem que a pesquisa sobre prevençãopandemias é um trabalho vital e urgente.

"Nossa pesquisa é voltada para o futuro e é difícil para os não profissionais entenderem", escreve Shi por e-mail. "Diante dos inúmeros microorganismos que existem na natureza, os humanos são muito pequenos".

A OMS promete uma investigação"mente aberta" sobre as origens do novo coronavírus, mas o governo chinês não está interessadoperguntas, pelo menos nãojornalistas.

Depoisdeixar Tongguan, a equipe da BBC tentou dirigir algumas horas ao norte até a caverna onde a professora Shi realizoupesquisa inovadora sobre a SARS quase uma década atrás.

Ainda sendo seguidos por vários carros sem identificação, batemosoutro obstáculo e fomos informadosque não havia como passar por ele.

Algumas horas depois, descobrimos que o tráfego local havia sido desviado para uma estradaterra que contornava o obstáculo, mas quando tentamos usar o mesmo caminho, encontramos outro carro "quebrado"nosso caminho.

Ficamos presosum campo por maisuma hora, antessermos finalmente forçados a ir para o aeroporto.

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