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O que foi e como terminou a Primavera Árabe?:goiás bets apostas
O país árabe, no norte da África, era governado pelo presidente Zine al-Abidine Ben Ali havia 23 anos, tendo sido reeleito pela última vezgoiás bets apostas2009.
Apesargoiás bets apostasnão permitidos pelo governo, os protestosgoiás bets apostasrua multiplicaram-se, incluindo choques com a polícia, pressionando Ben Ali e chamando a atenção da comunidade internacional.
O presidente chegou a visitar Mohamed Bouazizi no hospital, mas o vendedorgoiás bets apostasfrutas morreugoiás bets apostas4goiás bets apostasjaneiro. Enquanto a tensão no país aumentava, Ben Ali tentava manter a ordem, dizendo que os protestos eram "inaceitáveis" e organizados por "uma minoriagoiás bets apostasextremistas".
A velocidade dos acontecimentos surpreendeu a todos. Em meadosgoiás bets apostasjaneirogoiás bets apostas2011, o governo negava a informaçãogoiás bets apostasque pelo menos 50 pessoas haviam sido mortas, dizendo que haviam sido 21.
No dia 13, Ben Ali disse que não mais disputaria a reeleição no pleito previsto para 2014, promessa que não diminuiu a ira dos cidadãos nas ruas.
Vinte e quatro horas depois — e menosgoiás bets apostasum mês desde a imolação pública do ambulante Mohamed Bouazizi , o antes todo-poderoso presidente da Tunísia abandonou o paísgoiás bets apostasdireção à Arábia Saudita, para nunca mais voltar. Ele morreu no exíliogoiás bets apostas2019.
Ben Ali deixou como herança não apenas um paísgoiás bets apostascrise, com um governo interino e sob estadogoiás bets apostasemergência, mas também a ideiagoiás bets apostasque era possível derrubar um ditador árabe com protestos pacíficos.
Estava lançada, na entrada do inverno, a sériegoiás bets apostasprotestos e revoluções contra regimes autoritários no Oriente Médio, conhecida como Primavera Árabe.
Quedagoiás bets apostasMubarak
A maior parte das nações árabes, inclusive as que desfrutavam da riqueza fácil do petróleo, sofria dos mesmo males que levaram à quedagoiás bets apostasBen Ali.
A crise financeira globalgoiás bets apostas2008 agravara a situação econômica na região, e as taxasgoiás bets apostasdesemprego eram altas, especialmente entre a população jovem.
Como a Tunísia, outros países também eram governados por autocratas, que historicamente reprimiam dissidências e protestos com extrema violência.
Empobrecidos e com pouca esperança no futuro, cidadãos da região viram na crise tunisiana um exemplo a ser seguido.
O novo Iraque, mesmo após uma ocupação devastadora, também sugeria ser possível adotar um regime mais democrático, baseadogoiás bets apostasconsultas populares.
O país aonde essas mensagens chegaram mais rapidamente foi o Egito, a maior nação árabe, com cercagoiás bets apostas90 milhõesgoiás bets apostashabitantes.
O Egito era então governado pelo presidente Hosni Mubarak, no cargo desde outubrogoiás bets apostas1981. O antecessorgoiás bets apostasMubarak e ganhador do prêmio Nobel da Paz, Anwar El Sadat,goiás bets apostasquem ele era vice, foi assassinado a tiros num impressionante ataquegoiás bets apostasmilitantes islâmicos durante um desfile militar no Cairo — outras dez pessoas foram mortas, e o próprio Mubarak foi ferido.
Os responsáveis pelo ataque eram oficias das Forças Armadas egípcias descontentes com o fatogoiás bets apostasSadat ter sido o primeiro líder árabe a firmar (em 1979) um acordogoiás bets apostaspaz com Israel.
Diante do perigo do avanço da militância radical islamista, governos autoritários simpáticos ao Ocidente eram tolerados como um mal menor no começo deste século.O que foi e como terminou a Primavera Árabe?
A Primavera Árabe, no entanto, parecia mudar essa realidade. Em janeirogoiás bets apostas2011, enquanto Ben Ali renunciava ao poder na Tunísia, ativistas por democracia no Egito começaram a convocar protestos por reformas no país - como na Tunísia, aproveitando o potencial da comunicação via internet e redes sociais.
Ruas e praças, especialmente na capital, Cairo, foram rapidamente tomadas pela população pedindo melhoras econômicas e reformas políticas. A praça Tahrir (em português, "Libertação"), no Cairo, tornou-se o centro do movimento por democracia.
Centenasgoiás bets apostaspessoas foram mortasgoiás bets apostasconfrontos envolvendo manifestantes, forçasgoiás bets apostassegurança e simpatizantes do regime. Cercada por tanques do Exército, a praça Tahrir tornou-se uma pequena cidade-protesto, com acampamento, comércio, coletagoiás bets apostaslixo e um mural homenageando os mortos.
Apesar da violência mais acentuada, o roteiro final acabou sendo quase uma cópia daquele vivido pela Tunísia: o governo Mubarak inicialmente reagiu com violência, mas menosgoiás bets apostasum mês depois, perdeu o controle da situação.
Em 12goiás bets apostasfevereiro, após 29 anos com plenos poderes sobre o Egito, Hosni Mubarak renunciou ao cargo.
As condições econômicas propícias para um levante popular no Egito já eram conhecidas da comunidade internacional, particularmente o FMI (Fundo Monetário Internacional) - que desde os anos 1990 impunha reformas liberalizantes ao país.
Em 1ºgoiás bets apostasfevereiro, o The Wall Street Journal citava o então diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan, que dissera que os altos níveisgoiás bets apostasdesemprego entre jovens no Egito eram "uma bomba-relógio".
"Claramente, essa situação poderia ter sido esperada não apenas no Egito, quando você vê o problema criado pelo alto nívelgoiás bets apostasdesemprego."
A reportagem lembrava que os níveisgoiás bets apostasdesemprego entre jovens era na épocagoiás bets apostas25% no Egito, 30% na Tunísia e 21% no Líbano - e que programasgoiás bets apostascriaçãogoiás bets apostasempregos eram necessários tambémgoiás bets apostaspaíses como Jordânia, Marrocos e Síria.
Monarquias sob pressão
Alguns autocratas do Mundo Árabe perceberam que a repressão violenta a protestos poderia fazer com que tivessem o mesmo destinogoiás bets apostasBen Ali e Mubarak.
No dia 20goiás bets apostasfevereirogoiás bets apostas2011, a entidadegoiás bets apostasdefesagoiás bets apostasdireitos humanos Human Rights Watch noticiou que uma jornadagoiás bets apostasprotestosgoiás bets apostasvárias cidades do Marrocos havia ocorridogoiás bets apostasforma pacífica.
Segundo a organização, as forçasgoiás bets apostassegurança marroquinas haviam "às vezes" utilizadogoiás bets apostasviolência contra manifestantesgoiás bets apostasdias anteriores, mas aparentemente o regime do rei Mohammed VI mudaragoiás bets apostasestratégia.
"Hoje as forçasgoiás bets apostassegurança permitiram que os cidadãos do Marrocos marchassem pacificamente para exigir mudanças profundas na forma como seu país é governado", disse a Human Rights Watch.
Cercagoiás bets apostasduas semanas depois,goiás bets apostas9goiás bets apostasmarço, o rei Mohammed VI anunciougoiás bets apostascomunicado na televisão um planogoiás bets apostasreforma constitucional. A proposta, afirmou o monarca, daria mais poderes ao primeiro-ministro e ao Parlamento, mais autonomia a regiões do país, garantiria igualdadegoiás bets apostasdireitos às mulheres e resultariagoiás bets apostasmais liberdadegoiás bets apostasexpressão aos cidadãos.
Apesargoiás bets apostascriticada por integrantes do movimento que liderou os protestosgoiás bets apostasfevereiro, a reforma marroquina foi aprovada quatro meses depois,goiás bets apostasjulho,goiás bets apostasum plebiscito nacional. Segundo números do governo, a participação foigoiás bets apostas73% dos eleitores, com as mudanças aprovadas por 98,5%.
Com a nova Constituição, o rei passaria a escolher o primeiro-ministro entre os representantes do partido com a maior bancada no Parlamento. As eleições parlamentares foram antecipadas para o fimgoiás bets apostas2011, e um novo Executivo, liderado pelo premiê Abdelilah Benkirane, assumiugoiás bets apostasnovembro daquele ano.
Na Primavera Árabe, havia diferenças no comportamentogoiás bets apostasmanifestantes e na reação das autoridadesgoiás bets apostasacordo com o graugoiás bets apostasliberdades democráticasgoiás bets apostascada país.
Além disso,goiás bets apostasmonarquias cujos reis desfrutavamgoiás bets apostassignificativa credibilidade, a insatisfação das ruas era mais direcionada contra os políticos que chefiavam o Executivo. Foi o que aconteceu, além do Marrocos, na Jordânia.
Inspirados pelos tunisianos, jágoiás bets apostasjaneirogoiás bets apostas2011, os jordanianos foram às ruasgoiás bets apostasprotesto contra o desemprego, a pobreza e a corrupção. Pediram a renúncia do primeiro-ministro Samir al-Rifai, que ocorreu poucos dias depois.
Em 1ºgoiás bets apostasfevereiro, o rei Abdullah colocou no cargo Marouf Bakhit e pediu que ele iniciasse imediatamente um processogoiás bets apostasreforma política.
Bakhit não foi capazgoiás bets apostasestabilizar a situação, e um mês depois manifestantes já pediamgoiás bets apostasrenúncia. Em novembro, o rei Abdullah decidiu substituí-lo por Awn Khasawneh, que também não duraria muito tempo no cargo - apenas seis meses.
Apesar das constantes crises políticas, acompanhadasgoiás bets apostasprotestos relativamente pacíficos, o regime monárquico da Jordânia evitou uma revolta maior. O rei Abdullah ofereceu concessões, implantou algumas reformas internas e sobreviveu à fase mais difícil da Primavera Árabe.
Kuwait e Arábia Saudita
Outros regimes monárquicos, como na Arábia Saudita e no Kuwait, enfrentaram protestosgoiás bets apostasruagoiás bets apostasmenores consequências.
No Kuwait, manifestações começaramgoiás bets apostasfevereiro e reuniram principalmente árabes que viviam ou mesmo nasceram no país, mas não eram considerados cidadãos kuwaitianos.
Em seguida, outros passaram a exigir melhoras no país, especialmente no combate à corrupção. Em novembrogoiás bets apostas2011, manifestantes invadiram o Parlamento do Kuwait - ação que levou à condenação à prisãogoiás bets apostasvárias pessoas, sete anos mais tarde, incluindo três parlamentares.
Já o regime saudita, diantegoiás bets apostasmanifestações por reformas políticas, concentrou-se no aspecto financeiro.
Entre fevereiro e marçogoiás bets apostas2011, foram anunciados dois pacotes totalizando cercagoiás bets apostasUS$ 130 bilhões para desempregados e como ajuda para quem tentava adquirir seu primeiro imóvel, além da criaçãogoiás bets apostasmilharesgoiás bets apostasempregos.
O governo, entretanto, continuava reprimindo manifestaçõesgoiás bets apostasrua, a maioria no leste do país,goiás bets apostasáreasgoiás bets apostaspopulação xiita.
O regime saudita, no entanto, não se preocupava apenas comgoiás bets apostasprópria estabilidade. O minúsculo Bahrein - um arquipélago ricogoiás bets apostaspetróleo na costa da Arábia Saudita - enfrentou uma real ameaça revolucionária.
A partirgoiás bets apostas14goiás bets apostasfevereirogoiás bets apostas2011, uma sériegoiás bets apostasprotestos abalou o pequeno país,goiás bets apostasmaioria xiita (cercagoiás bets apostas60%), mas governado, como os outros reinos do Golfo, por uma família sunita.
As manifestações, compostas emgoiás bets apostasmaioria por xiitas e reprimidas com violência pelo governo, concentravam-se na chamada Rotatória Pérola, na capital, Manama.
A área da rotatória acabou ocupada por milharesgoiás bets apostaspessoas, que instalaram um acampamento, reproduzindo a estrutura montada por egípcios na praça Tahir.
Em março, porém, o rei do Bahrein, Hamad bin Isa Al Khalifa, autorizou uma intervenção militar liderada pela Arábia Saudita, com apoio dos Emirados Árabes, para encerrar a nascente revolução.
Cercagoiás bets apostas2 mil soldados e policiais não apenas expulsaram os manifestantes, numa ação que deixou dezenasgoiás bets apostasmortos, mas também destruíram a Rotatória Pérola, pondo a baixo o monumento que dava nome ao local.
Intervenção e caos na Líbia
Para outros países, a Primavera Árabe teve consequências ainda mais significativas - e graves. A Líbia, governada desde 1969 com mão-de-ferro pelo coronel Muammar Khadafi, possui as maiores reservasgoiás bets apostaspetróleo e gás da África.
O país já era caracterizado por diferenças históricas entre o leste, onde estão as principais reservasgoiás bets apostaspetróleo, egoiás bets apostasparte oeste, onde fica a capital, Trípoli.
Em fevereirogoiás bets apostas2011, o impacto das revoluções na Tunísia e no Egito levou a protestosgoiás bets apostasrua, iniciadosgoiás bets apostasBenghazi, segunda maior cidade do país, localizada no leste. A resposta do regimegoiás bets apostasKhadafi veio na formagoiás bets apostasuma repressão violenta.
Os protestos espalharam-se para outras cidades, e Benghazi tornou-se o centrogoiás bets apostasum movimento contra o regimegoiás bets apostasKhadafi.
O governo enviou tropas para a cidade, prometendo destruir a revolução que se formava no leste da Líbia. Pouco antesgoiás bets apostasuma invasão, porém, o Conselhogoiás bets apostasSegurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou uma zonagoiás bets apostasexclusão aérea no país, impedindo o regimegoiás bets apostasKhadafigoiás bets apostasusar aviões para bombardear Benghazi.
A resolução do Conselho da ONU foi além: aprovou também o bombardeiogoiás bets apostastanques líbios que se dirigissem à cidade rebelde. As medidas seriam implementadas pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental).
Aviões da França, do Reino Unido e do Canadá, alémgoiás bets apostasnavios que incluíam forças americanas, passaram a bombardear posições do regime líbio.
O quadro então tornou-se ogoiás bets apostasuma guerra civil entre o regimegoiás bets apostasKhadafi, baseado do lado oeste do país, e os rebeldes, na parte leste.
Apesar da intenção manifestada inicialmente pela resolução do Conselhogoiás bets apostasSegurança da ONUgoiás bets apostasproteger a população civil, os bombardeios das potências ocidentais favoreceram os rebeldes e criaram as condições para que passassemgoiás bets apostasuma posiçãogoiás bets apostasdefesa para uma ação ofensiva.
Em 23goiás bets apostasagostogoiás bets apostas2011, soldados rebeldes tomaram o palácio presidencialgoiás bets apostasMuammar Khadafi, controlandogoiás bets apostasseguida a capital. Khadafi conseguira fugir.
Forças rebeldes concentraram-se então na tomada da cidade natal do agora ex-ditador, Sirte, onde havia uma concentraçãogoiás bets apostascombatentes leais ao regime. Khadafi estava na cidade.
Em outubrogoiás bets apostas2011, ele e um grupogoiás bets apostassoldados tentaram escapar, mas foram logo capturados por rebeldes, ajudados por um ataque aéreo francês contra seus veículos.
Detido, Khadafi foi espancado egoiás bets apostasseguida morto a tiros. Imagens do ex-ditador ainda vivo, cobertogoiás bets apostassangue e pedindo clemência, egoiás bets apostasseu corpo já sem vida foram divulgadas na internet.
Era o fim da versão líbia da Primavera Árabe, mas o começo da guerra pelo poder no país.
A composiçãogoiás bets apostasuma nova ordem na Líbia mostrou-se muito mais difícil do que imaginavam as potências ocidentais que apoiaram a quedagoiás bets apostasKhadafi. Diferentes facções passaram a disputar o domínio do país, enquanto o crescente caos permitiu o avançogoiás bets apostasradicais islâmicos.
Em 2012, no dia 11goiás bets apostassetembro - mesma data dos ataques ao World Trade Center,goiás bets apostasNova York,goiás bets apostas2001 - a embaixada dos Estados Unidosgoiás bets apostasBenghazi foi atacada.
Quatro pessoas, incluindo o embaixador americano, foram mortas. O episódio, que Washington inicialmente descreveu como decorrentegoiás bets apostasum protesto espontâneo, expôs o graugoiás bets apostasinstabilidade na Líbia.
O grupo Ansar al-Sharia, formadogoiás bets apostas2012 com o objetivogoiás bets apostasimplementar a lei islâmica na Líbia e baseadogoiás bets apostasBenghazi, foi acusadogoiás bets apostaster organizado o ataque.
Ficou claro que extremistas não apenas operavam com liberdade na nova realidade líbia, como o país se tornara mais um campogoiás bets apostasbatalha no constante combate contra grupos que o Ocidente considera terroristas.
A disputa pelo poder e pelos camposgoiás bets apostaspetróleo na Líbia pós-Khadafi, além da presençagoiás bets apostasjihadistas, lançou o país num estadogoiás bets apostasguerra civil que se seguiu por anos.
Uma tentativagoiás bets apostasestabilização levou à constituiçãogoiás bets apostasum governogoiás bets apostasTrípoli apoiado pelas Nações Unidas, enquanto o leste do país foi inicialmente tomado por islamistas e posteriormente por um grupo secular liderado pelo general Khalifa Haftar.
Na segunda metadegoiás bets apostas2020, após anosgoiás bets apostasguerra civil, a Líbia continuava dividida, com a maior parte do território controlada por Haftar.
Devido à influênciagoiás bets apostasgrupos islamistas na composição do governogoiás bets apostasTrípoli, nações como Rússia, Egito e França apoiavam o general dissidente. Já países como Turquia e Itália seguiam apoiando o regime baseado na capital.
Em outubrogoiás bets apostas2020, os dois lados assinaram um acordogoiás bets apostaspermanente cessar-fogogoiás bets apostasGenebra (Suíça) e deram esperanças para uma futura reunificação do país.
Revolução e guerra na Síria
Em 22goiás bets apostasnovembrogoiás bets apostas2011, a agência Reuters reproduzia as palavras do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan: "Olhe para o assassinado líder da Líbia, que virou suas armas para seu povo e apenas 32 dias atrás usou as mesmas palavras que você".
A mensagem era endereçada ao presidente da Síria, Bashar al-Assad, que dissera que lutaria até a morte para continuar no poder.
Assad parecia estar numa posição semelhante àgoiás bets apostasMuammar Khadafi, enfrentando uma revoluçãogoiás bets apostasseu país, nascidagoiás bets apostasprotestos no início daquele ano.
Os efeitos da Primavera Árabe na Síria foram dos mais danosos paragoiás bets apostaspopulação e a estabilidade regional.
O regimegoiás bets apostasAssad - que herdara a posiçãogoiás bets apostasseu pai, Hafez al-Assad, que chegou ao poder com um golpegoiás bets apostasEstadogoiás bets apostas1970 - era conhecido como um dos mais repressivos da região.
Prisões, torturas e assassinatos eram usados com frequência para calar qualquer possível dissidência política.
Representante da minoria alauíta, um segmento do lado xiita do Islã, Assad era também um dos principais aliados do Irã no Oriente Médio.
Em marçogoiás bets apostas2011, foram registradas as primeiras manifestações contra o governo, incluindo uma pequena reuniãogoiás bets apostasdezenasgoiás bets apostaspessoas na capital, Damasco.
Na cidadegoiás bets apostasDeraa, no sul do país, a repressão armada causou as primeiras mortes - alguns jovens morreram durante protesto contra a prisão e torturagoiás bets apostasadolescentes que haviam pichado dizeres contra o governo.
A partirgoiás bets apostasDeraa, os protestos cresceramgoiás bets apostasoutras cidades importantes, como Homs e Hama, na região central, e Banias, na costa oeste. Para cada uma delas, o regime adotou tática semelhante, com o enviogoiás bets apostastanques que sitiavam e bombardeavam a área - serviços básicos como água, eletricidade e telefone eram cortados.
As autoridades diziam sempre que seus alvos eram "terroristas". Os manifestantes, porgoiás bets apostasvez, cresciamgoiás bets apostasnúmero e determinação. O que começara com pedidosgoiás bets apostasmais direitos e liberdade rapidamente tornou-se um esforço para derrubar o regime.
Ao longogoiás bets apostas2011, a repressãogoiás bets apostasAssad ficou cada vez mais violenta, com o usogoiás bets apostasarmamento pesado contra as concentraçõesgoiás bets apostasmanifestantes.
Em Aleppo, segunda maior cidade do país, localizada no norte, estudantes da universidade local passaram a se manifestar e exigir o fim do cercogoiás bets apostasoutras cidades, num exemplo do envolvimento dos jovens na crescente revolta popular.
Como relatou anos depois a União dos Estudantes Livres da Síria (UFSS), criada durante os protestos:
"Estudantesgoiás bets apostasdiferentes universidades por todo o país uniram forças para registrar as violações do regimegoiás bets apostasAssad contra eles e contra a populaçãogoiás bets apostasHoms e Banias, que foram alvos nos estágios iniciais da revolução".
O governo, porém, seguiu com suas ações repressivas, cada vez mais violentas, apesar da crescente pressão internacional para que interrompesse a repressão.
Com o tempo, os confrontos mudaram a natureza do que ocorria na Síria. Em junho, centenasgoiás bets apostashomens atacaram forçasgoiás bets apostassegurança na cidadegoiás bets apostasJisr al-Shughour, matando cercagoiás bets apostas120 soldados e policiais.
Foi o primeiro sinal clarogoiás bets apostasque a revolução pacífica já incluía confrontos armados.
No segundo semestregoiás bets apostas2011,goiás bets apostasvezgoiás bets apostasmanifestantes ou estudantes, Bashar al-Assad já enfrentava rebeldes organizados. A Primavera síria se transformava numa sangrenta guerra civil.
Em janeirogoiás bets apostas2013, as Nações Unidas informaram que um levantamentogoiás bets apostasseu Alto Comissariado para Direitos Humanos identificou "uma listagoiás bets apostas59.648 indivíduos mortos na Síria entre 15goiás bets apostasmarçogoiás bets apostas2011 e 30goiás bets apostasnovembrogoiás bets apostas2012".
Era mais uma prova do tamanho da tragédia humana no país.
Cinco meses antes,goiás bets apostasagostogoiás bets apostas2012, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmava que o possível usogoiás bets apostasarmas químicas e biológicas na Síria poderia levar a uma intervenção americana.
"Temos sido muito claros, para o regimegoiás bets apostasAssad, mas também para outros atores no terreno, que uma linha vermelha para nós é começarmos a ver armamentos químicos sendo transportados ou utilizados."
Um ano depois,goiás bets apostasagostogoiás bets apostas2013, rebeldes denunciaram a ocorrênciagoiás bets apostasum ataque químico, nos arredoresgoiás bets apostasDamasco, que deixaram maisgoiás bets apostasmil mortos.
O governo sírio negou o uso dos armamentos, dizendo que a acusação era fabricada, mas o incidente colocou forte pressão por uma intervenção dos Estados Unidos e do Reino Unido na guerra.
Dias depois, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, tentou aprovar no Parlamento uma autorização para o bombardeiogoiás bets apostasposições do regime sírio no país.
Com os britânicos ainda sob os efeitos da trágica guerra no Iraque e diante do caos que tomara conta da Líbia, após os ataques aéreos contra as forçasgoiás bets apostasKhadafi, o Parlamento rejeitou a proposta.
Sem apoio do Reino Unido, Obama desistiugoiás bets apostasuma intervenção americana direta. A decisão permitiu que o ditador sírio ganhasse terreno, com a participaçãogoiás bets apostascontingentes do grupo xiita libanês Hezbollah, a assistência do Irã e um crescente apoio da Rússia.
Oposição fragmentada
Nos primeiros anos do conflito na Síria, o FSA (Free Syrian Army, ou Exército Sírio Livre), formadogoiás bets apostasagostogoiás bets apostas2011 por desertores do Exército nacional, foi o principal grupo a combater o regimegoiás bets apostasAssad.
Ao longogoiás bets apostas2012 e 2013, porém, com o agravamento do conflito, centenasgoiás bets apostasoutros grupos rebeldes foram formados, alguns pequenos e locais, outros com conexões e estruturagoiás bets apostasvárias partes da Síria.
Em dezembrogoiás bets apostas2013, a BBC News publicou uma lista dos principais grupos atuando na guerra civil.
"Acredita-se que existam até 1 mil grupos armadosgoiás bets apostasoposição na Síria, comandando cercagoiás bets apostas100 mil combatentes", dizia o texto.
Além do FSA, a BBC News listava duas grandes coalizõesgoiás bets apostasorganizações jihadistas sunitas espalhadas pelo país. A primeira, Frente Islâmica, era a maior delas, com cercagoiás bets apostas45 mil combatentes.
A aglomeração reunia vários grupos que, apesargoiás bets apostasabertos à participaçãogoiás bets apostascombatentes estrangeiros, não estavam ligados à Al-Qaeda.
A segunda coalizão, a Frente Síriagoiás bets apostasLibertação Islâmica, era menor, mas potencialmente mais influente nos rumos da guerra.
Entre suas organizações, estavam a Frente Al-Nusra, um braço da Al-Qaeda na Síria, e o Estado Islâmico no Iraque e no Levante, também conhecido como Isis, Isil ou Daesh.
Apesar da intenção inicial do Isisgoiás bets apostasse aliar à Al-Nusragoiás bets apostasum só movimento, a frente rejeitou a união e manteve-se fiel à Al-Qaeda.
Nascido da temida Al-Qaeda no Iraque, e inicialmente chamado apenas Estado Islâmico no Iraque, o Isis avançougoiás bets apostasforma impressionante na Síria.
Comandado pelo iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi, a organização logo se beneficiou do caos sírio.
Em janeirogoiás bets apostas2014, pouco depois que suas forças tomaram Falluja, no Iraque, o Isis derrotou outros grupos rebeldes na disputa pela cidade síriagoiás bets apostasRaqqa.
Em junho, Baghdadi declarou que o Estado Islâmico no Iraque e no Levante era agora um califado, e ele era o califa.
Em seu auge, entre 2015 e 2016, o chamado Estado Islâmico controlou cercagoiás bets apostasum quarto do território sírio, especialmente o nordeste, onde implantou o terror das execuçõesgoiás bets apostasmassa egoiás bets apostasvisão extremista do Islã.
Alvogoiás bets apostasbombardeiosgoiás bets apostasaviões americanos e britânicos, a partirgoiás bets apostas2014, e russos, desde 2015,goiás bets apostasmarçogoiás bets apostas2016, o Isis foi expulso definitivamente da cidade históricagoiás bets apostasPalmira, que tomara um ano antes. Grande parte das ruínas históricas foi destruída pela organização.
A guerra ao Isis foi um esforço conjunto, mesmo que não coordenado.
O regime sírio, o libanês Hezbollah, a Jordânia, outros grupos islamistas e as Forças Democráticas Sírias - aliança secular rebelde formadagoiás bets apostas2015 - participaram,goiás bets apostasuma forma ougoiás bets apostasoutra, do combate ao chamado Estado Islâmico na Síria.
Ganhou destaque a luta travada pelas Unidadesgoiás bets apostasProteção das Mulheres (YPJ), facção apenas feminina das Unidadesgoiás bets apostasProteção do Povo (YPG) - organização militar do Curdistão sírio, no norte do país.
Em outubrogoiás bets apostas2017, o Isis perdeu o controlegoiás bets apostasRaqqa,goiás bets apostasonde foi expulso pelas Forças Democráticas Sírias. Dois anos depois, o Isis foi eliminado da cidadegoiás bets apostasBaghuz,goiás bets apostasúltima base na Síria. Era o fim do califadogoiás bets apostasAbu Bakr al-Baghdadi.
Durante a luta contra o chamado Estado Islâmico, a preocupação da comunidade internacional com a derrubada do regimegoiás bets apostasAssad diminuiu.
Com o passar dos anos, o ditador sírio fortaleceu-se e evitou a queda prevista pelo presidente turco, Recep Erdogan, graças à preciosa ajudagoiás bets apostasseu grande aliado, a Rússia.
Os incansáveis bombardeios russos que contribuíram para derrotar o Isis também visavam localidades tomadas por outros grupos rebeldes - e a Rússia foi acusadagoiás bets apostasdestruir vários hospitais e matar um grande númerogoiás bets apostascivis.
Assad aos poucos recuperou o controlegoiás bets apostascidades como Homs e Aleppo e afastou o riscogoiás bets apostasser derrubado militarmente.
Segundo uma estimativa do Observatório Síriogoiás bets apostasDireitos Humanos,goiás bets apostasmarçogoiás bets apostas2011 a marçogoiás bets apostas2020 a guerra civil na Síria deixou meio milhãogoiás bets apostasmortos - cercagoiás bets apostas384 mil mortes foram documentadas pela entidade.
O conflito também destruiu completamente as construções e a infraestruturagoiás bets apostasmuitasgoiás bets apostassuas cidades.
Em 2020, a Síria seguia dividida, com o leste controlado por rebeldes seculares liderados por curdos e apoiados pelos Estados Unidos, a parte oeste e central nas mãos do governo, alguns pontos ocupados por extremistas religiosos e outros tomados pela Turquia, acusadagoiás bets apostasapoiar os jihadistas.
A cidadegoiás bets apostasIdlib, último focogoiás bets apostasresistência rebelde cercado pelas forças do governo, continuava sob bombardeio russo. O regimegoiás bets apostasBashar al-Assad sobrevivia, mas o futuro do país era incerto.
Primavera dos retrocessos
Enquanto a Síria enfrentava quase uma décadagoiás bets apostasguerra civil, outra guerra devastadora recebia menos atenção da comunidade internacional.
No Iêmen, a história começougoiás bets apostasforma parecida àgoiás bets apostasseus vizinhos. Manifestantes também saíram às ruas no iníciogoiás bets apostas2011 com esperançagoiás bets apostasobter mais democracia e melhores condições econômicas do regime do autoritário presidente Ali Abdullah Saleh.
Em abril, os protestos já reuniam dezenasgoiás bets apostasmilhares na capital, Sanaa, egoiás bets apostasoutras cidades. Saleh resistiu durante meses, indicando várias vezes que renunciaria, decisão que foi confirmadagoiás bets apostasnovembro.
No iníciogoiás bets apostas2012, após 33 anos no poder, Saleh deixou o posto. Passou o comando do país a seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi, numa transição que não resistiu às pressões por maiores mudanças.
Após dois anosgoiás bets apostastensão e protestos, liderados pelo movimento xiita Houthi, a crise do Iêmen tornou-se guerra civilgoiás bets apostas2014.
No ano seguinte, os rebeldes acabaram tomando o podergoiás bets apostasSanaa, enquanto Hadi recebeu o apoio da Arábia Saudita, preocupada com o aumento da influência do Irã na Península Arábica por meio do movimento Houthi.
Forças sauditas, com apoio estratégicogoiás bets apostasEstados Unidos, Reino Unido e França, realizaram uma campanhagoiás bets apostasataques aéreos no país, que ficou fatiado, com os rebeldes na capital e o governo Hadi baseado na cidade portuáriagoiás bets apostasAden, no sul.
A guerra atingiu um impasse, tendo provocado uma das maiores crises humanas do mundo e deixando ao menos 100 mil mortos.
A tragédia iemenita foi mais um capítulo triste da Primavera Árabe, que acumulou poucos casosgoiás bets apostasreconhecido sucesso.
O único país que derrubou seu ditador e conseguiu implementar um sistema democrático, num processo lento e repletogoiás bets apostasdesafios, foi a Tunísia.
No Egito, a quedagoiás bets apostasHosni Mubarak foi cercadagoiás bets apostasmuita festa e entusiasmo da população, que apostava num futuro democrático para o país.
As primeiras eleições livres da história egípcia ocorreramgoiás bets apostas2012, mas a vitória do partido Liberdade e Justiça, ligado ao movimento islamista Irmandade Muçulmana, levou a um retrocesso.
O líder do partido, Mohamed Morsi, assumiu a Presidência como o primeiro presidente do Egito eleito democraticamente.
Após um ano, manifestantes voltaram às ruas para protestar contra o que consideravam medidas antidemocráticasgoiás bets apostasMorsi, que estaria perseguindo grupos seculares e iniciando uma islamização do Egito por meiogoiás bets apostasuma nova Constituição.
Os protestos pediram a saída do presidente, no que foram atendidos pelo Exército.
A intervenção - na prática um golpe militar - levou à prisãogoiás bets apostasMorsi e centenasgoiás bets apostasativistasgoiás bets apostasseu movimento e ao banimento da Irmandade Muçulmana. A Constituição foi suspensa, e o general Abdel Fattah el-Sisi assumiu o poder.
Em 2014, Sisi foi eleito presidente,goiás bets apostaseleições sem a participaçãogoiás bets apostaspartidos islamistas. Com a segurança interna como prioridade, o governo Sisi passou a ser acusadogoiás bets apostasabusos contra direitos humanos, especialmente prisões arbitrárias, lembrando características do regimegoiás bets apostasHosni Mubarak.
Guerras, milhõesgoiás bets apostasrefugiados e esperança
Guerras civisgoiás bets apostasgrandes proporções na Síria, Líbia e no Iêmen. Tentativa frustradagoiás bets apostasdemocracia no Egito e campanha sangrenta do Estado Islâmico. Pequenos e pontuais avançosgoiás bets apostasmonarquias árabes como Marrocos, Jordânia e Arábia Saudita - ondegoiás bets apostas2018 as mulheres finalmente ganharam o direitogoiás bets apostasconduzir veículos. Para uma onda revolucionária,goiás bets apostasque milhõesgoiás bets apostaspessoas no Mundo Árabe sonhavam com direitos individuais e melhor qualidadegoiás bets apostasvida, o saldo parece desolador.
As guerras na Síria e no norte da África geraram um êxodogoiás bets apostasproporções enormes, com milhõesgoiás bets apostascivis se lançandogoiás bets apostasrotas perigosas na esperançagoiás bets apostaschegar a portos mais seguros. A maioria teve a Europa como destino final, outros porém cruzaram oceanos e, goiás bets apostasmenor número, foram acolhidosgoiás bets apostaspaíses longíquos como Estados Unidos e Brasil.
Na pequena Sidi Bouzid, entretanto, Mohamed Bouazizi é lembrado: um monumento emgoiás bets apostashomenagem, com uma estátuagoiás bets apostasseu carrogoiás bets apostasfrutas, foi erguido aindagoiás bets apostas2011.
A vida sob o novo sistema político da Tunísia, com eleições, um presidente e um primeiro-ministro, continuou repletagoiás bets apostasdesafios, principalmente econômicos.
Em Sidi Bouzid, porém, é impossível ignorar que uma décadagoiás bets apostasprotestos, conflitos e transformações começou com um gesto desesperado egoiás bets apostasgrande sofrimento humano numa rua da cidade.
O monumento a Bouazizi simboliza a esperançagoiás bets apostasque seu sacrifício não tenha sidogoiás bets apostasvão.
Este artigo é parte da série "21 Histórias que Marcaram o Século 21", da BBC News Brasil.
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