Os cálculos que preveem mais 115 milhõespessoas na miséria no mundo, enquanto fortunabilionários cresceu 27%:

Pessoas no Camboja

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Piora no indicador pode elevar o percentual da população global nessas condições a 9,4%; acima, pessoas vivendo na pobreza no Camboja

Alémcrise sanitária com milhõesdoentes e centenasmilharesmortes, a pandemiacovid-19 tem provocado estragos na economia global.

De acordo com as estimativas do Banco Mundial, esse impacto negativo deve fazer a pobreza extrema avançar no mundo pela primeira vezmaisduas décadas.

Só2020 estima-se que 115 milhõespessoas estejam sendo empurradas a essa situação, número que pode crescer a 150 milhões2021.

Pelo critério do Banco Mundial, a extrema pobreza é caracterizada por uma renda diáriaaté US$ 1,9 (cercaR$ 10).

Esta será a primeira alta desde 1998, quando a crise financeira asiática provocou um choque na economia global.

Com o aumento, a pobreza extrema passará a afetar o equivalente a algo entre 9,1% e 9,4% da população do mundo neste ano,acordo com o relatório Poverty and Shared Prosperity Report (Relatório sobre Pobreza e Prosperidade Compartilhada,tradução livre), publicado a cada dois anos. Antes da pandemia, a estimativa era que pobreza cairia para 7,9%2020.

O Brasil já vinha experimentando aumento da pobreza extrema nos últimos cinco anos. Conforme os dados da Pnad Contínua, divulgados pelo Instituto BrasileiroGeografia e Estatística (IBGE),2019 13,88 milhõesbrasileiros viviam nessa condição, cerca170 mil mais do que no ano anterior.

Em 2020, entretanto, a tendência foi interrompida graças ao pagamento do auxílio emergencial, que tem amortecido o efeito da crise, especialmente entre as famíliasbaixa renda.

Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) com base nos dados da Pnad Covid-19 estima que, entre maio e agosto, a parcela da população abaixo da linhapobreza recuou4,18% para 2,29%.

Desde abril, o governo já desembolsou quase R$ 200 bilhões com o auxílio, que foi reduzidoR$ 600 para R$ 300 recentemente.

A melhora, entretanto, tende a ser circunstancial. Com a diminuição do valor do benefício, os indicadorespobreza podem voltar a piorar, alerta o autor das estimativas.

Casas precárias, sem pintura, na beiracanal poluído no RioJaneiro

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Brasil já vinha assistindo a um aumento da pobreza extrema nos últimos 5 anos

'Grave retrocesso'

O Banco Mundial havia estabelecido,2013, o objetivoreduzir a extrema pobreza ao nível máximo3% da população global até 2030.

Agora, a organização afirma que a meta é inalcançável sem a "implementação rápidapolíticas significativas e substanciais".

O relatório indica que a pobreza deve crescer neste e no próximo anopaíses que já têm um nível elevadopobreza — 82% do total estimado seriapaíses classificados comorenda média.

Antes da pandemia, contudo, o ritmoredução da pobreza global vinha desacelerando.

Entre 2015 e 2017, 52 milhõespessoas saíram dessa condição. Em termos percentuais, a redução foimenosmeio ponto percentualcada ano — metade do observado1990 a 2015, quando a pobreza diminuiu cercaum ponto percentual por ano.

"A pandemia e a recessão global podem fazer com que mais1,4% da população do planeta caia na pobreza extrema", afirmou o presidente do Banco Mundial, David Malpass.

Ele disse ainda que, para reverter esse "grave retrocesso", os países precisariam caminhar para construir uma economia diferente no pós-pandemia, que permitisse que capital, trabalho e inovação irrigasse novas áreas e setores.

Malpass afirmou, entretanto, que paísesdesenvolvimento continuariam tendo acesso à ajuda financeira do banco, "enquanto trabalhamdireção a uma recuperação sustentável e inclusiva".

A instituição, com sedeWashington, já concedeu cercaUS$ 160 bilhõesempréstimos com baixas taxasjuros a mais100 países que tiveram a economia afetada pela pandemia.

Ricos mais ricos

Na outra ponta, os bilionários do mundo têm visto a fortuna crescer durante a pandemia.

Só entre abril e julho deste ano,acordo com um relatóriooutubro do banco suíço UBS, o aumento foi27,5%, para US$ 10,2 trilhões, uma cifra recorde. Segundo o estudo, os ultra-ricos se beneficiaram especialmente ao investir no mercado acionário na baixa, entre março e abril, quando o mundo entrouquarentena, e lucraramseguida com a recuperação do preço das ações.

"Os bilionários se saíram extremamente bem durante a crise da covid-19: não apenas cavalgaram a tempestade na baixa como lucraram na retomada", afirmou Josef Stadler, do banco UBS.

O númerobilionários também atingiu um novo recorde: são 2.189, contra 2.1582017.

Executivos das áreastecnologia, saúde e da indústria estão entre os que assistiram maior avanço da renda no período.

Línea

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