'Temo por uma guerra civil': os eleitoresroleta ao vivo onlineTrump que saem armados para enfrentar protesto:roleta ao vivo online

Robert Leeds

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Morador do Alabama, Robert Lee diz estar disposto a sairroleta ao vivo onlinecasa armado pra defender a família e o bairroroleta ao vivo onlinesaques e depredações
Presidente Donald Trump durante entrevista na Casa Branca

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Trump tenta virar eleição acusando Joe Biden e os democratasroleta ao vivo onlinese aliarem a manifestantes que promoveriam caos nas cidades

Trump acusa o prefeito democrataroleta ao vivo onlinePortlandroleta ao vivo onlineser incapazroleta ao vivo onlineconter o caos, propala que o partidoroleta ao vivo onlineseu adversário Joe Biden quer desmontar as forças policiais e se coloca como o único capazroleta ao vivo onlinemanter a lei e a ordem no país.

Em suas declarações, rarearam temas impopulares como a pandemiaroleta ao vivo onlinecoronavírus - que já matou 180 mil pessoas no país - ou a recessão econômica - com desemprego na casaroleta ao vivo onlinedois dígitos.

Assim como aconteceu na convenção republicana na última semana, o presidente tem se dedicado a propagar uma sensaçãoroleta ao vivo onlineque os Estados Unidos vivem uma espécieroleta ao vivo onlineestadoroleta ao vivo onlinesítio. Uma impressão falsa e baseadaroleta ao vivo onlineepisódios esparsos e geograficamente localizadosroleta ao vivo onlineviolência nas manifestações, apontam os especialistas.

Não é o que sente o eleitor do republicano.

"Eu acho que está foraroleta ao vivo onlinecontrole por causa desses políticos (democratas) que estão tentando fazer um acordo, dianteroleta ao vivo onlinetudo que está acontecendo agora, com os manifestantes ou os saqueadores ou como você quiser chamá-los. Não acho que tentar ser legal com eles e dar tudo que eles querem vai funcionar. Obviamente não funcionou, você só vê mais e mais (violência), estão indo para os subúrbios e, você sabe, está chegando ao ponto onde, sem a polícia, porque querem tirar recurso da polícia, as únicas pessoas que serão capazesroleta ao vivo onlinete proteger são outras pessoas emroleta ao vivo onlinecomunidade", afirma Leeds, que admite que suas palavras ressoam asroleta ao vivo onlineTrump.

Em meadosroleta ao vivo onlinejunho, dia após a morteroleta ao vivo onlineGeorge Floyd, quando o movimento Black Lives Matter já ocupava as ruasroleta ao vivo onlinemaisroleta ao vivo onlinecem cidades americanas -roleta ao vivo onlinemodo pacífico, na maior parte das vezes -, ele criou uma página no Facebook chamada "Cidadãos armados protegendo suas comunidades".

Ali, passou a compartilhar táticasroleta ao vivo onlinedefesa armada com outros americanos ao redor do país.

Vigilantismo

Branco, sem diploma universitário, marceneiro que faz bicos como motoristaroleta ao vivo onlineaplicativo e morador do subúrbioroleta ao vivo onlineuma cidaderoleta ao vivo online25 mil habitantes do Alabama, Leeds é o típico eleitorroleta ao vivo onlineTrump.

Post do advogado Kevin Mathewson

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Post do advogado Kevin Mathewson, que organizou gruporoleta ao vivo onlinehomens armados na cidaderoleta ao vivo onlineKenosha para se contrapor a protesto do Black Lives Matter

É também um exemplo das reações aos rumos que a disputa política tem tomado. Donoroleta ao vivo onlineuma pistola eroleta ao vivo onlineum fuzil AR-10, ele afirma estar disposto a sairroleta ao vivo onlinecasa armado pra defenderroleta ao vivo onlinefamília,roleta ao vivo onlinecasa e seu bairroroleta ao vivo onlinesaques e depredações.

E diz que não iria sozinho: "Eu conseguiria arregimentar algumas centenasroleta ao vivo onlinevizinhos", afirma o americano, que pretende votarroleta ao vivo onlineTrump mais uma vez e não vê no racismo um problema estrutural da sociedade americana.

Se Leeds até agora só ficou nos planosroleta ao vivo onlinereação, a 1,3 mil quilômetros ao norte dali,roleta ao vivo onlineKenosha, Wisconsin, um advogado donoroleta ao vivo onlineum fuzil que teve ideia semelhante àroleta ao vivo onlineLeeds,roleta ao vivo onlinereunir homens armados para defender a cidaderoleta ao vivo onlineum protesto Black Lives Matter, produziu um resultado trágico.

Kenosha vivia um repique dos protestos depois que um policial branco atirou sete vezes nas costasroleta ao vivo onlineJacob Blake, negro e desarmado.

Nesse contexto, o post do advogado Kevin Mathewson obteve maisroleta ao vivo onlinetrês mil likes antesroleta ao vivo onlineser retirado do ar pelo Facebook, mas efetivamente atraiu menosroleta ao vivo online30 pessoas, conforme mostra a foto que ele mesmo postouroleta ao vivo onlineseu perfilroleta ao vivo online25roleta ao vivo onlineagosto. Uma das pessoas que se juntaram ao grupo era um adolescenteroleta ao vivo online17 anos.

Com um fuzil AR-15, ele atirouroleta ao vivo onlineao menos três pessoas naquela noite, duas delas morreram. A BBC entrouroleta ao vivo onlinecontato com Mathewson, mas ele não retornou os pedidosroleta ao vivo onlineentrevista da reportagem.

Mais armas do que pessoas

"É um fenômeno cada vez mais difundido que as pessoasroleta ao vivo onlinepequenas comunidades e cidades, como Kenosha, acabem contaminadas por este sentimentoroleta ao vivo onlineameaça racial. As cidades não estão conflagradas. Mesmoroleta ao vivo onlinePortland, onde tivemos essas questões, se você andar fora dos poucos locais do centro com manifestantes, você nem percebe que houve algum tiporoleta ao vivo onlineconfronto ali", afirma Tarso Ramos, diretor-executivo do think tank Political Research Associates,roleta ao vivo onlinereferência aos quase 4 mil episódiosroleta ao vivo onlinelinchamentosroleta ao vivo onlinepessoas negras nos Estados Unidos entre 1882 e 1968, acusadas na comunidaderoleta ao vivo onlinealgum crime ou malfeito e sumariamente assassinadas.

"Mas há um comportamentoroleta ao vivo onlinemultidão, uma histeria coletiva que pode levar a uma tragédia séria. É uma reminiscênciaroleta ao vivo onlinecerta forma das mobilizaçõesroleta ao vivo onlinemultidões pró-linchamentosroleta ao vivo onlinenegros que vimos na história americana."

Jovem protestaroleta ao vivo onlinePortland e segura cartazroleta ao vivo onlinefrente a carroroleta ao vivo onlinepolicia

Crédito, Terray Sylvester/Reuters

Legenda da foto, Portland tem sido palcoroleta ao vivo onlineprotestos antirracistas diários desde 29roleta ao vivo onlinemaio

O Political Research Associates têm feito um monitoramento da atuaçãoroleta ao vivo onlinegrupos armadosroleta ao vivo onlinedireita que ameacem ou coajam manifestantes por justiça racial.

Entre junho e julho desse ano, o grupo comprovou ao menos 187 situaçõesroleta ao vivo onlineconfronto parecidas com as vistasroleta ao vivo onlinePortland e Kenosha na última semana.

De acordo com Ramos, no entanto, o númeroroleta ao vivo onlinecasos só aumenta e a própria organização tem tido dificuldaderoleta ao vivo onlinedar conta do volumeroleta ao vivo onlineocorrências para checar e catalogar.

Segundo Alexander Ross, professor da Universidade Estadualroleta ao vivo onlinePortland que se dedica a analisar atividades da direita radical, entre os grupos armados nas ruas há desde organizaçõesroleta ao vivo onlineextrema direita bem conhecidas e estabelecidas, como os paramilitares patrióticos Three Percenters ou o gruporoleta ao vivo onlineegressos das forças militares americanas Oath Keepers, passando por milícias recentemente criadas mas já permanentes, como o Defend East County, a cidadãos que possuem armas e se unem via redes sociais para uma ou algumas ações pontuais. Para ele, uma mistura explosiva que deve levar à escalada da violência.

"Se você está saindo com armas e não conhece as outras pessoas que estarão lá com você, e não há nenhum treinamento conjunto e uma organização real, então você é um amador e está apenas procurando problemas. Uma situação como essa tem todo o potencial para repetir o que houveroleta ao vivo onlineKenosha ou ser ainda pior", avalia Ross.

De acordo com a pesquisa Small Arms Surveyroleta ao vivo online2018, os Estados Unidos têm mais armas do que habitantes: são 120,5 armasroleta ao vivo onlinefogo para cada 100 residentes, a maior taxa do mundo.

É o dobro do segundo país com maior concentraçãoroleta ao vivo onlinearmas, o Iêmen, que vive uma guerra civil e tem 52,8 armas para cada 100 pessoas. Comprar armas nos Estados Unidos é relativamente simples e, diferentemente do Brasil, todos os 50 Estados permitem o porteroleta ao vivo onlinearma a praticamente qualquer pessoa, embora alguns obriguem o cidadão a fazer um registro e a manter a arma oculta.

Em 25 Estados, qualquer americano pode, por lei, andar pela rua comroleta ao vivo onlinearma carregada e exposta ao público.

O medo que move e o efeito multidão

Na interpretaçãoroleta ao vivo onlineRoss e Ramos, por trás das ações desses homens, há sentimentos históricos que glorificam a açãoroleta ao vivo onlinexerifes e a noçãoroleta ao vivo onlineque não há outra opçãoroleta ao vivo onlinevida para o americano a não ser manterroleta ao vivo onlineprópria comunidade segura, como afirmou Leeds.

Exemplar dessa ideia é uma anedota que o ex-presidente Ronald Reagan contou durante a convenção republicanaroleta ao vivo online1964.

"Dois amigos meus estavam conversando com um refugiado cubano, um homemroleta ao vivo onlinenegócios que fugiu do regimeroleta ao vivo onlineFidel Castro. No meio da conversa, um dos meus amigos olhou pro outro e disse: 'nós (americanos) não sabemos como somos sortudos'. E o cubano parou e respondeu: 'Vocês são sortudos? Eu que tive um lugar para onde escapar'."

A mobilização desses sentimentos pelo partido republicano não é uma novidade. Quatro anos depois desse discursoroleta ao vivo onlineReagan, Richard Nixon venceu as eleiçõesroleta ao vivo online1968 mobilizando a bandeira da lei e da ordem e da proteção dos subúrbios brancos contra manifestações eventualmente violentas que eclodiram no país após o assassinato do líder negro Martin Luther Kingroleta ao vivo onlineabril daquele ano.

Multidãoroleta ao vivo onlinefrente para policiais nos EUA

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Maioria dos americanos desaprova protestos violentos

O próprio Nixon definiu a estratégia: "As pessoas reagem a medo, não a amor. Ninguém aprende essas coisasroleta ao vivo onlineaularoleta ao vivo onlinecatecismo, mas a verdade é essa".

É esse o mecanismo que estariaroleta ao vivo onlinecurso novamente agora, dessa vez pelas mãosroleta ao vivo onlineTrump.

"Existe um forte sentimentoroleta ao vivo onlineinsegurança que Trump está tentando mobilizar. E não apenas agora, na convenção, mas coisas que ele tem feito há anos e certamente nos meses desde o assassinatoroleta ao vivo onlineFloyd (em maio)", afirma Ramos.

Uma das primeiras reaçõesroleta ao vivo onlineTrump aos protestos, aindaroleta ao vivo onlinemaio, foi retomar uma frase usada pelo comandante da políciaroleta ao vivo onlineMiami nos anos 1960 e considerada racista e insufladoraroleta ao vivo onlineviolência. "Quando os saques começam, os tiroteios começam", postou Trump.

Publicamente, Trump não tem condenado abertamente as ações violentasroleta ao vivo onlinegruposroleta ao vivo onlinedireita. No Twitter, ele chamou seus apoiadores que participaramroleta ao vivo onlineatos violentosroleta ao vivo onlinePortlandroleta ao vivo online"grandes patriotas".

Na convenção republicana, convidou o casal Mark e Patricia McCloskey, que empunhou armas contra manifestantes pacíficosroleta ao vivo onlineSt. Louis, no Missouri, para chamá-los "esquerdistas e extremistas"e afirmar que a América precisaroleta ao vivo online"lei e ordem". Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, Trump sugeriu que o adolescenteroleta ao vivo onlineKenosha pode ter agidoroleta ao vivo onlinelegítima defesa e não condenouroleta ao vivo onlineação.

"Foi uma situação interessante. Você viu a mesma filmagem que eu. E ele estava tentando fugir deles (manifestantes do Black Lives Matter). Eu acho que parece que ele caiu e então eles o atacaram com muita violência. E é algo que estamos analisando agora e que está sendo investigado. Mas acho que ele estavaroleta ao vivo onlineapuros. Ele teria sido, provavelmente, teria sido morto, mas está sob investigação", afirmou Trump.

Logo após o incidente, Tucker Carlson, comentaristaroleta ao vivo onlinepolítica da rede Fox News e um dos apoiadoresroleta ao vivo onlineTrump afirmou:

"Ficamos chocados com o fatoroleta ao vivo onlinejovensroleta ao vivo online17 anos com rifles terem decidido que precisavam manter a ordem quando ninguém mais o faria?" Seu comentário era uma repreensão aos prefeitos das cidades, comumente democratas.

Na mesma linha, nesta terça-feira (01/08), Trump disse:

"Muitas pessoas estão olhando para o que está acontecendo nessas cidades governadas pelos democratas e estão enojadas. Elas veem o que está acontecendo e não podem acreditar que isso está acontecendoroleta ao vivo onlinenosso país. Eu também não posso acreditar".

A declaração foi dada momentos antesroleta ao vivo onlineo presidente rumar para Kenosha, para visitar a área onde protestos ocorreram. Lá, ele parabenizou as forças policiais e não se encontrou com a famíliaroleta ao vivo onlineJacob Blake.

A visita aconteceu à revelia tanto do prefeitoroleta ao vivo onlineKenosha quanto do governadorroleta ao vivo onlineWisconsin, que expressaram publicamente o temorroleta ao vivo onlineque a presençaroleta ao vivo onlineTrump alimentasse mais violência.

Paradoxalmente, enquanto se diz preocupado com a escaladaroleta ao vivo onlineviolência eroleta ao vivo onlinecaos, Trump acredita ser o maior beneficiário eleitoral desses acontecimentos.

Na última quinta-feira, ao programa televisivo Fox and Friends, a então assessoraroleta ao vivo onlineTrump, Kellyanne Conway, admitiu que o staff republicano vê vantagem nas agitações: "Quanto mais o caos, a anarquia, o vandalismo e a violência reinam, melhor é para a escolha muito clararoleta ao vivo onlinequem é o melhorroleta ao vivo onlinesegurança pública, lei e ordem", afirmou Kellyanne.

Do lado democrata, a aposta é que a estratégia do presidente possa ser um tiro no próprio pé. Ao defender apenas um lado na disputa, ele alienaria todo o resto da população que gostariaroleta ao vivo onlinever o presidente tomar medidas mais moderadas, para pacificar o ambiente.

Nos últimos meses, as pesquisas mostraram que quase 90% dos americanos acreditava que as palavrasroleta ao vivo onlineTrump tendiam a criar mais tensão do que a dissipá-la.

O planoroleta ao vivo onlineBiden é óbvio: responsabilizar Trump pela situaçãoroleta ao vivo onlinedesordem social. "Alguém acredita que haverá menos violência na América se Donald Trump for reeleito? Estamos enfrentando várias crises - crises que, sob Donald Trump, continuaram se multiplicando", questionou Biden na segunda-feira.

Nos últimos sete dias, desde que o republicano colocouroleta ao vivo onlinemarcha esse plano eleitoral, o agregadoroleta ao vivo onlinepesquisas nacionais do site FiveThirtyEight mostra que a vantagemroleta ao vivo onlineBiden sobre ele caiuroleta ao vivo online9,3 pontos percentuais para 7 pontos percentuais. Uma variação que pode se dever ou não à mudançaroleta ao vivo onlinerota, dizem os especialistas.

Mas ao menos no eleitorado que lhe é mais fiel, o discursoroleta ao vivo onlineTrump já ganhou. Na segunda-feira, ele afirmou que poderia pacificar Portland, que já comparou à Venezuela, "em menosroleta ao vivo onlineuma hora", assim como faria com outras cidades, mas acusou prefeitos democratasroleta ao vivo onlinerecusarem a presença da Guarda Nacional e do Exército, que Trump tem tentado enviar às cidades.

Para Leeds, o país viverá situações como essa por pelo menos mais dois meses, até a eleição.

"Parece que os prefeitos odeiam tanto o Trump que talvez seja só por causa do ódio que eles não querem aceitar qualquer ajuda e resolver o problema nas cidades", diz.

Línea

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