Coronavírus: como políticaroulette 100Trump amplia espaço para China conquistar influência:roulette 100
Um exemplo claro desse movimento, segundo os especialistas, está ligado ao repasseroulette 100recursos para a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a suspensão da contribuição financeira do país à OMS. Ele disse que a entidade errou na formaroulette 100lidar com a pandemia e que é "amplamente financiada pelos Estados Unidos, mas muito focada na China". Depois disso, a China anunciou que contribuirá com US$ 30 milhões adicionais à OMS.
O ex-embaixador do Brasilroulette 100Washington Rubens Barbosa concorda que "é a atituderoulette 100Trumproulette 100relação às políticas que abre espaço para a China" e aponta que elas contrariam a tradição americana do pós-guerra.
"Depois da guerra, se não fossem os Estados Unidos, não teria havido reconstrução da Europa", disse ele,roulette 100referência ao Plano Marshall, que foi o plano americanoroulette 100reconstruçãoroulette 100países europeus aliados depois da Segunda Guerra Mundial.
"Agora, com essa atitude, estão perdendo poder e isso cria uma dificuldade adicional, porque não tem ninguém com a força deles. A China tem outro sistema, então fica um vazio que a gente está vendo acontecer, com faltaroulette 100iniciativa conjunta, faltaroulette 100cooperação."
Os Estados Unidos foram acusadosroulette 100"pirataria" e "desvio"roulette 100equipamentos que iriam para Alemanha, França e Brasil.
Além do que vem sendo descrito como "roubo"roulette 100contratos pelos norte-americanos (que estariam fazendo ofertas financeiras mais altas do que as já assinadas entre países e fornecedores), Trump recorreu a uma lei da época da Guerra da Coreia, nos anos 1950, para proibir a 3M, empresa americana que produz máscaras,roulette 100exportar seus produtos médicos para outros países.
Ao mesmo tempo, a China fez o que foi chamadoroulette 100"diplomacia das máscaras": depoisroulette 100controlar o coronavírus dentroroulette 100suas próprias fronteiras, Pequim ofereceu ajuda a paísesroulette 100vários continentes para combater a doença. A Itália recebeu doaçõesroulette 100suprimentos médicos, kitsroulette 100testes e até uma força-tarefaroulette 100médicos chineses, o que levou a hashtag #grazieCina (obrigada China,roulette 100italiano) a fazer sucesso nas redes sociais italianas.
O futuro da política internacional dos Estados Unidos depende, como lembra Rubens Barbosa, do resultado das eleições deste ano: se vencerá o presidente Donald Trump, comroulette 100política nacionalista (sintetizada no slogan "America First"), ou o candidato democrata Joe Biden. De forma geral, republicanos tendem a defender políticas mais isolacionistas que os democratas, ou seja,roulette 100olhar pra dentro do país e não priorizar instituições globais e acordos multilaterais.
Até agora, o ex-embaixador diz que a China tem demonstrado mais força no cenário internacional. "Apesar das críticas, apesar da vulnerabilidade, apesarroulette 100cair o crescimento da China, eu acho que a China hoje está melhor preparada que os Estados Unidos para emergir mais forte."
Queda histórica na economia
Com a pandemia, a economia da China caiu 6,8% no primeiro trimestreroulette 1002020. Foi a primeira queda do PIB chinês da série histórica que começaroulette 1001992.
E os efeitos desastrosos do coronavírus na economiaroulette 100países europeus também já começaram a ser divulgados. O PIB da Itália caiu 4,7% no primeiro trimestre, o pior registrado na série histórica iniciadaroulette 1001995.
O PIB da França encolheu 5,8% nos três primeiros meses deste ano, maior queda desde 1949, quando começa a série histórica do país. E a economia da Espanha teve contraçãoroulette 1005,2%, a maior quedaroulette 100quase um século. A última vez que uma retração desse tamanho ocorreu no país foi após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), segundo estimativasroulette 100historiadores.
O que pesa contra a China
O professorroulette 100política internacional da Fundação Getúlio Vargas Guilherme Casarões também diz que o presidente chinês, Xi Jinping, está tentando se posicionar "de maneira mais assertivaroulette 100defesa do multilateralismo e da cooperação internacional", movimento que a China já vinha fazendo, segundo ele, desde 2014.
"A pandemia abre oportunidade muito clara para que a China aprofunde esse processo."
No entanto, ele destaca que, para conquistar a confiançaroulette 100outros países, a China enfrenta o desafioroulette 100reparar o dano à imagem dela, causada pelo início da pandemia.
"Hoje é fato e é notório que as autoridades chinesas demoraram muito para reagir. Não é só o fatoroulette 100a China ser uma ditadura, mas tem a ver com a própria dinâmica do Partido Comunista, você tem uma cadeiaroulette 100comando complexa… foi, inquestionavelmente uma resposta lenta."
A resposta da China, segundo Casarões, está exatamente nessa ampliaçãoroulette 100ajuda humanitária e cooperação internacional na árearoulette 100saúde. O lado bom para os países, segundo ele, é que,roulette 100certa forma, compensa a política mais fechada dos Estados Unidos.
Por outro lado, ele aponta que, nessa buscaroulette 100limparroulette 100imagem, a China tem adotado medidas autoritárias, como censura, para tentar controlar a narrativa sobre o vírus.
"O lado negativoroulette 100tentar limpar a própria imagem é que o governo chinês começou a impor uma sérieroulette 100censuras a pesquisas científicas na China, sobretudo pesquisas que se relacionem com origem do vírus. O governo agora está controlando bastante o estudo sobre as origens, até para que a narrativa chinesa não se comprometa."
Nos últimos dias, a China rejeitou pedidosroulette 100uma investigação internacional independente sobre a origem do coronavírus. O argumento do governo chinês é que essas demandas são politicamente motivadas e desviariam a atenção da China do combate à pandemia.
Trump tem adotado um discursoroulette 100culpar a China pela pandemia e disse que o governo americano investiga rumoresroulette 100que o surto poderia ter começado no institutoroulette 100virologiaroulette 100Wuhan, cidade chinesa que foi o primeiro epicentro da doença. O governo chinês já rebateu as acusações e disse que os Estados Unidos querem confundir a população.
Um estudo publicadoroulette 100janeiro na revista Lancet por maisroulette 10020 pesquisadores sobre o perfil dos pacientes infectados com a covid-19roulette 100Wuhan mostra que 66% dos pacientes pesquisados tiveram uma exposição ao mercado da cidade.
Além disso, outro estudo publicado na mesma revista por cientistasroulette 100vários países afirmaram que há sólidas evidênciasroulette 100que o vírus surgiu entre animais selvagens.
Rubens Barbosa diz que a China "vai passar a ser visada" pela Europa, Estados Unidos e outros países. "Os países vão começar a querer processar a China pela maneira que está tratando questão da pandemia. Vai ter mais uma frenteroulette 100atrito que vai aparecer no cenário internacional depois do fim da pandemia."
Um relatório da União Europeia acusa a Chinaroulette 100espalhar desinformação sobre a crise. O texto diz que autoridades chinesas e a mídia estatal cortam qualquer menção a Wuhan como a origem do vírus, com alguns canaisroulette 100mídia social controlados pelo estado continuando a espalhar a teoriaroulette 100que o surto estava ligado à visitaroulette 100militares dos EUA.
No Reino Unido, um gruporoulette 100parlamentares conservadores defende que a Grã-Bretanha precisa entender melhor as ambições econômicas e o papel global da China quando a crise do coronavírus terminar.
O parlamentar Tom Tugendhat, que preside o Comitêroulette 100Relações Exteriores da Câmara dos Comuns, diz que o grupo não será anti-China, mas que "exploraria oportunidadesroulette 100se envolver" com o país e examinaria seus objetivos econômicos. Tugendhat acusou o Partido Comunista chinêsroulette 100colocarroulette 100própria sobrevivência à frente da sobrevivência das pessoas durante o surtoroulette 100coronavírus.
A disputa entre Estados Unidos e China continuará pautando o mundo depois da pandemia, segundo Casarões.
"É uma brigaroulette 100natureza comercial, que entrou no campo tecnológico — sobretudo relativo ao 5G — , e hoje vivemos uma disputaroulette 100narrativas muito forte, sobre onde deve ser colocada a responsabilidade sobre o que está acontecendo", diz. "Estamos vendo essa essa estratégia do Trump, da extrema direita americana, e atéroulette 100apoiadores do Bolsonaro,roulette 100rotular o vírus como vírus chinês. Isso faz parteroulette 100tentar construir essa perspectivaroulette 100vencedores e perdedores, ou do bem e do mal."
Modeloroulette 100poder chinês
Quando se falaroulette 100um eventual aumentoroulette 100poder da China, uma das discussões é sobre como seria esse modeloroulette 100influência.
Prazeres, que mora na China desde janeiroroulette 1002019, diz que a China não rechaça a ordem existente (e quer reformá-la), mas também quer criar suas próprias regras.
"A China,roulette 100alguma medida, é reformista - quer reformar a ordem internacional, as regras internacionais, influenciar a dinâmicaroulette 100organizações já existentes e regras que foram criadas no pós-guerra, especialmente pelos americanos. Emroulette 100algum grau é revisionista e busca estabelecer suas próprias organizações, suas regras, criar novos mecanismos que respondam a seus interesses, e aí você tem o Banco Asiáticoroulette 100Investimentoroulette 100Infraestrutura e a própria Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative)."
Ela diz que a percepção dos chineses é que é legítimo que o país busque influência no cenário internacional correspondente ao seu peso econômico no mundo.
"A atuação internacional da China está ligada ao objetivo do paísroulette 100crescer, acabar com pobreza e promover desenvolvimento econômico, mas há outras agendasroulette 100ordem política que fazem parte. Não é uma coisa só."
Para Casarões, o modelo chinêsroulette 100projeçãoroulette 100poder levaroulette 100conta soberanias e particularidades dos países com que se relaciona.
"Ela não impõe seu modelo sobre o mundo, mas ela não tem preconceito ideológico ou políticoroulette 100se relacionar com ninguém - das ditaduras mais brutais aos países mais livres. Ela tem postura mais voltada ao interesse econômico", diz ele.
E o Brasil com isso?
Autoridades do governo brasileiro e aliados do presidente Jair Bolsonaro fizeram repetidas críticas à China por conta da pandemia do novo coronavírus.
O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, divulgouroulette 100rede social uma mensagemroulette 100que diz que "a culpa é da China". A fala foi repudiada pela Embaixada da China.
Em outro episódio, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou no Twitter uma mensagem insinuando que a pandemia servia aos desejos da Chinaroulette 100"dominar o mundo".
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que,roulette 100meio à disputa das duas potências, o Brasil deveria fazer o possível para não comprar briga com nenhum lado.
"Temos que ampliar relações com todo mundo. O Brasil tem que defender seus próprios interesses. Não devemos tomar partido, como estamos fazendo agora. Temos que ter independência, resolver cada problemaroulette 100acordo com o interesse brasileiro", diz o ex-embaixador Rubens Barbosa.
Tatiana Prazeres diz que é um momento difícil e que posições equilibradas são "especialmente necessárias".
Para Casarões, "olhando friamente, sem questão ideológica envolvida, não faria sentido entrarroulette 100rotaroulette 100colisão neste momento".
"Já não fazia antes da crise, mas agora faz menos ainda. A China é fator estratégico para o Brasil e para a recuperação econômica no futuro."
Ele diz que considera uma "estupidez estratégica" comprar briga com o principal parceiro comercial do Brasil, mas diz que é uma estratégia política.
"É uma das estratégias que o governo Bolsonaro, fragilizado como está, acaba criando para manter a base mobilizada. Vejo essa briga com relação à China como parte da estratégia do Bolsonaro para dentro, uma coisa populista. Essa narrativa anti-China serve pra continuar mobilizando o apoio nas ruas, no WhatsApp e nas redes sociais."
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