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Sem trabalho, com fome e medopinnacle surebetir ao médico: o drama dos brasileiros ilegais na quarentenapinnacle surebetLondres:pinnacle surebet
Mas a realidadepinnacle surebetG. mudou há cercapinnacle surebetum mês quando a pandemiapinnacle surebetcoronavírus se alastrou pelo mundo e chegou ao Reino Unido. Os "bicos" que eram frequentes começaram a rarear.
"Fazia muitas coisas. A maioria dos ilegais trabalha com o que muitos desprezam. Fazemos o serviço que a maioria não quer fazer. Pegamos qualquer tipopinnacle surebettrabalho. Entregamos comida, trabalhamos na construção, limpamos. O que sobra. Não dá para se dar ao luxopinnacle surebetescolher emprego nem patrão", explica.
"Mas chegou um momento que não tinha mais o que comer. Me alimentava poucopinnacle surebetum dia para ter alimento no seguinte. Mesmo com toda essa dificuldade, não me veio à cabeça fazer coisa errada, vender drogas ou me prostituir, como alguns fazem", ressalva.
Sem dinheiro para se alimentar e pagar o aluguel, G. diz que se viu sem alternativa. Candidatou-se a um programa do governo britânico que financia o retorno voluntáriopinnacle surebetimigrantes que violem as regraspinnacle surebetseus vistos a seus paísespinnacle surebetorigem. Como contrapartida, não pode voltar ao Reino Unido por um períodopinnacle surebetdois anos e meio.
"Por causa desse vírus, tudo ficou muito inseguro e perigoso para nós ilegais. Porque não temos direitopinnacle surebetabsolutamente nada. Não temos como fazer uma quarentena se a gente não recebe nenhum auxílio do governo. Temos que continuar trabalhando e pondo nossas vidaspinnacle surebetrisco. Ninguém pegou na minha mão e me forçou a ir embora, mas as circunstâncias me pressionaram a tomar tal decisão", diz.
"E piorou quando o governo decretou o isolamento social. Pois para que todo mundo fiquepinnacle surebetcasa e obedeça às regras, há mais policiamento nas ruas. Você fica com medopinnacle surebetser parado pela polícia e eventualmente descobrirem que você é ilegal".
"Somos fantasmas aqui. Vivemos nas sombras e trabalhamos escondido. Enquanto muitas pessoas estão dentropinnacle surebetcasa agora, continuamos a trabalhar, nos expondo. É como se não existíssemos", diz.
'De quatro a seis vezes'
O casopinnacle surebetG. não é isolado. Segundo a ONG Casa do Brasil, que intermedia o contatopinnacle surebetimigrantes como G. junto ao governo britânico, aumentou "de quatro a seis vezes" a procura pelo programa, devido à pandemiapinnacle surebetcoronavírus. A Casa do Brasil tem apoio do Consulado brasileiropinnacle surebetLondres.
"Em média, recebemospinnacle surebetcinco a seis telefonemas por dia. Nas últimas semanas, esse número passou para 20 a 30. A imensa maioria das pessoas que nos procura está desesperada. Algumas delas não têm o que comer ou onde ficar. Como são ilegais, não têm contratopinnacle surebettrabalho e, portanto, não podem acessar os benefícios concedidos pelo governo por causa da crise do coronavírus", diz à BBC News Brasil Vitoria Nabas, advogadapinnacle surebetimigração e diretora da Casa do Brasil.
Recentemente, o Reino Unido anunciou um amplo pacotepinnacle surebetmedidas para apoiar trabalhadorespinnacle surebetcarteira assinada e autônomospinnacle surebetmeio ao caos socioeconômico causado pela doença. Por essa iniciativa, o governo paga até 80% do salário do funcionário, no limitepinnacle surebet2,5 mil libras por mês.
Mas nem todos têm a mesma oportunidade que Gpinnacle surebetvoltar para casa. Por causa do isolamento social, o atendimento da Casa Brasil deixoupinnacle surebetser presencial, o que inviabiliza o retorno daqueles que ainda não tiveram o visto expirado ou perderam o passaporte.
"O programa se volta a todos os imigrantes que violem as regraspinnacle surebetseus vistos. Uma pessoa que tenha entrado no Reino Unido com um vistopinnacle surebetturismo e que ainda esteja válido, mas trabalhe aqui, ou seja, burlando as leispinnacle surebetimigração, também pode se candidatar", exemplifica Nabas.
"Ocorre que, atualmente, como não estamos fazendo atendimento presencial, devido às regraspinnacle surebetisolamento social determinadas pelo governo, fica muito mais difícil comprovar junto ao Home Office (Ministério do Interior britânico, órgão responsável pela imigração) que esse imigrante estejapinnacle surebetsituação ilegal. O mesmo vale para quem perdeu o passaporte", acrescenta ela.
Nabas faz uma ressalva importante: o programa é voluntário e mesmo que o candidato mudepinnacle surebetideia, não será forçado pelas autoridades a embarcar - e fica a cargo do governo britânico, a par da situação e com os dados do candidato,pinnacle surebetconsiderar se é o casopinnacle surebetbuscarpinnacle surebetdeportação.
Para G. e outros imigrantes ilegais, a palavra "Home Office" continua a despertar um mistopinnacle surebetansiedade e medo.
É uma das atribuições do órgão fiscalizar a situação legal dos estrangeiros no país e, eventualmente, deportá-los caso fique comprovado que eles violaram as regraspinnacle surebetimigração.
A deportação, contudo, envolve prisão — e constrangimento público.
"Se o imigrante é deportado, ele normalmente é preso e levado a um centropinnacle surebetimigração. Dali ele é colocadopinnacle surebetvoltapinnacle surebetum avião e suas algemas só são tiradas quando está dentro do avião", explica Nabas.
Medopinnacle surebetnão ser tratado
Alémpinnacle surebetter perdido o emprego, pesou na decisãopinnacle surebetG. a incerteza sobre se teria acesso gratuito à saúde pública.
Qualquer visitante estrangeiro, incluindo aqueles que vivem no país sem permissão, tem que pagar por tratamentos médicos a menos que se enquadrepinnacle surebetuma listapinnacle surebetexceções, como casospinnacle surebetemergências, atualizada com regularidade.
Os hospitais e clínicas médicas ligadas ao serviçopinnacle surebetsaúde pública (NHS, o SUS britânico) também podem solicitar ao Ministério do Interior informações sobre a nacionalidade e o statuspinnacle surebetimigraçãopinnacle surebetum paciente para decidir se ele deve ser cobrado pelo tratamento - e o NHS também pode passar suas informações pessoais, como nome, número do telefone e endereço, ao Ministério do Interior.
Em nota enviada à BBC News Brasil, o Ministério do Interior afirmou que a realização tantopinnacle surebettestes, mesmo com resultados negativos, quanto tratamentos para o novo coronavírus, não serão cobradospinnacle surebetnão-residentes.
"Nenhuma verificação da situação imigratória será feita para aqueles que se submetam a testes ou a tratamento para o covid-19. Também não haverá nenhuma cobrançapinnacle surebetrelação aos testes, mesmo que o resultado seja negativo", diz o comunicado do órgão enviado à BBC News Brasil.
No entanto, essa verificação pode acontecer caso a condição não esteja relacionada ao coronavírus, acrescentou a pasta.
Além disso, a BBC News Brasil apurou que as informações pessoaispinnacle surebetnão-residentes, incluindopinnacle surebetimigrantes ilegais, podem ser passados para o Ministério do Interior caso os pacientes tenham dívidas com o NHS — por exemplo, sepinnacle surebetalgum momento receberam um medicamento pelo qual deveriam pagar e não o fizeram.
Mas G. queixa-se que "essa informação (sobre a possibilidadepinnacle surebetser tratado gratuitamente para covid-19pinnacle surebetuma eventual necessidade) não chegou até mim. Acompanho as notícias. Mesmo assim, não fiquei sabendo. Não vi nenhum lugar dando essa informação para as pessoas que necessitam dessa informação".
Por causa disso,pinnacle surebetuma carta ao governo britânico, uma coalizãopinnacle surebet30 ONGs pediu a suspensãopinnacle surebetqualquer cobrança e compartilhamentopinnacle surebetdados entre o NHS e o Ministério do Interior para que os imigrantes ilegais possam ter acesso à saúde pública gratuita sem medo.
Segundo essas entidades, caso as regras atuais permaneçam como estão, não só a saúde desses imigrantes ilegais, mas tambéma do públicopinnacle surebetgeral, ficará ameaçada.
Retorno 'amargo' ao Brasil
Para G., o retorno ao Brasil tem um gosto amargo.
"Estou indo embora sem realizar meus planos. pinnacle surebet Sem poder ter ajudado a minha família. A gente conhece a realidade do Brasil. Soupinnacle surebetuma cidade no interiorpinnacle surebetSão Paulo, onde é muito difícil para arranjar trabalho e mesmo trabalhando você recebe um salário que não é digno. O pouco que você recebe, mal dá para se alimentar, comprar uma casa e se vestir bem. No Brasil, não temos mínimas condiçõespinnacle surebetvida", diz.
"Se não fosse o coronavírus, teria ficado aqui. Não estou ilegal porque eu quero. Adoraria estar pagando os meus impostos como todo cidadão. E tudo por causapinnacle surebetum maldito papel. Até quando um documento vai determinar quem é humano ou não? É um papel que diz o que nós somos? Achei que fosse o nosso caráter, a nossa dignidade, as nossas palavras, mas isso não valepinnacle surebetnada se você é um fantasma", desabafa.
"Saí do Brasil fugindo da minha realidade. Sempre estive fugindopinnacle surebetalguma coisa. No Brasil, é da criminalidade, do governo que rouba o nosso povo. Aqui, continuo fugindo - da políciapinnacle surebetimigração. O sonhopinnacle surebetmuitos brasileiros ilegais é conseguir esse papel para mostrar que somos gente", acrescenta.
G. conta que chegava a trabalharpinnacle surebet"15 a 18 horas por dia".
"Como ganhamos por hora, quanto mais trabalhar melhor. Mas imagine sair para trabalhar e ter que esconder o materialpinnacle surebettrabalho, mudarpinnacle surebetrota quando tem batida no metrô", diz.
"O pior dia da minha vida aqui foi quando fui aprovadopinnacle surebetuma entrevistapinnacle surebetemprego e tive que mentir quando me pediram meu documento. Falei que ia buscá-lo no carro e nunca mais voltei. Tive que virar as costas para uma oportunidade honesta. Era para ser chapeiropinnacle surebetuma cozinha. Um trabalho tão pequeno para muitos, mas para mim gratificante. Poderia ter uma renda fixa", relembra.
Quase ao fim da conversapinnacle surebet1h com a BBC News Brasil, G. faz seu último desabafo.
"Imigrante ilegal não pode reclamar. Tem muitas pessoas que tiram proveito da nossa situação. Tem muitos brasileiros que tiram proveitopinnacle surebetbrasileiros, muitos britânicos que tiram proveitopinnacle surebetbrasileiros, que nos ignoram, que sentem nojo e repúdio da gente, mas que se beneficiam do nosso trabalho indiretamente", diz.
"Quer saber como? Quem você acha que vai entregar a comida napinnacle surebetcasa com tudo fechado?", indaga.
"Agora, se a gente vai comer ou não, não importa. Somos esquecidos. Acho que muitos brasileiros ilegais vão morrer. Oupinnacle surebetfome, por não ter o que comer, ou do vírus, por não ter a quem pedir ajuda. Isso se não formos presos antes", conclui.
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